O FUTEBOL NA DITADURA E NOS  DIAS ATUAIS

 

 

Raquel Ferreira da Silva¹

 

 

Resumo: Este artigo procura discutir como a Ditadura brasileira   durante a década de 1970 conseguiu usar o futebol como meio de distrair os olhares da população do governo ditador para o esporte; os atletas e pessoas ligadas ao futebol que  se rebelaram contra o poder ditador e como está hoje a situação do jogador brasileiro dentro e fora do país.

 

Palavras-Chaves: Ditadura, Jogador, Futebol.

 

Abstract: This article discusses how the Brazilian dictatorship during the 1970s managed to use football as a means to distract the population from the government looks dictator for the sport, athletes and people connected to football who rebelled against the dictator and power as it is today Brazilian player of the situation inside and outside the country.

 

Keywords:Dictatorship, Player, Football.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

¹Graduanda do Curso de Licenciatura em História FG Guarulhos

A Globalização Social, Cultural e dos Esportes

 

Para o historiador Eric Hobsbawm, em seu livro “O Novo Século” (Cia. Das Letras, São Paulo 2000), vivemos em uma economia mais globalizada que há trinta anos e estaremos ainda em 2050 e mais ainda globalizados em 2100. O ponto de partida foi a aceleração e difusão do sistema de transportes de mercadorias. O surgimento do transporte de carga por aviões foi a grande mudança para o fim da sazonalidade dos produtos agrícolas. Hobsbawm afirma,  ainda,  que as mudanças profundas provocadas pela globalização na vida das pessoas, farão uma enorme diferença em todo o século XXI não apenas nas inovações tecnológicas mas também em outras áreas. (HOBSBAWM, 2000, págs. 69 e 71).

No turismo, por exemplo, em 1997, os  pernoites no estrangeiro foram de 630 milhões. Uma para cada nove seres humanos. Para ele,  o grau em que as viagens internacionais podem mudar o mundo é algo que ainda não foi avaliado. A extraordinária movimentação de pessoas, assim como a de produtos e de informações, é algo sem precedentes na História. (HOBSBAWM, 2000, págs. 82 e 83).

        O mesmo autor afirma, em outro livro, “Era dos Extremos”  (Cia. Das Letras, São Paulo, 1995),  que a  a revolução cultural e social do mundo é a morte do campesinato pois desde que mundo é mundo o homem viveu da terra, do gado e da pesca. À exceção da Grã-Bretanha, os camponeses continuaram sendo grande parte dos empregados mesmo em países industrializados. Às vesperas da 2ª Guerra Mundial além da Grã-Bretanha, somente Bélgica era um país industrializado para a época. Mesmo Alemanha e Estados Unidos, maiores economias industriais do período,  ainda possuíam populações agrícolas equivalentes a um quarto de seus habitantes. (HOBSBAWM, 1995, pág. 284).

Para Octavio Ianni em seu livro “A Era do Globalismo” (Ed. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1997),  esta globalização também ocorre a partir do  mundo agrário,  emaranhado pela atuação das empresas, corporações e conglomerados. O trabalho no campo foi substituido em seu todo por máquinas e técnicas cada vez mais sofisticadas que praticamente fizeram desaparecer o trabalhador rural. Embora resistissem por algum tempo, os trabalhadores rurais foram consumidos pouco a  pouco pelas grandes indústrias. O autor afirma que a revolução oriunda da globalização do capitalismo transfigura o modo de vida no campo, em suas formas de organização do trabalho e produção, em padrões e ideais sócio-culturais.(IANNI, 1997, págs. 40, 46).

     A  cidade compreende experimentos de todos os tipos: científicos, filosóficos, artísticos, que podem tornar-se patrimônio de todos no mundo.Está sempre cruzando História e Geografia das relações sociais individuais e coletivas em escalas provinciana, regional, nacional e mundial.

Muitos são os autores que reconhecem que a cidade global característica do século XX tem sido decisivamente influenciada pelos processos que acompanham o desenvolvimento do capitalismo em escala mundial. O  contexto no qual a cidade global ou megalópole (nome associado à cidade global no pós- Segunda Guerra Mundial), está inserido é onde a economia metropolitana é a economia dominante.

São exemplos de cidades globais ou megalópoles: Tóquio, Los Angeles, Paris, Frankfurt, Londres,, Nova York. A informática e as telecomunicações tem um papel importante no processo de globalização acelerando ritmos, generalizando articulações, abrindo novas possibilidades de dinamização das forças produtivas, criando meios rápidos, instantâneos e abrangentes de produção e reprodução material e cultural.(IANNI, 1997, págs. 59, 60,61).

Contudo, Octavio Ianni diz  que o capitalismo globalizou-se não só pelo desenvolvimento de uma nova divisão transnacional do trabalho, mas também por sua penetração nas economias dos países que pertenciam ao então mundo socialista, assim, é possível afirmar que o mundo do trabalho tornou-se verdadeiramente global. (IANNI, 1997, pág. 142).

No campo das artes, Hobsbawm em seu livro “Era dos Extremos”,  considera que o motivo pelo qual brilhantes desenhistas de moda às vezes conseguem prever o futuro melhor que profetas profissionais é uma das mais obscuras questões da História. A pintura, a dança, a música, o cinema, a publicidade, as artes gráficas e os esportes, sobretudo o futebol, tudo se globalizou do pós-Segunda Guerra até aqui. Este jogo simples e elegante abriu caminho por seus próprios méritos tornando -se verdadeiramente universal após a criação da Copa do mundo em 1930, vencida pelo Uruguai.  (HOBSBAWM, 1995, pág. 178).

Porém, o blog  Halfen Marketing Esportivo,  diz que não apenas o futebol mas todos os esportes foram  globalizados. Por exemplo, a  NBA  (National Baskteball Association),  realiza hoje partidas amistosas não apenas nos Estados Unidos  mas também em outras localidades do mundo como por exemplo em Londres, na Inglaterra.  A Fórmula 1 tem em seus diversos cargos, equipes formadas por pessoas de várias nacionalidades. À China,  em 1972, o  tênis de mesa enviou uma equipe americana para disputar os jogos dessa modalidade e os times de basquete americanos tem em suas equipes (assim como os times de futebol do mundo todo), atletas de várias nacionalidades. Também esportes como vôlei de quadra e futebol feminino tem equipes formadas por atletas de diversas nacionalidades.

O Futebol no Brasil e a Ditadura Militar

 

De 1954 a 1956, o Brasil teve cinco presidentes diferentes. Mas foi com Juscelino Kubitschek no ano de 1960 que a nova capital do país, Brasília, foi inaugurada em 21 de abril. Seu governo durou até 1961. Três anos mais tarde, em 1964,  no governo do presidente João Goulart, um golpe militar arquitetato pelo Exército depôs o presidente e instaurou no Brasil uma ditadura que duraria até o ano de 1985. Essa ditadura afetou todos os setores do país, proibindo manifestações contra o regime militar, fazendo prisões de manifestantes que ousavam arriscarem-se a falar contra o Governo; muitos destes manifestantes desapareceram sem deixar vestígios. Ainda hoje familiares de desaparecidos políticos reclamam os corpos de seus entes queridos desaparecidos neste período no Brasil.

Como a ditadura tinha representantes em todos os setores do país, no campo dos  esportes   não  foi diferente: a seleção de futebol brasileira por exemplo, segundo o historiador Hilário Franco Júnior, em seu livro “A Dança dos Deuses” (Cia.das Letras, São Paulo, 2007), a partir da década  de  1970,  foi “militarizada” em sua equipe técnica: seguranças, preparadores físicos, preparadores de goleiros e a supervisão ficaram a cargo de militares de diversas patentes do Exército Brasileiro pois os governantes atribuíam o fracasso do Brasil na Copa do Mundo de 1966 (realizada na Inglaterra, tendo como vencedor do torneio o time anfitrião) ao mau preparo físico dos atletas brasileiros. Com isso, o talento de cada jogador convocado deixava de ser espontâneo ou mesmo nato, para dar lugar a um talento “treinado”, ou seja, o jogador que fosse convocado seria  submetido a rígidas disciplinas militares,  assim como os civis estavam submetidos à Ditadura. O técnico era o jornalista João Saldanha.  (JUNIOR, 2007, pág.142).

A manobra militar deu certo,  pois naquele ano,  a Copa do Mundo, realizada no México, foi vencida pelo time de Saldanha e a equipe militar. Um mês antes do início dos jogos, o time desembarcou no México para adaptar-se à altitude local. Enquanto isso, no Brasil, o governo promovia propagandas para impulsionar o povo a prestar atenção ao futebol. Nas escolas, nos intervalos comerciais de televisão, no rádio,  ouvia-e falar do time que seria o vencedor naquele ano regido pela marchinha até hoje, no século XXI, conhecida:“Pra frente Brasil”. Com a atenção voltada para jogadores como Pelé, Rivelino, Tostão, Gerson e Jairzinho, o povo era  manipulado a tal ponto que esquecia os acontecimentos políticos e amava o futebol e a seleção brasileira que chegava a ser vista como o sucesso do país. Os jogos transmitidos pela televisão, as cores da camisa brasileira, as feições e expressões dos jogadores tornaram-se espetáculo para o país.

O futebol foi reproduzido e idolatrado como nunca antes se havia visto no Brasil e o jogador Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, tornou-se o rei do futebol tendo alcançado a marca de mil gols, um ano antes em 19 de novembro de 1969. (JUNIOR, 2007, pág. 143). Tamanho foi o brilhantismo daquela seleção que o historiador Eric Hobsbawm em seu livro “A Era dos Extremos” chegou a dizer: “... quem tendo visto a seleção brasileira de futebol em seus dias de glória, negará sua pretensão à condição dearte?” ( HOBSBAWM, 1995, pág. 197.)

Após a vitória, o então presidente Emílio Garrastazu Médici, general do Exército, sem a farda militar  posava para fotos cabeceando uma bola;  havia para as crianças,  álbuns de figurinhas da Copa  com  as fotos dos jogadores e,  em tamanho maior,  uma grande estampa com a imagem do presidente. O Brasil calçou chuteiras mas nas cabeças estavam as boinas militares. (JÚNIOR, 2007, pág. 144).

Depois da conquista da Copa do México, vieram em 1972, a Taça Independência  para comemorar os 150 anos de emancipação política do Brasil, a Copa do Mundo de 1974 onde o Brasil comandado ainda por militares misturados a civis, fez um futebol sofrível, desorganizado e sem brilho que em nada lembrava o brilhantismo de 1970. O time chegou a disputar as etapas semifinais da competição mas ficou em quarto lugar. A má campanha provocou desapontamento dos militares e a fúria dos torcedores que ligaram o time ao regime militar pela propaganda produzida pelo segundo. A seleção foi duramente criticada, a casa do então técnico Zagallo invadida e apedrejada e novamente, afirma Hilário Franco Júnior...”devido à simbiose entre ditadura militar e seleção, as manifestações de desagrado não se restringiram  aos insucessos do escrete canarinho. O descontentamento contra o regime ressurgia com força...”(JÚNIOR, 2007, pág. 146).

A Copa do Mundo de 1974 aconteceu na Alemanha Ocidental e a própria Alemanha Ocidental levou o título do campeonato. Em 1978, a Copa do Mundo foi realizada na Argentina que também vivia àquela época sob uma ditadura. O  Brasil, com o técnico Cláudio Coutinho, capitão do Exército e craques como Rivelino, Cerezzo, Oscar e Zico, também não impressionou.

O resultado foi o Brasil em terceiro lugar e a Argentina, a campeã do torneio. Porém, a vitória da Argentina ficou sob olhares suspeitos de todos os participantes da competição diante da goleada aplicada contra o Peru ( 6 a 0 ). Segundo as palavras do próprio Hilário Franco Júnior: ...”pressões militares e políticas parecem ter entrado nos vestiários peruanos e em campo para garantir a vitória da ditadura local...” (JÚNIOR, 2007, pág. 150).

O mundo do futebol não se manteve isento do clima de contestação contra o regime militar brasileiro diz Hilário Franco Júnior. O jogador Tostão em uma entrevista defendeu a reforma agrária e se disse eleitor na época da República Populista do agora exilado Leonel Brizola. Tostão disse, ainda, que entre os jogadores da seleção de 70  não se falava de política. (JÚNIOR, 2007, pág. 147)

O próprio ex-jogador Tostão escreveu sua biografia intitulada Tostão – Lembranças, Opiniões, Reflexões Sobre Futebol ( Ed. DBA, São Paulo, 1997). Nela, o ex-jogador afirma que a saída do treinador João Saldanha seleção do Brasil deu-se pelo fato do treinador ser contrário ao regime militar, pois ele, Saldanha, segundo Tostão era comunista. Descontente com o regime militar brasileiro, o treinador começou a beber em demasia nos momentos de folga, falou que o jogador Pelé tinha problemas de visão, não gostou da ideia do então presidente Médici ter dito que gostaria de ter o jogador Dario Maravilha no elenco da seleção.

Tostão declara que Saldanha teria dito: “Médici escala os ministros, eu escalo o time”. (TOSTÃO, 1997, pág.61). Anos depois no programa Roda Viva da TV Cultura, Saldanha diria que Médici era  o maior assassino do Brasil e que muitos amigos seus foram mortos pelo ex-presidente.

Para Tostão, João Saldanha não queria ser usado, juntamente com a seleção brasileira,  pela Ditadura, em razão de sua ideologia comunista. Por causa desta ideologia que não compactuava com a Ditadura, (segundo a opinião de Tostão), foi que o técnico, conscientemente ou não, começou a arranjar problemas para sair e não mais ser usado pelo Regime Militar.

Como já foi dito, por ser contra o Regime Militar, eleitor e simpatizante de Leonel Brizola, defensor da Reforma Agrária, Tostão certo dia, recebeu um telefonema que ele diz até hoje não saber que se era verdadeiro ou apenas um trote, “convidando-o” a prestar esclarecimentos sobre suas declarações. Ele não compareceu ao local informado e continuou a divulgar publicamente suas opiniões políticas. Depois de muito tempo, ficou sabendo, através da Imprensa, que um filme com o seu nome: “Tostão, a Fera de Ouro”, fora alvo de intensa perícia da censura.

No entanto, o documentário, como hoje podemos assistir atráves do You Tube, nada mais era que uma biografia do jogador, falando sobre sua carreira, um acidente durante um jogo, que havia prejudicado um de seus olhos, sua cirurgia para curar o problema, sua infância e depoimentos de pessoas que conheciam o jogador Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão.

Política não era assunto para os jogadores. Não havia uma proibição expressa, mas Tostão relata que isto ficava evidente pois o ambiente deixava claro que aquele assunto era proibido. Na volta ao Brasil após a Copa, os jogadores foram recebidos pelo presidente Médici e Tostão diz que apesar de odiar a Ditadura, teve que ir pois não poderia nem queria confundir política e esporte mas que arrependeu-se de ter ido, pois não ir, significaria demonstrar como cidadão, a sua indignação contra o Regime. (TOSTÃO, 1997, pág. 62).

Também houve quem se rebelasse de outras formas como relata Hilário Franco Júnior: O jogador Afonsinho foi o sinônimo de rebeldia da época: desentendeu-se com o técnico do seu time, o Botafogo, ele foi emprestado ao Olaria. Excursionando com o time pela Europa, o jogador não retornou com a delegação ficando viajando pela Europa à época da Copa do Mundo. Em agosto de 1970, retornou ao Brasil.

Com o fim do empréstimo do jogador ao Olaria, ele apresentou-se ao seu clube, Botafogo, de barba e cabelos compridos. Ao vê-lo com aquela aparência os dirigentes não o deixaram treinar embora o jogador, ligado por contrato ao clube, comparecesse regularmente aos treinos, era impedido de entrar e treinar com os demais companheiros de equipe.  Isso fez com que o jogador entrasse na justiça para obter o passe livre. Oito meses depois, ganhou da justiça o direito de jogar em outro clube. (JÚNIOR, 2007, pág. 148). Afonsinho tornou-se símbolo de contestação e logo outros adotaram o seu estilo de barba e cabelos compridos como Paulo Cesar Caju do próprio Botafogo, Doval e Adilson do Flamengo. Em São Paulo, pelo jogador César do Palmeiras e em Minas Gerais, os jogadores Raul e Spencer.

Após a Copa de 1978, o regime militar já dava indícios de seu fim. Foi revogado por Ernesto Geisel o ato AI 5(que fora baixado em 1968 e dava plenos poderes ao presidente da República assim como proibia manifestações polítcas e decretava a censura para o rádio e a televisão, entre outras coisas). Em 1979, Figueiredo sancionou a Lei da Anistia o que possibilitou a volta de mais de 4 mil exilados pela ditadura. O futebol também entrou em crise: em 1976, a Lei Falcão proibia as transmissões esportivas durante a campanha eleitoral.  O interesse do público também diminuiu.

A média de público despencou de 20 mil torcedores em cada partida no ano de 1971 para 10 mil em 1979 e 9 mil em 1979. Disputando campeonatos deficitários, cedendo jogadores para times estrangeiros, sofrendo pressões de dirigentes, os clubes aproximaram-se de uma situação de limite e o futebol não conseguiu mais servir de reforço ao poder militar. Ao contrário, auxiliava as brechas que se abriam na Ditadura. (JUNIOR, 2007, pág. 151).

Para o historiador Boris Fausto em sua obra “História do Brasil” (EDUSP, São Paulo, 1994), o futebol foi a arma da propaganda do governo militar. Após o golpe de 1964, o país avançou no setor de telecomunicações e durante o governo Médici, as facilidades de crédito permitiram aos brasileiros possuir aparelhos televisores e a Rede Globo praticamente dominou o setor enquanto o governo usava a televisão para propagar a visão de “Brasil, grande potência” imagem criada pela Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), durante o governo do general Costa e Silva. Segiu-se a época do “Ninguém segura esse país”e da marchinha “Pra frente Brasil” que foi a música da vitória da seleção brasileira na Copa de 1970. (FAUSTO, 1998, pág. 484). Essa marchinha ainda hoje é usada para a transmissão de jogos da seleção brasileira mas agora, em música instrumental.

Criado”, praticamente para afastar os olhos do povo dos acontecimentos ditadores, o futebol brasileiro além de brilhante, foi também um dos setores que resistiram ao Regime Militar embora,  como já foi dito, toda a comissão técnica, o treinador e até os treinos dos jogadores fossem militares, houve quem, como Tostão, Afonsinho e João Saldanha, dissesse “não” ao Regime Militar de forma velada ou abertamente e isso incomodou a Ditadura.

Hoje, em 2012, a grande mudança que há no futebol brasileiro além da retirada da “militarização” dos treinos, é a colocação dos jogadores brasileiros em status de mercadorias ( pela brilhante atuação daquela geração de 1970, com Pelé, Tostão e Garrincha, o Brasil tornou-se “vitrine” para o mundo). Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão e todos aqueles que resistiram à Ditadura abriram caminho para melhorias nas condições do futebol no país mas, por outro lado, o Brasil tornou-se um país “exportador” de jogadores de futebol.

Em sua obra “Folha Explica – Futebol Brasileiro Hoje”,(Publifolha, São Paulo, 2009) o jornalista José Geraldo Couto afirma que hoje, o jogador brasileiro transformou-se numa espécie de “produto de mercado para exportação” e dos mais valorizados. Considerado como a elite da elite,  o jogador brasileiro está saindo do país cada vez mais cedo. (COUTO, 2009, pág. 14).

Mesmo havendo a lei que impede a transferência de menores de 18 anos para clubes estrangeiros, há garotos que estão apenas esperando a maioridade para serem transferidos pois seus próprios clubes no Brasil já acertaram a sua negociação com clubes do exterior.

Os olheiros de clubes estrageiros espalhados pelo Brasil são um outro motivo para a saída dos jovens jogadores pois os olheiros associam-se a agentes e empresários brasileiros na criação de escolinhas, centros de treinamento de triagem de craques mirins para formar um verdadeiro “viveiro” de talentos.

   Um exemplo disso é a Traffic, empresa de marketing esportivo que detém os direitos de transferência de vários atletas e criou na cidade de Porto Feliz no Estado de São Paulo , um clube chamado Desportivo Brasil, desconhecido da maioria do público mas que é uma espécie de incubadora onde 120 atletas entre 13 e 20 anos treinam de segunda a sábado, moram nos alojamentos do clube e tem uma ajuda de custo mensal que não chega aos R$ 200, 00 mensais. (COUTO, 2009, págs, 18 e 19).

Pouco se ganha e muito se perde com a saída desses jovens talentos brasileiros. Como se lê no próprio site do Clube Desportivo Brasil, está subentendido que o objetivo é a transferência dos talentos: “A Academia do Manchester United associou-se ao Desportivo Brasil para uma parceria no futebol que permite o intercâmbio de atletas de ambos os clubes, a oportunidade de experimentar novos métodos de treinamento e a disputa de partidas amistosas”.

Por sua vez o livro “Para ser um Jogador de Futebol” de autoria de Rai, Soninha Francine e Milly Lacombe ( Ed. Jaboticaba, São Paulo,2005),  diz que de fato o Brasil é um grande “celeiro” de talentos e que em média 800 atletas saem anualmente do país. No ano de 2004,  857 jogadores deixaram o país. O livro cita alguns clubes que fazem essas negociações. Um clube de Goiás desconhecido também do grande público chamado Grêmio Inhumense  foi responsável pela venda nesse mesmo ano de 13 jogadores para o exterior.  A mesma obra também observa sobre os olheiros estrangeiros no  país e sobre os empresários interessados em “assumir” a carreira do jogador com a intenção real de obtenção de lucro pela venda desse jogador ao exterior. (LACOMBE, Milly, FRANCINE, Soninha; RAÍ, 2005, pág.83).

Tanto a obra de José Geraldo Couto quanto a obra de Raí, Soninha e Milly Lacombe colocam o  clima, a alimentação, os costumes diferentes, como dificuldades ao jogador no exterior.

 

As Armadilhas e Perigos

 

O livro de José Geraldo Couto mostra que para poder bular a lei, há clubes que firmam contratos fictícios com os pais desses jovens jogadores para as mais diversas funções dentro do país em que esse clube se encontra. Isso não impede que uma vez estando lá, o jovem possa trabalhar como jogador para o clube em questão e justifica legalmente a entrada da família no país. O autor também afirma que enquanto os clubes pequenos enfrentam cada vez mais dificuldades para manterem-se em pé, os grandes, assim como a seleção brasileira tornaram-se vitrines e empresários e agentes enriquecem da noite para o dia negociando pessoas como mercadorias. O livro aponta ainda a atuação dos cartolas e dos políticos em diversas jogadas políticas envolvendo o futebol, o que não ocorre desde agora mas desde que o Brasil foi “inventado” como país do futebol. (COUTO, 2007, pág. 18).

O livro de Raí, Soninha e Milly Lacombe aponta para o perigo dos agentes que propõem a falsificação de documentos para aumentar ou  diminuir a idade para fins de contratação e viagens internacionais; o “enriquecimento” do currículo do jogador ( como por exemplo o aumento do número de jogos ou de gols marcados pelo jogador) o livro toma como exemplo o depoimento dado ao jornal O Globo pelo jogador Giovanni onde ele diz que muitos jogadores entram em outros países como curriculos mentirosos e ao serem desmascarados são demitidos  e deixados à própria sorte sem ter como retornar ao seu país de origem, ele próprio, Giovanni, contou que já ajudou financeiramente  muitos jogadores a  voltar  para o Brasil após casos assim. A obra alerta ainda para que se desconfie de muitas promessas feitas pelo agente: podem não ser verdadeiras como também podem ser sido de fato oferecidas mas o agente pode estar esperando mais que o clube realmente possa oferecer. (LACOMBE, Milly, FRANCINE, Soninha; RAÍ, 2005, pág.90).

 

Jogadores como Mercadorias

 

Negociações milionárias acontecem neste momento como por exemplo, a venda do jovem jogador Lucas Rodrigues do São Paulo Futebol Clube, a maior da história de um clube brasileiro ( cerca de R$ 108 milhões) ao PSG da França  e do jogador Givanildo Vieira de Souza ( Hulk), vendido pelo Porto de Portugal ao Zenit da Rússia pelo espantoso valor de 60 milhões de euros ( cerca de R$ 156, 8 milhões). Hulk, neste momento, é o jogador mais caro da Europa. Mas destes valores, pouco vai para o jogador;  Lucas, por exemplo, ficará apenas com 25% do valor do valor de sua venda.

O ex-jogador e agora comentarista Neto, em seu extinto blog no site Yahoo, critica a Copa São Paulo de Futebol Juniores, a Copinha, chamando-a de “balcão de negócios” onde dirigentes, segundo as palavrras do próprio comentarista: “...expõem lá os meninos como uma espécie de gado para que alguém se interesse e compre...”

Nas categorias de base não é diferente: em outubro de 2011 o portal UOL em um de seus blogs, o blog de Bruno Voloch, trazia uma matéria que afirmava haver propinas nas categorias de base do time do Vasco da Gama do Rio de Janeiro para favorecer determinados atletas. Pagou, evoluiu, não pagou, permanece onde está. Isto também é ser tratado como mercadoria. O ex-jogador do São Paulo Oscar, hoje atuando pelo Chelsea da Inglaterra, fez uma grave denúncia que foi publicada pelo portal Terra em abril de 2012, de que estaria sendo ameaçado por dirigentes de seu então clube, São Paulo, alegando ter gravadas em seu telefone celular as conversas sobre o assunto. Porém o jogador acionou advogados e não entrou em detalhes sobre o teor das ameaças. Quis desvincular-se do clube ( o que só conseguiu em maio de 2012), e revelou que praticamente foi coagido a emancipar-se aos 16 anos para poder assinar o contrato com o São Paulo.

No Brasil, Paulo Henrique Ganso do Santos Futebol Clube, foi disputado pelos times do Grêmio de Porto Alegre e São Paulo Futebol Clube, de São Paulo. Depois de uma longa “novela”, o São Paulo, pagando ao Santos R$ 23, 8 milhões,  referentes aos direitos do Santos sobre o atleta, levou a melhor, em 15 de setembro de 2012. Dois dias depois, em 17 de setembro, foi anunciado que o Santos Futebol Clube rejeitara a proposta do São Paulo pelo fato do São Paulo ter sugerido o parcelamento da multa que  pagaria ao Santos Na manhã de quarta-feira, 19 de setembro de 2012, o Santos divulgou uma nota onde esclarece que aceita a proposta do São Paulo porém há um empecilho referente a uma pendência financeira com um parceiro empresarial do jogador em questão. Ao final, o São Paulo resolveu a situação e ficou com o jogador. Leandro Damião, do Internacional de Porto Alegre, é disputado pelos clubes ingleses Chelsea, Manchester City e Tottenham. Marquinhos, revelação do Corinthians nem teve tempo de fazer seu nome conhecido: já está emprestado ao time Roma da Itália pelo período de um ano.

 

Futebol pelo Brasil Hoje

 

Em todo o Brasil pratica-se futebol. Crianças, adolescentes, homens e mulheres estão envolvidos no esporte que se tornou o maior do país mesmo que hoje, seja, como no mundo todo,  tratado mais como empresa-mercadoria-lucro, do que como esporte.

As regiões Sudeste e Sul concentram os maiores clubes e as vagas mais disputadas do país. Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos (times do Estado de São Paulo), Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo ( todos do Rio de Janeiro), Atlético e Cruzeiro ( Minas Gerais), são times grandes da região Sudeste onde muitos jovens tentam a sorte. Na região Sul, os times Atlético Paranaense, Coritiba (times do Estado do Paraná) e Grêmio e Internacional ( do Estado do Rio Grande do Sul), são os mais conceituados.

Nestas regiões, (Sul e Sudeste), alguns times já conseguiram vencer Mundiais de Clubes, Taça Libertadores da América. Ganhar torneios como estes, eleva o status do clube dentro e fora do país e, por conseguinte, há maior possibilidade de mais investimentos e contratações de bons profissionais seja na área técnica ou algum atleta mais caro ou com mais fama. Mas também há a temida série B do campeonato brasileiro que rebaixa o time para uma segunda divisão e, como um efeito dominó, as possibilidades que se conseguem com a vitória de um campeonato importante, com a queda para a série B, deixam, praticamente, de existir às vezes. Times de grande prestígio como Corinthians e Palmeiras já sentiram o peso de cair para a segunda divisão e o preço que se paga para poder retornar à elite. Nas séries C e D, há poucos jogadores conhecidos.

 

A  Midia e a Sua Influência no Futebol Brasileiro

 

Se um narrador ou comentarista de televisão  cita vários “atributos” de um determinado jogador, imediatamente toda a mídia vai procurar “esclarecer” se de fato, o jogador em questão possui ou não aqueles atributos. A partir daí, a vida do jogador anda ou desanda. Junte-se a isso a pressão dentro e fora de campo para o melhor rendimento possível, a mudança no estilo de vida conforme ele alcança ou não a fama e teremos pintado o quadro do bom ou do mau profissional. Adriano, hoje no Flamengo, é um exemplo disso: por um gol aos 44 minutos do segundo tempo de uma partida decisiva para a seleção brasileira, tornou-se imediatamente o herói. Porém, anos mais tarde, por ainda frequentar determinados lugares que frequentava antes da fama e por alguns outros motivos em seu estilo de vida que “não condiziam com a sua fama e prestígio”, foi apontado como o vilão por várias vezes em cada time que atuou posteriormente no Brasil. Das séries C e D, pouco se conhece, assim como as categorias de base, mas são esses setores do futebol que exportam muitos talentos que fazem fama no exterior mas, que se chegarem aqui, ninguém vai saber os seus nomes pois nestas categorias não há a cobertura televisiva e o consequente “glamour” que esta produz “fazendo ou desfazendo” os jogadores.  Ao final, é na verdade, a mídia, principalmente a televisão que levanta ou derruba o atleta.

 

Conclusão

 

Pelo exposto ao longo do artigo verifica-se que com a globalização  de cultura, sociedade e todos os setores da vida nos séculos XX e XXI, esta não poderia deixar de chegar também aos esportes e, no Brasil, ao seu principal esporte, o futebol.

Se observamos,  por um lado, a Ditadura Militar que se instaurou no Brasil na década de 1960 até meados da década de 1980, “usou” o futebol como meio para distrair a atenção da população e assim poder governar sem maiores problemas. Com a atenção voltada para jogadores brilhantes, para o orgulho de ser o “melhor do mundo” em alguma coisa, os brasileiros viam na seleção brasileira de futebol como que um espelho do que gostariam de ser e fazer: em alguma coisa ser livre, poder ser o  melhor, poder aparecer para o mundo como “modelo” quase perfeito.

No entanto, sabemos que não era bem isso o que acontecia nos bastidores. Os treinos eram militarizados, os próprios jogadores tratados como soldados para uma guerra (que seria a Copa do Mundo). E, realmente, foi um “exército” extremamente bem treinado e com “soldados” que se destacaram como Pelé, Tostão, Garrincha.

Por outro lado, se o futebol foi brilhante, se os jogadores individual e coletivamente fizeram por merecer o título de melhores do mundo, no Brasil, a Ditadura continuava com censuras, prisões, atos institucionais. Não se pode negar que a “militarização” do futebol no período ditador, mais especificamente, na Copa do Mundo de 1970, foi uma manobra excelente pois juntou treinamento rigido militar ao talento nato ou adquirido de cada jogador convocado e assim o Brasil foi campeão em 1970 e os olhos do mundo voltaram-se para o país sem enxergar praticamente a Ditadura que aqui acontecia mas enxergando o Brasil, (sob a ótica do futebol), como um lugar onde havia homens que realmente sabiam dominar aquilo que faziam de forma excepcional (tanto que Edson Arantes do Nascimento, “Pelé”, é conhecido até hoje como atleta do século XX).

Porém, dentro do próprio Brasil  houve quem, embora atuasse no meio esportivo, incomodasse a Ditadura. Eduardo Gomes de Andrade, o Tostão, foi um deles.  Por suas ideias políticas contrárias, pelo seu destemor ao dar entrevistas onde defendia a Reforma Agrária, se dizia eleitor de pessoas das quais a Ditadura havia exilado e ainda revelar que dentro da seleção brasileira era praticamente proibido falar sobre política, foi alvo de “observação” do Regime Militar. Outro que também estava ligado ao futebol e incomodou o Regime Militar foi João Saldanha.

Técnico da seleção de 1970, foi retirado do cargo por ser considerado “comunista” ( provavelmente os militares tiveram medo que ele pela sua posição de técnico, influenciasse os jogadores de alguma forma contra o Regime Militar (embora, como disse Tostão em entrevista, não se falava em política na seleção) mas,  como “prevenir é o melhor remédio”, João Saldanha foi retirado do cargo após discordar de algumas indicações do então presidente Médici acerca de jogadores que ele, Saldanha, deveria convocar. Isso foi o pretexto que a Ditadura esperava para colocar de vez um ponto final em qualquer ameaça que se avultasse contra ela. Mas  a Ditadura não contava que Tostão e João Saldanha abririam caminho para que outros também se rebelassem senão contra a Ditadura, contra o modo de atuar no futebol brasileiro, usando cabelos compridos, barba bigode. Já em seu final, na década de 1980, a Ditadura  não tinha mais como usar o futebol como “arma” como havia feito no passado porque já muita coisa havia mudado mas, no entanto, o status de melhores do mundo que nasceu em 1970, não mudou. Mesmo que o futebol dos jogadores já não fosse o mesmo na década de 1980, a fama criada pela seleção de 1970 fez o Brasil ser visto desde então,mesmo que não apresentasse o futebol brilhante de antigamente nas Copas posteriores a 1970, como o lugar onde havia jogadores a serem comprados como “mercadorias valiosas”  em vitrines e isso tem continuado até agora, no século XXI.

Atletas consagrados e jovens atletas tem encontrado fora do país quando são “comparados”,  armadilhas de todos os tipos e dificuldades que vão aquém das que eles imaginam quando embarcam rumo ao exterior. Dentro do Brasil há a disputa pelos grandes times por jogadores talentosos que tanto podem figurar no elenco principal do time como podem estar um período com o time e depois serem negociados com times do exterior gerando lucros para times, patrocinadores, empresários e uma parte, diria-se até “pequena” (em vista das negociações milionárias que se fazem), vai para o jogador.

Se uma fiscalização mais rigorosa for feita para saber se de fato, estas negociações estão TODAS dentro dos padrões corretos da Legislação sobre o assunto, situações constrangedoras vão diminuir para os jogadores que lutam, como em todos os setores profissionais, por um lugar ao sol.

Em todo o país, muitos sonham em seguir a  carreira de jogador de futebol mas  por trás da  fama, do dinheiro, há problemas a serem enfrentados e resolvidos e a mídia, principalmente a televisão, deveria ser mais cautelosa ao expor a vida os jogadores pois há CASOS e CASOS que podem tanto consagrar como derrubar a vida profissional e pessoal do atleta. Espera-se tempos melhores para esta categoria de profissionais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

 

LIVROS:

 

COUTO, José Geraldo, Folha Explica: Futebol Brasileiro Hoje, São Paulo, Publifolha, 2009;

 

FRANCO JÚNIOR, Hilário, A Dança dos Deuses: futebol, cultura, sociedade, São Paulo, Companhia das Letras, 2000;

 

HOBSBAWM, Eric J., A Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991, São Paulo, Companhia das Letras, 1995;

 

HOBSBAWM, Eric J., O Novo Século, São Paulo, Companhia das Letras, 2000;

 

IANNI, Octávio, A Era da Globalização 3ª ed, Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1997;

 

LACOMBE, Milly, FRANCINE, Soninha, RAÍ, Para Ser um Jogador de Futebol, São Paulo, Ed. Jaboticaba, 2005;

 

RODRIGUES, André Figueiredo, Como Elaborar Artigos, São Paulo, Humanitas, 2011;

 

TOSTÃO, Tostão, Lembranças, Opiniões, Reflexos Sobre o Futebol, São Paulo, Ed. DBA,1997.

 

BIBLIOGRAFIA DIGITAL:

 

http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/2010/08/globalizacao-no-esporte.html, acessado em 06 de junho de 2012;

 

http://www.desportivobrasil.com.br/ acessado em 06 de junho de 2012;

 

http://br.esportes.yahoo.com/blogs/blog-do-neto/ postado em 06 de janeiro de 2012 e acessado em 13 de setembro de 2012;

 

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www.terra.com.br acessado em 19 de setembro de 2012.

 

www.wikipedia.org acessado em 30 de outubro de 2012.

 

DOCUMENTÁRIO:

 

Tostão – A Fera de Ouro

http://www.youtube.com/watch?v=z7qrROda7jQ&feature=related