Maria Ana da Silva Morais*

Elisandra Moreira de Lira**

Adailton de Sousa Galvão***

A questão ambiental é um assunto que assume característica bastante forte quando se observam as catástrofes naturais mais frequentes. Quando o homem percebe que o futuro do planeta está em jogo, começa uma intensa busca que se evidencia nos encontros, debates, estudos e pesquisas realizados pelas diversas instituições no sentido de desenvolver ações que contribuam para o equilíbrio ambiental e a conseqüente sobrevivência humana.

Esta preocupação se tornou mais visível na década de 1970, quando ocorreu o aumento dos movimentos ambientalistas, que passaram a indagar de forma mais explicita sobre a relação entre a sociedade, através da utilização inadequada dos recursos naturais, e o meio ambiente. A concretização formal dessas preocupações ecológicas se efetiva com a conferência ambiental intitulada Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (em Estocolmo no ano de 1972), considerada o marco do ambientalismo global.

Diante do quadro de elevada degradação social e ambiental em escala planetária, o movimento ecológico propõe um novo sistema de valores sustentado no equilíbrio ecológico, na justiça social, na não-violência ativa e na solidariedade diacrônica com as gerações futuras (CAPRA, 1986).

Neste mesmo pensamento Sachs (2000) considera oito dimensões que apresentam sua preocupação com a questão da sustentabilidade ambiental, são elas: social, econômica, ecológica, espacial, cultural, ambiental, nacional e ainda sustentabilidade política internacional.

Com a efervescência dos debates em torno do ecológico a nível global a maioria dos seguidores desta linha se tornou favorável a buscar um desenvolvimento mais equilibrado onde houvesse a inclusão de tecnologias inovadoras que rejeitasse as anteriormente utilizadas, tais como as queimadas, extração predatórias de madeiras, a pesca indiscriminada, entre outras (BOULDING, 1978; SACHS, 1982).

Enquanto no panorama mundial se vivia o borbulhar do movimento ecológico, no Brasil se via em uma situação bastante conflituosa, pois, nesta época, a economia do país despontava com um crescimento de 10% ao ano e as indústrias que cresciam eram as que mais poluíam como as petroquímicas, as de energia e as de mineração. Mesmo assim, o país se mostrou disposto a tomar a frente das discussões sobre a problemática ambiental sendo um dos organizadores do grupo de países em desenvolvimento (JACOBI, 2003).

Surgem várias iniciativas que mobilizam o cenário nacional, o que proporciona a instalação e efetivação de agências ambientais como a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente- SEMA, vinculada ao Ministério do Interior, com a função de traçar estratégias para conservação do meio ambiente e para o uso racional dos recursos naturais (JACOBI, 2003). Várias outras agências ligadas ao meio ambiente nascem e se fortalecem com o apoio governamental.

Com o passar do tempo as questões ambientais ultrapassam as diretrizes governamentais incentivando a sociedade civil a formar grupos que voluntariamente se tornam militantes a favor do meio ambiente e contra algumas políticas do governo que se mostravam contrárias às normas de conservação da natureza. Essas políticas, segundo Jacobi (2003), eram o aumento do desmatamento na Amazônia, através de assentamentos direcionados, a construção de hidrelétricas no rio Paraná e a construção de usinas nucleares, entre outras.

As manifestações contra essas medidas tiveram repercussões internacionais e começaram a tomar um novo rumo. Iniciam-se a partir deste momento algumas indagações sobre a inserção da comunidade científica na questão ambiental através de políticas governamentais que pudessem associar desenvolvimento com preservação ambiental. Nesta perspectiva, a problemática ambiental aumentou o seu espaço de abrangência em face à relevância entre a interação do homem com o meio ambiente e à necessidade de se trabalhar tal tema em todos os níveis do ensino e espaços pedagógicos, especialmente na Universidade.

É neste contexto que a Universidade Federal do Acre, ciente de sua vocação pesquisadora começa a discutir a questão ambiental de modo mais focado através da criação do Programa de Pós-Graduação "Stricto Sensu" em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais com o objetivo de fomentar uma mentalidade pública de valorização dos recursos naturais e do patrimônio cultural da região.

No caso específico da Universidade Federal do Acre, esses esforços vêm sendo vivificados no decorrer dos anos por meio de ações que essa instituição de nível superior tem desenvolvido na área. Uma dessas ações pode ser observada desde o ano de 1995 com a criação do seu Programa de Pós-Graduação (PPG), voltado para área ambiental, mas, com a preocupação do efeito das atividades humanas sobre o meio ambiente. Desta forma, apresentando um meio de fomentar o ensino e a pesquisa em uma das regiões de menor desenvolvimento tecnológico do país. 

Este programa teve como alvo principal trabalhar as questões ambientais na sua relação com o homem amazônico. O Programa de Pós-Graduação "Stricto Sensu" em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (EMRN) teve início em 1996, sendo o mesmo aprovado pela CAPES em dezembro de 2002, visando construir uma base metodológica de investigação científica da ecologia, do manejo de recursos naturais, além das questões sócio-ambientais inerentes. O programa supracitado tem como linha de pensamento o processo de desenvolvimento sustentável na Amazônia Sul - Ocidental, possibilitando a adequação e utilização dos recursos naturais, a manutenção ou equilíbrio ambiental, para a obtenção de justiça social e melhoria da qualidade de vida.

O programa nasceu com uma série de ações projetadas em uma grade curricular que previa conhecimentos e estudos a respeito da maior área de florestas do planeta, percebendo-a como um centro de alta diversidade cultural e biológica, além de concentrar uma população de mais dois milhões de habitantes. As áreas destinadas para estudo pelo Programa abrangeriam o vértice formado na sua maior parte pelo Estado do Acre/Brasil e pelos Departamentos de Madre de Dios/Peru e de Pando/Bolívia, local denominado a partir de então pelo Programa de Ecorregião do Sudoeste da Amazônia.

         O objetivo apontado no plano político pedagógico do programa é a capacitação para o ensino superior e para a pesquisa na área de ecologia e manejo de recursos naturais, bem como prover o fomento ao desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação, em níveis de mestrado (acadêmico e profissional) e doutorado. 

*Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Acre

**Professora Assistente da Universidade Federal do Acre, Área de Geografia

***Professor Adjunto da Universidade Federal do Acre, Área de Geografia

Referências Bibliográficas

BOULDING, Kenneth. Ecodynamic. A new theory of societal evolution. London, Sage, 1978.

CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São Paulo, Cultrix, 1986.

JACOBI, Pedro. Movimento ambientalista no Brasil. Representação social e complexidade da articulação de práticas coletivas. In: Ribeiro, W. (org.) Publicado em Patrimônio Ambiental- EDUSP-2003.

SACHS, Ignacy. Ecodesarrollo. Desarrollo sin destrucción. México, El Colegio del México, 1982.

______ . Caminhos para o Desenvolvimento sustentável. Rio de janeiro: Garamond. 2000, p. 29-41.