O conhecimento climático
A partir do momento que o homem percebeu que o seu desenvolvimento dependia das condições climáticas, ele passou a produzir e registrar conhecimento sobre os componentes da natureza. Esses estudos foram importantes, pois, acabaram com a teoria de que os homens que vivem nos trópicos são inferiores.
A atribuição de fenômenos naturais aos deuses ? como o raio, o trovão, a chuva, a seca, etc. ? nos mostra que naquela época o conhecimento era muito pobre ? de maneira geral -, pois a capacidade de abstração do homem naquela época era super baixa. A partir do momento que o conhecimento sobre o clima começou a se desenvolver, formou-se as bases para o estudo cientifico da atmosfera, o que já era feito bem antes, porém de forma fragmentada.
Os gregos foram os primeiros a registrar de forma mais coerente suas reflexões sobre o comportamento do clima feitas a partir de suas observações sobre as diferenças em diversos lugares e através de viagens pelo Mediterrâneo. Muitos dos princípios que fazem parte do conhecimento atual sobre o clima surgem nessa época com os pensadores gregos, um exemplo disso é a divisão do planeta em zonas Tórrida, Temperada e Fria vem dessa época.
O imperialismo romano sobre a Europa provocou uma queda na produção intelectual do período, pois os romanos se interessavam apenas em expandir seu império e não tinham nenhum interesse sobre os conhecimentos da natureza. Com o advento do cristianismo, houve um desinteresse maior ainda sobre explicar os fenômenos da natureza por ela mesma, pois, para a igreja, os fenômenos da natureza aconteciam por forças divinas, e isso fez com que a ciência ficasse "escondida" por quase mil anos.
O surgimento do termômetro, inventado por Galileu Galilei em 1593, marcam uma retomada nos interesses sobre os estudos do clima. Esse interesse volta a partir de movimentos como o Renascimento, e após isso, os saltos foram sendo cada vez maiores. Esses estudos eram importantes na expansão do capitalismo na Europa e por isso se desenvolveu de forma bastante rápida.
O conhecimento sobre o clima ajudou nas duas guerras mundiais que ocorreram no mundo no século XX, pois era importante fazer um monitoramento das condições climáticas para se preparar um ataque. Após os períodos de guerra, com o desenvolvimento da tecnologia e da ciência ? técnico-científico ? foram criados inúmeros aparelhos mais precisos em termos de análise da atmosfera. Na década de 60 do século XX, o lançamento de satélites meteorológicos permitiu um estudo mais detalhado do clima em tempo real, e em escala global. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) criada em 1950, desenvolve pesquisas e monitora de forma contínua a atmosfera da Terra e disponibiliza essas informações. A criação dessa entidade proporcionou um estudo mais profundo sobre a camada de ar que envolve a Terra e consolidou a importância desse conhecimento para o progresso da sociedade humana. A internet proporciona a todas as pessoas, informações sobre esses estudos, e uma popularização da climatologia, pois possibilitou um maior conhecimento sobre a dinâmica atmosférica planetária e regional e também na elaboração de pesquisas.

Climatologia e Meteorologia: alguns conceitos e abordagens
Por um longo período, a Meteorologia e a Climatologia permaneceram juntas em um único ramo do conhecimento da atmosfera terrestre, para se ter uma idéia, esse período de "unificação" entre as duas áreas foi do século VI a.C até por volta do século XVIII d.C. Por volta do século XVIII e XIX, esse conhecimento começou a ser sistematizado, e graças às idéias positivistas, houve uma fragmentação desse conhecimento em ramos específicos. Dessa forma o estudo da atmosfera no ramo da Meteorologia ficou pertencendo ao campo das ciências naturais, com o objetivo de estudar os casos isolados da atmosfera e o tempo atmosférico.
O tempo atmosférico é o estado momentâneo da atmosfera em um determinado lugar e por certo período. Vários fatores contribuem para a formação desse estado da atmosfera (tempo atmosférico), como por exemplo, a radiação, temperatura, umidade, pressão etc. A Meteorologia trata da dimensão física da atmosfera. Ela estuda o raio, o trovão, nuvens, composição físico-química do ar, previsão do tempo, etc. Ela contribui com os estudos de Climatologia fornecendo dados precisos sobre as atividades atmosféricas e forma uma base de informações que facilitam o estudo de Climatologia.
O surgimento da Climatologia acontece logo após a sistematização da Meteorologia. A Climatologia é voltada para o estudo da especialização dos elementos e fenômenos atmosféricos e sua evolução. Ela se interage com a Geografia e com a Meteorologia, porém está mais relacionada a Geografia (particularmente a Geografia Física).
Várias foram às teorias desenvolvidas para explicar o conceito da palavra CLIMA. Julius Hann desenvolveu um conceito de clima no final do século XIX, e dizia que "o clima é o conjunto de fenômenos meteorológicos que caracterizam a condição média da atmosfera sobre cada lugar da Terra". Já J.O. Ayoade desenvolve outro conceito de clima, na década de 1980, dizendo que o clima "é a síntese do tempo num determinado lugar durante um período de 30-35 anos".
Com os avanços nos estudos sobre o clima, Max Sorre, concebe o clima como "a série dos estados atmosféricos acima de um lugar em sua sucessão habitual".
A Climatologia constitui o estudo científico do clima. Ela trata dos padrões de comportamento da atmosfera em suas interações com as atividades humanas e com a superfície do Planeta durante um longo período de tempo. Esse conceito nos revela a interação entre a Climatologia e a Geografia por se tratar de relações entre o homem e a natureza, e as modificações que ocorrem na paisagem com essa interação.
Para se compreender melhor o estudo dos diferentes climas do Planeta, houve uma estruturação dos estudos em climatologia evidenciando os elementos climáticos e os fatores geográficos do clima. Os elementos climáticos são três: temperatura, umidade e pressão atmosférica. Porém, esses elementos variam de acordo com os fatores geográficos que são: latitude, altitude, maritimidade, continentalidade, vegetação e as atividades humanas. A circulação e a dinâmica atmosférica superpõem-se aos elementos e fatores climáticos e imprimem ao ar uma permanente movimentação.

A Climatologia Brasileira
O Brasil está situado na área que mais recebe radiação do planeta, a zona intertropical que se localiza entre os trópicos. Portanto, podemos dizer que o Brasil é um país tropical, graças a sua localização.
A zona intertropical começou a ser estudada tardiamente, pois a parte tropical do Planeta somente veio a ser anexada ao processo produtivo mundial muito recentemente. Os primeiros estudos de Climatologia tropical foram elaborados acerca do regime de monções na Ásia e no clima do norte da África, por estudiosos ingleses e franceses, no momento em que os países europeus consolidavam sua dominação colonial-neocolonial sobre essas novas áreas, novos mercados.
Por muito tempo, a observação meteorológica e climática da atmosfera tropical foi cercada por equívocos e imprecisões, o que levou a um descrédito generalizado. Além disso, os estudiosos estavam acostumados com outras condições atmosféricas ? a zona temperada ? e por isso a atmosfera da zona intertropical era desafiadora para eles.
As teorias usadas para explicar o dinamismo do clima brasileiro são baseadas naquelas produzidas pela análise e observação na zona temperada, fazendo com que muitas vezes, os trabalhos de climatólogos deixem a desejar e fazendo com que suas previsões não se efetivem. O Brasil é um dos poucos países tropicais a possuir grande quantidade de documentos sobre a caracterização e configuração atmosférica e climática. Os primeiros trabalhos contribuíram muito para a sistematização dos dados meteorológicos. A instalação das primeiras estações meteorológicas no país data-se do século XIX, e se concentravam na Região Centro-Sul do País.
A criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), impulsionou a climatologia brasileira na década de 1940 e com maior participação de geógrafos das universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Já na década de 50, os estudos sobre o clima se deslocam para as Regiões Nordeste e Centro-Oeste do País. Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro criou o conceito de análise rítmica em Climatologia. A enorme quantidade de estudos elaborados sob sua orientação e as suas proposições teórico-metodológicas acabou por criar a "escola de climatologia urbana brasileira" (Francisco Mendonça, 1995) e a "escola de climatologia dinâmica brasileira" (João Afonso Zavatini, 1996).
A partir da década de 1960, a Climatologia brasileira passou a registrar a produção de trabalhos de cunho regional e local. Passa-se a observar a profusão de estudos enfocando a interação do clima (natureza) com as atividades humanas (sociedade), em um jogo mútuo de influências.
"A evolução do sistema produtivo, a intensificação da urbanização e a eclosão da questão ambiental tornaram evidentes os problemas sociais derivados da degradação da qualidade de vida e do ambiente. Esse contexto, trazido à pauta de preocupações pelos movimentos socioambientais dos anos de 1960 e 1970, exigiu dos climatólogos uma maior participação no equacionamento da problemática, fazendo com que o clima passasse a ser abordado de um ponto de vista mais holístico, ou seja, o ambiente climático." (pg. 19).
A evolução da tecnologia promoveu o avanço da climatologia no Brasil, com aparelhos mais sofisticados e mais precisos. A climatologia brasileira conta com inúmeros documentos, porém, ainda está bastante longe de permitir um conhecimento detalhado do clima do País. A climatologia brasileira ainda tem muitos desafios a serem enfrentados, tanto no que se refere ao detalhamento da dinâmica atmosférica quanto à diversidade climática do País.

Análise rítmica em Climatologia
A análise rítmica é um método de análise diária dos elementos do clima de um determinado local.
Esse método foi criado pelo geógrafo brasileiro Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro e consiste em analisar diariamente variáveis meteorológicas, como os montantes de precipitação, umidade relativa do ar, temperaturas máximas, médias e mínimas e os sistemas atmosféricos atuantes.
A partir da obtenção e filtragem dos dados, constrói-se um gráfico com escala diária, onde barras representam os montantes precipitados e linhas as temperaturas mínimas e máxima. Acima desse gráfico há uma linha representando a umidade em percentagem e abaixo uma barra colorida que indica os sistemas atmosféricos atuantes em cada período analisado.
Essa análise é muito útil para os estudos de climatologia geográfica, pois através da comparação entre diferentes períodos é possível identificar-se as anomalias climáticas, através da definição de qual situação pode ser considerada a habitual para a área estudada.

Escalas de estudo em Climatologia
A escala de estudo de qualquer objeto, delimita sua dimensão. A definição de escala do clima impõe-se a todo estudo ligado a esse ramo do conhecimento, uma vez que ele se manifesta em todos os lugares do Planeta. A delimitação da área (tridimensional) de estudo constitui um dos primeiros passos do trabalho em Climatologia.
A escala climática diz respeito à dimensão, ou ordem de grandeza, espacial (extensão) e temporal (duração), segundo a qual os fenômenos climáticos são estudados. Há mecanismos atmosféricos que determinam os climas de toda uma zona planetária, como é o caso da intensa radiação solar (insolação) nas baixas latitudes da zona intertropical.
O clima pode ser estudado por meio de duas dimensões: espacial e temporal, ambas sendo empregadas, de modo geral, nos mais variados estudos. As escalas espaciais ganham maior destaque na abordagem geográfica do clima, sendo as mais conhecidas: macroclimática, mesoclimática e microclimática; as escalas temporais mais utilizadas são: geológica, histórica e contemporânea.
O microclima está inserido no mesoclima, que, por sua vez, está inserido no macroclima; este somente existe com base mas grandezas inferiores. A escala contemporânea está sobreposta na histórica, que está sobreposta na geológica e vice-versa.



Escalas espaciais do clima
Macroclima, ou clima regional, que corresponde ao clima médio ocorrente num território relativamente vasto, exigindo, para sua caracterização, dados de um conjunto de postos meteorológicos; em zonas com relevo acentuado os dados macroclimáticos possuem um valor apenas relativo, especialmente sob o aspecto agrícola. Inversamente, um mesmo macroclima poderá englobar áreas de planície muito extensas.
Mesoclima: unidade intermediaria entre a grandeza superior e inferior do clima. Florestas, extensos desertos ou pradarias etc. são exemplos dessa subunidade. A extensão do mesoclima é bastante variável, sendo mais definidas as subunidades clima local e topoclima, que se enquadram de km² a dezenas de km², enquanto clima regional se situa em dimensões superiores a esta.
Microclima: é a menor e mais imprecisa unidade escalar climática, sua extensão pode ir de alguns cm a até algumas dezenas de m². Os fatores que definem essa unidade dizem respeito ao movimento turbulento do ar na superfície (circulação terciaria), a determinados obstáculos à circulação do ar, a detalhes de uso e da ocupação do solo, entre outros. Construções (uma sala de aula, um apartamento), o clima da rua, a beira de um lago, etc.

Escalas temporais do clima
Escala geológica: neste tipo de escala se estudam os fenômenos climáticos que ocorreram no Planeta desde a sua formação. São desenvolvidos os estudos ligados à Paleoclimatologia, ou seja, estudos dos climas do passado. Essa escala permite a identificação dos ambientes terrestre anteriores ao aparecimento do homem, e é dentro dessa escala que se identifica a variação do clima em centenas de milhões de anos atrás.
Escala histórica: estuda o clima do passado, porém somente do período da história registrada pelo homem. Viagens, descrições, desenhos nas cavernas, auxiliam no estudo do clima em escala histórica.
Escala contemporânea: escala em que a maioria dos climatólogos trabalha atualmente. Estações meteorológicas contribuem com seus dados para o estudo em escala contemporânea. Só os países contam com dados precisos, de longo tempo e confiáveis, pois no Brasil a chegada dessas estações só ocorreu em 1950.
As escalas geológicas e históricas são importantes no estudo do clima, elas são complementares, porém é um dos fatores mais relevantes para o bom desenvolvimento dos trabalhos.