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Obrigada

Comemoração dos gêneros: pai e mãe

O clima era fresco. O pátio da escola estava enfeitado, repleto de bexigas coloridas, corações e flores feitas de papel cartolina.

Era dia de comemoração e as crianças ansiavam pela chegada de suas mães.
Menos Manoela que estava sozinha sentada do lado esquerdo do pátio ouvindo os comentários das amiguinhas sobre suas mães:  Uma disse:  – “ Minha mãe é linda e tão feliz” , a outra  exaltou  :  -“ Minha mãe é linda e trabalha no banco “ e a terceira concluiu : “ Minha mãe cuida do meu irmãozinho”;  Manoela nesse instante encheu- se de saudades e naquele momento lembrou se de sua amada mãezinha  e veio à tona uma vontade indescritível de abraça–lá. Manuela tinha apenas sete anos e perdeu sua mãe por conta de um acidente fatal.

Naquela mesma tarde, porém na festa de outra escola, a mesma ansiedade se repetia em cada criança que esperava por sua mãe. Aqui a comemoração para as mães aconteceria nas salas de aula das crianças e estavam todas muito bem enfeitadas. Na sala da professora Márcia havia uma faixa de boas vindas pendurada na lousa e uma linda poesia para homenagear as mãezinhas. Cada criança estava sentada em sua respectiva carteira com um cartão confeccionado por elas mesmas e na mesa que pertence a professora,   haviam várias caixinhas embrulhadas em  bonitos papéis de presentes coloridos, que simbolizavam a lembrança para cada mamãe. Nessa escola também havia isolamento, tristeza e saudades. Douglas não conheceu sua mãe, pois ela faleceu durante o parto, enquanto Rita conheceu, mas não tem recordações vivas em sua mente sobre sua mãe, pois ainda pequena foi abandonada pela mesma ficando aos cuidados da avó materna.


Fabio, também não se enquadrava nos padrões naturais para esse evento embora ele conhecesse e convivesse com sua mãezinha ela sempre tinha uma boa desculpa para se ausentar, e dessa vez não foi diferente. Ela não compareceu porque simplesmente esqueceu-se do evento.

Diferentemente da mãe de Maria Eduarda que nunca perdeu nem uma apresentação, dessa vez não conseguiu chegar a tempo e sua filha ficou muito triste, afinal não pode apresentar sua poesia para a mãe como fizeram todos os seus amiguinhos.

Sofia estava nervosa e chorosa, sua mãe estava demorando, ela nunca faltou nas festinhas. O que será que aconteceu? Sofia não fez a apresentação, pois era imprescindível a presença da mãe para interagirem na peça de teatro. A mãe chegou para buscá-la quando já havia terminado tudo, disse que o trânsito estava infernal. Sofia ficou furiosa.

Esses casos acimas relatados representam uma realidade que infelizmente nos cercam.  Cada indivíduo possui uma história. E todos nós estamos sujeitos a situações de imprevistos. Acontece que para as crianças qualquer tipo de frustração pode se tornar um sério trauma que acarretará em futuros problemas sociais e emocionais. Muitas delas não possuem maturidade ainda para lidar com determinadas situações mesmo quando elas atingem o período das operações concretas e formais, passando pela assimilação e acomodação (Piaget,1971). Concluindo assim que nessa fase o sentimento de perda é muito mais intenso e danoso.

As intercorrências nos casos acima são variadas e geraram desgostos também aos adultos. É natural passarmos por decepções e frustrações no decorrer da vida, mas não precisamos expor e tampouco incentivar um sentimento doloroso em nossos alunos dentro das nossas escolas.

Por passarem um longo período de suas vidas na escola, esta torna-se referência para todas as crianças sem exceção. Portanto defendemos o princípio que se uma data simbólica não trará felicidades e alegrias para todas as crianças sem exceção, a mesma não deve ser comemorada.
Pois a felicidade das crianças que possuem pai e mãe ou por outros motivos da ausência deles, não diminuirá a dor daquelas que não os têm, pelo contrário, acentuará a mesma. Vale lembrar que muitas crianças são rejeitadas pelos seus genitores e uma comemoração desse porte acentuará ainda mais suas dores.

Dessa forma concluímos que uma frustração “imposta” pela própria escola-  isso mesmo  imposta- pois nossos pequenos são obrigados a se submeterem a estas comemorações culturais muitas vezes contra sua  própria vontade o que pode levar a esta(s)criança(s) à depressão, ocasionando o baixo rendimento escolar, podem tornar-se pessoas agressivas e arredias, podendo também desestimular seu convívio social isolando-se.

As dores do ser humano seja ela qual for, em qualquer faixa etária, pode ser uma arma perigosa para estimular o bullying*.

Ressalto que estamos falando sobre seres humanos, sobre indivíduos em processo de crescimento físico, psíquico como também de ensino-aprendizagem, onde o seu cognitivo está sendo processado de forma em absorver tudo que sente, vê, lê e ouve pela frente.

Muitas vezes para a escola vale a parceria com a empresa de fotografia, ou com a Dona Maria do artesanato, onde a escola arrecadará verba extra para continuar mantendo ou comprar algo necessário para a escola onde o Governo/União e outros, não suprem.

Dia da mãe e/ou do pai e outras datas análogas, sempre foi e sempre será comércio. Puro capitalismo. O capitalismo nesse caso torna-se atroz.

No Brasil o Dia das Mães foi decretado em 1932, pelo então Presidente Getúlio Vargas. Os primeiros indícios de comemoração, encontramos na Grécia antiga. Ofereciam ofertas, presentes à mãe Reía – mãe comum de todos. Tornou-se uma comemoração de caráter cristão. Foi comemorado ainda nos tempos dos romanos, Estados Unidos e Inglaterra. A data espalhou-se pelo mundo e ganhou um caráter comercial, esquecendo-se do foco que é a mãe. (fonte: UOL, 13/05/2012).

Haja vista que a criança já é torturada pela mídia o tempo todo, seja pela televisão, pela internet, outdoor, cabe à escola não dar ênfase a essas datas e sim adotar uma postura humanizada de acolhimento e vínculo com essa criança ou crianças.

A escola precisa repensar seus conceitos. As mudanças acontecem o tempo todo e quebrar paradigmas faz parte contínua não só da nossa vida como também do currículo da escola, o que importa no âmbito escolar são os discentes. Eles são “a menina” dos nossos olhos. E tudo que for relevante para o seu desenvolvimento seja ele cognitivo, psíquico e social, é também de responsabilidade da escola.

Poderia por exemplo ser abordado e difundido a “Comemoração ao dia da Família”.

Dia da família Internacional comemora-se em 15/05 e no Brasil em 08/12, só não está difundida.

Segundo as Nações Unidas, com o dia da família o intuito é:

- Divulgar a importância da família na sociedade;

-Sublinhar o caráter basilar da família na Educação das crianças;

- Passar mensagem de amor, respeito, união, elementos essenciais para o relacionamento;

-Alertar a sociedade sobre a responsabilidade das famílias;

-Sensibilizar os cidadãos para as questões sociais, econômicas e demográficas que afetam a família.(Fonte: www.uol.com.br/educação)

O aluno se sentirá “a priori” envolvido no contexto, tendo a liberdade e a visão de que, a festa em “Comemoração ao dia da família”, os avôs, a tia querida, o irmão mais velho poderão participar e assim será dissolvido aquele estigma frustrante de festas para os gêneros “só pai” ou “só mãe” e sim para a família como um todo. Erradicar esse rótulo que muitas vezes machuca e entra no inconsciente do aluno como uma má lembrança.

Se for difundido o Dia da Família e extirpado o dia “do pai” e “dia da mãe”, nós educadores, perceberemos que no decorrer da vida escolar das crianças, as lembranças em relação ao “Dia da família” serão alegres, confortantes e seu cérebro não carregará uma frustração cultural e capitalista de outrora.

A análise não prevê a extinção de festas comemorativas tampouco descarta a importância de outras datas. Claro que as datas como as cívicas, datas sobre as mitologias, datas sobre meio ambiente, etc., são importantes para o conhecimento e para continuar disseminando a nossa cultura e a cultura em geral. E se lá na frente à história do coelhinho da páscoa for refutada, desmistificada, tudo bem, a criança vai chorar, vai ficar aborrecida, vai te culpar, mas vai passar. Agora pai e mãe não são faz de conta. Não dá para brincar com isso. Que a decepção da criança seja por um mito e que seus pais continuem sendo seus ídolos e/ou não. Mesmo que apenas na memória e que não sejam mais machucados nesse caso apenas para o bel prazer da sociedade e ideologia do governo.

 

 

Bibliografia

PIAGET, Jean – A Epistemologia Genética, 1971