AGRONEGÓCIO E BIOTECNOLOGIA: FRUTOS DA ESPECIALIZAÇÃO DA AGRICULTURA

 

Fernando Pires Vieira[1]

 

RESUMO: A revolução verde que ocorreu em meados da década de 60, foi o marco para o início da especialização da agricultura com o surgimento de várias técnicas inovadoras para a produção de alimentos. O presente trabalho objetivou a conceituação do termo agronegócio e biotecnologia a partir da modernização da agricultura. A metodologia deste trabalho parte exclusivamente de uma revisão bibliográfica relativa ao tema para compreensão e aplicações da biotecnologia que foi fruto da especialização da agricultura.  

 

PALAVRAS-CHAVE: Especialização da Agricultura, Biotecnologia, Agronegócio.

 

ABSTRACT: The green revolution that occurred in the mid-60s, was a landmark for early specialization of agriculture to the emergence of several novel techniques for food production. The present study aimed at conceptualizing the term agribusiness and biotechnology from the modernization of agriculture. The methodology of this work solely part of a literature review on the subject to understanding and applications of biotechnology that was the result of the specialization of agriculture.

 

KEYWORDS: Specialization of Agriculture, Biotechnology, Agribusiness.

 

 

INTRODUÇÃO

O destaque do setor do agronegócio na economia mundial ocorreu devido a sua importância na questão da segurança alimentar. A população aumentou consideravelmente em um curto espaço de tempo. Diante desse acontecimento surgiu o desafio de produzir alimento para toda essa população.  Por isso, a agricultura foi forçada a se especializar para produzir mais alimentos em um menor espaço de tempo.

Pesquisas foram direcionadas para o setor objetivando a criação de tecnologias no intuito de elevar os índices de produtividades na maioria dos produtos agropecuários.

A revolução verde que ocorreu em meados da década de 60 foi o marco para o início de especialização da agricultura com o surgimento de várias técnicas inovadoras para a produção como o plantio direto. Também temos que destacar o surgimento de maquinas cada vez mais modernas. 

Outro ponto a se destacar nesse período de modernização é o surgimento das biotecnologias, principalmente os organismos geneticamente modificados (OGM) que trabalha o melhoramento genético no intuito de formular variedades de plantas mais produtivas e resistentes a pragas.

A modernização da agricultura revolucionou o setor em questão de índices produtivos e apesar de ter aberto novas áreas para plantio ou criação, hoje se percebe uma mínima necessidade disso. O foco do agronegócio atualmente é produzir mais em menos áreas. Algumas tecnologias como a agricultura de precisão e confinamento tem sido fruto desse processo.

Diante dos temas apresentados, justificou-se o presente trabalho a apresentar como foi o processo de especialização da agricultura e o surgimento de tecnologias no intuito de otimizar o processo produtivo e aumentar a produtividade na produção de alimentos que devido a segurança alimentar tem um grande desafio de atender a demanda mundial.

A metodologia deste trabalho parte exclusivamente de uma revisão bibliográfica relativa ao tema para compreensão e aplicações da biotecnologia que foi fruto da especialização da agricultura.

O presente trabalho objetivou a conceituação do termo agronegócio e biotecnologia a partir da modernização da agricultura. Diante deste objetivo, temos como problemática do trabalho encontrar quais foram os maiores ganhos com o processo de modernização da agricultura.

A hipótese que se levanta a partir dessa problemática é que o aumento da produtividade foi o maior ganho, pois reduziu a necessidade de abrir novas áreas proporcionando um caminho para a produção sustentável.

O trabalho será apresentado em dois tópicos sendo o primeiro abordando a especialização da agricultura a partir da revolução verde e seus impactos para a economia no geral. O segundo tópico trará o conceito de biotecnologia e suas aplicações para a agricultura.

 

2. ESPECIALIZAÇÃO DA AGRICULTURA

 

Atualmente a agricultura brasileira se divide em dois grupos, os grandes produtores, também chamados de patronais, que tiveram acesso às políticas voltadas para o fortalecimento do setor, e os pequenos produtores, comumente denominados de agricultores familiares. As políticas de subsídio criadas na tentativa de fortalecer o setor agrícola favoreceram apenas uma minoria de produtores, gerando um grande problema social e a dicotomização da agricultura brasileira (PERES, 2009).

Souza Filho et al (2004) argumenta sobre essa dicotomia da agricultura brasileira com relação a adoção de tecnologias, área trabalhada, renda e políticas públicas. Em um lado encontra-se estabelecimentos rurais com tecnologias altamente avançadas como maquinários, sementes geneticamente melhoradas, sistema de gestão eficiente e mão-de-obra qualificada. No outro lado nos deparamos com estabelecimentos com propriedades com mão-de-obra sem muita especialização, sem nenhuma gestão de planejamento e uma tecnologia arcaica com técnicas rudimentares.

O mesmo autor analisa dados do Censo Agropecuário 1995/96 que mostra as dificuldades dos agricultores familiares em ter acesso as tecnologias. Dificuldades essas devido à falta de apoio por parte do governo que nos últimos anos apenas favorecia a agricultura patronal com políticas públicas objetivando a produção em grande escala para exportação.

Com a evolução das tecnologias na produção de alimentos, alguns conceitos surgiram caracterizando o antes conhecido como setor primário, como agronegócio que nada mais é do que agricultura e pecuária em seu processo total de produção antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira. Os avanços tecnológicos mudaram radicalmente a estrutura das propriedades rurais as tornando empresas rurais. Houve uma migração muito grande do meio rural para os centros urbanos, notadamente para as capitais o que gerou uma grande concentração de pessoas nessas regiões metropolitanas, Peres (2009).

Com essa migração tão acentuada aqueles que permaneceram no campo tiveram que produzir mais para alimentar aquele enorme contingente que foi morar nas grandes cidades e seus entornos. O desafio era, e ainda é, alimentar essa grande massa de pessoas, com um número cada vez mais reduzido de pessoas trabalhando no campo.

A chamada revolução verde proporcionou o surgimento da mecanização no campo e o avanço tecnológico no meio rural, provocando enormes índices de produtividade. As propriedades rurais que antes se preocupavam com a subsistência passam a produzir cada vez mais e com isso, segundo Araújo (2008), as propriedades rurais perdem sua autossuficiência; passam a depender sempre mais de insumos e serviços que não são seus; especializam-se em determinadas atividades, dentre outros fatores que envolvem uma produção em escala industrial.

Na compreensão da perda de autossuficiência, Balem e Silveira (2002) diferenciam agricultor e produtor de alimentos. Para os autores, o que se espera do produtor é um produto segundo padrões definidos pela indústria e pelos consumidores, subordinando-se aos pacotes tecnológicos que têm a função de tornar o processo o mais homogêneo possível. O produtor desvincula-se ao máximo dos processos naturais, dos esquemas culturais locais e regionais e tem uma posição de agente externo ao processo agrícola, ou seja, torna-se um mero manipulador de recursos em práticas recomendadas pelos agentes do sistema agroindustrial, incluindo aqui os profissionais de ciências agrárias.

Já o agricultor é fruto de uma construção social, onde os processos produtivos que ele executa estão relacionados com o seu habitus e o seu modus operandi; as suas construções estão relacionadas com a sua inserção dinâmica com a natureza e os processos culturais e sociais locais. O agricultor nasce de um processo onde a produção de alimentos para o seu consumo diário é o principal objetivo, onde os cultivos foram sendo aprimorados através de observações sobre a natureza e não através de técnicas padronizadas (BALEM; SILVEIRA, 2002).

Com a modernização da agricultura, quer dizer, com a mudança na base técnica da produção agrícola, a introdução de máquinas, elementos químicos, mudança de ferramentas e cultura produtiva, foi possível aumentar a produtividade sem abrir novas áreas. Essas inovações dão início ao processo de industrialização da agricultura, ou melhor dizendo, à agroindustrialização. A partir desse momento, no âmbito do capitalismo onde vige o conceito de maximização do lucro e minimização dos custos, torna-se necessário haver maior precisão nos processos da agricultura segundo Kageyama (1990).

 Todos esses fatores contribuíram para que aquele conceito de agricultura como um setor primário preocupado apenas com a subsistência deixa-se de existir e, em seu lugar utilizamos, até recentemente o termo Agribusiness criado por dois professores da Universidade Harvard, John Davis e Ray Goldberg, nos Estado Unidos em 1957 que definem agribusiness como sendo:

... o conjunto de todas as operações e transações envolvidas desde a fabricação dos insumos agropecuários, das operações de produção nas unidades agropecuárias, até o processamento e distribuição e consumo dos produtos agropecuários ‘in natura’ ou industrializados (RUFINO, 1999 apud ARAUJO, 2008 p 16).

Dentro do cenário nacional, o agronegócio brasileiro de acordo com dados do IBGE, dentre os setores básicos da nossa economia como mineração e os combustíveis (petróleo), se tornou responsável por 22% do produto agregado do país (PIB), 39% das exportações totais e 37% dos empregos brasileiros.

No entanto diante desses números positivos para nossa economia, ainda nos esbarramos em alguns pontos que impedem o aproveitamento do verdadeiro potencial do Brasil. Um ponto é a estrutura de mercado, pois hoje a concorrência perfeita impera esse mercado. E outro ponto crucial é a logística defasada no país que causa um grande prejuízo aos produtores rurais e elevando o custo Brasil.

Então o agronegócio é muito mais do que números. Agronegócio é estar preparado para reduzir custos de produção e aumentar a produtividade, aumentando a eficiência e eficácia tornando-nos o celeiro do mundo. Nossos produtores já demonstraram ter capacidade para isso, tanto os grande quanto os pequenos. Agora é necessário que o desenvolvimento gerado pelo o agronegócio seja sustentável.

O próximo tópico ira abordar a biotecnologia que foi um derivado de todo esse processo de modernização da agricultura, onde será apresentado seu conceito e suas aplicações.

3. BIOTECNOLOGIA NO AGRONEGÓCIO

 

A biotecnologia são técnicas biológicas que tem como objetivo buscar melhor desempenho, resistência a doenças obtendo como resultado maior produtividade e qualidade. Sua aplicação abrange áreas como a agricultura através do melhoramento vegetal; a produção de alimentos das agroindústrias; a medicina veterinária através de clonagem; a obtenção de plantas transgênicas; sementes sintéticas dentre outras.

Silveira (2005) alerta para o fato de esta tecnologia ter rapidamente passado do estágio de ciência para o de inovação, com impactos significativos na economia nacional através do aumento da produção em escala. O mesmo autor define biotecnologia em uma visão capitalista como um conjunto de técnicas de manipulação de seres vivos ou parte destes para fins econômicos incluindo técnicas que são utilizadas em grande escala na agricultura desde o início do século XX, como a cultura de tecidos, a fixação biológica de nitrogênio e o controle biológico de pragas. Silveira também diz que inclui técnicas modernas de modificação direta do DNA de uma planta ou de um organismo vivo qualquer, de forma a alterar precisamente as características desse organismo ou colocar novas.

Já Furtino (1991) argumenta que a larga penetração da biotecnologia nos diversos ramos produtivos permite concluir que sua característica mais marcante é a heterogeneidade. O autor conceitua biotecnologia como um conjunto de técnicas de natureza diversa que envolve uma base científica comum, originaria da biologia, buscando crescentemente o aporte de conhecimentos científicos e tecnológicos vindos de outras áreas de conhecimento, e chama a atenção para não encara-la apenas como "novas tecnologias de ponta", mais sim com uma união de conhecimentos já estabelecidos a outros mais recentes.

Cribb (2004) conceitua biotecnologia e aponta sua importância para o sistema agro alimentar:

Biotecnologia moderna potencialmente revela-se como uma opção tecnológica de grande porte para o sistema agroalimentar brasileiro, que enfrenta sérios desafios apesar de seu bom desempenho nos últimos 12 anos. Aliás, no que diz respeito à procura por tecnologias consideradas produtivas, foram alcançados, no mundo, avanços altamente significativos no uso da biotecnologia moderna, entendida como conjunto de técnicas, incluindo a transgenia, os processos enzimáticos, os métodos de exploração de microrganismos, a micropropagação, os processos profiláticos, a cartografia genética, a clonagem, os métodos de diagnóstico, os métodos de fecundação in vitro e a transferência de embrião. Agricultores e agroindustriais de vários países do mundo – tais como os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, a China e a Argentina – vêm usando recursos oferecidos por esse conjunto de técnicas para resolver problemas de eficiência e qualidade de produtos e processos produtivos. (CRIBB; 2004, p. 171)

A biotecnologia sem dúvida impulsionou o setor agrícola, porém tem gerando alguns problemas em relação a patentes de produtores de tecnologias e modificadores. Os produtores estão ficando reféns das grandes corporações produtoras e detentoras das tecnologias e essa concentração nos últimos anos tem causados muita discussão no agronegócio brasileiro.

Outro ponto importante é que alguns países não estão permitindo a produção de alimentos transgênicos devido uma preocupação em relação a saúde da população o que deixa a dúvida se essas novas tecnologias apesar de trazer escala na produção, são realmente seguras para nossa alimentação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Apesar de alguns países terem censurando alguns seguimentos da biotecnologia, chegando a queimar até lavouras inteiras de transgênicos, fica claro que a modernização do setor agrícola se aprofundou na genética para buscar elevar seu índice de produtividade. A biotecnologia é fruto da especialização da agricultura e proporcionou uma maior produtividade sem ser necessário abrir novas áreas tornando a atividade sustentável e confirmando a hipótese levantada a partir da problemática de qual seria os ganhos como o processo de modernização. Porem nada disso seria possível se não fosse a pesquisa no setor.

Muitas economias devem seu crescimento e desenvolvimento ao agronegócio que tem sustentado a balança comercial de vários países. E o agronegócio deve seu sucesso a especialização da agricultura que graças a biotecnologia otimizou o processo produtivo, onde muitos produtores de grãos dizem, e que de fato é verdade, que a tecnologia hoje não está em maquinas, mais sim na semente que é plantada.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

ARAÚJO, M. J. Fundamentos de agronegócios. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

BALEM, T.; SILVEIRA, P.R. da. Agroecologia: além de uma ciência, um modo de vida e uma política pública. In: Simpósio Latino-Americano de Investigação e Extensão em Sistemas Agropecuários- IESA, Florianopólis, SBSP/EPAGRI, 2002.

CRIBB, A. Y. Sistema agroalimentar brasileiro e biotecnologia moderna: oportunidades e perspectivas. Cadernos de Ciência & Tecnologia, v. 21, n. 1, p. 169-195, 2004.

FUTINO, A. M; SALLES FILHO, S. A biotecnologia na agricultura brasileira: a indústria de defensivos agrícolas e o controle biológico (l). Agricultura em São Paulo, v. 38, p. 45-88, 1991.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo agropecuário, 2006. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/>. Acesso em: 24 de abril de 2013.

KAGEYAMA, A et al. O novo padrão agrícola brasileiro: do complexo rural aos complexos agroindustriais. In: DELGADO, Guilherme Costa et al. (orgs.), Agricultura e políticas públicas. Brasília, IPEA, (Série IPEA, 127), 1990, p. 113-129. 

PERES, F. C. O empresário rural e suas competências. In: ___ et al (org.). Programa empreendedor rural. Curitiba: SEBRAE, 2009. V. 1. Cap. 2, p. 26 – 45.

SILVEIRA, J. M. F. J; BORGES, I. C; BUAINAIN, A. M. Biotecnologia e agricultura: da ciência e tecnologia aos impactos da inovação. São Paulo Perspec. [online]. 2005, vol.19, n.2, p. 101-114. ISSN 0102-8839.

SOUZA FILHO, H.M. et al. Agricultura Familiar e Tecnologia no Brasil: características, desafios e obstáculos. In: Congresso da SOBER, 42., 2004, Cuiabá. Anais... Cuiabá: SOBER, 2004. v. 1. p. 1-20.



[1] Acadêmico do curso de Tecnologia em Agronegócio, Instituto Federal Goiano, Rio Verde, GO. [email protected].