O novo filme de David Fincher (Zodíaco - 2007, O Curioso Caso de Benjamin Button ? 2008) A Rede Social foi exibido pela primeira vez no Festival de Cinema de Nova York no dia 24 de setembro de 2010, gerando polemicas que mais tarde o colocariam como um dos filmes mais assistidos em 2010.
A película, que conta a história de alunos da Universidade de Harvard que se tornam milionários após criarem um programa de relacionamentos, aborda temas que vão além de ambição e traição, que uma grande quantidade de dinheiro pode gerar entre melhores amigos. A Rede Social foi pensada para contar mais do que a "verdadeira história da criação do facebook" e sim para ser o hit de 2010.
O sucesso do filme de Fincher surgiu não só de seu talento inegável como diretor e de uma boa história teen, mas também de um grande número de acertos.
Partindo do principio de onde tudo começou o bom faro do escritor Ben Mizrich (Briging Down the House: The Inside Story of Six M.I.T. Students Who Took Vegas for Millions - 2003) que em seu titulo anterior já havia discorrido sobre jovens estudantes que fizeram fortuna contando cartas em Las Vegas, que ao receber um e-mail de um estudante da Harvard, Will McMullen, recomendando que entrasse em contato com o co-fundador do Facebook Eduardo Saverin, seguiu a sugestão e encontrou a historia do nascimento do Facebook segundo seu co-fundador.
A ira do brasileiro Eduardo Saverin por não ter sido reconhecido como fundador, tanto socialmente como economicamente se transformou em uma boa historia para ser contada por Mizrich em seu próximo livro, afinal por traz da fortuna do facebook, haveria um grande engano?
Engano ou não, Mizrich tentou contactar diversas vezes o fundador, reconhecido, do Facebook o jovem de 26 anos Mark Zuckerberg para saber a sua versão dos fatos, mas não obteve sucesso. As pesquisas sobre a historia da fundação do Facebook seguiram com relatos de seu co-fundador, centena de fontes e até registros de ações judiciais. O espírito empreendedor do escritor, fez com que ele vendesse os direitos autorais de seu livro para se tornar filme, mesmo antes de finalizá-lo.
A oportunidade de levar os escritos, o que depois viria a se chamar: Bilionários por Acaso: A criação do Facebook, uma história de sexo, dinheiro, genialidade e traição (The Accidental Billionaries: The Founding of Facebook ? A Tale of Sex, Money, Genius and Betrayal ? 2009) para o cinema se tornou um projeto que caminhou em paralelo com o da própria confecção do livro. O livro, por sua vez, chegou às mãos do roteirista Aaron Sorkin (criador do seriado: The West Wing ? 1999) que foi o primeiro a ler cada capitulo deste para depois roteirizá-lo.
A trama de acertos transgrediu a adaptação da obra literária para a obra cinematográfica. A escolha da trilha sonora adequada para um filme teen também foi feita com esmero, para executar a maior parte das canções do filme foi escolhido o músico e produtor musical Trent Reznor, líder da banda americana de rock industrial Nine Inch Nails , o restante ficou por conta de músicas bem conhecidas como Creep (Radiohead), Ball and Biscuit (White Stripes), Califórnia Uber Alles (Dead Kennedys), e Baby, You´re a Rich Man (The Beatles).
A industria musical deu outra colaboração ao filme: a iniciativa de escalar um astro americano da música pop como Justin Timberlake (Alpha Dog ? 2006) para interpretar o papel do bon vivant Sean Parker, o criador do famoso programa ilegal de troca de MP3 conhecido por Napster, que se tornou aliado de Mark Zuckerberg na expansão do mundial do facebook, o que também contribuiu para atrair publico para as salas de cinema.
As boas escolhas não ficaram somente no âmbito da área musical e na escalação de um astro internacional da música pop para o papel do personagem mais sedutor da trama. O lançamento do filme contou com um grande projeto de cross mídia, por exemplo: o trailer convencional do filme foi lançado na web dia 15 de julho, ou seja, por volta de 3 meses antes de sua estréia prevista para o dia primeiro de outubro com a música da banda Radiohead: Creep, na versão da banda que lançou seu primeiro cd em setembro de 2010, chamada Veja Choir.
Em paralelo, Trent Reznor liberou na web 5 das canções que compôs para o filme, para serem baixadas gratuitamente, também disponibilizou um vídeo clipe exclusivo do filme no mesmo site. A cereja no topo foi a mensagem do próprio Reznor, sobre o quanto foi bom trabalhar com o diretor David Fincher e o quanto estava orgulhoso do produto final.
Para instigar ainda mais por assim dizer o "futuro espectador", o trailer interativo surgiu por ironia, primeiro no My Space , segundo o site sobre entretenimento Mashable Entertainment divulgou, duas semanas antes da estréia do filme. O trailer interativo possui o mesmo conteúdo do trailer anterior com algumas informações extras, usando o cursor em cima de personagens e objetos é possível ver perfis e dados curiosos sobre o filme e seus personagens.
O uso de diversas mídias como ferramenta de divulgação do filme, mesmo antes de seu lançamento, deixaram o "futuro espectador" enredado pela A Rede Social. Por coincidência ou não, o personagem principal da trama Mark Zuckerberg surgiu diversas vezes na mídia como o eleito pela revista Forbes, desde 2008, como o mais jovem bilionário do mundo e também com suas declarações contrarias ao filme, já que segundo o próprio declarou durante uma palestra na Universidade de Standford o filme é fiel em pequenos detalhes, no entanto os realizadores erraram na definição do filme.
As noticias na mídia sobre a briga judicial do jovem milionário e de seu ex melhor amigo, intensificaram o sucesso garantido antes de seu lançamento, filme esse que contava com mais algumas ferramentas para agradar seu então espectador e incentivá-lo a divulgar mais o filme no "boca à boca" e por que não na web?
O mérito final do sucesso de A Rede Social que rendeu ao filme e seus realizadores o titulo de melhor filme de 2010 segundo a Associação Nacional de Críticos de Cinema dos Estados Unidos; agraciando David Fincher como o melhor realizador, Aaron Sorkin como melhor argumentista e por fim, Jesse Eisenberg melhor ator, pelo papel de Mark Zuckerberg, não foi somente culpa de uma estratégia de marketing e da sincronia com a mídia. A consolidação de tal sucesso de bilheteria foi completa após o filme ter se convertido em grande estrela da 68ª edição do Globo de Ouro levando para casa os prêmios: de melhor filme de drama, direção, roteiro e trilha sonora.
Os 121 minutos de película se iniciam com o aparente estimulo principal para a criação do Facebook por um jovem de Harvard: um fora de uma garota. O Zuckerberg da vida real, nega tal motivo, porém verdade ou não esse fora nos aproxima do personagem esquisito de Zuckerberg logo na primeira cena, afinal, quem nunca levou um fora?
Ligações continuam a serem construídas entre o espectador e o protagonista, que logo demonstra ser um jovem inteligente, sem atributos físicos e com grandes problemas em se comunicar ou seja ele se encaixa perfeitamente no rotulo de geek ( o que em português seria algo como nerd) e por isso também não consegue se encaixar no perfil para fazer parte de nenhum final club : o famoso embate da juventude sobre fazer parte de um grupo social, ser aceito pela sociedade.
As questões quase que adolescentes do protagonista vão se revelando na tela, em forma de flash back do próprio, que relembra tudo enquanto se defende de dois processos jurídicos: o qual seu ex melhor amigo Eduardo Saverin pede para ser reconhecido como co-fundador social e economicamente, outro no qual os gêmeos Winklevoss - atletas do remo em Harvard- que também processam Zuckerberg por roubar a idéia do Facebook deles, estes o haviam contratado para montar uma rede social chamada Harvard Connection, onde ele trabalhou por uma temporada e logo depois adaptou a idéia dessa rede social criando o thefacebook ? como foi chamado inicialmente o Facebook.
As temáticas citadas acima são extremamente palatáveis, no entanto a questão que realmente permeia o filme é a traição de Zuckerberg para com Eduardo Saverin. O livro e o filme tentam dar conta das duas faces da moeda, porém ambos são tendenciosos: o livro por haver sido escrito, em grande parte, pelos depoimentos de Eduardo Saverin, o coloca como a grande vitima da trama.
Por sua vez, a indústria Hollywoodiana optou por absolver os erros de Zuckerberg no caso do filme, devido a sua grande genialidade e astucia em ganhar dinheiro expandindo o facebook, conforme o quadro abaixo:


Facebook em Números
500 mil. São as aplicações agregadas até o momento.
3,5 milhões. De unidades de conteúdo (notas, links, álbuns) são compartilhadas por semana.
5,3 milhões. São as páginas criadas por fanáticos.
35 milhões ou mais. Atualizam seu status todos os dias.
83 milhões. É a quantidade de fotos colocadas diariamente.
400 milhões. De usuários ativos se registraram em fevereiro, segundo portal Pingdom ? www.pingdom.com
630 milhões. É a quantidade de usuários que terão Facebook no próximo ano, segundo mesmo portal.

No entanto, a realização de A Rede Social não seria possível se Zuckerberg não houvesse criado uma empresa que já nos seus primeiros 7 anos de vida atingisse o valor de cinqüenta milhões de dólares. Cifra essa que fez com que o filme atraísse diversos tipos de product placement a assim chamada publicidade informal inserida cuidadosamente na trama. A história do Facebook teve diversas inserções de marcas conhecidas mundialmente ao longo do filme, que pagaram para aparecer de forma involuntária como foi o caso de aproximadamente 20 marcas, entre elas: The North Face, Sony, Mountain Dew, Adidas, Apple, Polaroid, Victoria´s Secret.
Os grandes valores inseridos na produção do filme, incluindo seu lançamento, geraram um valor de US$ 46,1 milhões em apenas duas semanas em cartaz nos EUA valor que, segundo a Columbia Pictures, cobriria os custos da produção. No Brasil, o filme ganhou o quinto lugar na arrecadação até dezembro do ano passado, somando mais de R$ 921 mil.



Líderes de bilheteria no cinema brasileiro até dezembro de 2010
1ª Tron ? O Legado: R$ 3 milhões
2ª As Crônicas de Nárnia ? A Viagem do Peregrino da Alvorada: R$ 2,9 milhões
3ª Harry Potter e as Relíquias da Morte ? Parte 1: R$ 1,139 milhões
4ª Megamente: R$ 1,130 milhões
5ª A Rede Social: R$ 921 mil

O que fica de tudo isso é o quanto uma rede social instalada na web pode influenciar grandes marcas, pessoas, valores econômicos e éticos logo na primeira década do século XXI e se tornar a própria fórmula para o sucesso de um filme. Sucesso que o levou a ser considerado o filme do ano, após vencer 4 Globos de Ouro, e ser indicado em 8 categorias ao premio máximo do cinema mundial o Oscar, levando apenas 3 estatuetas ? melhor roteiro adaptado, com Aaron Sorkin; Melhor Trilha Sonora Original, com Trent Reznor e Atticus Ross; e Melhor Montagem -, apenas considerado já que na reta final o rigor acadêmico do britânico O Discurso do Rei (2010) arrebatou os prêmios mais importantes da academia rebaixando, em minha opinião A Rede Social a um filme quase teen que traduz muito bem a influencia das novas mídias em nossas vidas.







REFERÊNCIAS

Bibliográficas

MEZRICH, Ben. Bilionários por acaso: A criação do Facebook, uma história de sexo, dinheiro, genialidade e traição. Tradução. Alexandre Matias. Rio de Janeiro: Intriseca, 2010.

Fílmicas

A REDE Social. EUA 2010. 121 min.: son & color.

Periódicos

FERREIRA, Juan Andrés. "De geek despechado a millonario cuestionado". Revista Cinemag, Argentina, p. 35-40, out/2010.

KRAUSZ, Renato. "Filme do Facebook é para curtir." Revista Vip, São Paulo, p.200-202, dez/2010.

EDWARDS, Ian. "Eu não gosto de grupo". The Interview People. Tradução. Revista Gloss, dez de 2010, p. s/n

Websites

Wikipédia
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Geek. Acessado em janeiro de 2011.

Trent Reznor and Actticus Ross: The Social Network
Disponível em: http://www.nullco.com/TSN/. Acessado em novembro de 2010 e janeiro de 2011.

Informativo: "The Social Network" Interactive Trailer Is All Up In Your Facebook.
Mashable/Entertainment. De Ben Parr.
Disponivel em: http://mashable.com/2010/09/16/the-social-network-interactive-trailer/. Acessado em 10 de janeiro de 2011.

Informativo: EUA, "A rede social", foi o melhor filme de 2010 para a associação de críticos.
Jornal de Notícias
Disponível em: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=1752507 Acessado em 10 de janeiro de 2011.

Informativo: A Rede Social estréia causando interesse e controvérsia nos EUA.
R7
Disponível em: http://entretenimento.r7.com/cinema/noticias/a-rede-social-estreia-causando-interesse-e-controversia-nos-eua-20100927.html. Acessado em 10 de janeiro de 2011.

Informativo: Reino Unido Autoriza Product Placement.
Exame.com
Disponível em: http://www.examenews.com/marketing/noticias/reino-unido-autoriza-product-placement. Acessado em 13 de janeiro de 2011.

Informativo: A Rede Social "curte" Product Placement. De Cris Simon.
Exame.com
Disponível em: http://exame.abril.com.br/marketing/galerias/publicidade-no-cinema/a-rede-social-e-wall-street-2-duas-coisas-em-comum. Acessado em 13 de janeiro de 2011.

Informativo: Tron ? O legado lidera bilheterias no Brasil. De Wikerson Landin.
Portal do Cinema
Disponível em: http://portaldecinema.com.br/news/tag/faturamento/ Acessado em 13 de janeiro de 2011.

Artigo: A Rede Social e a Publicidade Indireta. De Reinaldo Miguel Messias.
Artigos.com
Disponível em: http://www.artigos.com/artigos/sociais/administracao/marketing-e-propaganda/o-filme-a-rede-social-e-a-publicidade-indireta-15367/artigo/ Acessado em 13 e 14 de janeiro de 2011.

Artigo: Facebook ? A Rede Social e a Marca. De Claudio Roberto Vallim.
Artigos.com
Disponível em: http://www.artigos.com/artigos/sociais/direito/facebook-_-a-rede-social-e-a-marca-15407/artigo/ Acessado em 13 e 14 de janeiro de 2011.


Folha.com
Informativo: Globo de Ouro é marcado por poucas surpresas e boas piadas. De Fernanda Ezabella.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/861538-globo-de-ouro-e-marcado-por-poucas-surpresas-e-boas-piadas.shtml. Acessado em 17 de janeiro de 2011.