ÁFRICA NO INÍCIO DO SÉCULO XIX: PROBLEMAS E PERSPECTIVAS.

Raynara Cintia Coelho Ribeiro

RESUMO: Neste artigo pretendo abordar as mudanças ocorridas na África durante o “século pré-colonial” em função da intensificação da atividade dos europeus coloca em evidencia o segundo problema característico deste período, a crescente integração da África ao sistema econômico mundial é considerada, não somente como um elemento importante, mas antes como o principal acontecimento da história da África no século XIX. A África no início do século XIX se destaca pelas características e tendências deste período e pelas inovações e outros elementos novos.

Palavras-chaves: África, mudanças, problemas.

  1. 1.      A DEMOGRAFIA E OS MOVIMENTOS POPULACIONAIS.

 De acordo com Ajayi, a pressão demográfica ligada ao tipo de uso das terras, muitas vezes resultante de um crescimento populacional normal durante um período de relativa prosperidade, ou a imigração provocada por vários fatores como, guerra, desmoronamento dos sistemas políticos, seca prolongada, epidemia ou outra catástrofe natural que podiam ocasionar processos de expansão progressiva. Foi o que ocorreu no século XIX um grande número dessas expansões.

 No início do século XIX, estimava que a população africana possuísse 100 milhões de habitantes, com a organização da agricultura, do grau de desenvolvimento das técnicas e da higiene, bem como da forte mortalidade infantil causada pelas doenças, os demógrafos supõem geralmente que a população total não podia aumentar. Na África do Norte, a população permanecia estável e que se praticava uma agricultura intensiva, e a irrigação nas regiões férteis, principalmente nos oásis, a população aumentava regularmente durante os períodos de prosperidade.

Segundo Ajayi, ás catástrofes naturais, o tráfico de escravos e as guerras mortíferas causaram perdas demográficas de grande escala e, notadamente, a diminuição, durante um longo período, do número de mulheres em idade de procriar, tais perda fizeram com que a população total da África diminuísse nos séculos XVII e XVIII. O século XIX não alterou de vez a situação demográfica em seu conjunto, no início do século XIX e no século XVII, a população tendeu a crescer no conjunto do continente. O crescimento demográfico no início do século XIX ocorreu por diversos fatores tanto internos quanto externos, foi por si mesmo, um importante fator de mudança, particularmente em regiões que, como a África Oriental e Austral setecentista, não foi atingida, ou muito pouco, pelo tráfico de escravos.

  1. 2.      O CRESCENTE INTERESSE DOS EUROPEUS PELA ÁFRICA.

Segundo Ajayi, no início do século XIX além das consequências do crescimento demográfico, houve um crescente interesse dos europeus pela África. Interesse este que levaram de início os europeus a empreenderem, aproximadamente a partir do fim do século XVIII, expedições visando recolher informações mais precisas sobre as principais características geográficas do continente africano, procuravam também conhecer quais eram os maiores Estados, os mais importantes mercados e as principais produções agrícolas e industriais.

  Na África, as missões cristãs constituíram um fator de mudanças mais importante na segunda metade do século XIX do que na primeira. Na primeira metade do século XIX, a atividade dos comerciantes europeus expandiu-se de forma muito rápida e alcançou territórios muito maiores do que a influência dos missionários. O comércio europeu crescia rapidamente, mas tal expansão só foi possível em virtude do sistema existente das relações comerciais locais e regionais.

  1. 3.      OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA.

 No início do século XIX, a economia de todas as comunidades africanas se baseava na produção de alimentos por meio de uma ou mais atividades, tais como: cultivo do solo, criação de animais, pesca e caça. Outras atividades como, comércio, política, religião, produção artesanal e industrial, construção, exploração de minas eram secundárias em relação á agricultura. Além de a agricultura ocupar, neste período, um lugar essencial na vida econômica da imensa maioria dos africanos, os diversos sistemas de produção agrícola permitem, em grande parte, entender a estrutura das relações sociais e políticas no seio das comunidades e as relações das comunidades entre si.

Para Ajayi, é importante destacarmos a diversidade dos modos de produção agrícola, apresentada pelas diferentes áreas ecológicas da África, quer se trate dos sistemas de propriedade e de sucessão, das ferramentas básicas, dos tipos de culturas, do uso do solo, da divisão das tarefas entre homens e mulheres, ou ainda, da especialização das diferentes comunidades no que concerne á escolha das culturas, ás técnicas agrícolas ou á criação de animais.

Com a notória expansão da agricultura extensiva praticada pela classe dirigente e os principais negociantes agravou a escassez de terras, particularmente a proximidade de Kano e das outras cidades, o que levou os pequenos agricultores a estabelecerem-se em regiões mais afastadas, a abandonarem a agricultura para a fabricação artesanal e industrial, ou a submeterem-se totalmente aos grandes proprietários, juntando-se a sua clientela.

  1. 4.      AS ESTRUTURAS DO PODER.

De acordo Ajayi, os exemplos de Kano e do Bunafu mostram, sob duas formas diferentes, a influência que a estrutura política podia ter sobre o desenvolvimento da agricultura na África no início do século XIX. Em Kano, o sistema político era centralizado e amplamente estruturado, já os habitantes de Bunafu tinham a impressão de viver sob a autoridade de um governo. As mudanças ocorridas no século XIX agiram nas estruturas de poder, não somente ao modificar a estrutura dos Estados, como também ao reforçar, em vários casos, as estruturas não políticas que já abrangiam o conjunto da sociedade.

Os acontecimentos ocorridos no início do século XIX revelavam uma tendência á centralização dos sistemas políticos e á consolidação da autoridade real. A introdução do milho no século XVIII e a substituição das culturas tradicionais como base da alimentação no início do século XIX foram um dos fatores que parecem ter acarretado uma relativa prosperidade e um crescimento demográfico que, ao agravar a concorrência em torno da posse das terras, provocaram, por sua vez, novas tensões sociais e políticas.

  1. 5.      OS IMPULSOS INTERNOS.

 No século XIX o Mfecane foi considerado uma das principais causas das grandes mudanças na África, explica-se em primeiro lugar pela maneira com que o desenvolvimento social e econômico se adaptou, antes do século XIX, á evolução histórica. Os impulsos na base do Mfecane vinham principalmente da própria África, isso também se verifica no que diz respeito a outros grandes acontecimentos do início do século XIX, tais como as reformas de Mauhammad Ali e as jihad da África Ocidental.

Segundo Ajayi, a jihad recebeu seu impulso dos próprios africanos, os soberanos que tomaram parte da jihad esforçaram-se para desenvolver a produção agrícola, tanto nas explorações familiares tradicionais, quanto nos grandes domínios explorados por escravos ou por clientes. Também incentivaram a indústria e comércio, melhoraram as rotas comerciais e a segurança dos comerciantes. Os soberanos africanos tentaram tirar partido da atividade crescente dos europeus, mas, vítimas dessa atividade, acabaram vendo frustrada sua esperança de renovação.

  1. 6.      CONCLUSÃO

Portanto, podemos entender que o texto “África no início do século XIX: problemas e perspectivas” de Ajayi, é de essencial importância uma vez que fornece mecanismos para compreendermos o surgimento de novos fatores de mudanças na história da África, sendo o principal deles o maior desejo dos europeus de não apenas fazer comércio na África, mas também intervir na vida social e econômica das populações africanas. Contudo é importante lembrar que o comércio praticado no século XIX era o prolongamento do que existia antes; que os homens que o inauguraram e as estruturas que o sustentaram eram os mesmos da época do tráfico negreiro; que este comércio se baseava, em grande medida, no tráfico interno e no trabalho dos escravos; e, portanto, nos sistemas políticos, na rede de rotas comerciais, nas relações sociais e econômicas e, antes de tudo, no sistema de produção agrícola preexistentes.

Dessa maneira, podemos relacionar este texto com “as estruturas políticas, econômicas e socais africanas durante o período considerado” de Diagne, no qual é descrito o processo de mudanças ocorrido entre os séculos XVI e XIX no continente africano, proporcionando transformações nas estruturas sociais ocasionadas pelo o Islã e o cristianismo; econômicas provocadas pelo sistema de castas que substituiu o sistema de guildas ou corporações e a economia de pilhagem; e por fim políticas que causaram uma modificação na própria natureza do Estado africano. Como também o texto “Conclusão: a África as vésperas da conquista europeia” de Ajayi, no qual o autor aborda a história da África antes da partilha, além de ressaltar o período de profundas transformações no século XIX, uma vez que estas modificações tiveram uma dimensão intensa, na qual estiveram ligadas tanto a fatores de ordem interna, como a fatores que foram produzidos em grande parte sob a influência ou mesmo provocados pela incidência das atividades dos negociantes.

BIBLIOGRAFIA.

AJAYI, J. F. Ade. “África no início do século XIX: problemas e perspectivas”. In: História geral da África, VI: África do século XIX à década de 1880/ editado por J.F Ade Ajayi. Brasília: UNESCO, 2010.

AJAYI, J. F. Ade. “Conclusão: a África ás vésperas da conquista europeia”. In: História geral da África, VI: África do século XIX à década de 1880/ editado por J.F Ade Ajayi. Brasília: UNESCO, 2010.

DIAGNE, P. “As estruturas políticas, econômicas e sociais africanas durante o período considerado”. In: História geral da África, V: África do século XVI ao XVIII/ editado por Bethwell Allan Ogot. - Brasília: UNESCO, 2010.