INTRODUÇÃO

O cultivo de goiaba em nosso meio vem aumentando bastante nos últimos anos. O aumento da competitividade da goiaba e seus produtos se fazem necessário no Brasil, pela possibilidade de alavancar um grande volume de exportação, proporcionando divisas importantes para o país, além de proporcionar a geração de milhares de empregos em toda a cadeia produtiva.
A utilização de alta tecnologia na produção de goiaba, aliada à aptidão na região de Jaboticabal-SP em produzir frutas, favoreceu o desenvolvimento da cultura e da agroindústria. Assim, novas cultivares, irrigação e mudanças no sistema de podas dos pomares, visando aumentar a produtividade e fornecer frutas durante o ano todo, agravaram consideravelmente os danos diretos e indiretos ocasionados pelas pragas.
É importante considerar que a sazonalidade dos elementos climáticos pode influenciar direta ou indiretamente, causando mortalidade ou afetando o desempenho do inseto-praga, através de alterações de oviposição, alimentação, crescimento e migração (Hopkins & Memmott 2003). Indiretamente, os elementos climáticos podem afetar os insetos por influenciar a atividade dos inimigos naturais e alterar a qualidade dos recursos através de mudanças fisiológicas e bioquímicas na planta hospedeira (Varley et al. 1973, Hopkins & Memmott 2003). Dentre os elementos climáticos, a temperatura, a umidade relativa, a precipitação pluviométrica e a velocidade do vento são os principais fatores relacionados à dinâmica populacional de insetos-praga em diversos agroecossistemas (Wallner 1987). Contudo, a evaporação, a insolação e o fotoperíodo também podem ser importantes para algumas espécies (Takeda & Skopik 1997).
Saliente-se também que a forma da condução do cultivo deve influenciar significativamente a diversidade de pragas e de inimigos naturais, e deve ser objeto de estudos com o intuito de melhorar a compreensão das interações insetos-planta relacionadas com a implantação de um sistema de manejo com bases ecológicas, econômicas e seguras ao homem.
Atualmente o controle químico e o controle biológico são táticas possíveis para a redução da população de insetos. Porém, o levantamento populacional é o primeiro passo para se chegar ao manejo integrado de pragas, observando-se os picos populacionais e as relações com fatores abióticos (Barbosa et al. 2001, Menezes Jr. & Pazini 2001).
O desenvolvimento de programas de manejo integrado de pragas (MIP) depende grandemente de estudos básicos de dinâmica populacional e determinação da importância relativa das forças que regulam o crescimento populacional dos insetos fitófagos. Dessa forma, torna-se necessário que se desenvolvam pesquisas para se conhecer quais são os fatores e como eles interferem na intensidade de ataque das pragas à cultura.
Dentre os artrópodos inimigos naturais presentes na goiabeira destacam-se as joaninhas da família Coccinelidae que são importantes predadores por apresentarem uma grande diversidade alimentar.A maioria das espécies pertencentes a essa família são entomófagas, alimentando-se de espécies de hemípteros, ácaros e larvas de coleópteros desfolhadores (Clausen, 1972). Segundo Olkowsky et al.(1990), os coccinelídeos estão entre os mais conhecidos predadores de insetos, e ocorrem na maioria das regiões do mundo, controlando pragas de inúmeras culturas.
Assim, a melhoria do conhecimento do agroecossistema da goiabeira, como uma unidade ecológica complexa, possibilitará o aperfeiçoamento de programas de manejo integrado de pragas (MIP) que são importantes regionalmente. O principal objetivo deste trabalho foi caracterizar a dinâmica populacional de Scymnus spp em um pomar experimental semi-orgânico de goiaba (Psidium guajava L.) na região de Pindorama-SP e correlacioná-la com fatores climáticos.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho é parte de um projeto de pesquisa e de extensão desenvolvido com a co-participação e co-autoria do Eng. Agr. Ricardo A. Calore. O experimento foi instalado em um pomar experimental do tipo semi-orgânico na região de Pindorama-SP, em campo experimental da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), composto por uma coleção de 92 genótipos de goiabeira com 14 anos de idade no espaçamento padrão, com porte uniforme e plantação em nível. Foram instaladas três armadilhas adesivas amarelas ( Biocontrole dupla face de 25 cm X 9,5 cm) em cada um dos genótipos: Rubi Supreme (vermelha), IAC-4 Vermelha, Rica-J-2-UNESP, Paluma UNESP (vermelha), Saito (vermelha), Supreme e Kioshi 3 (vermelha) totalizando 21 armadilhas, no período de junho de 2009 à junho de 2010. Estas foram posicionadas a cerca de dois metros do solo, na sombra, no quadrante sul da copa da goiabeira e foram trocadas a cada 15 dias continuamente.
Cada armadilha retirada do campo foi acondicionada em uma pasta de plástico e conduzida ao Laboratório de Seletividade Ecológica do Departamento de Fitossanidade, onde foram feitas as avaliações. Os insetos foram identificados e registrados por espécime capturado em fichas de laboratório por data de amostragem. Os dados meteorológicos foram fornecidos pelo Posto Meteorológico da Fazenda Experimental da APTA- Pindorama-SP, localizado a cerca de 800 metros do local do experimento.
Com os dados obtidos foram calculadas as correlações lineares simples entre Scymnus e os fatores meteorológicos: temperatura mínima, média e máxima (graus centígrados) e precipitação pluviométrica (mm).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No complexo de artrópodes inimigos naturais coletados nas armadilhas durante a realização do experimento, destacaram-se espécimes de Scymnus spp., Azia luteipes, Formicidae, Polibia spp., Aracnidae, Cycloneda sanguinea e Chysopidae. Quantitativamente, Scymnus spp foi o espécime coletado em maior número.
Parajulle & Slosser (2003), que realizaram um experimento com algodão no estado do Texas, para monitorar pragas e inimigos naturais, também observaram que os espécimes mais encontrados foram Scymnus spp. No Nas condições do Estado de São Paulo,Pazini (2005), com o intuito de comparar diversas estratégias de manejo integrado de pragas da goiabeira, baseadas nas táticas de monitoramento populacional e na seletividade de inseticidas, também observou que Scymnus spp. foram as espécies mais abundantes em todos os tratamentos. Barbosa et al. (1999), em pesquisa de eficiência e seletividade de inseticidas realizada em pomar de goiaba verificaram que Scymnus spp. e espécies de sirfídeos foram os inimigos naturais que apareceram em maior número.
O maior pico populacional de Scymnus spp. ocorreu em 29/06/2009, com um total de 705 indivíduos coletados nas armadilhas e manteve-se num patamar relativamente alto em todo o período de amostragem, destacando-se no período de setembro a dezembro de 2009, porém em uma menor ocorrência nos meses de fevereiro e março de 2010.
Baptista (2010) , trabalhando com pomares experimentais de goiaba no Estado de São Paulo submetidos a sistemas de racionalização de agrotóxicos , concluiu que Scymnus spp. é o inimigo natural com maior número de indivíduos coletados em armadilhas adesivas amerelas nos pomares de Pindorama-SP, com picos populacionais em outubro, dezembro e junho.
Foram elaborados histogramas com números totais de Scymnus spp. capturados nas armadilhas em conjunto com dados climatológicos do pomar experimental, no período de junho de 2009 a junho de 2010. As densidades populacionais de Scymnus spp. apresentaram correlação linear significativa negativa, ou seja, inversamente proporcional para as temperaturas mínima, média e máxima. Pazini (2005) observou em experimento em pomares de goiaba que a densidade populacional deste predador em parcelas testemunhas e os fatores precipitação acumulada semanal,(mm), temperaturas mínimas e médias semanais não apresentaram coeficientes de correlação significativas na região de Vista Alegre do Alto-SP.Baptista (2010) em experimentos em pomares de goiaba em Jaboticabal-SP e Pindorama-SP concluiu que Scymnus não apresenta correlações significativas com fatores climáticos.
Os resultados de coeficientes de correlação linear simples calculado entre Scymnus spp. e os fatores meteorológicos temperatuta mínima, temperatura média e temperatura máxima foram os seguintes, respectivamente: - 0,5207**, -05160** e -0,4601*, sendo os dois primeiros valores com os sinais ** significativos ao nível de 1% de probabilidade e o terceiro valor, com o símbolo * significativo a 5%. O coeficiente para precipitaçãp (mm) foi -0,2759NS (não significativo).

PRINCIPAIS CONCLUSÕES

Com base nos resultados experimentais obtidos e nas condições de desenvolvimento do presente projeto, foi possível obter as seguintes conclusões principais:

a) As maiores ocorrências do artrópode predador Scymnus spp. acontecem no período de setembro a dezembro e as menores ocorrências são em fevereiro e março.

b) As precipitações pluviométricas não interferem nas dinâmicas populacionais de Scymnus spp.

c) A metodologia que emprega armadilhas adesivas amarelas dupla face mostra-se adequada para captura e análise de artrópodes voadores nos pomares de goiaba.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a chefia da Estação Experimental da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, APTA Centro Norte, em Pindorama-SP, na pessoa do Dr. Antônio Lúcio Melo Martins, por ceder a área experimental e ao Professor Dr. José Carlos Barbosa, da FCAV/UNESP, por orientação nas análises estatísticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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