A ESTAÇÃO DA IDADE NA INEXORÁVEL LOCOMOTIVA DO TEMPO
Por ZILMAR WOLNEY AIRES FILHO | 09/04/2021 | PoesiasDepreende-se que não há nada tão constante e veloz,
que a locomotiva do tempo, deslizando sobre o eixo da vida.
Consigno que, apesar de inexistir engrenagens para engraxá-la,
Ela segue, sem retornos, paradas, rumo ao porto final da existência.
Exalto que, em mim, as inquietações da criança
E os protestos surdos de uma adolescência
Situam apenas naquilo que pouco fiz, ou deixei de fazê-lo.
E, agora, saliento, com pesar, não poder ultragir para intensificá-los.
Reconheço que o fogo intrépido do desejo arde aos 20 anos.
A força avassaladora da razão sedimenta-se aos 30 anos.
Mas, o bom senso do juízo repousa, sim, aos 50 anos.
Grifo, enfim, que a luta em continuar nos 18, inibe alcançar os 80 anos.
Observo que a chama salta aos olhos dos jovens.
Noutro quadrante, a luz lampeja da retina dos idosos.
Os arroubos da juventude esnobam o vigor da iniciativa.
A sobriedade dos anciões, suavemente, verruma a experiência.
As condutas das idades ressoam melhor nos versos concretistas:
Sós, caminham os idosos; em pares, os adultos; agrupados, os jovens.
Ressinta-se que nem todo jovem foi vigoroso e pleno na sua juventude
E nem todo idoso, em sua melhor idade, foi terno, solidário e sábio.
Na locomotiva temporal há uma crível metamorfose lavoisiana:
A família, as pessoas, o amor, tudo se transforma.
O passo célere se acalma. A pressa se tranquiliza. Paixões se esfriam.
Só o tempo segue impiedoso no inabalável somatório dos anos.
Na pressa dos dias, vê-se prédios altos e pessoas estressadas.
Largas e longas rodovias e pontos de vista mais estreitos.
Leituras reduzidas, orações diminutas, e expressivo tempo para a TV.
Os anos cumulam à idade, num hiato de muita existência e pouca vida.
Nesta viagem existencial vê-se avanço exterior, mas não no interior.
Há bens em maior quantia e tamanho, sem qualidade e evolução.
O átomo foi fragmentado, sem, contudo, romper o preconceito humano.
Buscou-se purificar o ar, deixando, não obstante, o espírito poluído.
No diário do tempo, vê-se posses ampliadas e os valores reduzidos.
Salários aumentados, ganhos extras, e padrões morais mitigados.
Um perfil de grandes homens, moralidade efêmera, e sutil caráter.
Pílulas mágicas regando a obesidade, dopando, alegrando e matando.
No fluxo da idade, para a alegria, há vias diversas e não trilho único.
Vê-se que o pouco de muitos é plenitude; a fartura de outros, tristeza.
Nus e sem bens no parto, muitos lutaram por tudo, voltando sem nada,
Cientes que a terra que se pisa é a mesma que cobrirá o corpo amanhã.
No ensaio da vida, o interregno entre a febre amorosa e o sentimento
Repousa sobre o ponto alto do tempo dos maduros,
Pois o amadurecimento é a ponte entre a paixão e a compaixão.
Os anos seguirão, a alma crescerá e o amor se tornará ainda mais frágil.
Na locomotiva vidual, o ápice da viagem dá-se no seu suave compasso,
Amiúde ao aceitar, no mourejar do tempo, sem remorsos e com orgulho,
As rugas e os grisalhos do rosto refletidos na alma pelo espelho da vida.
Reconheça-se, felizmente, que a genuína maturidade revigora-se,
Mormente no esteio da liberdade infante e a doce rebeldia da juventude.
O fanal na estação da idade, sobre a inexorável locomotiva do tempo,
Dá-se, dentre outros, no afã da longevidade do certame existencial,
Para ser condecorado com os louros do troféu da melhor idade.
Não obstante, no púlpito da premiação, nem todos se orgulham
Em postar-se como tal ou, honradamente, grifar o doce labor dos anos.
ZILMAR AIRES*
* Doutorando em temática de Direito Socioambiental pelo Centro Universitário de Anápolis, UniEVANGÉLICA, Brasil; Mestre em Direito Contratual pelo Centro Universitário de Brasília, UniCEUB, Brasil. Pós-graduado em Processo Civil pela Unievangélica, Brasil. Docente na Faculdade do Instituto do Brasil, Anápolis, Brasil. zilmarwolney.65@gmail.com