Bandeirismo e expansão: A Extração do ouro, apresamento de nativos e formação dos primeiros Arraiais no Primeiro Planalto Paranaense

Leonildo José Figueira
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
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RESUMO: Pelas antigas trilhas indígenas os primeiros aventureiros europeus subiram a Serra do Mar rumo ao primeiro Planalto Paranaense onde formaram os primeiros núcleos populacionais. O apresamento de índios e a busca pelo ouro foram fatores motivadores daqueles que se embrenharam mata adentro e encontraram as regiões tanto do Planalto curitibano como dos Campos Gerais.

PALAVRAS-CHAVE: História do Paraná; Expansão Territorial; Bandeirantes

ABSTRACT: For the ancient Indian trails the first European adventurers climbed the Serra do Mar towards the first Paraná Plateau which formed the first settlements. The arrest of Indians and the quest for gold were motivating factors of those who penetrated into the forest and found the regions of both the Plateau and Curitiba Campos Gerais.

KEYWORDS: History of Paraná; Territorial expansion; Bandeirantes

Em todas as suas fases, a atuação bandeirante em geral, garantiu a ampliação das fronteiras coloniais permitindo que se estendesse pelos quatro cantos, espalhando-se por quase 8 milhões km.

O bandeirismo passou a ter um caráter ofensivo, a partir do momento em que os portugueses garantiram a posse do planalto vencendo as últimas resistências indígenas, e a população nativa adentrou sertão adentro. O bandeirismo penetrou em todas as direções, o que caracterizou o chamado “bandeirismo apresador”, que teve o seu início coincidido com a presença do sétimo governador geral do Brasil (1591 – 1602), D. Francisco de Souza, que convicto da existência das riquezas minerais no interior da colônia, fomentou a penetração das bandeiras. O governador geral ainda disciplinou as expedições sertanistas, que passarão a contar com divisões militares, ouvidores de campo, escrivães, capelães e roteiros preestabelecidos. (HOLANDA)

No ano de 1605 D. Francisco de Souza retornou á Portugal e os bandeirantes (partindo de São Paulo) continuavam devastando os sertões ainda com maior intensidade e o tempo todo interessados no lucro imediato, destinados à captura do índio para transformá-lo em mão – de – obra na procura de riquezas minerais.

Na expansão dos bandeirantes para o sul do país depararam-se com missões jesuíticas espanholas, espalhadas ao longo dos rios Iguaçu, Paraná e Paranapanema onde encontraram também, grandes contingentes ameríndios (povos indígenas americanos: Tribo Ameríndia), já aculturado e aptos ao desempenho de trabalho disciplinado de fundo agrícola. Os tais Jesuítas haviam iniciado sua conquista espiritual por volta de1610. Abandeira liderada por Raposo Tavares toma seu rumo para o sul do Brasil por volta de 1637, e como sempre, procurando índios para utilizá-los como mão-de-obra. Percorrendo o interior e alargando o domínio português, se depararam com a expansão espanhola, representada pelos Jesuítas e imediatamente detiveram tais missões.

O bandeirismo de apresamento resultou na transformação do índio em mercadoria altamente valorizada; esta mão-de-obra era espalhada por toda a colônia brasileira, significando uma economia altamente rentável, chegando até a um quinto do valor do escravo africano. Entretanto o índio era o principal alvo da entrada das bandeiras apresadoras.

Em 1648 se deu a reconquista de Angola por Salvador Correia de Sá Benevides. Este acontecimento fez com que se regularizasse o abastecimento dos mercados negreiros do Brasil. Isto porem, desencadeou um declínio de interesse na mão - de - obra indígena, embora ele não tenha desaparecido. As bandeiras por sua vez foram gradativamente substituindo o seu objeto de interesse, o que fez com que elas fossem deixadas de lado o apresamento de índios para se tornarem pesquisadores de riquezas minerais. Esta mudança desenhou um outro desdobramento da bandeira apresadora, que ficou conhecida como “sertanismo de contrato”; pois, depois da larga experiência da captura do índio, existiam muitas pessoas que eram extremamente conhecedoras do sertão e por isso se destacavam na nova atividade. (HOLANDA)

Por volta de1679 aexpansão das bandeiras para o sul do Brasil começava a ser de grande importância para os portugueses. Com o relevo plano, suaves colinas e uma rica floragem natural, era um lugar ideal para a atividade pecuária em larga escala e outras economias que apresentavam condições de abastecer diversas regiões da colônia. Posteriormente este fato resultara no povoamento de diversas regiões do Brasil, onde as pessoas de instalavam garantindo a ocupação das terras e a posse para Portugal.

Contudo a colônia brasileira se ampliou devido a ação sistemática dos bandeirantes, missionários, militares, pecuaristas etc., os quais ocuparam o território brasileiro ao longo do tempo, originando e caracterizando diversas cidades e estados hoje existentes no Brasil.  

Tendo seu início em meados do século XVII, o ciclo da mineração do ouro foi o primeiro ciclo econômico do estado do Paraná; que como consequência, desencadeou o povoamento do litoral e do primeiro planalto. Iniciava-se naquele momento a criação de pequenas povoações, juntamente com a abertura de picadas e trilhas ligando o planalto curitibano ao litoral paranaense (como é o caso do Caminho da Graciosa e o Caminho do Itupava).

Em um processo, diretamente ligado à exploração de metais preciosos, em especial o ouro, o homem europeu deu início a colonização do planalto, após a ocupação do litoral, especificamente Paranaguá.

A descoberta do ouro de Aluvião nos ribeirões do litoral, na Serra do Mar e no planalto, causou e manteve a ilusão de muitos mineradores que povoavam a região. Dentro desse contexto, se faiscou ouro do Paraná por aproximadamente dois séculos, sempre procurando novos veios, para encontrar as tão esperadas pepitas no riacho. Mas como esse veio não se descobria, no final da primeira metade do século XVII, declarou-se “livre” a mineração nas catas ou nas faisqueiras velhas. Entretanto, foi em busca de metal precioso conhecido como ouro de aluvião, encontrado nas encostas dos rios, que o homem branco estabeleceu-se na Serra do Mar e deu início à colonização. (IHEGPR)

O período de extração do ouro foi de curta duração, devido à pouca quantidade de minério encontrado. Nos arraias, que eram as áreas de extração do ouro, a atividade mineradora que já era pequena, ainda diminuía cada vez mais com o passar do tempo. Fato este que acarretou uma baixa demanda na mão-de-obra, e como o ouro de aluvião tendia a se esgotar rapidamente, na medida em que os depósitos ficavam mais profundos, a sua exploração ficava cada vez mais complexa exigindo melhores equipamentos e maiores recursos, os quais, os faiscadores desta região encontravam-se despossuídos.

Os faiscadores se deslocavam com o objetivo de se concentrarem ao redor de algum veio cada vez mais rico, formando assim outra “faisqueira” Porém a exploração apresentava um caráter de modalidade, de maneira continua, o que foi possibilitando, em um processo gradativo, a formação de pequenos Arraiais, os quais se espalhando ao longo do planalto, cresciam dentro de suas possibilidades.

Ao mesmo tempo em surgiam os Arraiais com os primeiros mineradores em busca de ouro, eles estabeleciam pequenos sítios para a criação de gado, uma vez que a região era propicia e oferecia boas condições. E como os mineradores previam uma futura escassez do metal precioso tão almejado, a criação de gado e o estabelecimento em um local fixo parecia mais viável, até mesmo pelo fato dos mineradores já estarem cansados da continua procura do ouro.

Tais condições fizeram com que muitos mineradores, cansados da vida aventureira em função da mineração, estabelecessem residência fixa, dedicando-se a atividade de criação de animais. Atividade essa que alcançou grande desenvolvimento com a descoberta do ouroem Minas Gerais, por volta de 1730 e a crescente demanda por animais, tanto para corte como para transporte, animais esses que eram transportados ao sul através do Caminho de Viamão até Sorocaba, São Paulo de onde eram levadas para as regiões mineradoras. (MOCELIM)

As condições de vida dos habitantes dos Arraiais e primeiros povoados, eram muito precários e a luta pela sobrevivência era continua. Eles viviam no meio do sertão, em busca do rápido enriquecimento, tendo suas casas construídas com madeira, barro, taquara, pedra, etc. retiradas dos arredores do povoado. As casas eram alinhadas e construídas e unidas conforme o alinhamento da rua e possuíam quintais. Tal união se fazia necessário para ambas as pessoas, se ajudarem no momento de dificuldade e para garantir uma melhor segurança.  

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