RESENHA DO ARTIGO “GEOPOLÍTICA DA AMAZÔNIA”

Marcos Vinícius Gomes da Silva*

BECKER, B. K. Geopolítica da Amazônia . Estudos Avançados[S. l.], v. 19, n. 53, p. 71-86, 2005. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/10047. Acesso em: 18 dez. 2022.

Como quase todo território existente na superfície terrestre (ou até em territórios fora do planeta!), a área que compreende a maior floresta equatorial do mundo, também possui profundas relações de poder, conflitos e problemáticas que marcam o espaço. A Amazônia é um dos territórios mais importantes do globo, devido a sua riqueza natural inerente, sendo objeto de disputa (direta ou indireta) por várias nações do mundo, mesmo tendo seus limites territoriais bem demarcados quanto a repartição dentro dos países sul-americanos. O texto de Bertha K. Becker, Geopolítica da Amazônia, tenta sintetizar como as dinâmicas presentes no espaço influenciam os aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos do território amazônico.

A Amazônia é a região com menor densidade demográfica do Brasil, que devido a sua impenetrabilidade foi pouco povoada na sua colonização, mas foi muito bem gerida politicamente pelos portugueses, que extrapolaram o Tratado de Tordesilhas para consolidar grande parte desse território para os limites do Brasil.

O capitalismo passa a influenciar cada vez mais a floresta amazônica, que como dito em parágrafos anteriores é cobiçada por vários Estados nacionais, principalmente pela sua vasta riqueza natural. Porém, esse interesse não se materializa através de combates a armas de fogo ou guerras regionais, mas sim através da chamada “coersão velada”, que com cita a autora, “São pressões de todo tipo para influir na decisão dos Estados sobre o uso de seus territórios”. Vale dizer que outros atores como agentes sociais organizados, corporações, organizações religiosas e movimento sociais, fincam a sua territorialidade na Amazônia.

A Amazônia passou por profundas mudanças nos últimos 100 anos transformando-se de um território quase que totalmente inóspito para se configurar como uma grande fronteira do capital natural. Relacionando as novas

 

dinâmicas presentes nesse território é notório o avanço da mercantilização na Amazônia. Dois fatos decorrentes no século XX, serviram como grandes impulsores para o avanço do capitalismo na floresta amazônica. A primeira está relacionada a substituição de uma economia baseada somente no extrativismo, para dar espaço também a indústria, que propiciou um novo enclave econômico e a geração de diversos empregos na região como podemos observar na Zona Franca de Manaus. Outro ponto, talvez o mais importante, relaciona-se com a conectividade que esse espaço adquiriu, não somente no âmbito das estradas que surgiram aos montes no século passado, mais também relacionada aos avanços nos meios de telecomunicação, permitindo novas articulações locais regionais e globais com a Amazônia. Também é inegável o crescimento da população urbana na região amazônica, que foi se consolidando de uma forma diferente da que era vista, as margens da rede fluvial, mas sim próximo as novas rodovias que foram se abrindo já dentro da floresta, não somente em seu perímetro.

As relações vigentes na Amazônia evidenciam a existência vários atores com diferentes interesses dentro da floresta, sendo que muitos desses atores nem se quer tem algum direito sobre o território. A nível global, podemos resumir em duas partes os projetos propostos pela comunidade internacional para melhor administração da floresta, o primeiro é um projeto internacional para a Amazônia, e o segundo é o da integração da Amazônia, sul-americana, continental.

A Amazônia sempre foi vista como uma floresta a ser preservada, pois influência a qualidade de vida de todos os habitantes da terra. Partindo desse princípio, sua conservação deveria ser função de todas as nações do mundo, ou pelo menos aquelas mais desenvolvidas, que possam dar maior aporte financeiro para esse fim. Porém, nos últimos tempos duas correntes relacionadas a sua conservação global predominam, como dito pela autora:

 

A primeira lógica é a civilizatória ou cultural, que possui uma preocupação legítima com a natureza pela questão da vida, o que dá origem aos movimentos ambientalistas. A outra lógica é a da acumulação, que vê a natureza como recurso escasso e como reserva de valor para a realização de capital futuro, fundamentalmente no que tange ao uso da biodiversidade condicionada ao avanço da tecnologia. BECKER, p.74

 

 

Fica cada vez mais evidente, que Amazônia passa por transformação relacionadas a sua mercantilização, onde ela passa também a se postular como um centro econômico. Contudo, se faz necessário o fortalecimento da sociedade local “para impedir o livre jogo das forças de mercado em relação aos elementos vitais para o homem”. A cooperação internacional poder ser de muita utilidade, principalmente para o fornecimento de tecnologias que facilitam a comunicação.

A integração da Amazônia seria um projeto que uniria toda floresta de forma transnacional. Esse fato poderia representar várias vantagens, como um fortalecimento econômico do bloco sul-americano, melhor administração das chamadas cidades gêmeas, que ficam nas fronteiras entre os países, facilitação do combate ao persistente narcotráfico e a elaboração de melhores políticas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

A autora afirma que o território amazônico, não se configura mais como uma simples área de expansão da fronteira móvel, mas uma região com certa consolidação, que são observáveis em sua nova feição da fronteira e nos avanços regionais em termos econômicos, sociais políticos.

As novas frentes de povoamento passaram a se organizar de forma diferente, e esse fato se relaciona com a abertura de novas estradas que não mais apenas passam pelo perímetro da floresta, mas começam a adentrá-la. Outro ponto está ligado as mudanças da forma de povoamento da floresta, que até 1990 eram incentivadas pelo governo e atualmente (2005), passaram a ser regidos pelas atividades econômicas na região. A localização da maioria dos novos povoados se configurar de forma diferente que o observado na região, deixando de ser majoritariamente as margens de um rio, para se consolidar as margens das rodovias.

No fim, é proposta uma pergunta: Como impedir a destruição das florestas? A autora defende que é “necessário articular os diferentes projetos e os diversos interesses e conflitos que incidem na região”. Para tal, as políticas públicas se fazem necessárias para esse objetivo, tentando equilibrar todos os interesses de vários autores existentes na floresta. Uma revolução científico-tecnológica na Amazônia, seria de extrema importância para o desenvolvimento sustentável da região.