UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
CENTRO DE EDUCAÇÃO ? CDUC
DEPTO. DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA
COMP. CURRIC: Licenciatura plena em geografia.
PROF: Arthur Valverde.
ALUNO: Uíbirá Manassés Silva. MAT: 042.305.48-9






MÚSICA POPULAR NORDESTINA E GEOGRAFIA CULTURAL EM PARALELO:













MÚSICA POPULAR NORDESTINA E GEOGRAFIA CULTURAL EM PARALELO:


Uibirá Manassés Silva1

RESUMO: O presente trabalho demonstra, através de uma pesquisa bibliográfica, que a música popular e a Geografia Cultural mantém uma significativa relação no que diz respeito ao estudo dos fatos, aspectos e problemáticas sociais de determinadas áreas, possibilitando uma análise clara da música popular nordestina, que exerce uma função de entretenimento e apelo com o olhar científico da Geografia Cultural.
Palavras chave: Nordeste, cultura, música, geografia.


? INTRODUÇÃO.
O ser humano é dotado de incontáveis faculdades, dentre elas, uma das principais é a cultura, cuja formação se dá por vários fatores influentes levando-se mais em consideração o meio ambiente. A música sempre foi uma das principais formas de interpretação cultural humana por descrever crenças religiosas, paisagens geográficas e aspectos humanos de determinada região, no Nordeste brasileiro temos diversos tipos de manifestações musicais que podem ser entendidas como formas de descrição de uma realidade local refletida nos aspectos culturais, área onde atua a Geografia Cultural, ciência que toma início nos estudos regionais e passa por diversas transformações no séc XX até uma redefinição do seu objeto de estudo.




1Licencando em Geografia.
? A CULTURA POPULAR NO PENSAMENTO GEOGRÁFICO.
Durante a evolução do pensamento geográfico as transformações e paradigmas sociopolíticos, econômicos, espaciais, e não diferente, culturais estabeleceram seus princípios teóricos, organizaram conceitos e priorizaram determinados valores, para explicar cientificamente as mudanças da realidade.
O termo: popular, origina-se da palavra: povo, e é relativo a todos os costumes e formas de organização da sociedade de uma determinada área. Conceituando a cultura segundo Edward Tylor (1832-1917) no vocábulo inglês Culture, temos que, "tomado em seu amplo sentido etnográfico é todo esse complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade". A formação da cultura de uma sociedade segue duas teorias principais: O Determinismo biológico e o Determinismo geográfico, ambas desenvolvidas por geógrafos do final do séc XIX e do começo do séc XX.
Acerca do determinismo biológico pode-se afirmar que este se caracteriza pela formação da cultura humana partindo de conceitos biologicamente pré-definidos, ou seja, genéticos. Porém analisemos a seguinte situação: uma criança nascida na Arábia Saudita é trazida para o Brasil e criada até sua fase adulta no Estado do Amazonas por uma família ribeirinha. Será que suas concepções genéticas irão se sobrepor ao meio de vida e aos costumes daquela região onde foi criada e ela viverá exatamente como uma criança árabe?
Desta forma, pode-se notar o paradigma entre o determinismo biológico e a influência que o meio geográfico exerce na formação dos costumes humanos.


Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais. Segundo Felix Keesing, "não existe correlação significativa entre a distribuição dos caracteres genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais. Qualquer criança humana normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado". Em outras palavras, se transportarmos para o Brasil, logo após seu nascimento, uma criança sueca e a colocarmos sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como tal e não se diferenciará mentalmente em nada de seus irmãos de criação. LARAYA (2006 p.17)


"A questão do espaço habitado pode ser abordada segundo um ponto de vista biológico, pelo reconhecimento da adaptabilidade do homem, como indivíduo, às mais diversas altitudes e latitudes, aos climas mais diversos, às condições naturais mais extremas." SANTOS (1988 p.37). Ou seja, as diferenças entre os seres humanos são exclusivamente anatômicas e fisiológicas, estas sim são definidas pelo fator genético. Logo, não é correto pensar que as diferenças de costumes e comportamento entre as pessoas sejam ditadas biologicamente. "Resumindo, o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo que chamamos de endoculturação, um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada." LARAYA (2006 p. 25-26)
Analisando esses princípios, pode-se notar a idéia de que a cultura humana depende de outro fator determinante, a teoria do determinismo geográfico considera que as condições físicas do meio ambiente condicionam a diversidade cultural. "São explicações existentes desde a antiguidade, do tipo das formuladas por Pollio, Ibn Khaldun, Bodin e outros." LARAYA (2006 p. 21) Porém, é importante ressaltar que é possível e absolutamente normal que, em um mesmo tipo de ambiente físico exista uma grande diversidade cultural.
Vistos os fatores determinantes da formação cultural do indivíduo, façamos uma análise do termo cultura popular segundo o citado...

A cultura popular, por sua vez, mais próxima do senso comum, mais identificada com ele, é produzida e consumida pela própria população, sem necessitar de técnicas racionalizadas e científicas. É uma cultura em geral transmitida oralmente, registrando as tradições e os costumes de um determinado grupo social. BRANDÃO (1954 p. 11).

Assim, cultura popular é o conjunto de ações e comportamentos humanos produzido pela população de uma determinada área e repassado geração a geração passando por modificações ditadas pela própria população ao longo do tempo.

? DA GÊNESE AO OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA CULTURAL.

O estudo da Geografia Cultural nos remete à escola geográfica francesa, de caráter mais possibilista e funcionalista. Mais precisamente no Brasil ficou esquecido pelos estudos geográficos acadêmicos até quase o final da déc. de 80, onde os aspectos culturais eram tratados, sem muita ênfase, apenas nos estudos regionais e, tampouco, eram vistos como tema central de pesquisas...

A escola francesa de geografia, a mais importante matriz da geografia brasileira, priorizava os estudos regionais e a cultura se constituía em mais um elemento da complexa combinação de elementos que forneciam a identidade regional. A geografia saueriana, a despeito dos esforços do geógrafo brasileiro Hilgard Sternberg, (professor no Rio de Janeiro até meados da dec. de 1960, depois transferindo-se para a Berkele), não repercutiu no país. Durante as décadas de 1970 e 1980 a geografia brasileira dividia-se em três linhas, de acordo com a tradição francesa, segundo a visão teorético ?quantitativa e de acordo, após 1980, com a perspectiva crítica, calculada no materialismo histórico-dialético. CORRÊA(2005)

Segundo uma definição de Paul Claval, a Geografia Cultural se apresenta de forma variada, porém ela vai se caracterizar principalmente pela reflexão sobre os espaços do homem e os aspectos do ser humano aceitando as particularidades e os diversos modos de vida: valorizando as manifestações e representações dos indivíduos...

Assim a Geografia Cultural moderna faz do homem o centro de sua análise e expõe o seu desenvolvimento em três eixos que são igualmente necessários e complementares: o primeiro partindo das sensações e das percepções; segundo a cultura sendo estudada através da ótica da comunicação "criação-coletiva"; terceiro, a cultura é apreendida na perspectiva de construção de identidades, insisti-se no papel do indivíduo e nas dimensões simbólicas da vida coletiva. CLAVAL (1997)

Acerca de seu objeto de estudo podemos compreender que a Geografia Cultural compara a distribuição das áreas culturais com a distribuição dos outros aspectos das superfícies da Terra, visando identificar aspectos ambientais característicos de uma determinada cultura e o papel desempenhado pelo homem na criação e manutenção de determinados aspectos geográficos.




? A MÚSICA POPULAR NORDESTINA NO SEU CONTEXTO CULTURAL.
Como a segunda maior região do Brasil, o Nordeste é o berço de diversas formas de manifestações culturais, no âmbito musical a variedade é imensa e composta por vários ritmos e estilos característicos de cada área da região. A música popular se caracteriza por ser criada e transformada pelo público à todo momento e associa-se com a música folclórica já que reflete anseios e problemáticas sociais de uma região, e sua origem nos remete a todo um contexto histórico do local onde está inserida conforme veremos.
Como já foi falado, vários ritmos e estilos compõem a cultura musical nordestina, seria quase impossível analisar todos eles porém, dentre os pioneiros, podemos ressaltar...

o Violeiros e Cirandas.
A Poesia popular do nordeste segue duas vertentes principais segundo a visão de Ariano Suassuna, primeiro a literatura de cordel, que era cantada e recitada nas feiras livres nordestinas, e a poesia improvisada dos cantadores. "O nosso romanceiro é, sem dúvida, originário do ibérico, mas tem hoje fisionomia própria, inclusive pela riqueza e variedade das formas de estrofes usadas."SASSUNA (1997).
A cantoria, ou desafio, é a forma usada para a poesia improvisada. Dois cantadores, de viola em punho, às vezes durante toda uma noite, improvisam à maneira dos tensons provençais. Esse tom satírico e jocoso, aliás, reaparece também na literatura de cordel, nos romances compostos, impressos em folhetos e vendidos nas feiras. Os ciclos desse romanceiro podem ser assim agrupados: ciclos heróico; maravilhoso; religioso e de moralidades; cômico, satírico e picaresco; histórico e circunstancial; de amor e fidelidade. No ciclo cômico, satírico e picaresco reaparece o mesmo tom jocoso, às vezes beirando a obscenidade, como sempre acontece nas formas de literatura popular. SUASSUNA (1997)



o Frevo.
O Frevo é uma forma de dança e música originária de Pernambuco, onde no bailes e nos dias de momo, as pessoas se aglomeravam nas ruas estreitas e quentes de Recife. A origem musical do Frevo nos remonta à musica européia conforme o citado...

As raízes do frevo estão na modinha, no dobrado militar, na quadrilha, na polca e no maxixe, numa seqüência de transformações que o poder de criação do povo, da canalha da rua, da ralé, do pé rapado ou da massa adaptou à sua própria índole, como forma de extravasar o seus mais ardentes anseios de liberdade. CAVALCANTI (1997)
o Emboladas
A Embolada é um ritmo nordestino que consiste em uma dupla de cantadores, que travam desafios entre si acerca dos mais variados temas geralmente sugeridos pelo público.
Toda feira nordestina é uma colorida e pitoresca exposição, heterogênea em seus elementos de sabor local, principalmente nas mostras abertas de seu artesanato de cerâmica, cestos, flandres, rendas etc., rudes e maravilhosos resultados de talento dos artistas do sertão, cangaceiros, beatos e cantadores.
Tornou-se famosa a feira de Caruaru, ainda mais depois do baião divulgado por Luiz Gonzaga, que não omite os mínimos detalhes daquele espetáculo folclórico do interior pernambucano.
Todavia, uma das atrações mais fascinantes da feira do Nordeste é, sem dúvida, o encontro de dois emboladores, empunhando o pandeiro ou o ganzá (instrumentos de flandre, cheio de caroços de chumbo), desfiando suas rimas com a rapidez de um raio ao calor do desafio, numa autêntica justa sonora, duelo de rapsodos cablocos que aumenta de entusiasmo quanto mais aguçados são os toques de provocação partidos de cada um dos contendores.
A paga é feita pelos circunstantes, que são elogiados ou satirizados conforme a reação ante os apelos feitos pelo embolador, quase sempre estendendo o pandeiro emborcado em evidente cobrança aos espectadores .FORMIGA (1997)
o Côco.
Não é somente o baiano que dá a primeira umbigada. Em quase todo o Nordeste rural, sobretudo nas zonas canavieiras e praieiras, dança-se o côco. A dança começou nos engenhos, de origem africana (Artur Ramos, Mário de Andrade e Câmara Cascudo sugerem também influências ameríndias, provavelmente dos Caetés). Antigamente chegou a atingir os salões elegantes de Maceió e João Pessoa, dançado por moças das classes mais altas. Há quem veja nele um feliz cruzamento das músicas negra e indígena. Muitos compositores populares brasileiros têm se aproveitado do côco e da embolada, principalmente em cantigas de carnaval, lançando mão da criação anônima, deturpando-a quase sempre, salvando-se algumas poucas recriações dignas de notas.
O côco é dança eminentemente popular. Há um imperialismo dos instrumentos de percussão, íngonos, pandeiros, cuícas e ganzás. Raríssimas vezes aparecem a viola e o violão. É também chamado de samba, pagode, zambê, bambelô.CAMPOS (1997)
o Bumba-meu-boi.
Auto ou drama pastoril ligado à forma de teatro hierático das festas de Natal e Reis, o Bumba-meu-boi é o mais puro dos espetáculos nordestinos, pois embora nele se notem algumas influências européias, sua estrutura, seus assuntos, seus tipos e a música são essencialmente brasileiros.



Parece que a expressão Bumba-meu-boi origina-se do estribilho cantado, quando o boi, figura principal do auto, dança: Ê! Bumba!, com pancadas do zabumba, o que equivaleria a dizer: Zabumba, meu boi, isto é, o zabumba está te acompanhando, boi. Esta engenhosa opinião, com outras palavras, foi emitida por Gustavo Barroso; mas se recorrermos a Pereira da Costa ? Vocabulário pernambucano ? verificaremos que a palavra bumba significa, na verdade, o bombo ou zabumba, mais exatamente tunda, bordoada, pancadaria velha e, aí, atingimos o seu significado mais essencial, o da pancadaria, porque a maior parte dos espetáculos populares resolve as suas cenas com pancadas.A origem do bumba-meu-boi perde-se no passado. Não resta dúvida que se trata de uma aglutinação de reisados em torno do reisado principal, que teria como motivo a vida e a morte do boi. O reisado, ainda hoje, explora um único assunto proveniente do cancioneiro, do romanceiro, do anedotário de determinada região. FILHO (1997)

? CONCLUSÃO.
Relacionar a música popular nordestina com a Geografia Cultural é uma tarefa que deve ser executada levando em consideração, principalmente, origem dos fatores que propiciaram a formação da cultura nordestina. Analisemos a questão do Determinismo Geográfico na composição da cultura humana e sobretudo nordestina." No nordeste, o elemento que marca mais sensivelmente a paisagem e mais preocupa o homem é o clima, através do regime pluvial e a exteriorizado pela vegetação natural." ANDRADE (1963). Logo, as condições ambientais se fazem presentes na formação cultural e também como tema das narrativas das manifestações retratadas musicalmente e citadas no tópico acima.
A relação fica evidente analisando o objeto de estudo da Geografia Cultural quando determina o homem como centro da sua análise e o homem, por sua vez, age como modificador do espaço, sendo que as condições naturais da região serão decisivas no desenvolvimento da cultura daquele grupo humano.










? CRONOGRAMA.

Cronograma do artigo
Etapas Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril
Levantamento bibliográfico e coleta de dados x x
Resumo x
Introdução x
Desenvolvimento x x x
Conclusão x
Pré texto e Pós texto
Revisão Entrega



















? BIBLIOGRAFIA.
o ANDRADE, Manuel Correia de, A Terra e o Homem no Nordeste. São Paulo: Brasiliense. 1963.
o BRANDÃO, Antonio Carlos; DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos Culturais de Juventude, 17ºed. São Paulo: Moderna, 1990.
o CLAVAL, Paul. As Abordagens da Geografia Cultural. In: Castro, Iná Elias et al. (ORG.). Explorações Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
o CORRÊA, Roberto Lobato. A Geografia Cultural no Brasil, 2005.
o LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 20º ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
o SANTOS, Milton, Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1988.
o SUASSUNA, Ariano; CAVALCANTI, Paulo; FORMIGA, Eurícledes; CAMPO, Renato Carneiro; FILHO, Hermilo Borba. O Noredeste e sua Música. In Estudos Avançados, Vol. 11, nº29. São Paulo. 1997.