Umarizal: Medo, Insegurança e Violência

 

 

                                                        André Alexandre de Oliveira CAVALCANTE

Graduando do Departamento de Geografia do CAMEAM/UERN

e membro do colegiado do

CAMEAM/[email protected]

 

Rosalvo Nobre CARNEIRO

Professor Assistente I do Departamento de Geografia do CAMEAM/UERN e
Doutorando do Programa de pós-graduação em Geografia da UFPB.
[email protected]

 

 

 




Resumo
Propõe-se analisar as relações entre medo, insegurança e violência na cidade de Umarizal, Rio Grande do Norte no período de 2007 a 2008, buscando mostrar a diferenciação espacial entre a cidade de Umarizal e as cidades limítrofes: Martins-RN, Olho D’água dos Borges-RN, Riacho da Cruz-RN, e portalegre-RN desse modo busca-se entender as relações socioespaciais dessa área. Este trabalho teve como base os check-ups policiais que se encontram no Batalhão Coronel André Fernandes, 7° Batalhão de Polícia Militar do Rio Grande do Norte, localizado em Pau dos Ferros. Como também uma pesquisa de campo realizada na cidade de Umarizal no dia 25 de Julio de 2009. A partir dos check-ups policiais dos cinco municípios da área estudada selecionaram-se alguns Tipos de Ocorrências Criminas, para a partir daí, fazer a relação e comparação do índice de criminalidade de Umarizal, com suas cidades vizinhas. O trabalho mostra que na cidade de Umarizal a violência é o principal fator responsável pelo carma da insegurança e do medo, e que alguns crimes têm por motivação o alcoolismo e ou a comercialização de drogas.                 

 

Palavras-chaves: Umarizal. Sociedade. Insegurança. Violência. Medo

 

 

 

 

Introdução

            Busca-se mostrar até que ponto estende-se a violência na cidade de Umarizal no período de 2007 a 2008, trazendo a tona o seu destaque no índice de violência urbana, levando-se em consideração os check-ups e as ações da policia militar. Como os moradores de Umarizal encaram essa realidade socioespacial e como, os mesmo buscam se proteger para não se tornarem vítimas dessa violência urbana.

            De uma perspectiva aristotélica e sociológica, a cidade não são “paus e pedras”, mas uma complexa sociedade de pessoas heterogêneas vivendo perto umas das outras. Idealmente, pessoas de diferentes procedências habitam em harmonia e usam seus diferentes dons para criar um mundo comum. Todas as vezes que isso acontece, a cidade é, durante esse tempo, uma soberba realização humana. Porém, a heterogeneidade é também uma condição que incentiva o conflito (TUAN, 2007, p. 251).

            Como assevera Souza (2007, p. 81 e 82), a violência tem se manifestado desde sempre tanto na cidade como no campo, e nas mais diferentes formas possíveis: guerras convencionais, guerras civis, revoluções, crimes políticos, crimes passionais, Latrocínios (ou seja, roubo seguido de morte)... Naturalmente, não haveria de ser o simples fato de que uma dada manifestação de violência tem como palco uma cidade que bastaria para qualificá-la de tipicamente ou especificamente urbana [...]. Há, porém, alguns tipos de manifestações de criminalidade violenta, ou de violência em geral, que estão intimamente conectados às peculiaridades do espaço urbano [...].

            O trabalho em um primeiro momento vem abordar um breve relato sobre o processo de formação do município de Umarizal e em seguida, faz uma referência ao que venha ser o medo na cidade para depois vir a enfatizar o medo e a insegurança na cidade de Umarizal                                                                          

Breve relato histórico sobre a origem de Umarizal

           No começo do século XVIII, quando foi concedido ao Padre Manoel Pinheiro e a Joseph Ferreira, sesmarias de terras situadas entre as serras da mãe d’água e a do catolé, as margens do riacho Umary, tinha início um povoamento e a primeira preocupação dos novos donos foi implantar fazendas de criação de gados e lavouras. Inicialmente a comunidade foi denominada de Gavião, em virtude de parte das terras pertencentes ao Padre João de Paiva, ficarem na nascente do riacho Gavião. Na trajetória pelo progresso local destacaram-se as figuras dos proprietários Domingos Rodrigues Pereira de Miranda, Francisco da Silva Cardoso e o Tenente Reginaldo Pereira de Oliveira.

           Em virtude da prosperidade econômica ali desenvolvida, o senado da câmara de Natal nomeou em março de 1741, uma autoridade judiciária, o juiz de Vintena Bonifácio Soares Guedes para atender às demandas da localidade.

               No início do século XIX, no povoamento de Gavião já existia muitas casas, grandes fazendas uma abrangente atividade rural. A povoação continuou crescendo à margem do riacho Gavião, por onde passava uma estrada que servia de caminho para os comboios que saiam da Paraíba com destino a Mossoró. Em 1894, a localidade ganhou seu primeiro açude. No ano de 1902, o arrumado que continuava em progresso já tinha cemitério e a capela do sagrado coração de Jesus. Por decisão da Interdência de Martins, em 1925, o nome do povoamento foi mudado para Divinópolis. Em 1943, estava em fortalecimento econômico, e teve seu nome outra vez mudado, passando a se chamar Umarizal, numa referência à grande quantidade de umazeira existente na região, que consegue, mesmo em período de estiagem, molhar o solo debaixo de sua copa com gotejamento, sendo conhecida como a árvore que verte água.

           No dia 27 de novembro de 1958, pela Lei nº 2.312, Umarizal desmembrou-se de Martins e tornou-se um novo município potiguar. A cidade já foi chamada Gavião (nome do povoamento que deu origem a cidade, quando ainda fazia parte da comarca de Martins) e de Divinópolis (nome que teve que ser alterado devido à cidade homônima de Minas Gerais) hoje é chamada de Umarizal apresentando um clima quente e semi-árido, fica a 400 km de Natal, possui curso de nível superior da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte em letras e Economia e em 2007 o IBGE estima sua população em 10.640habitantes.

Medo na cidade

            Acidade representa a maior aspiração da humanidade em relação a uma ordem perfeita e harmônica, tanto em sua estrutura arquitetônica como nos laços sociais. Em todo lugar que o urbanismo apareceu de forma independente, descobrimos que suas raízes assentam-se em um centro cerimonial prestigioso em vez de um lugarejo (TUAN,2007, p.231).

            A violência e o crime são atualmente o principal motivo que desperta o sentimento de medo na cidade e dos ataques ao tipo de espaço público onde se estabelece convivência social. Mas embora o crime sirva de emblema aos perigos urbanos, o medo da cidade não diz respeito apenas à violência: ele indica mudanças profundas em algumas noções constituintes do mundo moderno. A idéia da cidade protetora dos cidadãos se firmou junto com outras noções fundamentais: as de democracia, de liberdade, e de igualdade dos cidadãos. Na era das revoluções, as cidades ocidentais transformaram-se basicamente em cidades abertas. Perderam muros, destruíram privilégios, rasgaram avenidas e consolidaram a noção de que o espaço público é aberto à circulação de todos os cidadãos a despeito de suas diferenças sociais.

 

Figura1. Praça Elena Lúcia: Centro de umarizal-rn                                                                                     

 

Umarizal: Medo e Insegurança

           A população de Umarizal convive com o medo e a insegurança. Uma onda de violência assola a cidade e engloba uma série de violências como a doméstica, escolar, contra os idosos e crianças e tantos outros que existem e que geram esse emaranhado que se tem conhecimento. As ocorrências policiais registradas em 2007e 2008 demonstram que o índice de criminalidade aumentou em relação aos anos anteriores. Os últimos acontecimentos na cidade de Umarizal deixaram a população bastante assustada, crimes ‘’bárbaros’’ vem acontecendo freqüentemente, grande parte desses crimes é praticada com armas de fogo. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o município de Umarizal conta com uma população de aproximadamente onze mil habitantes e, com um efetivo policial de doze homens que se revezam por escala, ou seja, em média um policial para cada mil habitantes. Uma pesquisa realizada pelos alunos do Curso de Geografia do CAMEAM/UERN em Julio de 2009 mostra que a população de Umarizal convive com o medo e a insegurança, 90% dos entrevistados argumentaram que o policiamento do município é insuficiente para atender o número de ocorrências, e afirma que é necessário um investimento de forma emergencial e efetiva por parte do governo do Estado na segurança pública do município.

Aqui devia ter mais policia, tem
muito pouco, eles nem andam aqui no meu bairro.

 

Dona Maria de Lourdes 54 anos, moradora de Umarizal

Sensação de segurança ao sair de casa a noite



 

                      

 

                    Figura 2.   Mostra que 84% dos entrevistados não se sentem seguro ao sair de casa a noite, e que apenas 16% se sentem seguro ao sair de casa a noite em Umarizal.

           O problema da violência em Umarizal pode ser associado a uma série de fatores entre eles podemos citar: o tráfico de drogas e a posse de armas irregulares com civis, que são tidos como os dois principais problemas vivenciados pela sociedade local no atual momento, além desses, outros impasses social também contribuem para o aumento do índice de violência na cidade: a falta de informações básicas e essenciais aos cidadãos umarizalenses, o desemprego, a reprovação escolar, o comércio de mercadorias roubadas entre outros... O tráfico de drogas em Umarizal vem se desenvolvendo em um ritmo bastante acelerado, assim como, o tráfico de armas irregulares. O município integrante do oeste potiguar está diante de um desafio: combater um comércio ilegal e imoral que ganha proporção a cada dia, o desemprego que está associado por sua vez à reprovação escolar é também considerado um dos fatores preponderantes para o aumento do índice de violência na cidade. A secretaria de educação do Estado registrou apenas 343 matriculas no ensino médio do município no ano de 2007 para uma população de 10.640 habitantes esse número é considerado baixo. São esses os principais problemas que amedrontam a população de Umarizal e causam o carma da insegurança, insere assim a cidade em um contexto do mundo contemporâneo e globalizado mesmo que seja em uma perspectiva negativa.

Índices criminais em Umarizal

           Em Umarizal o quadro de insegurança é generalizado. A sensação do cidadão comum é de desprezo por parte do governo seja ele municipal ou estadual. Todos têm ciência de que os índices de violência no estado já ultrapassaram os limites aceitáveis, mas no oeste potiguar a cidade de Umarizal vem se destacando quando o assunto é violência, a população vive assustada com os constantes homicídios e assaltos praticados naquela pequena cidade oestana e reivindicam soluções para que venha combater essas práticas criminais. A tabela abaixo mostra a comparação de alguns tipos de crimes praticados em Umarizal e suas cidades limítrofes.

 

CRIMES EM UMARIZAL E CIDADES VIZINHAS – 2007

CIDADES

ROUBO DE VEÍCULOS

TENTATIVA DE HOMICÍDIO

HOMICÍDIOS

FURTO

MARTINS

0

1

0

0

OLHO D’AGUA DOS BORGES

 

0


0


1


3

PORTALEGRE

0

0

0

0

RIACHO DA CRUZ


0


0

 

0

 

2

UMARIZAL

5

2

4

7

Figura 3. Ocorrências criminais selecionadas em Umarizal e cidades vizinhas em 2007. Fonte: Adaptado dos check-ups policiais do 7° Batalhão da Policia Militar do Rio Grande do Note

Percebe-se, dessa forma, que a cidade de Umarizal apresenta maior índice de ocorrências criminais quando comparada as suas cidades limites, dessa forma sua população convive com o medo e a insegurança e procura sempre se proteger para não se tornar vitima dessa violência que vem assolando a cidade nos últimos dois anos 2007 e 2008. Essa superioridade criminal de Umarizal em relação às cidades vizinhas foi também significativa no ano de 2008 veja a tabela abaixo que comprova essa realidade.

CRIMES EM UMARIZAL E CIDADES VIZINHAS EM 2008

CIDADES

FURTO A RESDÊNCIA

ROUBO DE VEÍCULO DE CARGA

HOMICÍDIO

LESÃO CORPORAL

MARTINS

0

0

2

4

OLOHO D’ BORGES


2

 

2

 

0


2

PORTALEGRE

0

0

1

1

RIACHO DA CRUZ

 

0

 

0

 

0

 

1

UMARIZAL

4

2

2

4

Figura 4. Ocorrências criminais selecionadas em Umarizal e cidades vizinhas em 2008. Fonte: Adaptado dos check-ups policiais do 7° Batalhão da Policia Militar do Rio Grande do Norte.

           A estatística expõe uma realidade que busca alertar ao Governo Federal e ao estadual ou municipal em particular para que enfrente o desafio de combater a violência na cidade de Umarizal e, diga-se de passagem, no Alto Oeste potiguar. Até o dia 20 de dezembro de 2009 o 7° Batalhão de Polícia Militar do Rio Grande do Norte, localizado em Pau dos Ferros já registrava 10 (Dez) homicídio em Umarizal nesse mesmo ano.

Conclusões
           
A violência em Umarizal está ligada a uma serie de fatores, mas em especial ao uso de drogas e ao porte ilegal de armas de fogo que alimenta um comércio crescente no município desde 2007. Esse trabalho quis mostrar desde o princípio que em Umarizal a violência perpassa a barreira do que é visto em suas cidades limítrofes, e tem também a finalidade de servir como fonte de pesquisa para o levantamento de dados estatísticos por parte do Governo municipal. É a ele, ao poder público que cabe a capacidade de organizar as ações aceitáveis para que se tenha uma melhor convivência social.  
           No entanto concluímos acreditando que a solução existe e está ao alcance de todos, mas é preciso a união do Estado e da sociedade para que a liberdade, a fraternidade, e a solidariedade, sejam uma realidade nesta cidade, que é formado por pessoas que acreditam na sua potencialidade e sabem que a violência pode e será vencida.

 

Referências


       1.
ARENDT, H. Sobre La violência. Madrid: Alianza Editorial, 2005.

       2. < http://wikimapia.org/6039281/pt/Umarizal-Rio-Grande-do-Norte-Brasil>
           Acesso em: 14 nov. 2008

       3.  http://www.ibge.gov.br/       
           

       4. TUAN, YI FU. PAISAGENS DO MEDO. RJ: Editora UNESP, 2005


       5. SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do Desenvolvimento Urbano.
           
RJ: Editora BERTRAND BRASIL, 2007