VÁRZEA DA AMAZÔNIA
Emanuel Cavalcante
Pesquisador da Embrapa Amapá

Na Região Amazônia todos os rios de água barrenta que atravessam a região carregam consigo uma quantidade de substância em suspensão. No período das enchentes, por um processo natural, esses detritos minerais e orgânicos se depositam sobre as margens inundáveis, dando-lhes uma boa fertilidade e valor como áreas para a exploração agrícola. .
Na hidrografia das várzeas próximas ao litoral as marés constituem o elemento dominante. Elas exercem influências na direção da correnteza, na intensidade da sedimentação, na qualidade da água, no transporte de detritos minerais e orgânicos e na oscilação do nível das inundações.
As marés ao transbordarem na orla marítima ou no baixo curso dos rios, efetuam uma maior deposição de sedimentos nos trechos próximos das margens. Pela ação da força de gravidade é ali que se depositam as partículas de maior diâmetro. Acompanhando as margens dos rios ou da costa, há uma faixa de nível mais elevado. É o que denominamos de várzea alta. Em cada preamar, as águas que cobrem a várzea alta não permanecem mais do que duas horas sobre o solo, retornando logo ao leito dos rios, na maré vazante. Este trecho seca completamente durante os messes menos chuvosos
Posteriormente à essa faixa marginal vem outra que recebe os sedimentos menores. É de cota mais baixa e pode ser denominada de várzea baixa. Nesta, a inundação se processa por mais tempo porque sendo o nível inferior ao da margem, parte da água que transborda sobre a várzea alta, não pode retornar no refluxo da maré e fica represada. A várzea baixa é invadida ou umedecida parcialmente durante quase todo o ano, pelas águas de lua cheia e lua nova. As marés não chegam a cobrir a faixa marginal dos rios maiores, mas invadem os igarapés e por eles transbordam para a várzea baixa. Durante a estação chuvosa este trecho está quase constantemente alagado e atoladiço, mas com o avanço da estação seca vai adquirindo consistência até tornar-se firme. A largura da várzea baixa pode alcançar alguns quilômetros, e a sua área é bem maior do que a da várzea alta.
Deslocando-se mais para o interior, depara-se com trechos onde a cota é mais baixa em relação às anteriores, e ficam inundados pela água das chuvas, na maior parte do ano. Esta faixa tem extensão muito maior do que as citadas anteriormente e somente em tempos remotos receberam influência das marés e do rio Amazonas. Esse trecho atualmente forma-se em grande parte, pela deposição de detritos vegetais em decomposição na água estagnada e escura. São os campos inundáveis por água doce (igapós). O solo deste trecho tem consistência aquosa e mole.
Um fator que concorre para a formação do solo das várzeas é a matéria orgânica, entendendo-se como isto os detritos vegetais que caem sobre o solo, desprendidos do revestimento florístico. Desta forma, nas várzeas altas, sendo o revestimento, geralmente, constituído pela mata, a matéria orgânica se desprende do teto florestal e do sub-bosque enquanto nos trechos de cota mais baixa, a matéria orgânica provém do revestimento formado por arbusto ou por plantas herbáceas.
As possibilidades agrícolas e as condições de trabalho também são diferentes na várzea alta, na várzea baixa e nos igapós. As várzeas altas são de mais fácil manuseio e de possibilidades agrícolas imediatas. Desde que sejam respeitadas as épocas próprias para cada cultura, essas terras marginais poderão ser cultivadas sem drenagem prévia. Quanto à fertilidade, tudo indica não haver discordâncias significativas entre a várzea alta e a baixa. Esta última, no entanto, sugerem requerer operações de drenagem, sem as quais os trabalhos se tornam um tanto difícil em função do excesso de umidade.
Nos igapós a situação é bem diferente. O solo deste trecho é muito ácido e pantanoso. A sua utilização para fins agrícola necessariamente depende de operações dispendiosas de correção física e química, sem as quais se torna praticamente impossível cultiva-los.
No Estado do Amapá esta formação pioneira chamada de campo de várzea ou campos inundáveis é um ambiente largamente distribuído na região, de natureza aluvial e submetido a regimes flúvio-pluviais ligados a um complexo sistema de drenagem. Os campos inundáveis compreendem as áreas da faixa litorânea com 17.445 km2, equivalente a 12,44 % da área total do Amapá.
Visando oferecer alternativas de cultivo ao produtor ribeirinho das áreas de várzea do estado, a Embrapa Amapá vêm realizando alguns estudos envolvendo, principalmente, as culturas de ciclo curto. De um modo geral as espécies de ciclo curto têm maiores possibilidades de êxito de cultivo no verão do que às de ciclo longo, e reciprocamente, estas últimas oferecem maiores vantagens para a estação chuvosa do que as de ciclo curto. As espécies de ciclo longo cultivadas no início do inverno podem ser colhidas já no início do verão e as de ciclo curto, cultivadas neste último período, poderão produzir ainda em pleno verão, o que facilita a colheita, em ambos os casos.

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