O que aconteceu em Santo André?

Acompanhei este sequestro desde o seu início e após dois dias de negociação disse: "Isso não vai acabar bem". E nem precisava ser um vidente para ter tal conclusão.

A polícia brasileira de determinadas regiões parecem não saber lidarem com certas situações. Que o diga o sequestro no ônibus no Rio de Janeiro que terminou com a morte da refém e com o assassinato do sequestrador pelos próprios policiais depois dele sair ileso da ação desastrosa da PM carioca.

Em São Paulo, o sequestro do apresentador Silvio Santos precisou ter a intervenção do próprio governador do estado na época, o sr. Geraldo Alckmin, uma vez que o sequestrador conseguiu, como em cenas de cinema americano, fugir do prédio da polícia pela parte externa como se fosse o próprio homem aranha. Tempos depois, "misteriosamente", este sequestrador apareceu morto na prisão a qual cumpria sua pena.

E o que vemos agora?

Uma polícia que corta a energia, mas que depois a religa. Que consegue liberar todos os reféns e que depois permite o retorno de uma adolescente (sem o consentimentos dos pais como eles mesmos falaram). E aliás, nem com o consentimento dos pais um refém, muito menos adolescente, deveria regressar ao seu cativeiro e ao seu sequestrador.

Para onde foram as tecnologias existentes hoje em dia como micro câmeras, localizador térmico, óculos de visão noturna? E os tão conhecidos atiradores de elite? Quantas vezes aquele rapaz apareceu na janela deixando à mostra o suficiente para um atirador de elite executar sua função e salvar vidas?

O sequestrador atirou quatro vezes durante todo o período do sequestro e o que fez a polícia? E o que fez o comandante da operação?

Na gravação de pouco mais de um minuto da Rede Globo na hora da invasão, assistimos a cenas que se fosse realizadas em treinamentos da corporação não poderia ter um resultado pior. Uma explosão que serve apenas para assustar os que estão dentro do apartamento uma vez que os políciais não conseguiram entrar imediatamente. Um "bolo" de três a quatro policias disputam a entrada da porta demonstrando claramente que a bomba lançada causou mais susto do que eficiência. E venhamos e convenhamos, teria necessidade de utilizar uma bomba?

Pior do que isso é ver a escada colocada na janela com tamanho inferior ao necessário e um policial que entala na janela quando o mesmo deveria entrar de maneira rápida ou dar o suporte necessário com uma arma apropriada apoiando-se na escada sem ter a necessidade de invadir o apartamento, servindo apenas de apoio aos outros policiais que já deveria ter entrado.

O que aconteceu em Santo André é o que normalmente acontece pelo Brasil inteiro. A vítima sempre paga pela incompetência de um Estado que não é governo e de políticos que se comprometem apenas com os seus egos. A polícia de alguns estados não têm treinamento adequado, não têm armamento apropriado e pior, sabem lidar muito pouco com momentos de crise e conflitos.

E no meio disto tudo assistimos ao conflito bisonho entre policiais civis e militares pelas ruas de São Paulo e pra variar só um pouquinho, a batata quente foi sendo lançada de um lado para o outro nas mãos dos políticos que deveriam ter a hombridade de pelo menos assumirem suas incompetências.

Eloá é mais um trágico exemplo da incompetência política brasileira, bem como todos os que morrem por falta de atendimento hospitalar adequado, ou os que são mortos pelas chamadas balas perdidas.

Lindemberg pode até ter dado o tiro que matou sua ex-namorada, mas será culpado mesmo que não tenha sido ele. E no fim, quando toda essa poeira abaixar, leremos ou ouviremos em algum lugar, em letras miúdas e em voz baixa, que o "sequestrador de Santo André" foi encontrado morto.

O que nunca ouviremos mesmo é um mea culpa de autoridades despreparadas e políticos incapazes de construírem um país que satisfaça um dos princípios básicos que regem a Constituição Federal: segurança.

Riva Moutinho 20/10/2008