MEMORIAL DESCRITIVO DE EXPERIÊNCIA COMO PROFESSORA DO ENSINO FUNDAMENTAL- SUPERVISIONADO I

ROSILENE DE OLIVEIRA SILVA[1]

1. Conceito de memória

Memória é um conceito bem complexo, que pode ser discutido sob o olhar de diversas disciplinas e tratado sobre diferentes aspectos. Não é possível discutir apenas a forma biológica de seu processamento, tampouco apresentar apenas os fatores emocionais envolvidos no processo de formação da memória.

Ainda que possa ser trabalhado por disciplinas diversas, o conceito de memória, mais rigorosamente, é produzido no entrecruzamento ou nos atravessamentos entre diferentes campos do saber. Dito de outro modo, ainda que existam conceitos de memória no interior da filosofia, da psicologia, das neurociências e das ciências da informação, entre outras, a ideia de memória social implica que perguntas provenientes de cada uma dessas disciplinas possam atravessar suas fronteiras, fazendo emergir um novo campo de problemas que até então não se encontrava contemplado por nenhuma delas.

A memória é a descrição, a recordação de fatos vividos no passado, que foram previamente organizados e armazenados pelo ser que os rememora. Assim como não se pode discutir memória sem apresentar todos os fatores envolvidos, não pode-se falar em memória sem relacioná-la com tempo.

É fundamental para que conheçamos nossa história e nos identifiquemos como indivíduos e como sociedade. Apesar disso, a chamada memória coletiva - em minha opinião - existe apenas na forma dos registros coletivos, tanto orais quanto escritos ou reais, como monumentos e ícones. Não há um meio de todos recordarem-se coletivamente, fisiologicamente falando.

A priori, a memória parece ser um fenômeno individual, algo ao escrever as páginas que seguem, precisei de muita concentração - apesar de as memórias evocadas serem classificadas como sendo de longa duração. Normalmente, organizamos as memórias de forma caótica, conforme vão ocorrendo. Quando precisamos relatar os acontecimentos, o cérebro precisa pôr em ordem as informações e separar apenas as que são relevantes ao que queremos contar. Por isso dizemos que uma memória “puxa” a outra. Meu relato foi feito com base nesse princípio: uma lembrança traz outra e no fim todas compõem um relato mais fidedigno que a simples ordem cronológica.

2. História de vida

Sou Rosilene de Oliveira Silva, natural de João Lisboa, no Maranhão nascida dia 08 de Dezembro de 1982, filha de Francisca Paulo de Oliveira e Antônio Silvestre da Silva. Todos os meus familiares são naturais do Maranhão sou uma pessoa de personalidade forte, mas acredito que isso só me faz crescer.

Tenho pouco para falar de minha infância, pois nela perdi meus pais, onde passei a morar com minha tia mais nova. Meu pai saiu de casa e morreu sem saber que eu existia. Minha mãe biológica morreu de eclampse após ter o único filho de sete meses de outro marido, conforme conta minha família.

Aos cincos anos de idade, minha tia (Cleonice) hoje minha mãe adotiva, se casou e definitivamente fui morar com ela e seu esposo, em uma comunidade chamada Riozinho das Arraias, no município de Novo Progresso, no Estado do Pará, os familiares quase todos já residiam no local.

No que recordo, era muito difícil, o meu pai esposo da minha tia, que passou a ser minha mãe, era muito cruel, ou seja, ignorante, foi uma época muito difícil, pois lembro que mamãe às vezes chorava quando via toda aquela ignorância dele, e apenas pensava que tudo aquilo seria para o meu bem num futuro.

 Assim, entre trancos e barrancos fui entrando na adolescência. Até que meu pai comprou uma colônia a dois quilômetros da comunidade, foi a época ainda mais difícil, porque éramos pobres e o único transporte que tínhamos, servia como ganha pão do meu pai, que trabalhava como mensageiro na moto nos garimpos. Então, eu ia a pé para a escola, lembro até hoje nós tínhamos um vizinho que vinha tirar leite na colônia e devido saber de todo o meu sofrimento e por ser muito nova de 10 para 11 anos de idade, me esperava todos os dias enfrente ao portão e como eu já sabia o seu horário me apressava para não perder a carona, pois eu tinha muito medo de ir sozinha. Carona que eu falo era sua companhia até a escola, pois ele também não possui transporte. Ele era um senhor muito simpático e que minha mãe confiava muito. Às vezes, na volta, uma amiga de meus pais que tinha um restaurante na comunidade, pedia carona para os caminhoneiros clientes do restaurante.

Assim, fui passando de uma série para outra até que cheguei à 5ª série onde meu pai não me queria deixar estudar, porque para ele estudo não valia para nada, tinha mesmo era que trabalhar e ser alguém de caráter, e foi a partir disso que minha mãe que pensava diferente dele, resolveu voltar a estudar para que eu pudesse frequentar a escola, mas tudo isso não adiantou muito, pois no ano seguinte em 1997 fiquei fora da sala de aula.

Para mim, foi muito doloroso, porque meu maior sonho era ser veterinária, amava os animais, minha mãe, no entanto sempre me dizia que aquela situação ia mudar eu iria retornar ao Maranhão para morar com minha avó para que eu pudesse estudar. Depois de muito sacrifício e completar 15 anos, fui morar com minha avó em Cumaru comunidade de Senador-Lá-Rocque, no Maranhão para poder continuar a estudar.

Passei um ano com minha avó (Maria de Paula) não era muito diferente da vida que levava com meus pais adotivos, minha avó também não era muito fácil de conviver, todas as noites eu chorava com saudades da minha mãe, de tê-la do meu lado. Somente estudava e ficava em casa até que se passou um ano.

No ano seguinte, em 1999, por não mais aguentar as ruindades da minha avó, resolvi fugir para a casa de uma amiga, só que minha tia não aceitou eu morar na casa da amiga e me convidou para morar com ela.

A minha vida mudou da água para o vinho depois que fui morar com minha tia (Raimunda). Continuei a estudar a frequentar a igreja e até mesmo a ir aos bailes, já que antes não ia.

Ao entrar no Ensino Médio, optei por fazer a aceleração de três em dois anos, porque assim terminaria logo e voltaria para a casa da minha mãe. Estudava á noite Educação Geral e nos finais de semana fazia o Magistério por opção de minha tia, que também é professora, pois, por mim jamais ia ser professora, achava muito estressante essa profissão.

Mas continuei e terminei o Ensino Médio, em todo esse tempo de 1998, quando cheguei ao Maranhão gostava de um rapaz por nome José Wilson, até que depois de muito tempo, em 2002, casamos e moramos por um ano no Maranhão até que recebemos o convite de minha mãe para irmos morar no Pará.

Em dezembro de 2003, passamos a morar em Novo Progresso onde meu esposo, através de uma prima, conseguiu emprego. Logo em janeiro, tentei achar emprego em uma creche, mas não gostei da experiência, até que na área da saúde surgiu concurso para Dengue e eu fiz, não podia perder as oportunidades; passei em terceiro lugar, trabalhei um ano até que, em 2005, com a mudança de prefeito consegui uma vaga como professora em uma escola do município Mário D’Agostin, onde tive uma diretora que foi e sempre será o meu espelho, pois através dela me tornei a profissional que sou hoje. Trabalhei em várias escolas do município até 2007, quando resolvi ir morar em Moraes Almeida para poder ficar mais próxima da minha mãe.

Mudamos em dezembro de 2007, onde montei uma loja de calçados e confecções para tentar uma vida diferente, mas só que não era fácil, pois meu esposo, devido estar bem em seu trabalho, não queria deixar e ficava vindo aos finais de semana. Outra fase difícil, não era fácil ficar longe dele e totalmente sozinha de amigos, pois minha mãe ficava no sitio a 18 quilômetros de Moraes Almeida, quase entrei em depressão.

Até que resolvi ir para São Paulo fazer compras para a loja, pois lá eu tinha os parentes do meu pai. Foi tudo maravilhoso, tempo de minha vida também muito boa, sabe quando temos a ligeira sensação de que vai dar certo.

Quando retornei para casa meu esposo já estava definitivamente em casa para minha felicidade. Continuamos a viver tranqüilos, quando bem próximo a julho conversamos com uma conhecida da loja, sobre eu ter o Magistério, uma cliente entrou e observou a conversa e perguntou se não queria substituí-la em agosto, porque ela estudava e tinha que deixar uma substituta. Aceitei e trabalhei durante o mês, até em setembro de 2008, ao entregar sua turma de 2ª série, a coordenadora perguntou se não queria assumir uma turma de 4ª série, que a professora ia entrar de licença, pois tinha observado em trabalho e gostado. Assumi a turma e continuei até 2009, somente com o magistério. Foi quando a diretora convidou-me para fazer faculdade, pois sem a mesma, não seria contratada no próximo ano. Então, foi a partir daí que ingressei na Faculdade de Itaituba – FAI, indicada pela mesma. Para mim, foi muito complicado no início, porque tinha complexo de mim mesma, por ter ficado muito tempo longe da sala de aula como aluna, mas pensei que tudo aquilo não seria tão fácil, dependia somente de mim. Também foi difícil no II período, por que pedi meu pai, estando no período de aula, fiquei sem chão sem vontade de continuar, pois apesar de tudo ele sempre foi um incentivo da minha força. Assim, foram se passando os períodos, onde as dificuldades eram e são muitas, dificuldades afetivas, financeiras, mas com muito orgulho, pois hoje já no VII período do curso de Historia, só tenho o que agradecer a todos e tudo, amigos e familiares, principalmente à família FAI.

 

 

3. A importância da prática docente na formação profissional

             É de suma Importância para qualquer acadêmico, de Licenciatura Plena, a prática de sala de aula, pois é no campo de trabalho, ou seja, na sala de aula que o docente vai mostrar todas as suas habilidades e conhecimentos naquela determinada área. Em primeiro momento. buscar de todas as formas dinamizar as aulas para não se tornar monótona e nem cansativa, mostrar que tem domínio de turma e de si mesmo. Segundo, conhecer o aluno para poder desenvolver um trabalho de qualidade, sempre mostrando respeito e, principalmente, a ética educacional, diante de fatos que venha a ocorrer.

A minha experiência profissional iniciou-se no ano de 2005 quando fui convidada para trabalhar com duas turmas totalmente diferentes como Alfabetização e 1ª série; aceitei o desafio, com muita preocupação, porque nunca tinha enfrentado uma sala de aula antes. Até mesmo porque para ser professora era a ultima das profissões, somente seguir nela por não ter opção.

Durante 2005 não foi fácil, mas consegui entender que ser professora não era aquele bicho de sete cabeças que eu pensava, comecei a ver essa profissão de uma maneira amável, percebi que era através dela que poderia contribuir como cidadão. Também tive ótimas pessoas como conselheiras profissionais ao meu lado, pessoas que ensinaram a arte de ser um bom educador.

Já em 2006, devido ter uma personalidade muito forte, fui indicada a trabalhar com turmas de 3ª e 4ª series em disciplinas de Historia, Geografia e Matemática, outro desafio, pois mesmo tendo uma metodologia com a qual iria ter bons resultados, não havia assistência, ou seja, materiais pedagógicos adequados para que pudesse realizar um bom trabalho.

Porém, em 2007, assumi uma turma de 4ª série com as disciplina de Geografia, Historia, Matemática e Artes, onde ganhei muita experiência na maneira de abordar o ensino da História, interligando com as outras disciplinas e as metodologias e objetivos para com o aluno. Às vezes, não me sentia capaz de transmitir meu conhecimento, por dificuldade que alguns alunos demonstravam ter na aprendizagem, era difícil mais entrava fundo em novas experiências de colegas, até que encontrava uma metodologia eficaz para aqueles que demonstravam menos desenvoltura na aprendizagem. Isso me deixava cada vez mais confiante que eu estava no caminho certo para formar formadores de opiniões.

Em 2008, já morando em outro município não inicie na profissão de professora, até por que não tinha conhecimento, somente em agosto do mesmo, fui convidada a substituir uma professora de 2ª com todas as disciplinas, era uma turma muito carente de conhecimento, que apesar de estamos já na metade do ano letivo necessitava de muito apoio pedagógico de todo quadro escolar. Não foi diferente das demais turmas, usando metodologias que viesse a resgatas interesse do aluno consegui atingir o meu objetivo.

Portanto, depois deste trabalho em 2008 continuei a trabalhar em 2009 com as turmas de 5ª a 8ª séries com as disciplinas de Educação Física e Estudos Amazônicos. Em 2010, fui convidada a ministrar Educação Infantil, e em 2011 com os 5ª ano e 2012 por já está no terceiro ano do curso de História passei a ministrar as disciplinas de Historia e Geografia. Nesse sentido, venho trabalhando para me profissionalizar e ganhando cada vez mais experiência, para que no futuro possa compartilhar esses conhecimentos adquiridos.

        CONCLUSÃO

Pela minha história de vida e a minha vida acadêmica, vejo a importância que a educação tem em ambas. Hoje, acredito que ser professora sempre esteve ligado a minha realidade, ao começar pelo modelo que tive dentro da minha própria família com a minha tia, que era educadora, e com a presença marcante da minha professora Suely.

E nas disciplinas que estudei na faculdade, tenho a clareza que ser educador é exercer a mais refinada profissão. Um profissional na arte de melhorar o ser humano, um missionário no desenvolvimento da consciência. Ser educador é verdadeiramente estar comprometido com as pessoas, não somente com o conhecimento, mas acima de tudo com o bom uso desses conhecimentos. Existe uma diferença entre ser professor e ser educador. O professor é um profissional comprometido apenas com o conhecimento e conteúdo.

O educador é um profissional comprometido com o conhecimento a fim de evoluir a consciência do ser humano na sua complexidade. Uma sociedade é formada por indivíduos muitas vezes, cheios de culturas, muitos conhecimentos, muitos argumentos e sem nenhuma consciência. Esta pessoa teve no seu convívio escolar um professor e não um educador. Ela aprendeu os conhecimentos de forma superficial e faz o mesmo uso na sua vida. No momento atual, as escolas estão carentes de educadores, carentes de consciência e carente desvalorização. Ser professor significa distanciar-se da sua real função na educação, e ligar-se no mundo do saber muito e comprometer-se com pouco.

Este pensamento leva o professor a separar-se de sua missão e ver que o resultado do seu trabalho não é sua responsabilidade. Sua mente é parada, pensa que sabe tudo e não precisa aprender mais. O educador sabe que seu o maior desafio é aprender sempre com seus educando, pois, eles são gerações mais atualizadas do que a sua. Na visão dele, estas crianças são evoluções dos seres humanos. O educador sabe que somente com bom uso do conhecimento pode chegar a desenvolver nestes estudantes grandes consciências. O maior aliado do educador é o tempo. Sabe que grandes construções levam muito tempo e por isso a importância da confiança depositada nesta missão. Vendo a educação de hoje, percebe-se a necessidade urgente de educadores. Ser educador é ir além, é resgatar consciência, começando primeiramente com a sua própria.



[1] ROSILENE DE OLIVEIRA SILVA  é acadêmica do Curso de História da Faculdade de Itaituba –Pará, FAI, 2013.