HOBSBAWM, Eric J. Conclusão: Rumo a 1848. In: A era das revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1997.

O ano de 1848 marcou o continente europeu com movimentos revolucionários que, a partir de Paris, tiveram rápida propagação nos grandes centros urbanos. A consolidação do poder político da burguesia e o surgimento do proletário industrial enquanto força política foram os reflexos mais importantes daquele ano, que também foi marcado pela publicação do "Manifesto Comunista" de Marx e Engels . Hobsbawm nos mostra que para se chegar ao ano de 1848, quando ocorreu a "Grande Revolução", houve toda uma série de acontecimentos, de manifestações, que em maior ou menor grau, teceram uma rede que se "transformou em vibrações políticas de importância". Como se deram essas movimentações é o que passaremos a tratar a partir de agora.
Em primeira análise Hobsbawm reconhece que realmente ocorreu uma mudança no mundo, o que ele chamou de "era de superlativos". Mapeamentos, comunicações rápidas, crescimento populacional, cidades que se multiplicavam, produção industrial com cifras astronômicas, como por exemplo, a produção de carvão que atingiu, na década de 1840, cerca de 640 milhões de toneladas, e o comércio internacional que atingiu cerca de 800 milhões de libras esterlinas. Em meio a tantas realizações, Hobsbawm propõe a seguinte reflexão:
"Como se poderia encontrar uma expressão quantitativa para o fato, que hoje em dia poucos poderiam negar, de que a revolução industrial criou o mundo mais feio no qual o homem jamais vivera, como testemunharam as lúgubres, fétidas e enevoadas vielas dos bairros baixos de Manchester? Ou, para os homens e mulheres, desarraigados em quantidades sem precedentes e privados de toda segurança, que constituíam provavelmente o mais infeliz dos mundos?" (HOBSBAWM, Eric. p. 322)
Entendemos que a reflexão feita pelo autor é válida, pois as mudanças, embora tivessem seu grau "superlativo", não indicou uma melhoria de vida, especialmente para os pobres. A situação era que, para a pobreza, o mundo não era novo, era igual e algumas vezes até pior do que antes. A nova sociedade burguesa e o novo socialismo, que eram opositores políticos, foram unânimes em concordar que a situação do trabalhador pobre "era cada vez mais penosa", segundo Hobsbawm.
Para os detentores do poder político e econômico a situação pouco mudou. A nobreza ainda tinha as posses das terras. O autor nos mostra que o regime de escravidão continuava, e desenvolvia-se paralelamente um "sistema de semi-escravidão" , onde se contratava a mão-de-obra do trabalhador por um preço; contudo usava-se de velhacarias para que esse trabalhador ficasse sempre em débito com o seu contratante. A aristocracia era dependente da indústria e do desenvolvimento burguês, para manterem-se em sua situação cômoda. A situação política, como mostra Hobsbawm, não sofreu tantas mudanças assim, afinal em 1840, com poucas exceções, o mundo ainda adotava como regime política a Monarquia Absolutista.
Constatamos que nesse período, de 1879 a 1840, a situação do mundo embora em muito fragilizada continuou a manter sua estrutura básica. O tratado de Viena restaurou a Monarquia Absolutista, não alterando o sistema político que tanto pressionava as classes baixas. O sistema de escravidão ainda vigorava e com certeza os principais alimentadores do sistema escravocrata eram o Brasil e o sul dos Estados Unidos. O sistema de servidão, apontado por Hobsbawm, foi no nosso entendimento um dos elementos agitadores de ânimos da sociedade, pois a revolta dos servos, que se irrompeu a partir de 1840, perturbou a vida da classe dominante até explodir a "Grande Revolução" em 1848.
Hobsbawm aponta a seguir para o oportunismo britânico em face de um mundo abalado e carente de uma liderança internacional. A Grã-Bretanha com seu poderio bélico e seu poder econômico assume esse papel de líder Ocidental, se tornando a maior potência dentro do domínio Ocidental. O autor diz que a "supremacia britânica" se tornou de vários modos tão eficiente que ela "mal necessitava de um controle político para funcionar". Antes da metade do século os britânicos já haviam conseguido alcançar a "hegemonia mundial" se tornando, segundo Hobsbawm a "oficina do mundo" .
Pensamos que a dimensão da supremacia britânica seja, de fato, a maior expressão do expansionismo consolidado. Os britânicos reivindicaram para si o papel de modernizadores e civilizadores do mundo. Eles eram os detentores dos meios de produção industrial e, portanto, se achavam justificados na sua política de dominação mundial. Os britânicos faziam investimentos direcionados aos centros que imaginavam serem lucrativos. Por exemplo, houve muito interesse em se aplicar recursos no norte dos Estados Unidos da América, justamente por este ser economicamente desenvolvido e representar um investimento seguro e lucrativo.
Apesar do domínio exercido pela Grã-Bretanha ser abrangente, observadores já previa que o império britânico ruiria. Eric Hobsbawm cita a seguir a Tocqueville e Haxthausen , que apontavam para a queda britânica e a ascensão dos "Gêmeos gigantes do mundo", os Estados Unidos da América e a Rússia. Os socialistas também previram a queda do capitalismo.
Notamos que as opiniões de observadores atentos da época, descreveram os acontecimentos futuros com certa exatidão, porque a análise que eles faziam partia de baixo pra cima e de cima pra baixo. Ao mesmo tempo em que analisavam o comportamento dos governantes, eles cruzam essas informações com a movimentação das classes média e baixa, assim puderam perceber o grande descontentamento que havia abaixo do poder Monárquico e sabiam que seria somente uma questão de tempo para que essa bomba por fim explodisse.
Hobsbawm olha agora para a massa do povo comum, cuja condição nas grandes cidades e nos distritos fabris da Europa Ocidental e Central empurrava-os inevitavelmente em direção a uma Revolução Social. O grande despertar da Revolução Francesa ensinou aos homens comuns que eles não necessitavam sofre injustiças e se calarem:
"anteriormente, as nações de nada sabiam, e o povo pensava que os reis era deuses sobre a terra e que tinham o direito de dizer que qualquer coisa que fizessem estava bem feita. Através desta atual mudança, é mais difícil governar o povo". (HOBSBAWM, Eric. p. 329).
Entendemos que a consciência de uma iminente Revolução já existia. A sociedade viu o capitalismo alcançando uma rápida expansão e vitória. As péssimas condições de vida nas cidades empurravam os homens pobres e a classe média rumo à revolução. Sentimentos como o "ódio aos ricos", o "sonho de um mundo novo", se tornavam mais comuns, e finalmente, encontraram o campo fértil com clima adequado para explodir em uma "Grande Revolução, tal como foi a de 1848.
Acreditamos que a análise feita por Hobsbawm sobre as movimentações que levaram a 1848 é de grande utilidade para a preparação de alunos da graduação em História e outros cursos que analisam as mudanças sociais e políticas ocorridas no mundo. A obra de Hobsbawm é de muita importância na formação acadêmica.

REFERÊNCIAS:


ENGELS, Friedrich. A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra. Editora Boitempo, 2008.

HOBSBAWM, Eric J. Conclusão: Rumo a 1848. In: A era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1997.

MARX, Karl. O 18 Brumário e cartas Kugelmann. Editora Paz e Terra, 1997.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista ? 1848.

TOCQUEVILLE, Alexis de. Oeuvres, I. 1991. (Organizador: André Jardin. Colaboração: F. Mélonio e L. Queffélec.)

Trechos retirados de HGP ? 6º ano de Emilia Maçarico, Helena de Chabby e Manuela Santos, texto editora.