Edson Silva

Dono absoluto da camisa 9, que simboliza centroavante, atacante que decide mesmo as mais complicadas partidas, o eterno menino de Bento Ribeiro, Rio Janeiro, Ronaldo Luiz Nazário de Lima, que completará 35 anos em setembro, fez terça-feira, 7 junho, a despedida da Seleção Brasileira, na partida amistosa contra a Romênia, em São Paulo. Foram só 15 minutos em campo, lugar onde nosso carinhosamente "moleque" mais brilhou nos últimos 18 anos de holofotes de sua carreira, a maior parte deste tempo colocando em polvorosa zagueiros e goleiros. Ele teve três chances de gol, não converteu, mas foi 1x0 para o Brasil, gol de Fred. Há quem diga que Ronaldo não marcou para agradar Zagallo, fã do número 13. Ronaldo nasceu em 22/9, que dá 13, no ano de 76, que dá 13 e deixou a Seleção com 67 gols, que também soma 13, se fizesse mais um tiraria o número místico do "velho Lobo"

Bem, antes que perguntem se falaremos de Copas ou só vamos "babar" a despedida, agora pela Seleção Canarinho, do Ronaldo Fenômeno, adiantamos que a história de Ronaldo é única em Copas, superando números até do maior jogador de todos os tempos, o mineiro de Três Corações, Pelé, que se projetou no Santos. Aliás, nestas coisas que o destino à parte do futebol propícia, o carioca Ronaldo se projetou mesmo em Minas, aos 17 anos, juntando-se literalmente às estrelas do Cruzeiro de Belo Horizonte.

Não estou enrolando. Em 50, Pelé, aos 9 anos, jurou ao pai (que chorava a derrota na Copa para o Uruguai) que faria o Brasil campeão, fez três vezes! Com 17 anos, em 58, em 62 e em 70, escrevendo assim sua história em quatro Copas pela Seleção, fazendo 12 gols em todas elas, sendo que em 14 jogos disputados, Pelé marcou em oito. Bom, Ronaldo também esteve em quatro Copas, podia ter estreado com 17 anos e seria campeão, pois estava no grupo de 94, mas não foi colocado em campo.

Sua chance em Copas veio em 10 de junho de 98, o 74º jogo do Brasil em mundiais, uma vitória de 2x1 contra a Escócia, sem gol de Ronaldo e com o único gol contra anotado em favor do Brasil em Copas, até 2010. No jogo seguinte, 3x0 contra Marrocos, Ronaldo fez seu primeiro gol em mundiais e chegaria aos 4 gols, em sete jogos, em 1998. Foi ele o protagonista na fatídica derrota por 3x0 para a França, na final. Ronaldo foi escalado após ter passado mal na noite anterior e o que vimos foi um vice-campeonato esquisito, com os piores sabores do mundo. Para muitos era o fim do sonho do novo Pelé, reeditado no garoto careca, branco, de dentes fartos e sorriso fácil.

Em 2002, segunda Copa efetivamente jogada por Ronaldo houve a redenção do atacante. Mais sete jogos, todos com vitória, oito gols marcados e artilheiro da Copa que deu o pentacampeonato ao Brasil. O menino igualava feito de Pelé, então maior artilheiro brasileiro em Copas, com 12 gols. Não era algo para qualquer um. Para se ter idéia, em todo o mundo, até então, dois jogadores do planeta tinham feito mais de 12 gols em Copas: o francês Just Fontaine, que fez 13 apenas na Copa de 58, e o alemão Gerd Muller, que fez 14 nas Copas 70 e 74, tornando-se artilheiro absoluto das Copas até 2006.

E o "moleque" fenômeno jogaria em 2006, faria mais cinco partidas. Nossa Seleção fez despedida melancólica nas quartas de finais, perdendo de 1x0 para a França, ao que parece "pedra na chuteira" de nosso Ronaldo. Para a história, o atacante acrescentou mais três gols em Copas, tornou-se o maior artilheiro brasileiro da competição, depois se igualou ao alemão Muller e finalmente ultrapassou sua marca de 14 gols, que durava nada menos que 32 anos.

Parece que vejo o sorriso do "moleque", então mirrado, em 93, jogando pelo Cruzeiro e fazendo cinco de seis gols de seu time contra o Bahia defendido pelo goleiro Rodolfo Rodriguez (uruguaio que brilhou no Santos de Pelé). Embora experiente, Rodriguez colocou no chão a bola que estava em jogo e ajoelhou-se como para agradecer aos céus pela defesa. Foi o suficiente para o "moleque" perceber a falha, tirar malandramente a bola e fazer mais um gol... Estava apresentado ao mundo o Ronaldo Fenômeno. Dali ele iria para o PSV da Holanda e para os principais rivais da Espanha (Barcelona e Real Madrid) e da Itália (Internazionale e Milan). Finalmente, veio encerrar a carreira no Brasil, no Corinthians, em 2011, fazendo parte então do, como ele mesmo chama carinhosamente, "bando de loucos". Valeu, Ronaaaldoooo, fenômeno e do Brasil!

Edson Silva é jornalista em Sumaré

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