Festas da "aurora republicana" no Pará.

15 de Novembro de 89
A aurora republicana
Veni, vidi, vici!
(Diário de Notícias, Novembro de 1891).

O movimento de Proclamação República acontecida em novembro de 1889, tanto os seus acontecimentos políticos e sociais, quanto ideológicos também estão inserido no movimento de produção de tradições em massa que caracterizou o final do século XIX e inicio do século XX. Nesse aspecto, Eric Hobsbawm trabalha que as "tradições" são importantes aspectos da formação de uma consciência coletiva nacional que valoriza elementos subjacentes a sua historicidade. Trabalhando como exemplo o caso francês, o autor explica o surgimento de cerimônias públicas como o Dia da Bastilha e outros eventos "oficiais" e "não oficiais" como fogos de artifícios, bailes de rua ou a produção em massa de monumentos de exaltação de figuras ligadas ao panteão cívico republicano como indícios importantes para a produção em massa de tradições que davam sentidos aos elementos de coesão social e de identidade coletiva necessário para a formação do regime.
José Murilo de Carvalho em A formação das almas trabalha a configuração do Estado republicano brasileiro a partir das análises da batalha de símbolos e alegorias que se exercia nas discussões tanto política, quanto ideológica que caracterizou a implementação do regime republicano no Brasil. Nesse sentido, o autor aborda a questão da elaboração do imaginário republicano como forma de legitimação de qualquer regime político; para que isso ocorresse, foi necessário também que se processasse uma intensa batalha na manipulação de símbolos que moldariam as concepções em torno do regime republicano. A esse propósito aponta o autor que "um símbolo estabelece uma relação de significado entre dois objetos, duas idéias, ou entre objetos e idéias, ou entre duas imagens" . Essa batalha em torno dos símbolos revelava um importante conteúdo que pode fornecer relevantes elementos que dimensionam a visão da república e seus pontos divergentes dos diversos grupos que faziam parte desse movimento histórico. Nesse sentido, o autor aponta que a discussão desses mesmos símbolos pode revelar a visão que o regime pretende fixar no imaginário popular, além de demonstrar a capacidade de manipulá-lo, refazendo-o de acordo com seus valores e interesses.
Podemos compreender que a batalha em torno da visão de República que se buscava implementar no Brasil, está dentro de um contexto que revela que qualquer regime político tem a finalidade de criar um panteão cívico e salientar figuras que possam servir de imagem e de modelos para a sociedade. O uso de hinos e bandeiras se tornou símbolos com significados "universais". Não podemos imaginar atualmente um Município, Estado ou País que não tenha um símbolo que possa identificá-la como uma instituição. Associações de amigos, instituições educacionais e outros precisam criar seus símbolos como uma imagem que se materializa no interior da sociedade. O regime republicano Brasileiro utilizou-se de todos esses aparatos para afirmar-se. As batalhas políticas e ideológicas que se efetuaram bem antes da implementação do regime, quando já apresentava esse caráter de manipulação de simbologias a partir da idéia de federação em contraponto ao centralismo do governo imperial, Abolição em detrimento a Escravidão como instituição que determinava o "atraso" moral e social da nação. Podemos identificar também uma intensa batalha que buscava definir a imagem do novo regime que perpassava, conseqüentemente, em atingir o imaginário popular e recriá-los em torno de valores republicanos. Nesse sentido, observa José Murilo de Carvalho:

"A elaboração de um imaginário é parte integrante de legitimação de qualquer regime político. É por meio do imaginário que se pode atingir não só a cabeça, mas de modo especial, o coração, isto é, as aspirações, os medos e as esperanças de um povo. É nele que as sociedades definem suas identidades e objetos, definem seus inimigos, organizam seu passado, presente e futuro. O imaginário social é constituído e se expressa por ideologias e utopias, sem dúvida, mas
também ? e é o que me interessa ? por símbolos e mitos que podem, por seu caráter difuso, por sua leitura menos codificada, torna-se elementos poderosos de projeção de interesses, aspirações e medos coletivos. Na medida em que tenham êxito em atingir o imaginário, podem também plasmar visões de mundo e de modelar condutas .
O regime republicano também necessitou criar ou "inventar tradições" que pudessem responder as novas necessidades de justificativa de seu regime, no qual se desejava inculcar os valores referentes a seu discurso. Nesse sentido, podemos recorrer às considerações de Eric Hobsbawm que classifica a invenção de tradições, tal como a ocorrida durante a implementação do regime republicano, como tradições inventadas que buscam estabelecer ou legitimar instituições e que necessitam fixarem-se ou que, minimamente, simbolizem os elementos de coesão social ou de admissão de um grupo. Sendo assim, podemos perceber que a República Brasileira está ligada às invenções chamadas oficiais ou "políticas" que surgem, sobretudo, em estados ou em movimentos sociais e políticos organizados.
As festas de comemoração do advento do regime republicano também foram eventos significativos ocorridos em Belém. Esses eventos tinham por objetivo fundamental de tentar estabelecer elementos de coesão social, não só "apagando" o passado imperial, mas também construindo, por outro lado, a tradição de festas republicanas que pudessem criar um consenso e reduzir as diferenças existentes a partir da produção em massa de eventos ou "tradições" referentes à consolidação do regime republicano brasileiro. Lúcia Lippi Oliveira em um artigo denominado "as festas que a República manda guardar" trabalha como ocorreu à quebra da tradição imperial, em detrimento a construção de um novo universo simbólico que pudesse conferir a legitimidade ao novo regime e, ao mesmo tempo, construir uma nova tradição. A autora trabalha como o regime republicano brasileiro configurou um programa de festas que poderiam se dividir em duas categorias distintas caracterizadas pela fraternidade nacional (21 de Abril, 13 de Maio, 7 de Setembro, 15 de Novembro) e de fraternidade universal que privilegiavam as datas cívicas universais, principalmente aquelas ligadas ao panteão cívico da Revolução Francesa.
No dia 15 de Novembro de 1889, por tanto, no mesmo dia da data oficial da Proclamação da República brasileira, o periódico Diário de Noticias estampava em suas páginas uma nota que fora enviada por um acadêmico de Belém de nome Ferreira Teixeira que residia em Recife. Entre outras, ele profetiza:

A Republica Brazileira
A evolução das idéas republicanas no Brazil, depois da ascensão do partido liberal, váe apagando pouco a pouco a esperança de salvação das instituições monarchicas.
Chegamos ao período de transformação já bem caracterisada no terreno das idéas.
A política nacional váe tomando nova face; seu horisonte amplia-se com os principios scientificos e especulativos da política positiva.
E a transição do regimem político vigorante para outro, que representa o mais puro ideal e a mais ardente aspiração do povo braziliense, esta prestes para operar-se.
Não obstante reconhecer o governo esta verdade, todavia emprega os mais variados meios moraes e immoraes, legaes e ilegaes, violentos ou não, isso pouco importa, para abafar ou ao menos paralysar o sentimento reformista brazileiro...
Grave erro político. Quando um povo atinge a certo gráo de cultura social, economica e intellectual, suas instituições devem corresponder proporcionalmente ao seu estado de civilisação.
Quando as forças sociaes tendem a desenvolver-se harmonicamente, improficua será a medida tomada para impedir lhes a marcha evolutiva.
Ora, o governo monarchico em nosso paiz constantemente está se oppondo á realisação de qualquer reforma de pedida pela nação.
Por tanto, um regime ferrenho e atrazado, como é esse, deve ser substituído por um outro capaz de satisfazer a todas as aspirações progressistas do povo brazileiro.
E nenhum,sabemos, está em melhores condições do que o regime republicano....

Conforme podemos perceber na fonte histórica, é trabalhada a idéia de consenso no discurso de Teixeira. Mais do que isso se percebe também que pagar o passado imperial e trabalhar o progresso personificado na instituição republicana que seria a mais preparada das instituições que poderia corresponder o atual estágio de desenvolvimento por qual passava a sociedade brasileira, é a arma principal de sua argumentação. Interessante notar que a veiculação dessa matéria no periódico é sintomática para perceber que a eclosão da instituição republicana, apesar de esperada, não se tinha uma data provável e que, em Belém, aconteceu o que William Gaia Farias chama de "aclamação" do regime republicano. Trabalhar a oposição entre império (como instituição que representava o atraso) e República (representando a evolução histórica da sociedade aliada ao estado de civilização do povo brasileiro) é arma estilística que utiliza o autor para demonstrar a evolução das idéias e dos sentimentos de liberdade que se empregava naquele momento.
Desenvolver o acontecimento histórico do 15 de Novembro era necessário para que o evento pudesse ganhar densidade no interior da sociedade haja vista a intensa justificativa sobre o acontecimento histórico da proclamação não abrisse espaço para que ocorresse a formulação de uma programação de festas elaboradas para comemorar o evento, tal como ocorreu durante o período de abolição; pois a Proclamação da República não conseguiu ganhar densidade como um acontecimento político que tivesse a participação popular . Nesse sentido, é o que percebemos quando o nesta passagem abaixo descrita encontramos uma rica elaboração do 15 de Novembro cheio de metáforas e alegorias que mesmo de maneira abstrata representavam bem a mensagem que se propunham a cristalizar para aquele período, vejamos:

15 de Novembro
O sol resplandecente, o sol da liberdade
Mais um anno apparece alegre e presenteiro
Festejando, a sorrir, em nome da egualdade.

Que potentes heróes não fomos no passado!
E que prazer não teve o brazileiro ardente,
Ouvindo do Ypiranga o majestoso brado
Echoar da terra ao céo n?um retumbar fremente!

Oh! Minha terra! Outr?ora liberdade tua
Soou de plaga em plagas, echôou de rua em rua
N?um frémito gigante, antíloquo, sem par!
Hoje o feito é maior: - já não possue escravos!
Já não temos um rei! Por tanto, á ti, mil ? bravos -

- Es livre, como é livre o céo, a terra, o mar!
15-11-1889
J. Eustachio de Azevedo

Conforme foi exposto anteriormente na nota explicativa, os anúncios de festas foram escassos durante o percorrer do mês de novembro de 1889. Um dos poucos momentos de exaltação que encontramos no periódico Diário de Notícias toda uma elaboração em torno da "imagem" do acontecimento. Trabalhar as alegorias metaforizantes tais como "sol resplandecente" e "sol da liberdade" expressam muito bem o ideal de tecer um novo futuro, porém sem esquecer de rememorar o passado tanto da independência, quanto da própria abolição a partir do momento que são lembrados como importantes acontecimentos para a história da nação, além de exortar a instituição imperial contemplando o ideal da liberdade configurada e personificada pela instituição República.
A invenção das tradições republicanas foi pouco a pouco, ganhando forma e tendo uma nova conotação. É o que podemos perceber quando se aproxima o aniversário de um ano da implementação do regime. A República Brasileira inseriu no contexto político e social novos grupos e ambientes inteiramente novos que exigiam novos instrumentos que assegurassem ou expressassem coesão social estruturando as suas relações. Os feriados, cerimônias, heróis, símbolos oficiais públicos que começaram a comandar um exército cada vez maior de empregados do estado e criando um público cada vez maior de mobilização para participação das festas estando exteriorizada na participação de diversos setores que compunham a sociedade naquele momento. Podemos observar essa característica importante quando notamos a chamada do periódico Diário de Notícias:

Passeio Civico
Do dia 15 de novembro
Ordem do prestito
I- Banda marcial procedida de um piquete da cavallaria, com clarins a frente
II- Tres cavalleiros empunhando o estandarte brazileiro, ladeados por bandeiras paraenses.
III- General comandante superior, commandantes e officiaes da guarda nacional
IV- Carro alegorico synthetisando a república e o Estado do Pará
V- As artes e os officios representados pelas diferentes corporações artisticas, com seus trophéus, distinctivos e carros allegoricos
VI- O commercio, pelos presidentes e membros da associação e da junta commercial, sociedades commerciaes e demais membros da corporação commercial.
VII- A imprensa pelos diferentes chefes de redação e mais jornalistas.
VIII- A magistratura pelos membros pelo tribunal das relações e juizes, tendo á sua frente o presidente d?aquelle tribunal.
IX- O magisterio secundario pelas congregações do lyceo e da Escola Normal e professores de sciencia do instituto educandos, tendo a sua frente os directores desse estabelecimento
X- O clero.
XI- O exercito pelo coronel commandante das armas com seu estado maior, officiaes activos, reformados e honorarios que não estiverem nos corpos e praças que não formarem, commandados pelos respectivos ajudantes.
XII- A administração, pelo governo do Estado, acompanhado do dr chefe de policia, do corpo consular e dos chefes da repartição publicas federaes e do Estado.
XIII- Marinha de guerra representada pela officialidade armada, tendo á sua frente o capitão de fragata inspector do arsenal de marinha, acompanhada de pelotões de marinheiro nacionaes, arrastando peças de artilharia de desembarque e da escola de aprendizes marinheiros.
XIV- As associações pelas diferentes lojas maçonicas, sociedades beneficientes litteraes e outras, com estandartes distinctivos.
XV- O funcionalismo, pelos empregados públicos de todas as categorias .
XVI- Alumnos das escholas do sexo masculino
XVII- Alumnas dos escholas do sexo femenino.
XVIII- Collegio Amparo
XIX- Intendencia Municipal, acompanhado de seu pessoal.
XX- Instituto de educandos artífices paraense.
XXI- Arsenal de guerra, representado por seu pessoal militar e civil
XXII- Arsenal de marinha, representado por seu pessoal militar e civil
XXIII- Corpo de bombeiros com o seu material e apetrechos
XXV- corpo de policia
XXV- Povo em geral
XXVI- Todas as pessoas que quizerem acompanhar o prestito a carro .

Podemos perceber na extensa lista da programação do "passeio civico" apresenta uma função de delimitação das atividades tanto de pessoas civis e militares . Podemos identificar nessa passagem da fonte, que nesse momento se esses eventos começaram a definir as suas atividades fundamentais e determinantes para a vida dos cidadãos. O sentido que as festas começam a exercer é de moldar a imagem dos cidadãos fazendo com que eles percebessem seus "papéis" e acreditasse no consenso que o Estado era o contexto das ações coletivas dos cidadãos. Nesse sentido, percebe-se que começa a acontecer às tradições dos desfiles que metaforizavam as simbologias do estado republicano com seus estandartes com bandeiras e suas esculturas representando a liberdade que personificavam a própria imagem que se desejava transparecer tanto da República, quanto do próprio Estado.
Nesse sentido, as festas ganham um caráter de consagração do regime de maneira não mais abstrata e sim com um conteúdo direto e deliberadamente de exaltação do regime. Podemos perceber essa característica importante pelo próprio papel que a imprensa desenvolvia pensando no periódico Diário de Notícias, quando ele se colocava como importante elemento disseminador das idéias da república. Carla Siqueira em um artigo denominado A imprensa comemora a República ressalta o papel que a imprensa desempenhou na disseminação dos ideais de República desenvolvendo em seu trabalho a dicotomia de idéias que se processava entre os jornais cariocas O paiz de orientação republicana e A Tribuna de corrente monarquista, no qual se buscava trabalhar a construção de uma tradição de poder simbólico no qual a grande idéia era fazer valer, a partir dos seus pontos de vista, a "sacralidade da data". Nesse sentido, observemos a fonte:

Festas officiaes
Realisaram-se, conforme o programma, as festas em commemoração ao primeiro anniversario da proclamação da republica brazileira.
Offerecemos em seguida a descripçao das festas nos dias destinados a sagração d?essa gloriosa data.
Dia 15
Desde o toque d?alvorada, pelas bandas de musicas nos quarteis, o povo, despertado e movido por uma simples curiosidade, começou a derramar-se pelas ruas da capital , dirigindo-se uns para a praça da independencia, enquanto outros estacionavam no largo da polvora, afim de aguardar a chegada da procissão cívica
A?s 7 horas da manhã desfilou da praça da independencia a procissão,composta por apenas de figuras obrigadas, sendo strictamente observada a ordem e percorrendo o trajecto estabelecido no programma.
O carro, representando a deusa da liberdade, estava decorado com lantejoulas ordinarias, notando-se dous vasos de louça da fabrica Sto Antonio.
A?s 9 horas chegou a ordem do prestito no largo da polvora, onde se poderá dizer que estavam reunidos cerca de 2 mil pessoas.
Depois que os batalhões tomaram as devidas posições, foi collocada, pelos srs governador e presidente da intendencia, a pedra do monumento comemorativo.
Por essa occasião as bandas de musica tocaram hymno da República, salvando o 4° batalhão d?artilharia.
A?s 10 horas, depois de lavrado e assignado respctivo auto, foi dispersada a procissão civica, percorrendo alguns clubs com bandeiras e trophéus as ruas da capital.
Dia 16
A?s 9 horas da manhã, no salão do palacete, onde funciona a antiga assembléia provincial, fez a intendencia municipal a sua sessão solemne, no meio de grande concorrencia de pessoas ."

Encontramos nessa programação todo um estabelecimento de alegrias e símbolos que tentam reforçam no imaginário popular, as festas como um importante momento de identificação e de exaltação das tradições republicanas que se buscava fixarem. Do lançamento de uma pedra fundamental ao tocar do hino nacional temos um ótimo exemplo da alegoria republicana que determinava a "sagração a gloriosa data". A tradição trabalha, nesse caso, para a formação de um ritual que as cerimônias públicas de exaltação do regime ganham uma espécie de "cerimonial" que congrega respectivamente procissão, comunhão dos símbolos e participação de pessoas públicas ou não necessariamente "públicas". A ordem dessas procissões cívicas adquire uma força pedagógica, já que além de transmitir a simbologia necessária para adquirir o valor da instituição, personifica símbolos, rituais e coloca-se como momento de consenso que reduz as diferenças existentes entre as diversas classes em nome do regime.
Geraldo Coelho em seu livro No coração do povo, trabalha a idéia como os republicanos paraenses desenvolveram um programa de festas que exaltavam e glorificavam o regime. Tendo como ponto fundamental de análise a discussão em torno do conjunto de monumentos que representavam o ideário republicano no Pará, a partir de uma leitura francesa e positivista de corrente Comtiana e inspirada nos acontecimentos que ocorriam na capital federal; o autor discorre sobre algumas características importantes para a compreensão do ideal das festas e o que se buscava ao realizá-las. Sobre aspecto cita o autor:

"A 15 de novembro de 1890, numa Belém dominada pelo clima de uma oficial exaltação cívica, visível na ornamentação de edifícios públicos, o governo do Estado e a Intendência Municipal comemoram o primeiro aniversário da proclamação da República. Ampla e antecipadamente divulgado, o programa de comemorações, reafirmando as virtudes pedagógicas da festa, contemplava a realização de desfiles, pelas tropas e pelos cidadãos, por tanto alegorias consagradas da república, marchas que, não raro, eram proclamadas como "procissões cívicas", na melhor tradição da religiosidade laica positivista "

Nesse aspecto, mais do que ressaltar as virtudes pedagógicas da festa, temos a valorização da tradição inventada da festa republicana que por se tratar de uma formulação que visa inculcar valores concernentes ao seu ideário, trabalha justamente a inflexão de símbolos, rituais e personagens que possam servir de modelos para a sociedade. Posto isso, perceber que as festas republicanas e todas as suas formulações praticamente exortaram a tradição imperial de festas acontecidas durante àquele período (quando utilizaram apenas como elementos figurativos tal como a manutenção do mesmo hino nacional, ou a princeza Isabel que por nunca ter sido rainha e sim regente, não representavam uma Abolição conflituosa, pelo contrário, sem luta e traumatismos); o que pese também a evidente batalha em torno de uma historiografia que ora evidenciava os valores da implementação do regime republicano sob o a égide de historiadores que comungavam do ideário republicano, ora tentava reavivar a monarquia por parte de intelectuais de alinhamento monarquista, essas tradições tiveram um significado de suma importância para que pudesse ocorrer a fixação do regime no interior da sociedade, principalmente no que tange a formação de uma mentalidade que pudesse tentar estabelecer uma maior participação popular no regime.