Modernidade e Identidade

José Raimundo da Silva Lima

Universidade da Amazônia – UNAMA

Curso de Ciências Sociais (3CSN-1) – Sociologia Contemporânea

27/03/2014

 

RESUMO

 

O objetivo do estudo é compreender como a modernidade influencia no cotidiano dos indivíduos, sobretudo na identidade do mesmo – o eu. Frisando os aspectos contribuintes para esse fenômeno, que na contemporaneidade é visto globalmente. O autor inicia seu argumento com a questão do casamento no mundo moderno - as consequências do divórcio para o casal e para os filhos, observando a modernidade nessa questão. Ressalta a identidade do eu na auto-modernidade, no que resulta a fragmentação das características pessoais e a agregação de outros valores, principalmente os de riscos postos pela modernidade, e este indivíduo moldado por ela e vivendo num mundo socialmente tecnológico, e por isso, de risco, em questão de intimidade – do local para o global; caracterizando a modernidade por sua reflexividade e pós- tradicional num contexto de instituições amadurecidas e imperiosas.

Palavras-chave: Modernidade; Globalização; Identidade. 

INTRODUÇÃO

          O primeiro assunto abordará a questão das mudanças feitas pelo advento da modernidade, o qual influencia o local e do global, ressaltando esses termos como uma das características da modernidade, frisando seu entender, como mundo industrializado. No decorrer do assunto inicialmente abordado, enfatiza o eu, analisando-o em sua ontologia e trajetória no mundo moderno cheio de riscos postos por essa realidade moderna.

A MODERNIDADE E O INDIVÍDUO  

          Giddens apresenta a natureza da modernidade percebida nas relações e funções das instituições contemporâneas para com os indivíduos; e, a identidade do individuo criada por ele ou advinda das instituições modernas. Afirma que as instituições modernas diferem de todas as formas anteriores de ordem social quanto ao seu dinamismo, ao grau em interferiu com hábitos e costumes tradicionais, e a seu impacto global.

          O impacto que Giddens expressa com ênfase diz respeito à identidade do eu- indivíduo, que passa por mudanças constantes na modernidade. Para exemplificar, mostra a situação do divorcio dos tempos atuais, de uma pesquisa de Judith Wallersteim e Sandra Blakeslee, que descreve o impacto da ruptura do longo casamento. Observam que o divorcio é uma crise nas vidas pessoais dos indivíduos, que apresenta perigos para a sua segurança e sensação de bem-estar, ao mesmo tempo abre novas oportunidades para seu desenvolvimento e facilidades futuras. O impacto do divorcio resulta em grandes consequências, das quais são os motins das rápidas mudanças do comportamento e subjetividade.

          Quando um casamento é duradouro, isso se fará como identidade do casal, pois se identificam como pessoas comprometidas, um com o outro, num sentimento profundo que “estabiliza as emoções”. Com o divorcio, o eu é descentralizado e a instabilidade das comoções (abalo súbito) são inevitáveis, no que podem ocorrer longas ansiedades e distúrbios psicológicos, entretanto, ao contrario da antipatia, o divorcio pode possibilitar o “crescimento emocional” e “estabelecer competência e orgulho novos”..., isto é, possibilita superar e ter tal situação como experiência de vida. Mas a superação é decorrente de um período de luto, o qual deriva da perda de prazeres e experiências compartilhados, somados ao necessário abandono das esperanças investidas na relação. Ao superar esse luto, o eu retoma o controle de si próprio, como se estivesse preso ao matrimônio e levado por aquele que pediu o divorcio, enfrentado a tarefa de estabelecer um novo sentido do eu, um novo sentido de identidade.

          O sofrimento, porem, não apenas é sentido pelo casal, mas também pelos filhos. São os que mais sofrem por precisarem das qualidades de ambos (os pais). Tal sofrimento é mais duradouro que a perda de morte, ressalta as autoras, por não poder ser desfeito, mas o divorcio acontece entre pessoas vivas que podem mudar de ideia. As crianças não possuem “forças emocionais” para passar por um luto; superam, muitas vezes, saindo de casa, separando-se do pai ou da mãe, daquele que ficou com ela. Percebemos nas palavras de Giddens, que essas ocorrências são interferências da modernidade, isto é, acontecimentos provocados pelas mudanças do advento da modernidade, que altera a auto-identidade, e por fim, o ciclo da vida. Sobre isso, nos remete a conceitos “não-modernos” ou que não acompanhou a modernidade, e por isso, passa por processos de mudanças, de transformações ou “moldagens do eu” e do cotidiano.

          A modernidade pode ser entendida, segundo o autor, como “mundo industrializado” (tanto no uso de maquinarias no processo de produção, quanto nas relações sociais implicadas no uso generalizado da força matéria – consumismo) que “enquadrou” o sistema capitalista; e com isso, o surgimento do estado-nação, para organizar e tomar o “controle das relações sociais” dentro de distancias espaciais e temporais indeterminadas, devido ao descontrole (desenfreado) do capitalismo. O estado-nação são organizações organizadas (estruturas – instituições modernas), muitas vezes tratadas como atores, isto é, agentes, que atuam no monitoramento geopolítico.

        A modernidade possui uma dinâmica descontrolada, encurtando espaço e tempo, ou seja, o distanciamento entre eles – a separação, o qual iniciou o fenômeno universal ou global. Tal processo teve marco com a invenção do relógio mecânico. Seu uso generalizado para marcar o tempo, provocou mudanças profundas na vida cotidiana; e este instrumento correlaciona com o mapa global, juntos encurtam o tempo e o espaço em sua separação, o que provoca o desencaixe das instituições sociais, em outras palavras, o deslocamento das relações sociais dos contextos locais e sua rearticulação através de partes indeterminadas do espaço-tempo. Essa é uma das marcas da modernidade, o aceleramento no distanciamento entre o tempo e espaço, globalizando traços institucionais e a vida social cotidiana, transformando o tradicional em moderno, ou seja, a transformação do tempo e do espaço em conjunto com os mecanismos de desencaixe (fichas simbólicas: valor de troca – ex.: o dinheiro; e os sistemas especializados: áreas de conhecimentos tecnológicos, de fáceis relações sócias e invasão da intimidade do eu e das pessoas; ambos põem parênteses no tempo e no espaço) afasta a vida social da influencia de práticas preestabelecidas.

          Devido à presença e influencia desses sistemas abstratos no cotidiano global, podemos, portanto, compreender e conceituar a globalização como expressão de aspectos fundamentais entre espaço e tempo, o qual diz respeito à interseção entre presença e ausência, ao entrelaçamento de eventos e relações sociais a distancia com contextos locais. Por esse fato, os aspectos da globalização tem que ser entendido como um fenômeno dialético, do local e do global, que transforma a vida cotidiana das pessoas através de desencaixes. Quando operam em menor escala afetam as pessoas que vivem em ambientes mais tradicionais – fora das partes mais desenvolvidas – são afetados pela conexão entre o local e o global que está ligado aos fenômenos naturais. Já nas partes mais desenvolvidas, estão ligadas aos fenômenos sociais advindas das instituições, pois há uma barganha de esforços (uma troca, nesse caso, de conhecimento, por meio da linguagem, e esta, por meio da mídia). O global tem influência sobre as vidas individuais nos espaços locais; mas também as decisões dos indivíduos em seu cotidiano podem influenciar sobre os resultados globais.

          A modernidade molda os indivíduos, moldando a sua identidade que não é estável, se constrói reflexivamente diante de uma diversidade de opções e oportunidades. A reflexividade da vida social consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz da informação renovada sobre essas próprias práticas, alterando, assim, constitutivamente seu caráter.

           O crescimento do conhecimento impede o individuo de cometer algo que possa lhe prejudicar, é a sua segurança ontológica, praticando apenas no que tem confiança, mas esse tipo de pensamento está se ultrapassando, pois a cultura criada e oferecida pela globalização é a cultura de risco, o qual põem em dúvida o individuo, se se confia ou não. A segurança ontológica se refere à crença que a maioria das pessoas tem na continuidade de sua auto-identidade e na constância dos ambientes de ação social e materiais que nos rodeiam. Os leigos são os que mais agregam essa cultura, e os que possuem “poder nas mãos” – autoridades, mídia... Arriscam na finalidade de obter e/ou ultrapassar algo ou alguém. Por isso mundo tornou-se cada vez mais um lugar inseguro e essa insegurança é sentida pelo indivíduo em sua mais remota comunidade. A experiência da modernidade em tempos globais colocou por terra as certezas: de que as surpresas e os riscos estão sempre à espreita. A modernidade na globalização se assemelha a uma grande e perigosa aventura, à qual, independente da nossa vontade, estamos presos e temos que participar. Fazer o cálculo de risco se tornou inevitável para nos posicionarmos frente a cada relação diária que experimentamos, ou vamos experimentar. Esse cálculo é imprescindível em uma sociedade que se transforma rapidamente, em uma sociedade moderna.

          “Modernidade global” supera qualquer transformação, habito e costumes traçando uma trajetória do eu. Na trajetória incluem-se os controles do corpo e da mente pela necessidade de constituir um modelo de aceitação, onde os livros de autoterapia têm papel significativo, tanto quanto a busca de padrões ideais do corpo (o crescente consumo desse tipo de literatura e as elevadas taxas de anorexia entre as jovens, principalmente, evidenciam essas novas referências normativas). Essas trajetórias evidencia o poder da mídia que advém da modernidade, por meio de ideologias.

Considerações finais

          A análise de Anthony Giddens sobre a modernidade oferece-nos a possibilidade de compreender o mundo em que vivemos nossas inseguranças, incertezas e, inclusive, as transformações nos espaços da intimidade.

          O global e a modernidade levantam-se como entidades estabelecendo seus riscos e sua complexidade que impõem aos indivíduos perturbações e ansiedades generalizadas, exigindo a criação de novas formas de identidades para lidar com as perspectivas mundo “auto moderno”.

 

 

Referencias

GIDDENS, Anthony. Os contornos da alta modernidade. In:________.

Modernidade e Identidade. Tradução, Plínio Dentzien. Rio de janeiro: Zahar, 2002.

_______. O eu: segurança ontológica e ansiedade existencial. In:________. Modernidade e Identidade. Tradução, Plínio Dentzien. Rio de janeiro: Zahar, 2002.

_______. A trajetória do eu. In:________. Modernidade e Identidade. Tradução, Plínio Dentzien. Rio de janeiro: Zahar, 2002.

_______. Destino, risco e segurança. In:________. Modernidade e Identidade. Tradução, Plínio Dentzien. Rio de janeiro: Zahar, 2002.