Este é um resumo do livro de Jean Vercoutter, "Em Busca do Egito Esquecido".

Os grandes Faraós e a aura de mistério que os cercam, tem despertado durante os séculos a curiosidade e o interesse de muitas pessoas ao redor do globo. Não faltam histórias, filmes e livros para alimentar ainda mais o imaginário mundial. Os sacerdotes asseguraram não somente o culto cotidiano, mas também o ensinamento da língua e dos manuscritos indispensáveis à sua celebração. Porém, daí vem o grande problema dos dias atuais, esses sacerdotes se dispersaram: desaparecem uns após os outros, e ninguém no Egito é capaz de ler os textos gravados nos monumentos restantes ou escritos nos papiros conservados nas bibliotecas.

A biblioteca de Alexandria incendiou-se em 47 a.C, rica e com supostamente 700 mil volumes, possuía numerosas obras relativas ao Egito dos faraós, entre outras a Historia de I?égypte de Manethon. As perdas foram muito lamentáveis, os livros existiam em apenas um único exemplar e depois foram recopiados à mão. É certo que toda grande biblioteca, possui duplicadas as obras originais, que nesse caso eram conservadas na biblioteca do templo de Serápis na própria Alexandria. Mas, por infelicidade, o templo foi destruído e queimado em 391, de modo que as obras que haviam escapado ao desastre de 47 a.C acabaram por desaparecer de vez.

Agora só restava então recorrer aos autores clássicos, gregos e latinos, que se interessavam pelo Egito, e suas obras contêm inúmeras pesquisas nos originais destruídos. Esses autores têm suas obras conservadas tanto em Roma como em Bizâncio. Também, outra fonte de referencia é a própria história dos hebreus que a partir do segundo milênio a.C esteve sempre ligada à do Egito, de maneira que diversos livros do antigo Testamento, como Gênesis, Êxodo ou outros, ainda guardam fragmentos da historia política do Egito.

Para provar a autenticidade do Antigo Testamento, de onde saíram à religião cristã, os padres da Igreja primitiva, que tinham lido muito Manethon, citam freqüentemente passagens desta obra em suas próprias obras, de modo que estes também se tornaram fonte para se descobrir o Egito Antigo.

O objetivo dos estudiosos era então despertar o interesse das pessoas pelo Egito antigo, de modo que os investidores pudessem ver na conservação e aprendizado dos textos egípcios um bom local para lançarem seus fundos. Para se alcançar este objetivo, de 1809 a 1822 em Paris, foi impressa em nove volumes de textos e 11 enormes volumes de laminas a obra monumental que é a "Description de I?egypte". O plano funcionou, de um dia para o outro, o Egito se tornou moda. Viajantes franceses, alemães, ingleses, suíços, vão pra lá, conferir as maravilhas reveladas pelas obras Voyage e a Description; as narrativas contribuem para manter a fama crescente que o Egito conheceu.

Como toda ação tem suas conseqüências, esta admiração, essa comoção do mundo pelo antigo, desperta a cobiça e a ganância de homens inescrupulosos causando o inesperado: "O roubo das antiguidades". Esses roubos são tolerados e até mesmo incentivados durante o governo de Mehémet Ali, que governou o Egito no período de 1805 a 1848. Os roubos eram vistos como uma forma de fornecer aos estudiosos documentos de todas as épocas úteis para descobrirem o segredo da escrita hieroglífica.

A ação moderna de exploradores como que copiava a ação de pessoas gananciosas no passado. Por exemplo, no ano 1100 a.C, o governador de Tebas, descobriu que os túmulos dos reis eram roubados por ladrões que dividiam o saque entre si, esse mesmo governador nomeou uma comissão de investigação para examinar todos os túmulos reais. Essa investigação resultou na condenação de um grande número de ladrões operários ou pequenos funcionários, na sua maioria pertencente à administração da necrópole.

Um dos presos declarou que há quatro anos procuravam o túmulo do faraó Sebekemsaf. Encontraram a nobre múmia vestida de guerreiro, carregada de amuletos e ornamentos de ouro em volta do pescoço e seu penteado de ouro intacto, no interior do túmulo havia muito ouro e prata e todas as espécies de pedras preciosas, ele juntamente com seus companheiros, retiraram o ouro que recobria o sarcófago e pilharam também toda mobília que encontraram.

O testemunho destes homens, agora condenados, nos dá à idéia de quão ricos eram os túmulos dos reis, riquezas essas que se confirmaram anos mais tarde em 1922 com a descoberta do túmulo de Tutancâmon.
A pilhagem continua no tempo dos imperadores romanos e bizantinos que levam do Egito um grande número de monumentos, obeliscos, esfinges, estátuas destinadas à ornamentação de suas capitais Roma e Constantinopla.

Toda uma riqueza se viu assim nas mãos de particulares e indisponíveis aos estudiosos. Desta forma, toda majestade e todo mistério que cercava o Egito antigo vai se degradando e sendo esquecido.
Em 1842, Auguste Mariette, observando os desenhos de seu primo Nestor L?Hôte, sente uma atração irresistível pelo Egito. Em Boulogne, Mariette classifica a pequena coleção de objetos egípcios do Museu Municipal, entre estes se encontrava um ataúde de múmia coberto de inscrições da coleção de Vivant Denon, que não compreendendo os hieróglifos havia repintado a maioria dos textos. Mariette procura decifrar os textos sem resultado algum, necessitando renunciar ao estudo dos hieróglifos que ele empreende sozinho com a ajuda da "Grammaire e do Dictionnaire" de Champollion. Seus protetores parisienses lhe obtêm um modesto posto no Museu do Louvre recebendo apenas 166,66 francos por mês, mas isto lhe permite seguir sua formação de egiptólogo e aprender o copta.

Em 1º de novembro de 1850 com 30 operários sob suas ordens começa ocorrer uma reviravolta no Egito. A escavação dura mais de dois anos, resgatando esfinge por esfinge no caminho que conduz ao templo, Mariette chega ao Serapeum propriamente dito em 11 de fevereiro de 1851 com seus recursos quase esgotados. Sem pronunciar uma palavra sobre sua descoberta, contenta se em anunciá-la oficialmente na França para obter recursos. O parlamento francês em clima de entusiasmo faz um crédito de 30 mil francos para permitir a continuação das escavações.

Em outubro de 1857 volta ao Egito encarregado de preparar a viagem de Napoleão e de reunir para ele uma coleção de antiguidades. Mariette retoma as escavações em Gizé, Sakkara, Abydos e Elefantina, o príncipe Napoleão desiste da viagem, mas Mariette convence Said Pacha a realizar seus sonhos. Em Tebas na margem oposta Luzeor, descobre o túmulo de um faraó e de uma rainha no qual encontram se belos objetos em ouro e prata. Todos os habitantes de Gournah sabiam que embaixo de seus pés havia riquezas incalculáveis, a cidade era construída sobre túmulos colocados em capelas cavadas na pedra onde desembocam poços de acesso as câmaras subterrâneas que guardavam múmias e mobiliário funerário.

A partir de 1875 os antiquários de Luxor oferecem aos ricos turistas belos objetos, especialmente papiros em excelente estado, o que em si pode caracterizar que os roubos ainda continuavam. Após a morte de Mariette, Maspero é nomeado diretor das escavações, ele empreende em Luxor uma investigação sobre o desaparecimento de artefatos egípcios. As desconfianças se concentram em três irmãos habitantes de Gournah, os Abder Rassoul, e Mohamed empregado de Mustafa, mercador de antiguidades e os outros dois traficantes de antiguidades.

Após ser preso, Mohamed, confessa ao governador da província que em 1871 eles tinham descoberto um esconderijo cheio de múmias e objetos de todas as espécies e em cinco de julho ele conduz uma comissão de investigação ao pé da falésia tebana, perto do templo de Deir-el-Bahari, um interminável corredor leva a um enorme aposento mal iluminado, com a tênue iluminação de uma vela, puderam ler inscrições sobre os ataúdes, eram os nomes dos mais prestigiados faraós das 18º e 19º dinastias: Amósis, Tutmósis I, II, III, Amenófes I, Ramsés I, II, III, os das rainhas Nefertari, Hatshepsut, Aahotep assim como príncipes e princesas, e filhos de altos funcionários da corte e muitos mobiliários funerários.
Foi deste amontoado de objetos inestimáveis que os irmãos Abder-Rassoul roubaram durante anos. Desde a 21º dinastia os habitantes de Tebas violavam a necrópole apesar das pesadas condenações. Se os sacerdotes da 21º dinastia não puderam salvar o mobiliário funerário, preservaram o essencial, assim possuímos múmias dos maiores faraós do Novo Império, isto foi para a egiptologia uma mina prodigiosa de informações.

A redescoberta do Egito foi marcada particularmente pela descoberta do túmulo de Tutancâmon. "No ano de 1892, Howard Carter, é contratado por um instituto britânico para desenhar os baixos-relevos e inscrições do templo de Montouhotep (2060 ? 2010 a.C.)." Sendo Carter designado a um alto posto de serviço no Egito, pode direcionar escavações para o Vale do Reis, onde ele estava convicto que ainda se encontraria túmulos de Faraós.
No ano de 1903, Carter recebe o apoio imprescindível do Lorde britânico Carnavon. Carnavon era muito rico e estava fascinado pelo Egito. Gaspar Maspero tratou logo de incentivá-lo a patrocinar o projeto de seu amigo Carter.

Em 1912, Carter e Carnavon, conseguem permissão para escavar no Vale dos Reis, visto que a licença de Teodoro Davis havia expirado e ele não demonstrara nenhum desejo de renová-la.

As escavações no Vale dos Reis prosseguem sem êxito até 1922, quando em quatro de novembro, trabalhadores desenterram uma escada de pedra cravada no solo. Era a porta de entrada para o túmulo de Tutancâmon.

Embora seja o menor túmulo do Vale dos Reis, este foi de importância crucial para a redescoberta do Egito justamente pelo fato de não ter sido pilhado. O túmulo de Tutancâmon estava "literalmente abarrotado de objetos: estátuas, leitos, cadeiras, poltronas, modelos de barcos, carruagens, armas, vasos, caixas e diversos tipos de pequenas caixas.".
Carter comandou uma escavação sistemática durante quatro anos, para se chegar à câmara mortuária onde repousava a múmia de Tutancâmon. No ano de 1928 as escavações no túmulo de Tutancâmon foram encerradas, sendo todos os objetos que ele continha transferidos para o Museu do Cairo.

Com um numero incalculável de documentos e manuscritos, bem como objetos de varias formas em seu poder, os profissionais: Filólogos, epigrafistas, historiadores, tiveram seus esforços facilitados e puderam definitivamente redescobrir o Egito.