No século XX, é possível encontrar os elementos que melhor explicam os efeitos sociais da mídia. Não que outros momentos históricos não tenham sido permeados pelos Media Effects, como o poder da imprensa escrita. Pensamos do século XIX em diante, pois a reflexão sobre toda atividade escrita remeteria a milênios de distância - que está diretamente ligada ao espraiar político, também do entretenimento, ambos relacionados ao contínuo processo de construção cultural.

O filme "O que teria acontecido com Baby Jane?", Robert Aldrich, 1962, trouxe proposta de análise da mídia ao longo do "breve século XX" no dizer de Hobsbawm, limitado entre 1914 e 1991. O recorte, do início da 1ª Guerra ao fim da bipolaridade política-militar, EUA x URSS, cenário montado em função do cisma político-ideológico: capitalismo rumo ao sistema liberal contra um modelo estatal pautado no uso da força e na corrida militar, opção feita pela então União Soviética, foi tema prolífico na produção cultural sonora, imagética e escrita. Aldrich dividiu o filme em três fases: "1917; 1935 e Ontem" em alusão ao teatro, ao rádio e ao cinema e, à televisão, respectivamente, cada fase mostrando os efeitos da mídia, daí nossa preocupação sobre como agem os meios de comunicação na reformatação dos modos sociais.

Enquanto a Europa era destruída pela guerra nos anos 1910, nos EUA, o entretenimento social estava no teatro. Para lá convergiam as massas, época em que o rádio ainda não havia chegado aos lares. O uso comercial do rádio vem nos anos 1920 com o fito de entreter, informar e educar e, ao longo do século XX, será equipamento para a construção de sonhos, elemento agregador do lar nos horários das novelas, mecanismo indispensável a regimes de estado que precisa chegar à casa de cada família para propagandear a ideologia vigente, o que é preferido e o que é preterido na sociedade. Hitler, Mussolini e Vargas são apenas três exemplos de como o rádio serviu a ditadores e regimes. Conseguiram usar a potência do rádio em seu momento mais pujante, os anos 1930-40, recorte que Woody Allen chamou de "A Era do Rádio". No caso do Brasil, o rádio serviu aos interesses da ditadura varguista do Estado Novo até seu ocaso, em 1945.

O avanço do rádio é concomitante ao avanço da produção cinematográfica hollywoodiana com obras vistas por plateias internacionais. O melodrama de origem grega passa do palco para a tela. Benjamim dissera em 1931 que o teatro se tornara "um aparelho extremamente frágil". Há cem anos o cinema começava a arrebatar as massas, ocupando antigos teatros e mostrando ao público a exibição de sombras, as imagens na tela, o avanço tecnológico cuidou de ofuscar o brilho do teatro.

Da era do rádio para a televisão, as mídias eletrônicas continuaram a produzir seus efeitos. Mais um salto proposto por Aldrich para finalmente chegar a sua contemporaneidade, argumentando que já nos anos 1950 os estadunidenses têm seu interesse na televisão. Como fora com o rádio, instalado na sala de estar onde as pessoas se reuniam para ouvir seus programas favoritos, com a televisão aconteceu o mesmo, de início reapresentando antigos filmes. O novo aparelho, trazendo imagem e som ao mesmo tempo, serviu para prender a atenção das pessoas redesenhando gostos, modos familiares e sociais. O teatro deixa, portanto, de ser o lugar de aglutinação das massas, promovido à esfera do sofisticado, do culto, como proposta cultural voltada para públicos que também consumiram a tv, porém mais seletos, das elites aos anarquistas e ao operariado, pois o massivo passa a ter em sua própria residência, sobretudo a partir dos anos 1970 a produção artística ao alcance do toque de um botão.

A aceleração da vida cotidiana, as preocupações com as seguidas ofertas de consumo desenham um quadro por vezes revestido de frustração, cansaço e nervosismo, daí ligar o receptor, rádio, TV ou computador e anestesiar o cérebro para no dia seguinte enfrentar as dificuldades recorrentes. Escapar para outro mundo, o dos sonhos, é o desejo do telespectador da novela, dos filmes e por que não da internet. Ao usar um computador com acesso à rede, é possível ao usuário tornar-se um avatar, um simples desenho no mundo fictício. O escapismo propiciado pela rede tem paralelos no cinema e na TV perceptíveis em dois exemplos: "A rosa púrpura do Cairo" e "Tron". Ambos ensejando a necessidade em ser transmutado para uma realidade idealizada. A internet é um caminho de convergência dos meios comunicacionais, lá estão rádio e TV, notícia e entretenimento, dependentes de pesada parafernália tecnológica para aproximar pessoas em ações virtuais. Será possível cunhar um neologismo, o internetismo a partir do entendimento que nesta contemporaneidade a internet é uma espécie de foz das mídias?