Esquistossomose mansône no Brasil: a trajetória de uma doença endêmica entre os anos 2000 a 2010

Madonna Magalhães Silva; Marilu Lima Argolo¹

¹ Graduandas em Enfermagem pela Faculdade Anísio Teixeira

RESUMO

A esquistossomose mansônica é uma doença infecciosa parasitária causada pelo parasito trematódeo (Schistosoma mansoni), que se aloja na corrente sanguínea do hospedeiro definitivo. Sua evolução clínica pode variar desde formas assintomáticas até as extremamente graves. Diante deste contexto, este estudo possui como objetivo geral discorrer sobre a esquistossomose mansônica dando ênfase à epidemiologia apresentando aspectos clínicos e laboratoriais da esquistossomose. Buscou-se também investigar estratégias para o controle e prevenção da doença nas populações suscetíveis. Trata-se de um estudo bibliográfico de abordagem qualitativa e descritiva cuja amostra foi composta por quatorze artigos publicados entre 2000 e 2010 relacionados ao assunto e coletados nas bases de dados do Scielo, Lilacs e Google Acadêmico. Observamos que no Estado da Bahia o interesse pela temática ainda é escasso, ao contrário das regiões Sul e Sudeste do Brasil que lideraram nas publicações encontradas. Verificou-se que a grande maioria dos trabalhos foi publicada por enfermeiros, o que mostra um maior interesse para o cuidado por parte dessas profissões, fazendo-se necessária que outros profissionais se sensibilizem para este cuidar multidisciplinar, que cresce tendencialmente.

Palavras-chave: Esquistossomose mansônica; Epidemiologia; Doença endêmica

ABSTRACT

INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos nas últimas décadas permitiram melhorias nas condições de vida da população, principalmente após a revolução industrial, quando a saúde dos profissionais influenciava diretamente na qualidade da produção. Entretanto, nos dias atuais ainda é possível encontrar uma parcela da população sem acesso a infraestrutura básica como saneamento básico, coleta de lixo e água potável. Destarte, não raro, casos de doenças parasitárias, quase inexistentes em países desenvolvidos, estão presentes entre aqueles mais carentes. (NEVES et al, 2009)

Atualmente as doenças denominadas negligenciadas, ainda estão atingindo a humanidade de forma significativa. Muitas delascausadas por parasitos fazem parte dessa realidade, a exemplo de algumas espécies do gênero Schistosoma de importância clínica. Trata-se nesse trabalho da Schistosoma mansoni, a qual é responsável pela esquistossomose intestinal (NEVES et al,2009).

Em países tropicais, a esquistossomose é considerada problema de saúde pública, sendo frequentes casos de re-infecção, por isso não há redução da prevalência, mesmo o tratamento quimioterápico em áreas endêmicas sendo eficiente (ROFFATO, 2011).

Segundo Cardin (2011, p. 899), “na Bahia a doença é notificada em 65% (271/417) dos municípios, com média de 165,8 internações/ano, 40,2 óbitos/ano e prevalência de 5,4%”. Um estudo no mesmo estado baseado em dados secundários de quatro décadas foiencontrado prevalência média de infecções por Shistosoma mansoni de 15,6% no ano de 1950 e de 9,5% em 1994. A urbanização e a migração estão associadas a essa variação da prevalência, indicando também vinculação entre o processo da dinâmica populacional e a disseminação da doença nos diversos espaços que constituem o território baiano (GUIMARÃES; TAVARES, 2006).

O interesse pelo objeto de estudo surgiu durante a prática da disciplina Adulto e Idoso I, componente curricular do curso de Enfermagem da Faculdade Anísio Teixeira, realizado na Secretaria Municipal de Saúde, no campo de vigilância epidemiológica, quando foi proposto a partir dos dados das ações de controle da doença, a construção de um banco de dados sobre esquistossomose mansoni no município e posteriormente foi sugerido pela supervisora a apresentação deste trabalho no Encontro de Pesquisa da Faculdade Nobre de Feira de Santana no mesmo ano, aprovado na modalidade pôster. Esta experiência nos impulsionou a conhecer como se comportou a epidemiologia da esquistossomose mansoni nos últimos 10 (dez) anos. Explica-se também o interesse pela temática, pois uma das autoras trabalha no monitoramento deste agravo no município especificamente no Programa de Controle da Esquistossomose (PCE).

Tal estudo teve como objetivo geral a caracterização do conhecimento produzido sobre a trajetória da esquistossomose mansônica através da literatura nacional do período de 2000 a 2010. E como objetivo específico a identificação das características do conhecimento produzido sobre trajetória da esquistossomose mansônica através da literatura nacional quanto ao tipo e natureza do estudo, formação profissional, conteúdo abordado e local de publicação do período de 2000 a 2010.

A relevância crucial para as autoras da presente pesquisa foi analisar a quantidade de trabalhos e pesquisadores que tiveram interesse em se aprofundar sobre a temática proposta, sendo assim pretende ser relevante por ser atualmente um problema de saúde pública, e por perceber a escassez de trabalhos científicos relacionados a trajetória da esquistossomose mansône nos últimos dez anos.

MATERIAIS E METODOS

A pesquisa tratou-se de uma revisão bibliográfica de caráter descritivo exploratório com abordagem quantitativa. A pesquisa bibliográfica, segundo Gil (1996), é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, página de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto.

Participaram dessa pesquisa 14 estudos selecionados na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) que atendiam aos objetivos traçados. Utilizou-se o critério temporal (2000 a 2012) para a inclusão ou exclusão dos estudos encontrados durante a busca em bases de dados.

A coleta dos dados ocorreu a partir de consultas ao site da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) do Ministério da Saúde (MS). Optou-se pelo grupo das Ciências da Saúde em Geral composta pelas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), Biblioteca Cochrane e ScientificElectronic Library Online (SciELO).

Foram utilizados os descritores “esquitossomose”, “epidemiologia”, “endemia” sendo que na BVS obteve como resultado 480 publicações. A seleção das publicações pertinentes ao estudo ocorreu após uma triagem obedecendo ao período do estudo 2000 a 2012 e que disponibilizasse o resumo on-line para que pudéssemos analisar melhor as variáveis do estudo.

Procedeu-se com a leitura do título das 480 publicações selecionando assim 100 artigos que, pelo título, atendiam ao objetivo desse estudo.  Selecionados as publicações com base no titulo, seguiu-se com a leitura dos resumos do material objetivando verificar em que medida as publicações eram pertinentes ao objeto de estudo dessa pesquisa. Então, após essa segunda leitura, selecionou-se 20 publicações e, por fim, após uma leitura minuciosa e exploratória do conteúdo  identificou-se que 14 estudos correspondiam ao objetivo da pesquisa. Em seguida coletaram-se os dados de maior relevância apresentados em forma de tabela construída para este trabalho. Após a coleta dos dados, procedeu-se com os apontamentos relevantes para as pesquisas em resumos para cada publicação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra estudada foi constituída de uma seleção de 14 artigos publicados, sendo considerados: a ordem dos artigos, o ano em ordem cronológica, os títulos dos artigos, os autores e o periódico. A amostra encontrada inicialmente foi constituída de 100 artigos publicados, sendo selecionados apenas 14 artigos levando em consideração os descritores do estudo: Esquistossomose mansônica; Epidemiologia; Doença endêmica. Sendo apresentados a seguir na Tabela 1.

           

Quanto ao ano de publicação dos artigos encontrados observou-se que os anos de 2008 e 2010 representaram o maior número de 03 (três) publicações cada ano, com 42,8 % do total, seguido de 2002 e 2007, com 02 (duas) publicações cada ano, representando 28,6% do total pesquisado.

Quanto ao tipo de estudo dos artigos publicados, verificou-se que a predominância dos estudos quantitativos (05) representaram 50%, seguido dos estudos qualitativos (5) com 35,7% e apenas 14,3% dos estudos quanti-qualitativos (2).

De acordo com Portela (2011), a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização etc. Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens.

Com relação aos estados brasileiros que publicaram os artigos, conforme Tabela 2 verificou-se um total de 08 localidades, havendo uma predominância de publicações no Estado de Pernambuco (03) correspondendo a 21,14% do total,  seguido de Minais Gerais, (02), Bahia (02), Rio de Janeiro (02), sendo cada 14,3%. Os demais estados encontrados tiveram apenas 01 artigo publicado, correspondendo a 7,5% cada um.

De acordo com os dados elencados, percebe-se que os estados que mais publicaram artigos e periódicos sobre a temática, estão entre os que estão com altas incidências da patologia. No Brasil, índices elevados da esquistossomose mansônica correspondem, na grande maioria dos casos, à presença da espécie Biomphalariaglabrata, principal transmissora do Schistosoma mansoni, nas localidades endêmicas. A esquistossomose mansônica apresenta-se como um sério problema de Saúde Pública com aproximadamente seis milhões de indivíduos infectados no país. Em estudos recentes, pode-se observar que a dispersão da esquistossomose, e vem apresentando um padrão comportamental com significativas associações com os fatores ambientais, socioeconômicos e demográficos, indicando tendência por áreas geográficas específicas. (COUTO, 2005; CADIM, 2010).

No caso da Bahia, os resultados demonstram que a microrregião de Jequié apresentou 25.040 casos de esquistossomose, sendo o ano de 2006 o de maior prevalência (10,3%). Houve registro de atividades de controle de esquistossomose em 45,4% dos municípios da área em estudo. Quanto ao número de exames realizado no período, atendeu apenas 9,98% da população residente na área estudada. Portanto, pode-se considerar o SISPCE como um avanço no monitoramento e vigilância da esquistossomose, necessitando de ações sistemáticas pelos municípios, através do fluxo contínuo de dados capaz de orientar os gestores na elaboração de politicas públicas. Controle sistemático de moluscos vetores, saneamento ambiental, educação para a saúde e mobilização comunitária ainda são necessárias.(FAVRE; PIERI; BARBOSA; BECK, 2001).

Quanto ao local de publicação dos referentes artigos, observou-se que a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e  o Caderno de Saúde Pública, destacaram-se (04) das publicações encontradas, seguido das demais revistas que publicaram cada uma apenas 01 artigo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observamos que no Estado da Bahia o interesse pela temática ainda é escasso, ao contrário das regiões Sul e Sudeste do Brasil que lideraram nas publicações encontradas.

Verificou-se que a grande maioria dos trabalhos foi publicada por enfermeiros, o que mostra um maior interesse para o cuidado por parte dessas profissões, fazendo-se necessária que outros profissionais se sensibilizem para este cuidar multidisciplinar, que cresce tendencialmente.

Na perspectiva da saúde coletiva, para a qual os problemas de saúde da população resultam da forma como se organiza a sociedade, em suas múltiplas dimensões, os programas de promoção da saúde relacionados com os problemas ambientais devem ser movimentos politicamente agressivos na perspectiva de uma equidade social, política e econômica.

REFERENCIAS

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