UMA BREVE DISCURSSÃO SOBRE O SURGIMENTO DO HOMO SAPIENS:

TEORIA DO BERÇO AFRICANO E TEORIA DA MULTIRREGIONALIDADE

 

 

Andréia das Virgens Lira

Emanuella Santos Alves

 

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo realizar uma discussão sobre o surgimento do Homo Sapiens e sua dispersão pelo mundo, fazendo uma análise profunda sobre a teoria da multirregionalidade e do berço africano, além da evolução e extensão de algumas espécies. O que se pretende com essa pesquisa não é obter uma verdade absoluta sobre o surgimento do Homo Sapiens e sim constatar a teoria que possui mais relevância baseando-se nos achados pré-históricos como artefatos e fosseis.

Palavras-chave

Homo Sapiens, multirregionalidade, berço africano.

ABSTRACT

 

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como principal objetivo discutir as duas principais teorias sobre o surgimento do homo sapiens e os caminhos evolutivos que este percorreu além da sua relação com o Homo Floresiensis, Homo Neandertais e o Homo Erectus.

Louis Leakey, talvez o maior dos defensores da “perspectiva africana”, preocupa-se particularmente com essa questão. Sendo ele próprio africano, ao contrário da maioria de seus contemporâneos estava convencido de que a África era o berço da humanidade. Alguns outros, como Weidenreich e Koengswald, viam a Ásia como uma terra natal mais provável para os humanos, tanto por razões temáticas não poderia haver progressos em climas muitos quentes; quanto por razões históricas – a Ásia era o continente que apresentava as maiores e amais antigas civilizações (FOLEY, 2003).

As teorias que vão ser abordadas é a teoria do berço Africano que atualmente é a mais aceita e defende a ideia de que todos os humanos atuais surgiram na África e se espalharam pelo oriente médio, Ásia, Oceania e Europa. A segunda teoria mais aceita e a da multirregionalidade ou candelabro que defende a ideia de que o Homo Sapiens surgiu na África e na Ásia ao mesmo tempo, os defensores dessa teoria creditam que para o Homo Sapiens surgir isoladamente na África teria que substituir os Neandertais na Europa e o Erectus na Ásia e Oceania o que seria bem difícil de acontecer. Os Sapiens tem perfeita condição de substituir os Erectus e os Neandertais, pois sua tecnologia e seu desenvolvimento são muito superiores as outras espécies de Homo.

Dentro desse contexto, questiona-se: O real surgimento do Homo Sapiens e os processos de seleção natural que a espécie passou para adquirir o seu atual aparato biológico. Relacionando essa seleção natural com a influência do meio ambiente e da genética que é fundamental nesse processo.

Nesse sentido, esta pesquisa tem como objetivos: a) identificar o surgimento do Homo Sapiens e qual teoria possui mais relevância e embasamento; b) comparar as duas teorias mais aceitas e realizar uma comparação entre ambas com objetivo de obter um resultado favorável; c) relacionar a evolução e extinção do Homo Erectus e do Homo Neandertal; d) analisar teorias, meio ambiente, padrões genéticos.

Justifica-se este trabalho como o objetivo de tentar solucionar essa questão do surgimento do homo sapiens podendo esse objetivo ser atingido ou não.

Além de esclarecer essa questão busca-se conhecer mais sobre os mecanismos evolutivos que conduziu a espécie humana a chegar ao atual Homo Sapiens.

Para tentar resolver o surgimento do Homo Sapiens é necessário saber que o seu surgimento implicou na extinção dos Neandertais e os Erectus, saber como ocorreu essa extinção e de suma importância para desenvolver as duas teorias sobre seu surgimento. Hoje se sabe que houve um contato profundo entre Sapiens e Neandertais, e que houve troca de cultura e cruzamento entre eles e isso ficou em nossa genética até os dias de hoje.

A cultura Neandertal é conhecida como mousteriense e a cultura Sapiens é conhecida como chateralperronense, sendo que o Sapiens influenciou o Neandertal após este contato os artefatos dos Neandertais passaram a ter um refinamento parecido com o do Sapiens, essa pode ser considerada uma justificativa para a extinção dos Neandertais. O suposto contato entre Sapiens e Neandertais ocorreu quando o Homo Sapiens saiu da África em busca de novas paragens.

É comprovada que existe uma aproximação genética entre Sapiens e Neandertais isso porque os seres humanos atuais possuem Neandertais em seus antepassados e isso foi encontrado em registros genéticos. Isso vem a reforçar a teoria sobre esse contato entre essas duas espécies.

Porém no DNA mitocondrial (só mãe) não foram encontradas marcas Neandertais, isso se justifica porque em cruzamento de homens Sapiens e mulheres Neandertais podem não ter gerado descendentes. Esse tipo de cruzamento é explicado por questões culturais, pois em uma invasão, os homens invasores capturavam as mulheres dos povos inválidos e isso justifica o cruzamento de homens Sapiens e mulheres Neandertais, que não gerou descendentes férteis ou simplesmente não gerou descendente. Esse tipo de cruzamento de homem Sapiens e mulher Neandertal eram quase que fatal por que, por o Sapiens ser mais evoluído vencia as disputas e tomava as mulheres dos Neandertais.

2. SURGIMENTO DO HOMO SAPIENS

Ao discutir o surgimento do homo sapiens e suas principais teorias é necessário estudar os caminhos evolutivos percorridos pela espécie para que possamos obter uma conclusão satisfatória. Em seu processo de evolução o homo sapiens extinguiu outras espécies menos desenvolvidas e antes de conhecermos as teorias sobre o seu desenvolvimento se faz necessário entender o processo da evolução do homo sapiens e como consequência a extinção de outras espécies.

Para Huxley (1997), o homem é a própria evolução, que se tornou consciente de se mesmo, para usar sua expressão concisa.

 Ilha das flores na Indonésia foi colonizada pelo Homo Sapiens a 35.000 a.C. e 55.000 a.C., nesta mesma ilha foi descoberto recentemente o homo floresiensis que foi a última espécie do nosso gênero a ser extinta. Por essa razão, os historiadores concluíram que sapiens e floresiensis conviveram na ilha por milhares de anos.

Segundo Euder Monteiro (2009) “foram encontradas ferramentas produzidas no estilo da tecnologia Olduvai (pedra lascada) produzidas pelo Homo Floresiensis em estilo parecido com as ferramentas produzidas pelo Homo Erectus”.

De acordo com Euder Monteiro (2009) vemos que, possivelmente além do contato com os Neandertais, os Floreiensis haviam tido contato também com o Homo Erectus espécie clássica da Indonésia.

Ainda é grande a discussão sobre o fato dos Homo Floresiensis ser pertencente ao gênero homo, mais atualmente ele é considerado uma das formas mais antigas de Homo Erectus asiático, porém a sua posição em sua árvore genealógica ainda não é definida.

O Homo Erectus é uma das mais complexas e duradouras espécies do gênero homo, dominou quase toda a Ásia e muitas ilhas da Oceania. Sua estrutura física era parecida com a nossa, porém seu crânio era muito diferente seu cérebro era menor que o nosso e maior que o de todas as espécies humanas anteriores. Quando a sua tecnologia era capaz de produzir ferramentas de estilo Acheuliano e avançar de forma expressiva para ferramentas do estilo Olduvai (pedra lascada).

Acredita-se que o Homo Erectus asiático foi extinto completamente, por que suas características não foram encontradas em nenhuma espécie posterior, apenas no Homo Floresiensis, comprovando o contato que estes tiveram na indonésia.

Esquema:

Homo Sapiens     ↔   Indonésia    ↔     Homo Erectus

Surge

Homo Floresiensis

As formas africanas próximas aos Erectus, porém pertencentes ao Homo Ergaster, formas estas que evoluíram para as formas mais recentes do gênero homo.

Esquema:

Evolução

Homo Ergaster

Homo Hiedelbergensis

Homo Neandertalenses

Homo Sapiens

 

É importante compreender a descendência dos Homo Sapiens. Assim,

A tendência atual é considerar o Homo Sapiens como descendente do Homo Heidelbergensis. Como o Heidelbergensis é muito mais parecido com o Neanderthalensis do que conosco, é provável que o Homo Sapiens primitivo, ou outro nome que venha a receber, tenha surgido a partir dessa espécie há 600 mil anos. (The Last Human).

A extinção do Erectus divide opiniões, mais provavelmente foram extintos pelos Sapiens havendo uma substituição sistemática ao longo de milhares de anos o que é equivalente a teoria do berço africano que a partir de pesquisas defende a teoria de que o Homo Sapiens surge na África e a partir do Homo Erectus Africano e saindo de lá colonizou o mundo substituindo todas as espécies que encontrou. Na teoria da multiregionalidade os Erectus asiáticos evoluíram para sapiens e foram convergentes.

Foley, 2003, afirma claramente que é justificável a evolução dos hominídeos como um caso africano, no qual os demais continentes desempenharam apenas curtos papeis coadjuvantes. A áfrica é a devoradora original das novidades, a Europa, a Ásia e, mais tarde a Austrália e as Américas sendo as receptoras.

Esquema:

Contato  ↔  Neanderthalensis  +  Sapiens  ↔  Troca de Cultura

Superioridade da tecnologia sapiens  ↔  Extinção Neanderthalensis

 

Quase todas as teorias sobre a extinção dos Neandertais estão ligadas a superioridade do sapiens, que além de possuir uma tecnologia mais sofisticada também possui um raciocínio estratégico superior.

2.1 TEORIA DO BERÇO AFRICANO

Por volta de 1 milhão de anos surgiu o Homo Erectus, descendente direto do Homo Habilis, uma espécie  hominídea fisicamente não muito diferente de nós, este ser já possuía a habilidade de dominar o fogo e de convívio social . Acreditasse que ele veio pelo estreito de Bering, empurrado pelas mudanças climáticas iniciando uma migração em massa povoando a África, onde os sobreviventes da jornada originaram o Homo Sapiens há 500 mil anos a.C. espécie essa que daria origem ao ser humano.

O continente africano é comumente conhecido como o berço da humanidade, isso porque foi lá que se desenvolveu há aproximadamente cinco milhões de anos  a.C. um tipo de hominídeo que habitava o sul e o leste da África, o Australopithecus. Há cerca de 2 milhões de anos a.C., esse hominídeo evoluiu para formas mais avançadas: o Homo habilis e o Homo erectus e vários outros que posteriormente daria origem ao ser humano, ou seja segundo a teoria do berço africano é que o ser humano atual surgiu na África migrando para outras regiões.

Em o ‘’Paleoantropologia para Iniciantes’’, Euder Monteiro descreve da seguinte maneira a teoria do berço Africano ou ‘’out of africa’’(África para fora):

‘’Os primeiros Homo Sapiens surgiram na áfrica, provavelmente na África oriental (ou no sul do continente) e de lá se espalharam pelo oriente médio, Ásia, Oceania, Europa e Américas exatamente nessa ordem, além de muitos fosseis darem a entender que essa teoria está correta, agora a genética também a corrobora. Estudos apontam claramente a África como origem de todos os humanos atuais’’. (MONTEIRO, 2009, p.08.).

O homo sapiens tinha um crânio mais desenvolvido, possuindo estratégias nunca vista em outras espécies hominídeas o que lhes permitia caçar animais de pequeno, médio e grande porte. Grupos de caçadores coletores viajaram por toda a África transportando o DNA mitocondrial.

Na África o homo sapiens desenvolveu uma serie de avanços tecnológicos, um homem mais moderno que introduziu uma série de comportamentos novos e foi capaz de desenvolver uma série de avanços tecnológicos como expressão simbólica, consciência do eu, representação do mundo exterior e de si mesmo, desenvolvimento da tecnologia lítica fabricação de objetos utilitários, pinturas rupestres, sepultamento ritual e caça de presas maiores. Dentre todos esses avanços o mais sofisticado foi os primeiros sinais de uma linguagem oral, o que teria facilitado sua migração para outros continentes através do mar vermelho quando era possível atravessá-lo a pé. Na África as populações do homo sapiens substituíram as populações de homo erectus no mesmo que acontecia na Europa com o Neandertal, este não aparece na África (GUGLIELMO, 1999).

A teoria do berço africano mostra que o homem surge na áfrica lá mesmo evoluiu e de lá migrou para outras regiões, então concluímos aqui que os seres humanos pertencem todos à mesma espécie, e que eles evoluíram de uma ancestralidade comum iniciada na África dando origem as grandes civilizações com avanços tecnológicos seja na prática agrícola, na criação de gado, na mineração, na arquitetura e na engenharia, com construções de grandes centros urbanos, e ainda na sofisticação da organização política, na prática da medicina e no avanço do conhecimento e da reflexão intelectual.

2.2 TEORIA DA MUTIREGIONALIDADE OU CANDELABRO

O homem é um animal e por mais que a sua condição na atualidade seja impar no reino animal, temos de reconhecer que ele se originou de ancestrais subumanos, por um processo de evolução. E uma vez que a vida desses ancestrais deve ter sido bastante semelhante à de outros animais, o processo pelo qual o homem se desenvolveu deve ter sido análogo ao processo pelo qual esses passaram.

“Podemos agora indagar em que medida a evolução do homem, desde que ele se segregou de seus ancestrais primatas, pode ser interpretada como sendo dirigida pelos mesmos controles que vimos orientar a evolução dos outros animais. Não há dúvida que a sua evolução foi, em muitos sentidos, “sui-generis”, e é de esperar que fatores também “sui-generis” tenham atuado em seu controle.” (MUSSOLINI. P. 79).

A evolução humana se processou durante a irradiação adaptativa pela qual todos os tipos de mamíferos se diversificam no terciário.

Irradiação adaptativa é a cisão bem sucedida de um grupo de animais num grande número de tipos adaptativos, cada um dos quais se ajustado a um dos habitantes secundários e hábitos de vida que são franqueados no interior da amplitude de variação do grupo como um todo. Os ancestrais do homem constituíram uma linha de irradiação tardia dos primatas, e adotaram um habito de vida que diferia em muitos sentidos do se seus antepassados primatas.

Como os ancestrais imediatos e os parentes mais próximos do Homo Erectus pareciam restritos á África a maioria dos paleontólogos pressupôs que Homo. Erectus evoluiu na África e dali mudou-se para a Ásia. Seja como for, é quase certo que antes de 2 milhões de anos atrás, os ancestrais de nossa espécie pertencentes ao gênero Homo viviam na África.

Há uma variedade de hipóteses relacionadas com a transição evolutiva de H. ergaster/erectus para H. sapiens. Em um extremo, está o modelo de substituição africana (ou fora da África), sustentando que o Homo Sapiens evoluiu na África e então migrou para a Europa e a Ásia, substituindo o H. Erectus e o H. Neanderthalensis, sem haver intercruzamentos. No outro extremo, o modelo candelabro sustenta que o H. Sapiens evoluiu independentemente na Europa, na África e na Ásia, sem fluxo gênico entre essas regiões. Entre esses extremos, situam-se as hipóteses que postulam diferentes combinações de migração, fluxo gênico e transições evolutivas locais de H.ergaster/erectus para H. Sapiens. Essas intermediárias são o modelo de hibridação e assimilação e o modelo de evolução multirregional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A teoria do berço africano não pode ser considerada uma verdade absoluta, porém os fosseis e artefatos encontrados deram força e embasamento a essa teoria, com isso, ela pode ser considerada mais coerente que a teoria da multiregionalidade que defende o surgimento do Homo Sapiens na Ásia e África.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CHILDE, V. Gordon. A evolução cultural do homem. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

FOLEY, Robert. Os humanos antes da humanidade: uma perspectiva evolucionista. Unesp, 2003.

GUGLIELMO, A. Roberto. A pré-história: uma abordagem ecológica. São Paulo, Brasiliense, 1999.

HUXLEY, Julian. Ensaios de um humanista. Labor do Brasil, 1997.

MUSSOLINI, Gioconda. Evolução, raça e cultura: leitura de antropologia física. Nacional, 1978.

MONTEIRO, Euder. Manual Ilustrado de Paleoantropologia para Iniciantes, 1ª edição, 2009. Disponível em: <http://paleoantro.dominiotemporario.com/doc/PALEOANTROPOLOGIA_PARA_INICIANTES[Pos_Fernando][1].pdf > Acessado em: 10 de maio de 2013.

SCOTT, Freeman. Análise evolutiva. 4. ed. Porto Alegre, 2009 Artemed.