No passado, os animais, as plantas e a terra eram vistos como seres sagrados. As pessoas se viam pertencentes a um único mundo, um grupo de seres singulares que se completavam. Não haveria como alguém se perder na selva, afinal, os sujeitos faziam parte dela. A própria palavra natureza não existia visto que os seres humanos e o ambiente formavam um todo integrado. Com o passar dos anos a concepção de natureza foi sendo modificada. Criou-se uma idéia dela apenas como mais um local de riquezas, com diversas matérias primas em abundância que poderiam ser extraídas de acordo com a necessidade das pessoas.
Atualmente, o meio ambiente é um assunto que atrai atenção de uma ampla parcela da população. A sociedade está sofrendo um processo de "sensibilização ecológica", pois cada vez estamos mais cientes e ficam mais visíveis os danos que estão ocorrendo devido à destruição e desintegração sócio-ambiental. Assim, os países, principalmente do terceiro mundo, participam desta devastação mundial que não exclui etnias, ideologias, religiões ou diferenças entre ricos e pobres (apesar de os primeiros terem o "poder" como uma forma de amenizar algumas destas preocupações) (GRÜN, 2005).
A cada dia que passa fica mais visível os estragos que foram causados aos três elementos naturais do planeta: a água, o ar e a terra. Foi percebida, a partir destas urgências, a necessidade de que façamos algo para mudar esta situação a qual somos responsáveis. Não poderemos reverter às depredações que já foram executadas, mas podemos diminuir o impacto e a velocidade com que elas acontecem. Apesar de vermos com freqüência uma grande corrida em busca de soluções para a questão ambiental, a educação das escolas foge deste assunto e muitas vezes não incentiva a conscientização. Grün (2005) questiona: "como podemos ter uma educação não-ambiental se desde o dia de nosso nascimento até o dia de nossa morte vivemos em um ambiente?" (pg. 20).
A lógica "natureza versus seres humanos" vem de uma época em que os currículos das unidades de ensino quiseram se adaptar a chamada "ciência". Começou a ocorrer uma grande valorização do empirismo e o sistema educacional caminhava em direção a ele esquecendo de discutir a humanização, que em muitas situações não é algo quantitativo ou possível de se achar respostas. A época de Galileu trouxe a idéia de objetividade científica a qual transformou a natureza em um objeto de estudo sem qualidades sensíveis como cor, sabor, aroma, mas sim, como um produto com valor determinado e quantificado a partir de sua utilidade.
O ensino educacional foi construído a partir de concepções históricas permeadas por idéias que fragmentam o ambiente e as pessoas como duas coisas desconexas. A preservação do meio ambiente é percebida como a proteção de animais e florestas, e não, vista como atitudes possíveis dentro de nossa própria cidade, bairro, rua, e, principalmente, dentro de nossas casas (FREIRE, 2003). A educação deveria produzir um reencontro da natureza com os seres humanos mostrando que eles compõe um "todo". Há concepções teóricas que interpretam a realidade a partir da chamada "teologização da natureza". Esta idéia apela ao sagrado, coloca que o ambiente foi criado por um ser superior, um ser bíblico. Não há visões certas ou erradas só que, muitas vezes, o holismo (visão de natureza que diz que "o todo só funciona como todo se as partes funcionarem como partes") é interpretado como uma pregação de crenças que acaba por afastar muitas pessoas da aprendizagem ambiental.
Para que ocorra esta mudança de atitudes é preciso que mudemos os paradigmas (SOFFIATI, 2005) e os organismos vivos precisam ser vistos como realmente funcionam, no qual há uma harmonia ecossistêmica em que eles interagem e interdependem um dos outros para que o processo ocorra de forma positiva (GRÜN, 2005). Por exemplo, se uma determinada área com mata nativa for substituída pelo cultivo de um único vegetal, pode-se comprometer a cadeia alimentar dos animais que se alimentam das plantas nativas, bem como os animais que se alimentam dos próprios animais daquela região.
Precisamos nos conscientizarmos que, se todos compartilham para usufruir da natureza na qual pertencemos, também deveríamos compartilhar as responsabilidades de proteger a mesma. O nosso comportamento atual de destruição sem reparação pode ser conseqüência da reprodução de certos valores que acabam determinando o modo das pessoas de se relacionarem, agirem e estarem no mundo. Estes valores dão base para nossa cultura como, por exemplo, o individualismo e o consumismo descontrolado.
Os resíduos têm utilidade e, se bem manuseados, podem gerar renda para quem necessita. O principal não é separarmos de forma correta, mas sim, não produzirmos. Cerca de 40% do que consumimos já é lixo. Não basta apenas colocarmos na mídia e fazermos campanhas "simbólicas" se não investirmos concretamente em infra-estrutura que responda a demanda atual de resíduos que produzimos diariamente. As discussões sobre a temática do lixo deveriam ser geradoras de reflexões mais profundas sobre o nosso modo de viver individualista e competitivo e, a reciclagem, não poderia ser interpretada como uma atividade fim, mas sim, como um início de uma caminhada contestadora de comportamentos pós-modernos.


REFERÊNCIAS


FREIRE, I. M. TAVARES, C. "Lugar do lixo é no lixo": estudo de assimilação da informação. Ci. Inf. Vol.32. Nº.2 Brasília Maio/Agosto. 2003.


GRÜN, M. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. 9ª Edição. São Paulo; Editora Papirus, 2005. 120 p.


SOFFIATI, A. Fundamentos filosóficos e históricos para o exercício da ecocidadania e da ecoeducação