Daniel Medeiros*

A comemoração no dia do aniversário, 21 de abril, é sempre discreta. A festa mesmo fica para um sábado de junho, quando o tempo está melhor e as pessoas podem sair às ruas e, principalmente, ao Mall, avenida na qual ocorre a aparição pública da monarca. Depois de acenar para os súditos, a rainha participa de um almoço para 10 mil convidados. Os convites são pagos mas, destes, 9 mil são distribuídos para cerca de 600 entidades filantrópicas ajudadas pela rainha, que  podem revender 40% deles pelo preço que conseguirem para levantar fundos para suas atividades. Um cambismo do bem!

A rainha assumiu o trono em 1953. É, portanto, o maior reinado da história da Inglaterra, desbancando o recorde de sua tataravó, a rainha Vitória. Só para comparar, a rainha Elizabeth viu tomarem posse 13 presidentes brasileiros nesse período, 11 presidentes americanos e 13 primeiros ministros ingleses. E depois dizem que o parlamentarismo é um sistema de governo instável... Os críticos da monarquia inglesa afirmam que é um absurdo o Estado pagar para uma família real improdutiva. De fato, o erário público gasta cerca de 40 milhões de libras por ano com as despesas da rainha e seus familiares. Porém, segundo a agência Visit Britain, em 2010, as receitas com turismo chegaram a 500 milhões de libras com as atrações reais, como o Palácio de Buckingham ou a Torre de Londres. Ou seja, a rainha e todo o aparato que a cerca é fonte de uma “indústria” extremamente lucrativa. Não é à toa que, em uma pesquisa feita em 2013, 77% dos britânicos disseram-se favoráveis à manutenção da monarquia.

Mas esse apoio todo não é só por causa do turismo. Então, qual o segredo da monarquia inglesa? Sem dúvida alguma, a democracia. A rainha não tem poderes reais. É uma figura moral, um símbolo do Império que já foi grande mas que nunca perdeu a majestade. Se já foi opressor e cruel, hoje está na vanguarda dos direitos e garantias aos cidadãos. E esse orgulho de pertencer a um país que busca governar para todo o seu povo tem na rainha discreta e silenciosa, sempre impecável e disposta, mesmo aos 90 anos, uma referência importante.

Curiosamente, no mesmo dia 21 de abril, lembramos a execução da sentença dada por outra rainha, D. Maria I. A vitima, Joaquim José da Silva Xavier, vulgo Tiradentes, condenado por trair a Coroa Portuguesa. Tiradentes liderou um movimento republicano que desejava impedir o arrocho tributário que era imposto por Portugal sem retorno aos cidadãos de Minas Gerais. O movimento queria fundar uma Universidade e pelo menos ele, Tiradentes, parecia querer também o fim da escravidão. Comemorar é lembrar juntos: pois lembremos que, República ou Monarquia, o que faz bem e deve ser defendido, é a democracia.

*Daniel Medeiros é Doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor de História do Curso Positivo.