FELICIDADE EM RECURSOS HUMANOS

                                                                                                                                                        

ANDRÉA FREIRE

INTRODUÇÃO

O tema da felicidade é muito antigo. Na Grécia antiga, para filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles, a felicidade era uma questão de levar uma vida boa, virtuosa, devotada à intelectualidade e aos bens mais elevados da existência, como a filosofia.

O grande avanço dado por esses homens, especialmente por Sócrates, foi a defesa de que a felicidade era algo ao alcance do ser humano, o desejo mais sublime e superior a que o homem poderia aspirar, algo muito além da mera satisfação dos sentidos corporais.

 Pode-se definir felicidade como um momento durável de satisfação, onde o indivíduo se sente plenamente feliz e realizado, um momento onde não há um equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou sentimentos que vai desde o contentamento até a alegria intensa, ou seja, é um bem-estar espiritual, uma sensação de paz interior.

            E pode ser formada por diversas emoções e sentimentos, que pode ser por um motivo específico, como um sonho realizado, um desejo atendido, ou até mesmo pessoas que são conhecidas por estarem sempre felizes e de bom humor, onde não é necessário nenhum motivo para elas estarem em um estado de felicidade.

OBJETIVO

            O objetivo desse trabalho é compreender o conceito de felicidade segundo alguns filósofos antigos e contemporâneos como Aristóteles, Confúcio, Epicurio de Samos, Immanuel Kant e Karl Marx e avaliar como podemos trabalhá-la dentro da nossa realidade, sua aplicação no mercado de trabalho, a atuação dos recursos humanos (RH) para alcançar a satisfação.

 

FELICIDADE SEGUNDO ALGUNS FILÓSOFOS

ARISTÓTELES

(384-322 a.C. - Filosofo grego)

            Para Aristóteles todo trabalho e todo conhecimento adquirido visa a construção de um bem, o mais nobre e desejável entre os homens. A felicidade foi identificada como a atividade em consonância com a virtude.

Segundo o filósofo os 3 patamares para atingir a felicidade são:

  • Uma vida de prazeres e satisfações
  • Uma vida livre, responsável, que procura fazer o bem.
  • A Procura da verdade

           

            A felicidade é algo absoluto e auto-suficiente, sendo a finalidade ultima de qualquer ação humana, desse modo o bem se identifica com a felicidade. A felicidade é uma atividade conforme a virtude perfeita.

            Segundo Aristóteles existe a virtude intelectual e a moral, sendo a primeira desenvolvida pelo ensino, experiência e tempo. A segunda adquirida pelo hábito que é o comportamento moral, a escolha natural que é própria da natureza humana.

 CONFÚCIO

(551-478 a.C. Filósofo chinês)

 

            Já para Confúcio
a pessoa evoluída age tal como fala “O que o verdadeiro homem não deseja que seja feito a si mesmo, não o faz aos outros. E assim, tanto no estado como em casa, todos ficam satisfeitos”. Trata-se do princípio da reciprocidade, caminho seguro para uma vida correta e feliz.

            Para Confúcio a felicidade não combina com contemplação, individualismo, egoísmo, ganância, mas com caráter, generosidade, sinceridade, ação responsável e harmônica.

            Seu objetivo central era primeiramente o desenvolvimento do ser humano ideal, que é aquele que vê as coisas como elas são, escuta e age com justiça e prudência. O confucionismo é racional, ordenado e prático.

             Portanto, para o sábio, a pessoa virtuosa e feliz não é a que se ensimesma na contemplação ideal de um santo solitário, mas a que se relaciona com os demais de maneira bondosa, visando ao desenvolvimento pessoal e social.

EPICÚRO DE SAMOS

(341-271 a.C. Filosófo grego)

 

            Na concepção de Epicuro de Samos a felicidade implica o domínio do medo e dos desejos. O medo é fruto da superstição e da ignorância e deve ser combatido pela compreensão racional do mundo, sem recorrer a causas sobrenaturais.

            Epicuro defendia um enlace entre virtude e felicidade, pois no supremo princípio moral da busca da felicidade estava incluída a virtude, divergindo de Zenão que sustentava que a virtude era o bem completo e a felicidade consistia apenas na consciência de sua posse.

            Como o prazer é o bem primordial e congênito ele deve ser bem escolhido, pesado, dizia o filósofo. Não é qualquer prazer imediato que serve, pois alguns podem trazer sofrimentos futuros. Por exemplo: drogas ou sexo sem consciência e maturidade… Então, para Epicuro, nem todo prazer deve ser escolhido, nem toda dor deve ser evitada.

            E para sermos felizes precisamos libertar dos desejos artificiais a nós impostos pela sociedade, como os desejos de riqueza, de consideração e glória.  Não inveje, odeie ou despreze ninguém, pois aí estão as causas dos males humanos e não viva para comer, coma para viver. Moderação é a palavra chave para uma boa saúde. E a boa saúde traz alegria, autoestima e disposição, ou seja, felicidade.

IMMANUEL KANT

(1724-1804 – Filósofo alemão)  

            A felicidade segundo Kant, está subordinada à sua doutrina moral, que “impõe” ao sujeito a ação pela consciência do dever, pela ética de fazer o que a consciência orienta. Isso implica um acordo entre vontade e razão, pois os humanos não são pura razão, mas também sensibilidade, podendo tanto seguir o impulso dos desejos como seguir a razão contra os desejos. Isso lhes garante a possibilidade da escolha do caminho a seguir, pois existe liberdade. É isso que faz do homem um ser moral.

            Kant entende que existe o medo das pessoas em assumirem sua liberdade e autonomia, por isso, interpreta passos, “seguem conselhos, ajustam seus sonhos ao seguro, ao permitido, ao enunciado, ao mandado, evitando o risco de assumirem a condição única de sua humanização: o risco da liberdade”.

KARL MARX
(1818-1883 – Filósofo alemão)

A questão nuclear da filosofia política de Marx é a emancipação humana, pois desta depende a liberdade e a felicidade. Estas só se efetivarão mediante a superação dos mecanismos de dominação e alienação humanas, inerentes ao capitalismo.

            Marx nos convoca a sairmos da alienação do trabalho, pois ela equivale à constante negação de nós mesmos, de nossa essência, de nossa alteridade. Na alienação, o indivíduo entrega seu ser a outro, perdendo autonomia, liberdade, tornando-se simples coisa. Essa situação impossibilita-O de ser feliz.   

            Marx aponta, no capitalismo, o isolamento das pessoas que trabalham juntas, mas não se conhecem, não são amigas, mas concorrentes. Fora do trabalho é ainda pior, pois cada um cai em seu isolamento. Propõe a superação disso através da sociedade comunista do futuro, na qual as pessoas poderão viver em comunidade, em paz, em harmonia. Esta realização vai depender, porém, da tomada de consciência e da ação histórica dos oprimidos, dos infelizes em relação à situação presente.

            Portanto, Marx acreditava que todos os humanos nasceram para ser felizes, mas a minoria dominante, historicamente, organizou a sociedade de tal forma a excluir a maioria da população dos benefícios da riqueza por ela produzida através do trabalho, fazendo uso da ideologia para esconder essa exploração e dando a impressão de que sempre foi assim, de que isso é natural

            Pensando na superação dessa situação degradante, desumana e, portanto, impeditiva da felicidade, Marx afirmou a importância dos trabalhadores construírem sua emancipação, a igualdade real, através da transformação social, da construção de uma sociedade sem a cisão entre o indivíduo e a espécie, entre o homem voltado exclusivamente para os interesses pessoais e o cidadão.

            A nova sociedade (comunista), segundo Marx, eliminaria as classes e com elas a divisão, a dominação, a alienação, a fome, a desigualdade, o egoísmo, a violência, a exclusão, possibilitando a realização plena de todos. Seria o fim da dominação, o reino da paz, da liberdade e da felicidade.

 

            Dessa forma, para Marx, a felicidade individual estaria vinculada à felicidade coletiva, ou seja, um só seria feliz quando todos o fossem e isso implicaria a substituição do Estado capitalista por uma associação livre na qual o livre desenvolvimento de cada um será a condição do livre desenvolvimento de todos.

FELICIDADE E TRABALHO

            E quanto ao trabalho, poderíamos dizer que ele traz felicidade? Qual a relação entre felicidade e trabalho? Feliz é quem não precisa trabalhar? Temos um paradoxo, talvez típico da cultura brasileira: ao mesmo tempo em que as pessoas desejam o trabalho quando não o têm, elas diminuem seu valor quando empregadas. Pode se observar o ideal da felicidade como vida boa – uma vida simples, tranqüila e estável, com poucos desejos, mas desejos certos; de outro, o ideal moderno do sucesso – uma vida agitada, acossada pelo fantasma do fracasso, pelo medo de não ter status ou de ficar “empacado”.

             Quando o assunto é “felicidade no trabalho”, as opiniões tendem a se polarizar entre vocação e dinheiro. Quem é mais feliz? Aquele que faz o que gosta ou o que ganha um gordo salário no final do mês? A resposta é ainda mais difícil quando envolve uma sociedade consumista, na qual a posse de bens materiais se confunde com felicidade para muita gente. Às vezes, a profissional acha que está infeliz no trabalho, mas na verdade ele não está bem em outra esfera da vida. (As necessidades primárias são fundamentais, como segurança, alimentação, relacionamentos.)

POSTURA PROFISSIONAL

O profissional precisa entender que a felicidade não existe no trabalho em si, mas nele mesmo, no equilíbrio de todos os campos de sua vida. Depende mais da postura do próprio trabalhador do que do chefe, dos colegas ou do salário e as pessoas precisam se sentir realizadas e completas no que fazem.

Segundo Mario Sergio Cortella (Filósofo, escritor e professor - (PUC) “A felicidade é uma ocorrência eventual“. Ela é uma vibração intensa, uma sensação de vitalidade que nos atinge e dá um gosto imenso por estarmos vivos. Mas é episódica, uma ocorrência eventual. A vida é carregada por momentos de turbulência.

 A felicidade como ideal de todos os seres humanos é possível encontrá-la no trabalho?

Se para algumas pessoas ela representa um acumulo de bens materiais, para outros é o reconhecimento por algo que está fazendo. Receber elogios de um cliente ou do chefe, nesse sentido, proporciona uma vibração momentânea de alto nível. Então se pode dizer que é relativo, já que muitas vezes ocorrem frustrações quando o funcionário conhece, vive a realidade de seu emprego/cargo.

RECURSOS HUMANOS

É o departamento pessoal que trabalha a comunicação, o relacionamento interpessoal, a motivação humana para obtenção de resultados através de incentivos, preocupa-se com o clima organizacional, além de uma infinidade de benefícios e oportunidades.

RECURSOS HUMANOS E TRABALHO

Porque o RH atualmente se preocupa com a satisfação dos colaboradores?

            A insatisfação é a grande causadora de problemas no trabalho, além da vida particular do homem moderno, tendo em vista que o ser humano só terá uma vida plena se o seu trabalho for realizador. A satisfação com o trabalho engloba os conceitos de resultados, tratamento e procedimentos justos. (Xavier, 2004)

Uma melhor integração entre o sistema e o indivíduo deverá ocorrer com a criação de climas organizacionais que atendam às necessidades pessoais e às de caráter institucionais. “Isto trará efeitos significativos na motivação e satisfação individual que, por si, geram uma melhor realização das tarefas e alcance dos objetivos organizacionais” (SANTOS, 1999)      

            E é através da pesquisa de clima organizacional que podemos estudar a cultura da empresa e medir o grau de satisfação dos funcionários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos que a felicidade é algo momentâneo, que não existe de forma plena, pois estamos sempre a procura de novas conquistas, realização de sonhos,  e que, a cada concretização  se deparamos com uma satisfação imensa, mas passageira, por conseguinte almejarmos novas conquistas.

            Quanto a felicidade no trabalho, ela vai depender de cada indivíduo, das escolhas, já que temos o livre arbítrio para definir o que nos faz bem e feliz. Na profissão começar a fazer o que gosta já é  o início para alcançar a satisfação pessoal, pois o RH tenta fazer a sua parte de forma a realizar uma parceria lucrativa entre ambos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

SANTOS, N. M. B. F. Clima organizacional: Pesquisa e diagnóstico. Lorena, SP: Stiliano, 1999.

XAVIER, R. A. P. Trabalho, saúde e satisfação. 2004. Disponível em: <http://www.manager.com.br/reportagem/reportagem.php?id_reportagem=475> Acesso em: 8 Abril, 2013.