Acordo, levanto-me da cama,
Deserdo-me do lençol
E visto os sapatos.
Os sapatos me apertam, machucam, dói.
Me é muito incomodo;
Assim como os dias de hoje.
Ri-se pela mera obrigação de um proceder;
O sorriso é vistoso como casca de limão,
Mas seu interior é amargo e azedo.

Os sapatos me maltratam os pés.
Aí, se formam os calos,
Secos como esse texto,
Mas não mais que os dias de hoje.
Há tempos a educação viajou,
Aqui restou a obrigação.
Diz a mãe:
---- Agradeça minha filha, seja educada.
Tal idéia é ensinada
E pior: é aprendida.
Os que se entitulam de RESPONSÁVEIS, crias da obrigação,
Deveriam ser presos.
São assassinos do espontâneo,
Sequestram a emoção; ao menos a verdadeira;
Mas como prêmio carregam a vela do esquecimento;
Pois sua chama esta apagada
E resta apenas o medo; o medo dos outros
E do que irão pensar.
De modo que é preferível morrer
A ter que errar.

Esses são os dias de hoje.
E o meu dia passa lento e claro.
De modo que posso ver tudo o que não quero.
Cada gota de lágrima salgada
Que, depois de chora- la, terei de beber de novo.
E é um suplício danado.
Quem me dera poder usar os sapatos de ontem.
Não que sejam melhores que os de hoje,
Mas destes não me recordo
O azedume do limão.