O atual desenvolvimento urbano da cidade de Dourados, em se tratando de condomínios, demonstra-se como um investimento dos "sonhos", de um lado está o mercado imobiliário que vê no setor a possibilidade de imensos lucros, do outro lado, os possíveis donos que acreditam que dentro dos gigantescos muros está a felicidade, a segurança e o convívio com a natureza.
Em muitos casos os interesses econômicos têm superado padrões éticos, tudo passa a girar em torno dos interesses financeiros. Pode-se até mesmo dizer que na cidade de Dourados o poder do homem em alterar o ambiente cresceu mais do que a compreensão de toda a problemática advinda desse processo. A natureza nesse caso passa a ser mercadoria e ganha um novo significado, como destaca HENRIQUE (2006, p.02):
"No renascimento, assistiu-se a uma mudança no modelo de concepção da natureza,onde passou - se de um padrão qualitativo para um quantitativo, uma ampliação da matematização do mundo, com o desencantamento da natureza e o seu enclausuramento em sistemas naturais e em jardins intencionalmente geométricos. Hoje, vive-se um novo período de profundas transformações nas idéias de natureza; além da permanência dos modelos quantitativos,observa-se uma restauração de uma idéia mítica da natureza, um reencantamento da natureza, não com um viés ?sobrenatural?, mas, sim, seguindo um projeto específico de valorização financeira da natureza. Há, também, um claro movimento de incorporação da natureza à vida social. Instaura-se um projeto de reificação acentuada da natureza; sob uma abordagem mercadológica, a natureza vira objeto/ mercadoria nos mais variados segmentos da produção e dos serviços."

Um dos fragmentos do espaço urbano é o surgimento dos condomínios que proporciona a segurança, tranqüilidade e, quase sempre, um convívio com uma natureza fetichizada, criada a partir de olhares econômicos. O público consumidor quase sempre são pessoas de alto poder aquisitivo, que mudam para esse tipo de moradia na busca de um éden perdido, condição que se multiplicou nos últimos anos no Brasil. Embora seja legítimo do ponto de vista do indivíduo buscar maior tranquilidade, ar puro e segurança para si e para sua família, esse fenômeno acentua a exclusão social e reduz os espaços urbanos públicos, uma vez que propicia o crescimento de espaços privados e de circulação restrita. Houve um momento que a natureza na cidade apresentava-se somente como ponto de lazer, o qual era característica do sítio urbano, agora ela está altamente incorporada à vida econômica da cidade. A natureza passa a ser retratada sob o ponto de vista econômico, incorporada, produzida e vendida de acordo com as leis e objetivos de uma racionalidade instrumental capitalista, voltada para o lucro e a propriedade privada.
Nesse aspecto o consumismo torna-se um hábito ou mesmo um estilo de vida, que passa a ser o foco das relações capitalistas em todas as esferas da vida e, a natureza, ou melhor, o conceito de natureza, passa a ser um mero produto dentro dessa lógica. Ao mesmo tempo é colocada a idéia de comprar uma vida em harmonia com a natureza, o que é contraditório. O interesse dos agentes especulativos, principalmente aqueles ligados ao mercado imobiliário, manifesta-se e materializa-se na venda de "áreas ?verdes? encontradas no espaço urbano, transformando a cidade, fragmentando as áreas favoráveis ao incorporação imobiliária segundo as características do território.
A qualidade do ar, as praças e os parques arborizados tornam-se objetos de consumo. A natureza torna-se, devido à raridade em algumas cidades, um artigo de luxo. Qualquer objeto associado a uma ideia de natureza torna-se sinônimo de qualidade de vida e viabiliza a apropriação de valores, através do aumento de preços em loteamentos, como o caso do Ecoville objeto desse estudo.
A incorporação de infra-estrutura e o imaginário sobre a natureza colocada pela especulação imobiliária satisfazem os desejos daqueles que possuem condições econômicas para consumir, concretizando seus sonhos de, em um único espaço, ter segurança, conforto e uma natureza que proporciona uma "boa qualidade de vida", não havendo assim preocupação imediata quanto à convivência com os problemas da cidade, desconsiderando as conexões existentes, como destaca Corrêa (2000, p.11):
"O espaço urbano é fragmentado, pois possui diferentes tipos de uso - áreas comerciais, industriais, residenciais ou de expansão urbana. No entanto, essas diversas áreas encontram-se articuladas através dos chamados fluxos, ou seja, pela circulação de pessoas, de mercadorias, de investimentos ou de decisões."

Para esse autor, o espaço urbano capitalista ? fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campo de lutas ? é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem o espaço. Essa condição se materializa em Dourados como em qualquer outra cidade com as mesmas características, os empreendimentos como o Ecoville assim reflete essa dinâmica.
Neste contexto esse trabalho, desenvolvido no Laboratório de Geografia Física faz parte das atividades do Grupo de Pesquisa Sócio-econômico-ambiental de Mato Grosso do Sul tem como objetivos compreender o processo de incorporação do conceito de natureza em empreendimentos imobiliário, tendo como objeto de pesquisa o condomínio Ecoville Dourados Residence & Resort.
Fato de relevância que justifica sua a elaboração é a alienação das pessoas que incorporam nestes espaços fechados uma falsa relação de "homem-natureza e bem estar", proporcionada por meio do consumo e do poder aquisitivo, na qual, a relação homem e natureza e bem estar, é vendida pelo mercado imobiliário, como uma solução para as problemáticas socioambientais da cidade.
Articulando-se aos objetivos e metas propostas, a metodologia utilizada está centrada em materiais e métodos que valorizam as etapas da pesquisa incluindo:
- o processo de levantamento bibliográfico das obras de interesse e relevância para o entendimento daquilo que concerne o tema proposto, e, nesse sentido o foco tem sido levantamento de bases referenciais como livros, artigos científicos, dissertações, teses, documentos oficiais e fotos e outras fontes documentais como artigos de jornal e/ou revistas ou material publicado on line.
- a seleção de informações e dados em órgãos públicos tais como a Secretaria Municipal de Planejamento, Secretaria de Serviços Urbanos, o Arquivo Público Municipal, Instituto Municipal de Meio Ambiente (IMAM), Conselho Municipal de habitação de Dourados. Esses materiais foram organizados de modo a construir e consolidar o arcabouço teórico/documental que compôs a fase inicial da pesquisa.
- a análise do quadro socioambiental gerado pela construção de empreendimentos imobiliários que se utilizam do rótulo natureza como estratégia de venda e as possibilidades apresentadas quanto ao processo de crescimento da cidade de Dourados (MS)

Como a finalização do presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do Curso de Geografia da UFGD, culminará na elaboração de um projeto de mestrado, a fase de aprofundamento teórico findou-se, bem como, o levantamento de informações e dados e, isso, permitiu a elaboração e a apresentação do presente texto. Ao final, para que a proposta original se realize de forma mais satisfatória, espera-se, além da elaboração de artigos científicos e a divulgação do conhecimento adquirido, compreender os reflexos da propagação do uso da natureza pelos agentes do mercado imobiliário, e, ao mesmo tempo, subsidiar estudos sobre a temática natureza como mercadoria. Entender a fragmentação da relação homem x natureza existente no mercado imobiliário assim torna-se um grande desafio e de grande importância frente as dinâmicas que estão acontecendo nas cidades do Mato Grosso do Sul. Asegregação sócio-espacial existente no conceito de condomínio e os reflexos da implantação do Ecoville na cidade de Dourados é em grande parte um reflexo dessas novas dinâmicas. Por tal razão, acredita-se também que o presente trabalho poderá vir a auxiliar na construção de novas políticas publica sobre a temática socioambiental no espaço urbano.
A compreensão e o entendimento de natureza são de grande importância para todos os grupos sociais, em especial aos grupos que se apropriam de espaços como o Ecoville. O qual em sua maioria tem como o conceito de natureza o marketing da venda da natureza, cujo este é apresentado pelos agentes imobiliários que se utilizam de todos os meios midiáticos para a venda e construção de um conceito distorcido de natureza.

A partir destes conceitos distorcidos de natureza, urbano e relações sociais incorporado pelos grupos econômicos dominantes, toda a sociedade é afetada, pois, os agentes que usufruem desta "natureza, segurança, lazer e outras regalias" são os mesmo que traçam e definem os rumos desta sociedade capitalista.

Assistiu-se a uma mudança no modelo de concepção da natureza, onde passou - se de um padrão qualitativo para um quantitativo, uma ampliação da matematização do mundo, com o desencantamento da natureza e o seu enclausuramento em sistemas naturais e em jardins intencionalmente geométricos (Wendel Henrique Renascimento). O desenvolvimento urbano da cidade de Dourados, em se tratando de condomínios, é considerado um investimento dos "sonhos", de um lado esta o mercado imobiliário que vê no setor a possibilidade de imensos lucros, do outro lado, estão os possíveis donos que acreditam que dentro dos gigantescos muros esta a "felicidade".
Podemos observar na cidade de Dourados que o poder do homem em alterar o ambiente cresceu mais do que a compreensão desse meio. Os interesses econômicos superam qualquer ética e
Porém, o lugar é resultado de ações multilaterais que se realizam em tempos desiguais sobre cada um e em todos os pontos da superfície terrestre (Santos, 1986) com isso os padrões de moradia serão distintos entre a classe alta e baixa bem como o acesso á natureza ("ar puro), ao consumo, ao lazer surgindo às segregações e exclusões.

Dessa forma a natureza é modificada a fim de atender ás necessidades da burguesia que detém dos privilégios dessa modificação e sofrendo menos os impactos que a mesma gera no planeta. Assim a análise desse sistema é imprescindível para o entendimento de nossa realidade. Entender para onde os "restos" de nosso consumo vão os impactos que o depósito dos mesmos no meio ambiente vão gerar, o modo como a natureza é tratada na atualidade e como o homem se apropria de determinado espaço rural (os interesses dessa ocupação) são de extrema importância para uma introdução ao olhar geográfico. O desenvolvimento do olhar geográfico é fator determinante não somente para a formação do geógrafo, mas também de verdadeiros cidadãos.

A expansão demográfica da cidade e a consequente fragmentação da população em classes econômicas pode ser visualiza no residencial Ecoville, modelo de estruturação social já prega em vários países capitalistas onde se prima o afastamento da cidade e de seus problemas relacionados, além do conceito distorcido de natureza que agora se dissemina nas relações comerciais. Desta forma, estes residentes desenvolvem uma atitude indiferente perante as situações que permeiam a realidade sócio-ambiental devido a este distanciamento.

Assim concordando com Carlos Walter Porto Gonçalves, temos que refletir sobre a forma a partir da qual percebemos a natureza em nossa sociedade. Uma sociedade que na concepção do Gonçalves, entende por natureza tudo aquilo que é adverso a cultura. A cultura aqui vista, como algo superior capaz de controlar e dominar a natureza. Não desconsiderando o fato de que apesar da natureza ser vista como objeto a ser dominado pelo homem, isso não ocorre de forma homogênea. Assim sendo, apenas uma pequena parcela da sociedade, tem acesso a grande parte dessa natureza, vista aqui, como recurso a ser apropriado pelo "homem".











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