Traído pela língua
Publicado em 30 de dezembro de 2010 por Ivani de Araujo Medina
Traído pela língua
Fundar uma religião nunca foi coisa de gente pobre. Pobre se preocupa com o pão de cada dia e não com a criação de modelos filosóficos. Filosofia é assunto para bem nutridos, como Zaratustra (mazdeísmo), Sidarta Gautama (budismo) e Maomé (islamismo). Assim sendo, considerando o que contam os evangelhos, Jesus Cristo teria sido o único pobre capaz de tal façanha. E que façanha... Tem que ter uma explicação mundana para isso.
Há tempo defendo a tese de que o cristianismo é uma obra inteiramente grega e o Jesus histórico jamais existiu. Os judeus dessa narrativa são personagens literários de uma trama bem articulada e necessária aos interesses de uma intelectualidade competente. Na verdade, trata-se da vitória do ideal universal helenístico, a vitória de uma cultura e não de uma religião.
A desculpa de que o NT foi escrito em koiné porque esta era a língua universal ou internacional do comércio, precisa de alguns esclarecimentos: Depois que os gregos “herdaram” o império persa, que utilizava o aramaico como a língua principal da sua administração, a necessidade da criação de uma língua de igual abrangência se impôs aos vários dialetos gregos. Daí o koiné (comum) como a língua da unificação helenística.
A vasta região que compreendia o antigo império persa sofreu uma transformação profunda quando os gregos converteram em moeda corrente as riquezas daquele tesouro. Sobravam recursos para empréstimos e investimentos. O mundo helênico jamais seria o mesmo. O filé das atividades econômico-financeiras estava no prato dos gregos. Os grandes centros industriais e comerciais da Antiguidade se consolidaram na Ásia Menor, Síria e Egito grego.
Portanto, o koiné tornou-se a língua dos grandes atacadistas, dos importadores, dos exportadores, dos distribuidores de produtos e matéria-prima, dos literatos, dos artistas etc. Era uma língua urbana de gente rica e culta. Os pequenos comerciantes, os camelôs da época, os populares enfim, continuaram a utilizar seus idiomas locais, que não desapareceram por causa disso, somente para justificar o koiné como a língua original do NT.
Os pais da Igreja, que por sinal eram gregos, tentaram criar a ilusão de que o aramaico e o hebraico eram a língua original da cristandade. Contudo, nenhum documento que justificasse essa afirmação foi encontrado até hoje. Especialistas descartaram a possibilidade de que qualquer um dos conhecidos textos cristãos sejam traduções das referidas línguas para o koiné. Claro que muitos judeus falavam e escreviam o koiné corretamente. Não os convertidos e iletrados galileus, certamente; povo que os judeus desprezavam e virou massa de manobra nas mãos dos gregos.
Daí surge uma questão mais espinhosa do que a coroa do Cristo: Como pode o cristianismo ter-se iniciado descartando a língua do povo da sua alegada procedência? Esta questão será respondida quando esta nova linha de investigação, que estou a sugerir, for explorada por aqueles que têm acesso aos documentos históricos referentes à presença antoliana em Roma, de Augusto a Antonino Pio, para começar.
Fundar uma religião nunca foi coisa de gente pobre. Pobre se preocupa com o pão de cada dia e não com a criação de modelos filosóficos. Filosofia é assunto para bem nutridos, como Zaratustra (mazdeísmo), Sidarta Gautama (budismo) e Maomé (islamismo). Assim sendo, considerando o que contam os evangelhos, Jesus Cristo teria sido o único pobre capaz de tal façanha. E que façanha... Tem que ter uma explicação mundana para isso.
Há tempo defendo a tese de que o cristianismo é uma obra inteiramente grega e o Jesus histórico jamais existiu. Os judeus dessa narrativa são personagens literários de uma trama bem articulada e necessária aos interesses de uma intelectualidade competente. Na verdade, trata-se da vitória do ideal universal helenístico, a vitória de uma cultura e não de uma religião.
A desculpa de que o NT foi escrito em koiné porque esta era a língua universal ou internacional do comércio, precisa de alguns esclarecimentos: Depois que os gregos “herdaram” o império persa, que utilizava o aramaico como a língua principal da sua administração, a necessidade da criação de uma língua de igual abrangência se impôs aos vários dialetos gregos. Daí o koiné (comum) como a língua da unificação helenística.
A vasta região que compreendia o antigo império persa sofreu uma transformação profunda quando os gregos converteram em moeda corrente as riquezas daquele tesouro. Sobravam recursos para empréstimos e investimentos. O mundo helênico jamais seria o mesmo. O filé das atividades econômico-financeiras estava no prato dos gregos. Os grandes centros industriais e comerciais da Antiguidade se consolidaram na Ásia Menor, Síria e Egito grego.
Portanto, o koiné tornou-se a língua dos grandes atacadistas, dos importadores, dos exportadores, dos distribuidores de produtos e matéria-prima, dos literatos, dos artistas etc. Era uma língua urbana de gente rica e culta. Os pequenos comerciantes, os camelôs da época, os populares enfim, continuaram a utilizar seus idiomas locais, que não desapareceram por causa disso, somente para justificar o koiné como a língua original do NT.
Os pais da Igreja, que por sinal eram gregos, tentaram criar a ilusão de que o aramaico e o hebraico eram a língua original da cristandade. Contudo, nenhum documento que justificasse essa afirmação foi encontrado até hoje. Especialistas descartaram a possibilidade de que qualquer um dos conhecidos textos cristãos sejam traduções das referidas línguas para o koiné. Claro que muitos judeus falavam e escreviam o koiné corretamente. Não os convertidos e iletrados galileus, certamente; povo que os judeus desprezavam e virou massa de manobra nas mãos dos gregos.
Daí surge uma questão mais espinhosa do que a coroa do Cristo: Como pode o cristianismo ter-se iniciado descartando a língua do povo da sua alegada procedência? Esta questão será respondida quando esta nova linha de investigação, que estou a sugerir, for explorada por aqueles que têm acesso aos documentos históricos referentes à presença antoliana em Roma, de Augusto a Antonino Pio, para começar.