10 DICAS DESMISTIFICADORAS DO SUCESSO PROFISSIONAL

 

Certa vez, trabalhando em uma daquelas organizações de armários que costumam acontecer nos fins de semana, me deparei com uma anotação manuscrita, em língua inglesa, de 10 dicas profissionais valiosíssimas que, no mínimo, desmistificam o sucesso profissional. Muito provavelmente, as anotei enquanto ouvia ou lia algum gestor de sucesso. A partir daí, apliquei um olhar crítico a esse material, decidi realizar uma tradução livre e algumas adaptações dessas dicas, tecendo, para cada uma delas alguns comentários:

 

1 – Sejam rápidos nas respostas:

            A rapidez nas respostas resolve muita coisa e, dependendo do número de informação manipulado diariamente, muito difícil de colocar em prática (e isso tem uma grande ligação com definição de prioridades, mas esse ponto já é outro assunto). No entanto, a velocidade excessiva em todas as respostas, pode parecer uma estratégia evasiva e, em outros casos, pontos importantes podem não ser considerados, simplesmente por querermos ser rápidos e usarmos a ideia do “não está mais comigo!” Enfim, devemos, antes de sermos rápidos nas respostas, aplicar um filtro bem ajustado, nos perguntando: “tenho todos os elementos necessários para dar uma resposta rápida que não seja evasiva e que esteja considerando todos os pontos?”. De outra forma, uma resposta rápida com o objetivo de evidenciar aos envolvidos que estamos atentos ao assunto e que a resposta definitiva será enviada em seguida, também pode ser uma boa solução. Prazos precisam acordados.

 

2 – Trabalhem duro:

            A dica é simples: “Beba” com moderação. Trabalhar duro não é sinônimo de trabalhar o tempo todo ou trabalhar muito. Talvez pudéssemos trocar “trabalhem duro” por “trabalhem certo”. Certa vez, li em um material didático de idiomas a seguinte frase: “I am working 50% more on my business and 50% less in my business. I am 100% happier”. Creio que o ponto-chave nessa questão passa por uma alta dedicação no quesito planejamento. É necessário trocar o “Fogo! Apontar! Preparar!” pelo “Preparar! Apontar! Fogo!”.  E o grau de ligação dessa troca com o conceito de disciplina é alto.

 

3 – Sejam curiosos e ansiosos para aprender:

Falar de aprendizado em seu conceito não é simples. No entanto, para fins de comentários a essa dica, vamos simplificar: aprender seria uma transformação de informação em conhecimento.

Aos 16 anos, aprendi com meu primeiro gestor (naquela época não utilizávamos essa classificação) que “Conhecimento não ocupa espaço”. Como é boa a sensação de aprender algo e melhor ainda é a sensação de aplicar algo que aprendemos.

A curiosidade e a ansiedade pelo aprendizado trazem uma inquietação do bem. Trata-se, não somente de uma necessidade que temos de evolução intelectual, como também de um “remédio” para extinguirmos o perigoso risco do comodismo. Quando se usam as palavras “curiosos” e “ansiosos” nesse tópico, a intenção é traduzir para “desejo em aprender”, “paixão em aprender” e, isso pode também ser traduzido, nas entrelinhas, em “não perca tempo trabalhando informações que não agreguem valor, pois esse tempo, muito provavelmente, vai lhe fazer falta”.

Comece a observar as pessoas de destaque a sua volta, “os iluminados” e você vai se certificar que suas competências são decorrentes de Transpiração e muito pouco decorrentes de Inspiração. Portanto, transpire e seja um curioso e um ansioso em aprender, em transformar informações úteis em conhecimentos incríveis e faça a diferença.

           

4 – Valorizem as pessoas e os relacionamentos

            Há poucos anos, um Diretor Geral de uma empresa decidiu interromper suas atividades (não tenho notícias se ele está em outra instituição ou se “pendurou as chuteiras”). Qual foi sua última decisão? Ele decidiu visitar todas as unidades operacionais e se despedir de cada colaborador.

            Em seu discurso, ele mencionou sistematicamente a fundamental importância das pessoas. Ao final, tive oportunidade de demonstrar pra ele o quão interessante considerava esse foco. E ele disse: “pode ter certeza disso e pode apostar que esse é o caminho”. Talvez tenha sido esse um dos mais importantes conselhos que já tenha recebido. Tenho podido comprovar que ele estava certo.

            É bem possível que, em alguns momentos, tenha que se pagar um preço por valorizar pessoas e relacionamentos, mas esse preço não passará de algo de “tiro curto”, rápido e temporário e, mais a frente vai perceber que valeu a pena. Trabalhar a relação com as pessoas, a atenção de qualidade aos colegas de trabalho é um investimento. Não podemos nos esquecer que, independentemente da conjuntura, quem faz (produz) ou quem deixa de fazer (produzir) são as pessoas.

 

5 – Não tolerem as falhas, antes busquem corrigi-las da próxima vez:

Falhas sempre acontecerão. Isso é fato. Por mais que nos aperfeiçoemos, por mais que busquemos a excelência ou calibremos o nível da autocobrança, elas vão aparecer.

Considero que o mais importante, e o exercício que necessita ser feito constantemente, é a identificação de uma falha. Quando estamos falhando sistematicamente e não conseguimos perceber que o erro está acontecendo, a questão é muito maior.

A partir do momento em que identificamos as falhas, inicia-se o exercício da correção. Retiraria dessa dica as palavras “da próxima vez”. Não é necessário esperar uma próxima vez. A correção deve ser imediatamente aplicada após a detecção e, para alguns casos mais complexos, um plano de correção ou recuperação pode necessitar ser criado.

Tolerar uma falha pode ser perigoso, significa entrar em conformidade com a falha identificada. Portanto, “não tolerem as falhas, antes busquem corrigi-las” imediatamente.

 

6 – Encontrem novas combinações, novas possibilidades, novas oportunidades e desafios onde outros vêem problemas ou limitaçõe:

Os problemas (ou questões, como prefiro dizer) e as limitações existem, fazem parte de nosso cotidiano e temos que, digamos, trabalhá-los. Por um lado, não devemos banalizar as questões ou limitações, ou seja, ao primeiro sinal de dificuldade “apertarmos o botão de parada” e não conseguimos dar sequência a um fluxo de trabalho. Por outro lado, devemos reconhecer o momento certo de pedirmos ajuda e assumirmos que todas as nossas possibilidades razoáveis para execução de um projeto ou para andamento de um processo, de modo que os prazos sejam atendidos, estão esgotadas.

Encarar as questões sob o prisma das “novas combinações, novas possibilidades, novas oportunidades e desafios” é uma arte e também um exercício que vale muito a pena. Certamente, você será visto de maneira positiva e particular.

 

7 – Sejam autoconfiantes e assumam a responsabilidade. Não tenham medo da culpa e não percam tempo reclamando. Tome a decisão e siga em frente:

Em um debate sobre perfis profissionais, a representante de Recursos Humanos de uma empresa líder mundial no segmento de bebidas, ao ser indagada sobre uma característica profissional que ela considerava ser fundamental, sem titubear, respondeu em alto e bom tom uma única palavra que ainda ecoa em meus ouvidos: “A T I T U D E”.

Creio que essa dica passa fundamentalmente por essa característica. Ter atitude significa mobilizar uma série de competências comportamentais e técnicas de maneira altamente positiva (e a palavra aqui, é sinônimo de caráter prático).

Não conheço ou não me recordo de ter ouvido falar de algum colaborador que tenha sido punido por um posicionamento positivo. “O que aconteceu foi” isso, isso e isso, por conta “disso, disso e disso” e, para que não aconteça novamente, a proposta é “essa, essa e essa”.

O foco deve estar na Solução e não no Problema. O posicionamento e o consequente discurso devem ser proativos e não reativos.

Pensem nisso. Ao proferir um comentário, redigir um e-mail ou realizar uma ação, pergunte-se: estou contribuindo para a solução ou para o problema? Estou assumindo proativamente a responsabilidade ou estou, reativamente, com medo ou reclamando de algo?

 

8 – Relaxem, mantenham suas perspectivas e não tomem decisões por impulso:

Recordemo-nos da famosa história de “contar até10”, “esperar meia hora e responder aquele email que provocou sua ira”. Funciona. Isso também é um exercício.

Interessante uma análise a essa dica no que diz respeito a associação que é feita com a manutenção das perspectivas. O que isso quer dizer?

Muito provavelmente, quando você toma uma decisão por impulso, você está, naquele exato momento, sofrendo do que costumo chamar de cegueira intelectual. Dessa forma, você está saindo e abandonando o caminho da sabedoria, deixando de lado suas perspectivas e, dependendo da situação, quando se der conta, pode não haver correção para o erro.

Adicionalmente, devemos “calibrar” o “relaxem”. Isso não significa que devemos simplesmente descansar e deixar o “pau quebrar” valendo-nos de sermos pessoas tranquilas e pacíficas. Também não podemos confundir o comportamento positivamente enérgico, que tem como seu contraponto a passividade, com comportamento impulsivo. São coisas diferentes.

Resumindo a história, analisemos as situações difíceis com sabedoria, examinemos nossa condição de dar uma resposta inteligente (seja pessoalmente ou por e-mail) e, somente quando tivermos segurança, tranquilidade e nossas faculdades mentais recobradas, respondamos.

 

9 – “Desfrute uma refeição”:

O que significa isso? Procuremos focar no que está acontecendo AGORA. Neste exato momento, neste segundo. Como interferir no passado? Como interferir no futuro? Não há como. Passado e futuro são efeitos, não causas. E em grande parte do tempo, estamos preocupados com ambos e nos esquecemos de ajustar nossa atenção ao presente.  À causa.

Desfrutar “de uma refeição” significa, literalmente, que devemos nos alimentar bem. Escolher bem o que ingerimos é um sinal de inteligência. Se não interferirmos no Agora, nossas taxas vão nos mostrar, mais adiante, que estávamos errados.

Significa, também, figurativamente, que devemos observar os pilares da vida. Cuido daquele momento em que meu espírito está enfraquecido? Desfrutamos momentos com meus familiares quando estes anseiam por nossa atenção? Tenho cultivado (desfrutado das) minhas amizades? Se a nossa resposta é não ou se a fatia percentual de dedicação a qualquer um desses importantes fundamentos for demasiadamente reduzida, é bom buscarmos o balanço. Se não interferirmos no Agora, nossas “taxas” vão nos mostrar, mais a frente, que estávamos errados.

Não percamos tempo, usemos o tempo. Desfrutemos das diversas refeições que passam pelo banquete que é nossas vidas.

 

10 – Olhem através do horizonte e vejam o futuro. Observem tendências. Vivam o presente com os olhos no futuro:

            Como complemento a dica anterior, que possui em seu discurso, passado, presente e futuro, esse tópico ratifica a importância de focarmos nossos esforços, nossas ações no presente e acrescenta, de maneira enfática os “olhos no futuro”

            Traçar rotas de desenvolvimento pessoal, profissional, social, político, econômico, cultural e tecnológico são essenciais.

            Existe um pensamento do filósofo Sêneca que tem sido largamente utilizado e que me permito fazer referência para ilustrar esse ponto. Ele diz: “não existe vento favorável para o marinheiro que não sabe aonde ir”.

            Perguntemo-nos constantemente: Quem eu quero ser, onde e como eu quero estar daqui há 2, 3 ou 5 anos? Quais as principais tendências tecnológicas e como aplicá-las à base de conhecimento científico a qual estou investindo atualmente? Estudemos os estudiosos e pesquisemos os pesquisadores. De posse de dados e informações, esbocemos nossa rota e fixemos nossa linha de base.

 

Certamente, reflexões e ações poderosas podem surgir ao colocarmos em prática, com foco e disciplina, essas 10 dicas.

 

Maurício Rocha Bastos, 19 de fevereiro de 2012.

 

Maurício Rocha Bastos é Analista de Sistemas de formação e Educador de vocação. Atualmente, coordena a educação profissional em um centro de tecnologia e pesquisa a inovação e a tecnologia aplicada ao desenvolvimento de mão de obra aplicada à indústria.