A nossa sociedade encontra-se enfrentando um dos maiores dilemas da humanidade, o drama da necessidade de mudança versus a permanência na zona de conforto, conceituados e denominados como inovação versus conservadorismo.

Embora há alguns anos o termo inovação tenha aparecido em diversos segmentos empresariais e industriais, ainda é visto com grande cautela pelo mundo jurídico, tanto pelas sociedades de advogados quanto pelos departamentos jurídicos corporativos, que têm lutado há muito tempo para ser reconhecido como um aliado indispensável no mundo dos negócios.

A cautela geralmente encontra-se fundamentada na perda do formalismo que compõe o status atual, também denominado zona de conforto, e das consequências imprevisíveis de uma adaptação a uma corrente mais visionária, que propaga mudanças urgentes no modo de atuar contextualizado em nosso mercado de trabalho.

O segmento jurídico sofre um colapso lento e luta contra as instabilidades e forte concorrência geradas pelo avanço tecnológico e necessidades empresariais que não encontram mais respaldo em condutas conservadoras, extremamente formais e inibidoras de riscos.

Vários países Europeus, assim como os Estados Unidos e o Canadá, já têm avançado alinhando atitudes mais visionárias no mercado jurídico, onde advogados já integram o mundo dos negócios como executivos e peças fundamentais em equipes multidisciplinares que atuam em tomada de decisões de negócios, formadas por contabilistas, economistas, administradores, líderes em tecnologia e até gestores em recursos humanos, que, em parceria, e de forma sistêmica e integrada, atuam como consultores para a tomada de decisões empresariais e de negócios de alto risco.

No hemisfério Norte já temos fundos de investimento e empresários dividindo a sociedade de escritórios jurídicos, já inseridos no mundo dos negócios, com advogados contratados para atuar em demandas específicas, em qualquer localidade, por meio de Home Office e contratos de parceria. Além disso, muitos já atuam por meio de tomadas de decisões estratégicas empresariais, antes da criação de corporações e lançamento de produtos, bem como já atuam como consultores de negócios e demandas da vida e do cotidiano por meio de assessorias virtuais.

O ensino jurídico também, extremamente teórico e conservador, está passando por mudanças que incluem o universo de táticas empresariais e negociais métodos psicológicos, e de coaching e liderança, para maior envolvimento com gestão de pessoas e de clientes, além de finanças e tecnologia, conhecimentos indispensáveis atualmente.

Nossas universidades, cujo ensino ainda encontra-se focado apenas nas complexidades legislativas e procedimentos processuais, na atuação preventiva técnica e no litígio contencioso, não forma profissionais de direito aptos a enfrentar o mundo dos negócios, não os ensina a administrar e gerir o seu próprio negócio e de terceiros, e tampouco prega a atuação proativa.

O excesso de rigor e conservadorismo tão presentes ainda nas bancas de advogados não se coadunam mais com a figura requerida hoje pelos clientes, que buscam o profissional jurídico como aliado para decisões e avanços em seus negócios e para resoluções ágeis e imediatas.

Mas um movimento de ruptura de antigos padrões tem se mostrado através de jovens advogados, constituídos em sua maioria pela tão falada e complexa geração Y, que tem gerado cisões em antigas bancas de advocacia boutiques e, com visões inovadoras e multidisciplinares, estão buscando e criando novas bancas voltadas à atuação mais informal, com tecnologia de ponta visando maior liberdade de ação, menos formalismo e mais qualidade de vida e de trabalho.

A geração Y tem dado um novo impulso à quebra de paradigmas e ao rompimento de uma estrutura mais formal e tradicional inerente às sociedades de advogados, pois vem com toda uma gama de novas perspectivas e práticas inovadoras.

Muitos já trabalham com horários flexíveis, salas de descompressão, roteiros semanais programados para o método de trabalho “Home Office”, enxugando gastos internos e permitindo maior mobilidade, espaço e concentração ao corpo jurídico, e estão, inclusive, aposentando a vestimenta formal por modelos casual day.

O trabalho cooperativo e multidisciplinar, muito utilizado nas técnicas de Liderança Coach, também está ganhando mais espaço, pois geram maior criatividade e novas estratégias operacionais e técnicas.

Novos modelos de sociedades e equipes já estão sendo criadas com maiores ferramentas que permitem maior agilidade e segurança para lidar com riscos e imprevistos, pois adotam a postura de alinhamento de interesses, maior interação e atuação conjunta.

Métodos estratégicos de estruturação de carreira e gestão de pessoas para o segmento fazem com que jovens profissionais tenham suas expectativas cumpridas, assim como geram maior comprometimento, motivação e estabilidade por parte dos profissionais e, consequentemente, a redução de falhas operacionais e riscos.

 Embasados nos novos modelos inovadores europeus e americanos, ainda que em minoria, e em virtude da globalização e das novas vertentes econômicas e empresariais, as novas bancas começam também a apostar num modelo jurídico negocial e se aliam a grandes corporações, que não enfrentam o embate de empresas que ainda mantém estruturas rígidas e conservadoras, como as familiares.

Muitas bancas estão perdendo clientes e jovens profissionais e associados que buscam maior liberdade de atuação e novos riscos na carreira. A modernidade exige novos conhecimentos, táticas e métodos de trabalho que ainda são muito contidos por sociedades de advogados mais conservadoras.

A geração Y tem um imediatismo e uma veia visionária que vem romper com estruturas mais tradicionais, já que busca maior retorno, reconhecimento e qualidade de vida.  

Assim, tona-se urgente, e até imprescindível, que bancas de advocacia e departamentos jurídicos mais conservadores iniciem um processo de profissionalização da gestão legal, operacional e de pessoas, agregando-as a uma maior abertura a novas táticas estratégicas, para não perderem o caminho na retenção de talentos, clientes e reconhecimento, em um mundo globalizado e mutante.