CIDADÃO DO MUNDO REPOUSA EM PAZ

Perante o impacto noticioso que dava conta da morte do herói da liberdade sul-africana, e não perderia a oportunidade de render-lhe uma singela homenagem. Por isso, sinto-me impotente para em síntese lembrar os nossos estimados leitores, a figura de uma das raras personalidades que marcou o século XX. Quis o destino que o Continente Berço da humanidade fosse igualmente palco do maior acontecimento jamais visto no planeta terra; o maior funeral do mundo. Foi o acto mais noticiado pelas principais cadeias de televisão, rádios e jornais assim como a maior participação de Chefes de Estado, ex-presidentes, Chefes de Governo e ex-primeiros ministros, cujas ideologias antagónicas convergiram na África do sul.

 Foi também neste clima que a evidência das diferenças ideológicas deram lugar à primeira saudação entre os presidentes Barack Hussein Obama e Raúl Castro, treze anos depois do abraço entre Bill Clinton e Fidel Castro, dos Estados Unidos e Cuba, e a fotografia da primeira-ministra dinamarquesa, Helle Thorning Schmid, e Obama e os ciúmes da Michelle Obama.

De nome Rolihlahla  Dalibhunga Mandela e por dificuldades de pronunciar o seu nome, a sua professora Miss Ndingane atribuiu-lhe o nome de Nelson. Nelson Rolihlahla Mandela, filho de Nkosi Mphakanviswa Gadla Mandela e de Nosekeni Fanni, nasceu a 18 de Julho de 1918, em Mvezo, região de Transkei, numa família nobre e passou a sua infância na vila de Qunu, província de Cabo Oriental. Mandela faz parte do povo Thembu e do clã dos Madiba e era um dos treze filhos de seu pai com sua mãe, terceira esposa. Madiba foi preparado para ocupar um cargo de chefia tribal pela família, e aos 5 anos, começou a seguir outros meninos nas lides do campo longe dos pais cuidando do gado. Na época, era costume após o jantar mãe ou tia contar histórias, mitos e fábulas ancestrais e, como qualquer africano, aos 16 anos, Mandela submeteu-se à circuncisão.

 Frequentou os seus estudos iniciais em Fort Beaufort, Port  Elizabeth e estudou na Escola Preparatória Clarkebury Boarding Institute, um colégio exclusivo para negros de elite. Em 1939, ingressou na Universidade Fort Hare, a primeira na época que ministrava cursos para negros com o fim de preparar chefes tribais mas acabou sendo uma incubadora de líderes revolucionários. Bacharel em Artes pela Universidade da África do Sul, em 1942, e licenciou-se em Direito pela Universidade Witwatersrand. Em Johanesburg, Madiba é acolhido por Walter Sisulu, seu amigo, e consegue-lhe o primeiro emprego no escritório de advogados judeus Witkin Sidelsky & Eidelmam, únicos na época que contratariam negros para o seu trabalho.

Na companhia de Oliver Tambo inauguram Mandela & Tambo, o primeiro escritório de advogados negros na África do Sul, em 1952. Cinco anos mais tarde Nelson Mandela é um advogado bem sucedido, frequentava restaurantes e andava num carro americano importado. Em 1942, começa a frequentar reuniões do Congresso Nacional Africano (ANC) e é em Johanesburg onde Mandela granjeia respeito e preocupado com a situação do país. Dois anos mais depois com Oliver Jambo e Walter Sisulu, criam a Liga Juvenil do ANC e tencionam alternar a postura subserviente do partido face aos brancos e lançam o manifesto “um homem, um voto” onde denunciavam que 2 milhões de brancos dominam 8 milhões de negros além de deterem 87% do território.

Apaixonado por mulheres, Nelson Mandela nunca teve tempo para se dedicar aos seus amores por conta da luta contra o regime. Por isso, valeu-lhe o primeiro divórcio em 1956, com a Evelyn Mase, com quem teve dois casais; Makaziwe, Maki,Madiba e Makgatho. Divorciou-se também com a ex-assistente social Winifred Nomzamo Madikizela “Wini Mandela”, cujo relacionamento atribulado pelas constantes prisões, rendeu duas filhas, Zenami e Zinzi, para mais tarde, a 18 de Julho de 1998, aos 80 anos, casar-se com a ex-primeira dama moçambicana Graça Machel.

A 7 de Novembro de 1962, foi julgado por descumprir a ordem de restrição, pois os negros só poderiam viajar com autorização. Mandela é condenado a 7 anos e Sisulu a 6 anos. Já a 11 de Julho de 1963, estando Mandela a cumprir a pena de 7 anos, a polícia invade seu esconderijo em Rivonia e apreende documentos comprometedores de Madiba.

Nelson Mandela foi advogado de si mesmo nos processos em que esteve envolvido e no famoso julgamento de Rivómia declarou-se inocente das acusações. Mas admitiu culpa por lutar pelos direitos humanos, liberdade, atacar leis injustas e na defesa do povo. “ Durante a minha vida, dediquei-me a essa luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e realizar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer". Enviado para a ilha Robben, Madiba foi colocado na cela número 466/64 e passa a ser conhecido com “prisioneiro 46664”, completamente isolado do mundo nem jornais podia ler. Fruto das pressões internacionais, o regime do apartheid transfere-o em 1982 para a prisão de Polismar e, mais tarde, na prisão de Victor Vorster.

Na sequência do isolamento, em 1985, tomou uma decisão radical que em certos momentos da vida se espera de um líder; escreveu para o ministro da Justiça, Kobie Coetsee, informando-lhe a sua disposição de negociar mas a resposta demoraria um ano. Foi o ponto de partida e os contactos continuaram até à sua libertação a 11 de Fevereiro de 1990. Madiba foi eleito presidente em 1994 e cessou o seu mandato de cinco sem recandidatar-se. Em 1993 recebeu com o último presidente branco Frederick de Klerk, o Prémio Nobel da Paz, reformou-se da vida pública em 1999 e deixou o mundo dos vivos a 5 de Dezembro de 2013,aos 95 anos de idade.