Dia 20/12/10, horário: nove  horas,  com atuação na Corregedoria da Polícia Civil, estava viajando para a cidade de concórdia, com as Delegadas Ester Fernanda Coelho e Sandra Andreatta... e o assunto na ordem do dia era o futuro da Polícia Civil. Sandra brincava dizendo que “conseguia esquecer a polícia, mas a polícia não queria sair de dentro dela”.

Horário: dez horas e dez minutos, depois de algumas tentativas infrutíferas,  finalmente a Delegada Ester conseguiu estabelecer um contato com o Delegado Paulo Koerich e que entrou para a história. Logo que assumi o celular inicou a interlocução dizendo:

“Alô, é o Paulo Koerich?”

Do outro lado da linha uma voz soou distante e discreta respondendo afirmativamente, então continuei:

“Paulo, é Felipe Genovez, tudo bem?”

Veio a resposta econômica: “Tudo bem, Felipe”.

Continuei: “Paulo, é verdade que tu fostes convidado para o cargo de Delegado-Geral? Segundo eu soube...”.

Paulo respondeu de maneira indireta:

“Sim, existem vários nomes...”.

Logo que percebi que Paulo deveria estar numa situação incômoda (justamente naquele momento estava na presença dos Promotores Grubba e outros, sendo convidado)para conversar abertamente, mas insisti:

“...Ah, eu imagino que tu estejas em Florianópolis, com o Secretário?”

Paulo convirmou meio que sem jeito:

“Sim, sim.”.

Continuei:

“Bom, eu estou te telefonando, porque não sei se tu sabes, o Nilton Andrade foi convidado também na semana passada e declinou do cargo, tu sabias disso?”

Paulo respondeu parecendo que não queria chamar a atenção:

“Sim, soube”.

Continuei:

“Pois é, sei que o momento é delicado para falar”.

Paulo argumentou:

“Sim, é verdade”.

Enquanto ouvia vozes ao fundo, com nítida impressão de conversas paralelas que mais parecia Grubba e mais uns dois ou três, insisti:

“Bom, Paulo, eu estou te telefonando para que tu reflitas bem em que ‘condições’ tu estais aceitando o cargo, veja bem as condições, porque o Nilton foi convidado e não aceitou”.

Paulo respondeu:

“Sim, agradeço”.

Continuei:

“Nós temos muitas questões institucionais para serem discutidas, como a Corregedoria-Geral, bom, são tantas coisas, eu espero que tu estejas ligado nisso”.

Paulo: “Sim, claro, claro”. 

Fui para os encerramentos:

“Bom, Paulo, sem qualquer pretensão pessoal, apenas preocupado com nossos interesses institucionais, eu me coloco a tua disposição para ajudar em algo”.

Paulo respondeu:

“Agradeço, abrigado”.

Assim encerrei a ligação e logo em seguida Ester fez seu comentário:

“Imagina se não iria aceitar. Claro que já aceitou”.

Sandra disse o mesmo, enquanto. Aproveitei para comentar:

“Bom, a escolha do Paulo Koerich foi cirúrgica. Imagina, ele já foi.... do ‘Carvalho’ (Promotor Luiz Carlos Schmidt de Carvalho – ex-Secretário de Segurança Pública – 1998-2000 – Governo Amim), era novinho e é claro que esteve a serviço na época, porque não agora novamente?” Sandra fez um aparte:

“Não, não, o Paulo sempre tem se manifestado na rede mandando e-mails criticando os salários, falando dos subsídios... Ele sempre tem se manifestado com novidades, sugestões. Eu já recebi diversos e-mails dele, tenho gostado, acho que vai ser uma boa”.

Interrompi:

“Espera aí, Sandra, isso ele fazia quando era Delegado de Gaspar, aí é muito fácil, mandar e-mails para rede com sugestões. Agora, outra coisa vai ser ele no ‘poder’, é só esperar para ver, o Ministério Público vai usar ele direitinho”.

Ester, bastante cautelosa e mais ouvinte, acabou concordando que o futuro parecia “negro” e relembrou a conversa que teve com o Delegado “Renatão” (Delegado Renato Hendges) da Adepol, dois dias atrás:

“É, o ‘Renato’ disse que vamos ter dias difíceis pela frente”.

Interrompi:

“Sim, por isso que eu defendo que o ‘Renatão’ continue à frente da Adepol. Fica muito fácil para ele sair agora pela porta da frente, e voltando para a ‘Anti-seqüestro’. Agora o ‘Renatão’ vai ter a oportunidade de provar o seu valor, fazer jus à votação que tem tido no Conselho Superior da Polícia Civil e, também, porque assumiu no lugar da Sonéa na Adepol. Acho que ou ele entra para história e vai realmente mostrar sua face. Por isso que esse negócio de eu ser o candidato para substituí-lo não vai funcionar. Eu disse lá para o Dirceu em Joinville e vocês ouviram, não tenho medo de desafios, mas também não sirvo para.... Agora o momento vai ser de pedreira”. Ester foi a primeira a concordar, Sandra já um pouco mais de ‘arrasto’, isso porque sua torcida era grande para que eu liderasse a classe.

Durante as próximas horas de viagem Sandra fez alguns contatos telefônicos relatando a conversa que tive com Paulo Koerich, inclusive com o próprio “Renatão”. Ester ainda citou que os nomes fortes na Polícia Civil eram o Márcio Fortkamp, Paulo Koerich, Nivaldo Claudino, Marlus Malinverne...  Imediatamente lembrei dos nomes fortes na época do governo Luiz Henrique da Silveira e Blasi: “Thomé, Neves, Sonéa, Adriano Luz. Agora um outro time se apresentava... e o que vai ser? Mais uma vez é o tempo que vai responder. A ‘turma’ anterior deixou um rastro histórico... e hoje fazem de conta que não existiram, varrendo para baixo do tapete o legado que deixaram..., e a agora uma nova ‘turma’ se prepara para entrar no círculo do poder e vai fazer o que? Sim, só que agora temos o ‘MP’ coordenando tudo, e é muito provável que vão transformar os Delegados e a Polícia Civil num braço do Ministério Público para fins operacionais, gerando ‘factóides-policialescos-de-vitrine’  para que o MP se promover e aparecer ainda mais perante à sociedade... De outro vértice, é sabido que se o MP realmente quisesse ajudar os Delegados a consertar muitas coisas, fariam a diferença, mas isso é outra história, porque não há evidência de que desejam isso, tão-só, ‘poder’, mais ‘poder’, é muito mais poder,  muito além do que já tem de direito e que precisa ser consolidado de fato”.   

Horário: quatorze horas e vinte minutos, tínhamos acabado de almoçar em Lages  e Ester ligou para o Delegado Renato  que depois de informado do teor da conversa que tive com Paulo Koerich disse que não ligaria para o mesmo, inclusive, que foi convidado para ser o novo Diretor da Deic, mas que não aceitou, chegando a comentar que quando foi procurado pelos emissários de Grubba argumentou que não estava participando de nada, não sabia de nada, e que daquela forma estava fora, e preferia continuar na Adepol. Depois que Ester relatou o teor dessa conversa com “Renatão” eu não tive como deixar de reconhecer grandeza nessa sua atitude, assim como na de Nilton Andrade. Mas era muito cedo para se tirar conclusões cartezianas.

Horário: Quinze horas, estávamos próximos de Campos Novos e Ester ligou para o Delegado Julio Teixeira para contar a conversa que tive com “Paulo Koerich”. Julio depois de escutar o relato, mais parecendo um “El Bigodão Fanfarrão Sem Terra”, argumentou que logo a seguir daria um parecer técnico sobre os últimos acontecimentos e que tudo estava “ok”. Depois que Ester concluiu a ligação tive que fazer um comentário: “Que triste a situação do ‘Julio’, sabe, na verdade eu estou com pena do Julio, fritaram o cara direitinho. Primeiro, deram corda para ele, depois, o escolheram o ‘Grubba’ que certamente impôs condições para aceitar o cargo, e nessa o Julio dançou”. Ester e Sandra acabaram tendo que concordar com minha observação e ficou uma pergunta no ar: “Qual vai ser o futuro do Julio?” Lembrei do Delegado Flares do Rosar, tão vívido, tão esperto, tão ligeiro... quando o convidei para ir a luta pela Adepol... e depois foi fenecendo lentamente... que triste fim”.

Quando já estávamos chegando próximo de Joaçaba, Sandra falou sobre os Promotores Alexandre Grazziotin (coom atuação emblematica no Gaeco da Capital) e Cid, Goulart (atualmente Desembargador do TJ - SC) ex-colegas do curso de formação de Delegado de Polícia, no início da década de noventa. Sandra relatou que Grazziotin e Cid sempre andavam juntos durante o  curso da Acadepol e foram apelidados carinhosamente de Robin e Batman. Grazziotin porque era "falante" e "pequenino", já Cid mais parecia “Adam West” (ator que interpretava o personagem "Batman" na cidade de "Goden City" (EUA). Sandra contou que costumava brincar com Grazziotin chamando-o graciosamente de “Menino Prodígio”, e que todos riam e achavam graça da brincadeira.. Depois de alguns anos, quando Grazziotin e Cid já haviam ingressado no Ministério Público,, um determinado dia o primeiro apareceu na 2ª DP/Capital, acompanhando sua irmã que havia se envolvido num acidente de trânsito. Logo que entraram em seu gabinete Sandra disse que abriu os braços e gritou super feliz de rever seu ex-colega: “Menino Prodígio!” Grazziotin continuou impávido, formal, intransponível, inacessível e simplesmente estendeu o braço e a cumprimentou como se fossem dois desconhecidos. A partir desse momento Sandra disse que caíram suas fichas, pois agora um abismo parecia que os separavam. Já Cid, não havia mudado nadinha, jamais, sempre se revelou aquela pessoa simples e querida, com seu ego normal e comoo a pessoa dos velhos tempos.