UM MILHEIRO DE ZÉ

 

No batizado da igrejinha

Lá onde o vento fez a curva

Um fato me aconteceu

Com tanto Zé na Escritura

Parecendo receita e nomenclatura

Um muído medonho na sacristia

Parecia guerrilha e infantaria

Autenticada com sua certidão futura

 

No Ceará é Terra de Zé

Tem um Zé de Alencar

Foi para Olinda se formar

Na região de muito Zé

Só num é doutor quem não quer

O apelido não é ficção

Um homem de eterna oração

Até São José “Padroeiro do Ceará"  por cá é Zé.

 

O Zé Bode que me alembro

É um leão em trabaiá

Pega a foice e a enxada

Começa a lida antes do sol raiá

Sai da rede ao ouvir o galo cantarolá

Com o facão limpa tudo

Leva o carrinho de mão com entulho

Não reclama seu labutar.

 

Aqui aparece Zé de Montão

Tem Zé Doidim, Zé Matuto.

Zé Cueca e Zé Oião

No buteco, o dono é Zé Quartinha

O picolezeiro é Zé Porquinha

O padeiro na entrega é Zé Molenga

Apelidaram o bebum de Zé Foenga

Na sacristia tem dois Zés: Padre Zé é o Zé Miltão

 

O entregador de pizza é Zé Boquinha

O vendedor de fruta é Zé Mancão.

Se não tiver outro nome de Zé

Pode chamar de cidadão

De longe grita “Vem cá Zé”

Não dando ouvidos vira Zé Mané

Tem o Zé na buleia do camnihão

Pronunciando direitinho é José.

 

Um ricaço comerciante

De alcunha virou Zé Bubu

O prefeito eleito da cidade

Este não tinha vaidade

Nos bairros eleito foi Zé dos Pobres

Levado no tutum por Zeca Tatu

No assobio irava o Zé da Macaca

O orador da turma foi Zé Matraca

Era tanto Zé igualzinho no céu o urubu.

 

Tinha o Zé Maria que bulia no som

O do baião de dois que virou Zé da Cantina

Uma boa mentira inventava o Zé Madeira

O ajeitador de carro: Zé Diomar da oficina

Açougueiro com sua venda na esquina

De epíteto famoso de Zé Carcará

Zé Luiz inventou o Del Rio guaraná

E o Zé Ricardo Neves na Medicina

 

Lá pras tantas apareceu mais Zé na cidade

O rei de móveis em fabricação

Zé Gerardo com guarda-roupa e cama

Trabalhava a madeira com sua imaginação

Na igreja se entupiu de Zé

 Padre Ibiapina é Ze, Zé Linhares e o Bispo é Dom José

Uns coroneis de nome: Zé Inácio e outro Zé Silvestre

E o Zé Júlio Albuquerque como Barão.

 

Perdoem-me a minha prosa

Muitos “ZÉS” que não citei

Se não mencionei mais Zé

Dito isto, eu não pequei

Muitos aqui improvisei

Isto fiz pra não alongar a história

Pois guardo todos na memória

Aguardem que um dia citarei vocês.

 

_____________

Wilamy Carneiro é professor, poeta, escritor e cordelista. Colaborador e autor do Projeto Cordelteca e Livraria dos Sobralense. Diário de um Professor - é uma de suas poesias. É cronista e hiistoriador com seu livro Os Estados Unidos de Sobral. Einstien e Sobral - A Cidade Luz.