A GEOGRAFIA UMA CIÊNCIA E UMA DISCIPLINA, O GEÓGRAFO UM PROFISSIONAL

DANTAS, Mariana Ramalho
FONSECA, Hérica Vanessa
SOUSA, Márcia Evangelista
RESUMO: A geografia que é descrita por vários autores, como a ciência do espaço, tem como objeto de estudo a descrição deste, as relações nele estabelecidas e o resultado destas interações. Tendo como seu eixo principal o espaço geográfico, que corresponde ao palco das atividades humanas, ela é definida como a ciência que estuda a organização do espaço pelo homem. Assim, cabe aos geógrafos desenvolver o planejamento e a organização sócio-espacial, sendo ele habilitado para desempenhar tanto as funções docentes, como as de pesquisa e extensão. O presente artigo tem como objetivo explanar o crescimento da geografia e o grande leque que ela oferece aos seus profissionais.
PALAVRAS-CHAVES: Geografia, profissionais, geógrafo.


1. INTRODUÇÃO:
A geografia é a ciência que estuda o espaço, descreve a sua formação e também suas transformações. Desta maneira, ela busca relatar o espaço geográfico e a relação homem-natureza, relacionando sociedade e natureza. Assim sendo, ela descreve paisagens, relevos, hidrografias, populações e culturas, ou seja, ela trabalha com fenômenos naturais e humanos.
A área de atuação da geografia na contemporaneidade ampliou-se bastante, pois em outras épocas os geógrafos limitavam-se a atuar especialmente voltados aos estudos de fenômenos físicos da superfície da Terra, com o passar dos anos a Geografia ampliou seu campo de atuação, desenvolvendo pesquisas que tinham como objeto um grande número temas que diziam respeito ao homem e ao espaço, como veremos no decorrer deste artigo.
Hoje, o geógrafo tem cada vez mais opções no mercado de trabalho, seja ele professor, bacharel, pesquisador ou atue em um ou mais desses campos, já que isto é perfeitamente cabível.
Os avanços tecnológicos que propiciaram o desenvolvimento de equipamentos modernos para serem utilizados pelos geógrafos, a exemplo de: software sofisticados para elaboração de mapas, que contam com o auxílio de satélites e radares para facilitar e aperfeiçoar a coleção de dados, muito colaborou para que o mercado se abrisse ainda mais aos profissionais de geografia. Pode-se dizer que nos dias atuais a geografia técnica está em evidência no mercado de trabalho, e os profissionais que se especializaram em sensoriamento remoto associado ao geoprocessamento são escassos.
Os profissionais da geografia são capacitados para lidar com questões que dizem respeito à compreensão da realidade que se estabelece num determinado espaço, seja este profissional um professor, um bacharel ou um pesquisador. Segundo Callai (2003), ele tem de dar conta de interpretar a realidade, fazendo a análise do espaço, porque os problemas do território são mais que simplesmente problemas do espaço, eles são questões sociais e, que precisam ser compreendidos. Portanto, como os problemas da sociedade são materializados no espaço, cabe ao geógrafo a sua atuação. Porém, exige-se uma formação específica e continuada, para que a sua função social seja exercida com habilidade.
Sendo assim, cabe aos geógrafos analisar e compreender o seu papel tanto no cenário acadêmico, como no campo da pesquisa. Além de ter competência para exercer atividades e funções a cargo da União, dos estados, dos territórios e dos municípios, coexistindo com a sua função social. Isso demonstra que este profissional deverá desenvolver a análise geográfica, que requer grande compreensão ao fazer estudos, descrições e observações.
Por isso, cabe a ele ter o conhecimento epistemológico desta disciplina, seja na distribuição e localização dos fenômenos ou na delimitação e caracterização de regiões e sub-regiões geográficas. Isto demonstra a importância do conhecimento a respeito de região, lugar, território, cidade e paisagem, pois, estes conceitos físico-geográficos são a base de grande parte dos estudos de interesse geográfico.
Esta pesquisa tem como objetivo principal, comprovar o valor da geografia no mundo atual desde o seu surgimento, evidenciando a capacidade do geógrafo professor, bacharel e pesquisador. Visando mostrar ás áreas de atuação da geografia humana, física e técnica.

2. METODOLOGIA:
Este artigo teve como método o levantamento bibliográfico de célebres autores, através de uma pesquisa qualitativa, na qual se usou o método de abordagem dedutivo. E teve como técnica de coleta a documentação indireta, através de livros, artigo e sites.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES:
A Geografia enquanto ciência sistematizada surge de fato no século XIX, no entanto, antes disto um longo caminho foi percorrido. Segundo Moraes (2007), desde a Grécia Antiga já se produzia Geografia, filósofos como Tales e Anaximandro, preocupavam-se com questões relacionadas a medição do espaço e o formato da Terra, praticamente na mesma época Heródoto descrevia lugares e dava aos seus estudos uma perspectiva regional. Citando apenas esses dois filósofos já se pode perceber que os temas eram os mais variados possíveis. Com o avanço das navegações as questões geográficas como as correntes marinhas, cálculo de rotas e localização dos pontos da Terra ficaram ainda mais em voga, mas foi com o surgimento e desenvolvimento do capitalismo que a Geografia alcançou o status de ciência sistematizada.
A partir da leitura de Moraes (2007), pode-se inferir que o avanço do processo capitalista possibilita o surgimento de um espaço mundial e para que se estabeleçam as relações de domínio mais do que nunca as discussões geográficas se fazem necessárias, além disto, já era de posse do homem informações sobre a extensão real da terra e o formato dos continentes, o que facilitava estes processos. Os temas propostos neste momento histórico serão mais voltados para a dominação de determinados lugares e desenvolvimento do comércio, para tanto é preciso conhecer os fenômenos locais, delimitações territoriais, recursos naturais, comportamento da população local e outros aspectos.
Com a sistematização da ciência surge uma nova problemática a delimitação do objeto, durante toda a trajetória da Geografia são publicadas várias tentativas de delimitação do tema, no entanto, o temário tão abrangente e diversificado dificulta esta tarefa. Sem um objeto de estudo que seja de comum acordo entre os pesquisadores, não existe unidade na ciência produzida e este configura um novo problema.
Neste início (séc. XIX), a Geografia era produzida por não geógrafos, os estudiosos que deram sua contribuição para o desenvolvimento da nova ciência eram dos mais variados campos de estudos, sendo alguns deles: historiadores, geólogos, filósofos, botânicos. A partir deste fato já é possível inferir a quantidade de temas abordados, já que as formações são as mais distintas possíveis.
O desenvolvimento da ciência geográfica nos países europeus teve como estudiosos e difusores pessoas da classe dominante que até então era somente quem tinha acesso a educação. É a partir das concepções formuladas por estes estudiosos que a Geografia será também expandida às metrópoles, no Brasil as missões Jesuítas foram durante muito tempo responsáveis pela educação, como relata Rocha a seguir:
Durante os mais de duzentos anos de monopólio da educação jesuítica no
Brasil a Geografia não teve assento nas escolas enquanto disciplina escolar. Não
existiram, também, cursos de formação de professores(as) para atuar com o
ensinamento destes saberes. Os conhecimentos geográficos, por serem de grande
interesse do Estado, eram bem pouco vulgarizados nas salas de aulas. (ROCHA, 2011, p.126)
Outra característica da produção geográfica no seu início é que durante muito tempo a Geografia existe para servir ao Estado e as elites dominantes, a partir da leitura de Lacoste (1993) é possível compreender claramente esta afirmativa, ela está explícita no trecho a seguir:
A profissão de geógrafo é, portanto, muito antiga, e durante séculos ela foi considerada como da mais alta importância, tanto para os soberanos, como para os homens de negócios, dos mais empreendedores, pois as cartas, como as demais informações fornecidas pelos geógrafos, eram já tão indispensáveis ao governo dos Estados ou ao comércio de longo curso quanto o comando dos navios. Os geógrafos tinham, então, grandes responsabilidades: cada grande soberano tem "seu" geógrafo e seu gabinete de cartas e estas são consideradas instrumentos indispensável de poder. (LACOSTE, 1993, p. 216)

Como visto, a cartografia era um importante instrumento de poder e a atuação do geógrafo estava sempre relacionada com as atividades de catalogação e representação dos territórios, na educação a geografia ainda não tinha grande espaço e quando esta disciplina era lecionada sua característica era enciclopédica, os alunos precisavam decorar um grande número de informações.
Durante quase todo o período imperial, o ensino de geografia manteve-se
quase que inalterado em suas características principais, tendo sofrido poucas
alterações no que diz respeito ao conteúdo ensinado ou mesmo na forma de se
ensinar. Praticou-se, durante todo o período, a geografia escolar de nítida
orientação clássica, ou seja, a geografia descritiva, mnemônica, enciclopédica,
distante da realidade do(a) aluno(a). (ROCHA, 2011, p. 126)

Ainda de acordo com Rocha (2011), os docentes da disciplina de geografia das escolas do império eram oriundos das mais diversas formações, eram normalmente: advogados, sacerdotes e até mesmo autodidatas, realidade que só irá mudar com a chegada dos primeiros cursos de Geografia no Brasil.
O primeiro curso de Geografia do Brasil nasce no ano de 1934 na USP ? Universidade de São Paulo mais especificamente na FFCL ? Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, neste mesmo ano foi fundada a AGB ? Associação de Geógrafos Brasileiros com a finalidade de reunir os pesquisadores. É neste momento que a Geografia começa a formar bacharéis e professores e em alguns anos a ciência vai ter sofrido grandes mudanças até que no ano de 1970 surge com força total a Geografia Renovada.
É deste contexto de mudanças nas perspectivas geográficas e na multiplicidade dos temas que a Geografia envolve a análise do papel dos geógrafos na sociedade, seja ele bacharel ou professor, e ambos como pesquisadores das problemáticas que lhes cabem.
Vale ressaltar que na década de 1970 os geógrafos passam a ter mais preocupações com os problemas sociais e à essa mudança de mentalidade dar-se o nome de renovação da geografia. Com o desenvolvimento da indústria e seus impactos sobre a natureza e sociedade e uma forte política industrial e pouca preocupação pública com as implicações disto, grande parte dos geógrafos tomam partido da sociedade e começam a produzir uma ciência voltada para esta temática, como Andrade mostra a seguir:
Diante de tais perspectivas de degradação das condições de vida e até de possível desaparecimento da humanidade, os cientistas em geral e os geógrafos em particular não poderiam ficar de braços cruzados, sob o risco de conivência com o crime que é cometido. Não se pode justificar a construção de barragens monumentais para produzir e vender energia, por baixo preço, a empresas multinacionais que contribuem para esgotar as reservas disponíveis, deixando no país apenas os sinais da exploração, o salário pago aos trabalhadores e uns poucos impostos. (ANDRADE, 1987, P. 117)
Até o dado momento o presente artigo relata o desenvolvimento da Geografia, sua sistematização e sua transformação em disciplina, mas pouco se fala do profissional responsável pelo seu ensino, já que até meados dos anos 1940 eles praticamente inexistiam no Brasil. Quem levava a Geografia para a sala de aula eram os pesquisadores, profissionais de outras áreas ou curiosos que acabavam por adquirir algum conhecimento.
Nesta época em que o cenário dos profissionais já era composto por bacharéis e licenciados com a devida formação para atuar nas respectivas áreas de pesquisa e ensino, o principal empregador dos geógrafos era o estado, tanto no recém fundado IBGE ? Instituto Brasileiro de geografia e Estatística quanto nas escolas públicas. Os geógrafos tanto trabalhavam para o Estado como demonstravam de fato estar a serviço dele e até meados dos anos 1970 como afirma Andrade (1987), há grande engajamento do IBGE com a política econômica do governo, com desprezo pelos problemas sociais e do meio ambiente.
Com a mudança do foco de pesquisa de grande parte da comunidade científica da Geografia no Brasil naturalmente a disciplina na sala de aula também sofrerá alterações, pois uma atividade não deve sobrepor-se a outra elas devem caminhar juntas, caso o objetivo comum seja o progresso da ciência.
A formação dos profissionais da geografia deve, portanto levar em conta todos esses aspectos (a geografia como ciência e matéria de ensino) e, para além desses, considerar o avanço do conhecimento geográfico e a sua popularização. (CALLAI, 2003, p. 11)
O profissional da geografia além de ter claro seu campo de atuação deve sobretudo ter em vista que sendo ele, professor ou bacharel, ambos devem atuar juntos, lado a lado. Sabendo também que a pesquisa deve ser uma constante na vida profissional de ambos. Tendo escolhido o caminho da docência deverá estar sempre pesquisando inovações para a prática pedagógica, sendo um facilitador da disciplina na sala de aula e na difusão das teorias dos licenciados e bacharéis. Tendo escolhido o bacharelado além de pesquisador, pode exercer cargos técnicos que envolvam relatórios de impactos ambientais, sensoriamento remoto e outras formas de consultoria. A cerca disto enfatiza Callai:
Que saiba operar com o tradicional e o novo, com o conhecido e o a descobrir-se, que consiga interligar o conhecimento produzido pela ciência à capacidade criativa de produzir o seu próprio saber. (Ibid., p. 17)
O título de geógrafo não deve, portanto restringir-se a quem escolheu este ou aquele caminho na área da geografia, deve estender-se a todo aquele que tendo habilitação na área produza conhecimento geográfico, pois, todos tem sua parcela de contribuição no desenvolvimento da ciência, utilizamo-nos mais uma vez da obra de Callai para respaldar estas afirmações:
A contribuição que a geografia pode dar para o conhecimento e interpretação da realidade, no sentido de formar cidadãos, é preocupação constante de quem trabalha com a formação. (Ibid., p. 12)
Segundo Callai, (2003) o profissional da geografia requer formação específica e continuada com conhecimento significativo e a compreensão da sua função social. Essa formação coexiste com dois aspectos que é o perfil desse profissional e o curso de graduação que o habilita, para desenvolver o seu trabalho, como técnico, pesquisador e professor, pois, é o que se espera de um geógrafo no mundo atual.
Portanto, o curso de graduação deverá não apenas formar docentes, mas sim, preparar e estruturar estes futuros geógrafos, introduzindo uma formação muito sólida, isto é, fundamentada, para que eles tenham capacidade de exercer o seu trabalho nos diversos campos de atuação que o curso oferece. Assim, eles deverão reconhecer suas funções técnicas e sociais, pois a sua formação exige tanto a fundamentação teórica quanto a prática no exercício da profissão.
Desta forma, exige-se que este profissional esteja habilitado para atuar em todas as áreas que a geografia oferece. Por isso, ele deverá ter o domínio das técnicas de pesquisas e do planejamento territorial, como também o da docência. Isso requer um profissional dinâmico que esteja sempre inovando em busca de conhecimentos para ampliar sua bagagem, pois a geografia é uma ciência que está relacionada a diversas áreas como a Geologia, Oceanografia, Climatologia, Sociologia, Economia, dentre outras que não são estáticas e assim como a própria geografia acompanham a dinâmica do mundo, mudam a todo instante.

4. CONCLUSÃO:
A complexidade e diversidade do objeto geográfico torna a unidade temática desta ciência algo cada vez mais distante, e em alguns momentos até irrelevante diante do potencial que a geografia tem de adentrar tantas áreas e dar sua enorme contribuição a comunidade científica e a sociedade em geral.
Apesar da ciência em questão já ter percorrido uma enorme estrada e possuir um grande acervo de trabalhos publicados existe uma gama de possibilidades temáticas a serem exploradas que pouco ou nunca foram trabalhadas, ou seja, o objeto de estudo dos geógrafos é inesgotável.
Embora o profissional licenciado em geografia não seja tão valorizado no mercado quanto o bacharel ele é imprescindível ao desenvolvimento, continuidade e valorização da própria ciência, pois ele é o responsável direto pela sua difusão e é quem primeiro pode despertar o interesse de futuros profissionais para esta ciência de importância já comprovada ao longo dos tempos.
A partir deste trabalho foi possível verificar que a continuidade da geografia depende da cooperação de todos os seguimentos que a produzem, sejam: bacharéis, professores, comunidade acadêmica (incluindo discentes e docentes) e pesquisadores dos mais variados seguimentos e titulação, pois a todos eles podemos denominar geógrafos.


5. REFERÊNCIAS

AB? SABER, Aziz Nacib. O que é ser geógrafo. 2ª ed. Rio de janeiro: Record, 2009.
ADAS, Melhem. Estudos de geografia. 2ª ed. São Paulo: Editora Moderna, 1979, p. 45-47.
ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à análise do pensamento geográfico. São Paulo: Atlas, 1987.
CALLAI, Helena Copetti. A Formação do Profissional de Geografia. 2ª ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003.
LACOSTE, Yves. Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Tradução Maria Cecília França. 3ª ed. Campinas, SP: Papirus, 1993.
MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 21ª ed. São Paulo: Annablume, 2007.
MOREIRA, Ruy. O que é geografia. 10ª ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelindo de. Para onde vai o ensino de geografia? 2ª ed. São Paulo: Contexto, 1990.
ROCHA, Genylton Odilon Rêgo da.Terra Livre: Publicação Nacional da Associação dos Geográfos do Brasil. São Paulo: nº15. p. 126. Disponível em: http://www.agb.org.br/files/TL_N15.pdf#page=124, acesso em: 26 de maio de 2011.
SANTOS, Milton. Por uma nova geografia. 4ª ed. São Paulo: Editora HUCITEC, 1978, p. 97-111.
VESENTINI, José William. Para uma geografia crítica na escola. São Paulo: Editora Ática, 1992.