BUROCRACIA E EDUCAÇÃO MODERNA – MAX WEBER

– ALONSO BEZERRA DE CARVALHO

A educação contemporânea não se conscientizou das profundas transformações pelas quais passou a sociedade. Para entender os dilemas por que passam os homens no mundo é preciso compreender a dominação burocrática. No mecanismo burocrático tudo deve ser preciso, constante e rápido, o cumprimento das tarefas é de forma calculável e sem relações entre as pessoas. Esta burocracia moderna é bem recebida pelo capitalismo (obs: ela é produzida pelo capitalismo*), consegue desenvolver plenamente na medida em que desumaniza o ser humano. Tudo isso reflete na ação educativa, principalmente quando são tirados do individuo sua liberdade e autonomia.

Weber define burocracia como sendo: “A forma mais racional de exercício de dominação, porque nela se alcança tecnicamente o máximo de rendimento em virtude de precisão, continuidade, disciplina, rigor e confiabilidade, intensidade e extensibilidade dos serviços, e aplicabilidade formalmente universal a todas as espécies de tarefas (...) Toda nossa vida cotidiana está encaixada nesse quadro.” (Weber, 1998 : 145). Desta forma, a burocracia se expande em todos os campos da vida social.

A burocracia, em Weber, é um tipo de dominação que se estrutura em princípios cujos regulamentos, normas e ações humanas são distribuídas de forma fixas como deveres oficiais. Sendo que, a autoridade (funcionários qualificados que foram nomeados) pode usar de meios coercitivos para o cumprimento dos direitos e deveres estabelecidos. Esta dominação burocrática anda de mãos caminha lado a lado com a concentração dos meios materiais de administração nas mãos de um senhor, com o desenvolvimento há uma separação dos cargos, havendo um enfraquecimento das relações pessoais.

Ao se estabelecer, a burocracia é uma das estruturas sociais mais difíceis de destruir. Ela é o meio que transforma uma “relação comunitária” em “relação associativa”. Sendo ela ainda, um instrumento de “socialização” das relações de poder. A burocracia baseia-se no treinamento especializado, numa especialização funcional do trabalho e numa atitude fixada para o domínio habitual e virtuoso de funções únicas.

O treinamento especializado do funcionalismo tem como objetivo o absoluto êxito, quanto mais complicadas as tarefas, mais sua existência depende do poder dos funcionários, cuja toda organização do abastecimento vital elementar apóia-se sobre seus serviços.

A organização burocrática tornou-se o meio de poder mais desenvolvido nas mãos do homem, buscando ascender socialmente aqueles que estão profissionalizados e especializados, com conhecimentos mantidos em sigilo, excluindo o público.

A educação é utilizada para garantir um estado de coisas, e também para que o indivíduo seja dominado, obediente e se submeta a normas fixas e estatuídas, torne-se um “homem de/da ordem”. A educação encontra-se sob a influência dominante daquela espécie de educação que se torna indispensável para o burocratismo moderno: ensino especializado, ou seja, com a burocratização do capitalismo, generalizou-se o sistema de exames pelo mundo, por conta das exigências de indivíduos qualificados.

A superioridade do indivíduo se dá, agora, pela sua formação adquirida, ou seja, a burocracia do “status” adquirido. Desta maneira, a sociedade passa a ser dominada por homens de ordem, e quando esta desaparece por momentos, eles ficam totalmente perdidos. A busca pelo certificado não é mais pelo prazer de sabedoria, mas apenas pelo prestígio social, para caprichos individuais, para aparecerem nos círculos que seguem “códigos de honra”.

Weber analisa a realidade alemã e constata o quanto os professores estão sujeitos a um processo de burocratização, temos como exemplo as citações das opiniões de alguns docentes que afirmavam: “a tarefa das universidades é formar jovens para servir o Estado e à Igreja”.

O autor renuncia a idéia de uma melhora global no destino da humanidade, e, assim como Marx, acredita que o capitalismo não é uma garantia de uma boa solução para os problemas vigentes, pois não realiza o que promete. Weber não idealiza uma sociedade perfeita, nem se otimiza acerca da superação do capitalismo. Porém, ele tem uma crença iluminista na razão, afirma que “apesar do processo de racionalização burocrática, a história se faz pela liberdade.”, esta liberdade no sentido de uma hierarquia ética que culminaria numa sociedade harmoniosa. Esta liberdade pode resultar tanto no bem quanto no mal, sendo caracterizada por um politeísmo de valores, em que os indivíduos estão sujeitos a todo o momento em escolher entre alternativas conflitantes.

Que significado tem a educação em um mundo burocratizado?Bom, ao observarmos o cotidiano de uma sala de aula, vemos que os alunos cumprem tarefas determinadas, estão sujeitos a regras e deveres de acordo com que se cobra na sociedade burocrática. Porém, a responsabilidade da ação educativa é introduzir nesta sociedade um espaço de libertação, que consiste em romper com o determinismo, abrindo espaço para o exercício da autonomia.