Cristiano Bento de Lima

RESUMO
A análise e posterior produção textual aponta para a importância do estudo da história local nas escolas no que diz a valorização em mostrar a interação entre o educando e a história de sua comunidade, além de despertar a análise histórica e cultural de sua cidade e de sua sociedade visando uma maior compreensão no que se refere a história e a formação da memória, da história local e da cidadania . Nesta perspectiva vem mostrar através de um leque de pontos, os benefícios que esse estudo trará ao educando, ao professor e a sociedade a qual estes indivíduos fazem parte, colocando assim, o aluno como um instrumento formador da história.
Palavras-chave: História local. Memória. Cidadania
INTRODUÇÃO:
Com o aumento da busca por mão de obra qualificada, a escola prende-se em destacar apenas um ensino metódico e sistemático que exclui a formação de um cidadão ativo na sociedade por meio de sua história, assim, a disciplina "história", aplicada hoje, enfrenta o desafio de romper com o ensino pragmático e factóide que na verdade deveria ser menos mecânico e mais aplicável a algo mais significante para o jovem educando. Isso acarreta uma aprendizagem sem prazer e sem emoção, não dando nenhuma interação entre aluno e disciplina, portanto, esse tipo de estudo emerge e destaca os grandes feitos de grandes homens, não dando lugar ao homem comum que na sua comunidade produz história a partir de experiências e vivencias cotidianas. Mostra-se, portanto, pouco produtivo analisar a história a partir de uma visão universal e alheia a sua realidade e a sua forma de vida. Situar os jovens primeiro em sua comunidade e depois estender esta visão a história geral é uma forma de valorizar o aluno e o colocar como sujeito histórico.
Neste sentido, a abordagem da história local a partir da realidade social, permite alcançarmos algumas metas que são de fundamental importância na formação do cidadão, e essa proposta de partir de situações de seu cotidiano e de sua comunidade é certamente uma busca de formar a vida e não apenas para o trabalho, além de nos levar a aulas mais prazerosas e produtivas, sendo que, o conteúdo estudado estará ligado diretamente ao aluno, levando assim a um novo sentido, visto que, haverá uma interação entre aluno sociedade e escola.
Nesta relação, escola e comunidade a que pertence, o estudo da história local tende a aproximar ambas pelo fato de estarem ligadas diretamente, até mesmo na busca por melhorias e resoluções de problemas comuns, o que leva o aluno a ser participante ativo desta reforma educacional e mesmo de seu bairro, comunidade e cidade.
OBJETIVOS PRINCIPAIS DO ESTUDO DA HISTÓRIA LOCAL
Com uma abordagem histórica voltada para a história local, os alunos despertarão em si a noção de que são formadores ativos da história de sua comunidade, e não só da comunidade, mas por serem integrantes de um país, serão também sujeitos históricos de sua nação, deixando de serem objetos históricos imperceptíveis para serem sujeitos históricos, (mesmo levando em conta que grandes historiadores poderão não estudar suas vidas) eles saberão que fazem parte de uma formação histórica e que são parte integrante e de grande importância para a construção social, levando-os a uma valorização e redescoberta de sua própria história e cultura, além de se sentirem com um papel indispensável para as futuras gerações que ali em sua comunidade viverão, afinal, não são expectadores, e sim, transformadores políticos, culturais e históricos.
Vemos também através desta proposta de abordagem a formação da consciência histórica dos jovens, o que para eles poderia ser banal ou simples acontecimento, passa agora a ser uma parte de sua memória e sua história, para uma melhor compreensão coloco o exemplo da festa de padroeiro de Quixeramobim-Ce (minha cidade), nesta, toda a população se movimenta em meio à realização das comemorações do santo padroeiro, onde, a economia se movimenta de forma significante, e os autores participantes ativos desta, são exatamente os cidadãos, então, nada poderia acontecer se cada um daqueles que passam os meses que antecede a festa, economizando para que ao chegar os dias comemorativos estes venham a fazer compras e movimentar o comércio e consequentemente a festa. Devido ser uma cidade interiorana, a chegada de um parque de diversões é um atrativo a mais para as crianças, os jovens e até mesmo adultos, pois se deleitam nas brincadeiras e relembram os tempos de criança (no caso dos adultos é claro). Acontecem namoros, muitas vezes que vêm a se concretizar futuramente casamentos, e isto tornará memória para o resto da vida destes sujeitos históricos, então isso também é formação histórica e cidadania, e neste exemplo, podemos estudar as grandes comemorações nacionais a partir da grande comemoração municipal, indo assim do local para o nacional. Colocar tais exemplos em sala de aula é também fazer um comparativo entre as permanências e mudanças ocorridas nos diversos seres históricos (crianças, jovens e adultos), mostrando assim que o passado está vivo e é responsável pelos acontecimentos presentes, cabendo a estes sujeitos presentes a transformação histórica da sociedade, resgatando mais uma vez a importância da história local para a vida das pessoas.
Esta conscientização do resgate histórico, além de, fazer uma relação entre passado e presente, mostra como as pessoas são seres atuantes na construção da história e as transforma em cidadãos atuantes em sua comunidade pelo fato de reconhecer a si e ao outro, favorecendo a condições harmoniosas mesmo com tantas diferenças.
Algo bastante importante que deve ser ressaltado são a valorização e o resgate da memória através da história local, isso se dá de várias maneiras, a primeira como eu já dei um exemplo é na comparação das diversas faixas etárias participando de um mesmo meio, essa diferença trás um pouco da memória daqueles mais velhos que ali estão daí podemos tirar os relatos destes mais velhos e compará-los ao cotidiano dos jovens nos dando um leque de observações entre passado e presente, além de resgatar a memória destes cidadãos, daremos um sentido histórico para a vida dos jovens que passarão a serem conhecedores da historicidade e da construção histórica em todas as épocas e descendências, levando em conta que a partir de então verão as permanecias e não só as rupturas, visto que, o passado não é um tempo morto, esquecido e sim, vivo e atual não se limitando nos acontecimentos posteriores ao presente, mas anunciando uma perspectiva do que poderá acontecer e o fato de que no presente momento estamos ligados diretamente a este passado que nos trouxe até aqui. Esse resgate memória/história implica principalmente trazer a tona um conjunto de fatos disseminados e vestígios onde a sociedade se fundamentou e pôs seus alicerces, desta forma, podemos ver homens e mulheres vivendo múltiplas temporalidades e experiências distintas, todavia, participantes de uma mesma sociedade conduzindo a realidade existente, visto que essa experiência fortalece também a consciência histórica e o sentimento de identidade e de pertencialismo ao meio social, fatores esses que são de fundamental importância para a construção da cidadania no meio democrático, pois a consciência histórica pode-se dizer que é um pré-requisito para tomarmos decisões objetivas que venham favorecer o bem social.
O ultimo e fundamental ponto na qual venho colocar nessa experiência de se abordar a história local nas escolas é a ligação do aluno ou mesmo do cidadão com a sua cidade, nisto destacam-se o patrimônio histórico cultural (material ou não), embora o aluno na maioria das vezes não perceba e não valorize sua história, suas características comunitárias e mesmo seus traços culturais típicos de sua sociedade, estes estão e estarão ligados a ele por toda a sua vida. Estes traços ele levará para onde ele for, não deixando de lado sua memória e as lembranças de sua rua, cidade, das praças onde tantas vezes se reuniu com os amigos ou mesmo trocou beijos com a namorada, os eventos culturais na qual participou e que levará consigo para onde quer que vá. Despertar o interesse do aluno por esses patrimônios que contam também a história dos que ali vivem já é uma saída para preparar estes estudantes para o nascimento de uma consciência histórica forte, que provocará mudanças necessárias na vida dos jovens (politicamente e socialmente), algo a destacar é que estes patrimônios materiais ainda são pouco explorados, mas se trabalharmos em cima desta metodologia despertará uma visão muito mais ampla do aluno no que diz respeito à identidade do estudante com o meio em que vive, tomemos como exemplo a cidade de Jaguaribara no Ceará que devido à inundação que ocorreria em decorrência a construção de um grande açude, todos os moradores foram removidos para uma nova cidade (Nova Jaguaribara), assim, todo o patrimônio histórico material na qual a memória coletiva era despertada ficou debaixo d?água, todavia, a memória de seus habitantes estará sempre ativa e as lembranças guardadas para que possam passar para as próximas gerações. A história daquela sociedade estará sempre ligada àqueles monumentos e agora a memória dos ex-habitantes de lá, visto que, todos ainda hoje se reúnem para recordarem seus hábitos de outrora e vêm que ainda trazem consigo estes traços culturais adquiridos com o convívio com aqueles monumentos e com sua cidade em si. Em Quixeramobim (minha cidade) é impossível falarmos em barragem e não nos lembrarmos da nossa grande represa que é cartão postal e que faz a alegria de pescadores e dos habitantes, pois dela tiramos nosso abastecimento de água potável e mesmo nossas fotos quando o inverno chega, ou mesmo nossa praça da igreja matriz, palco de tantos eventos e tantos encontros, nossa escola de infância que nos trás a imagem e as lembranças de quando éramos criança e nossas brincadeiras e diversões, a rua da nossa casa onde aprendemos a andar de bicicleta, os campinhos de futebol que muitas vezes nos ferimos (e como falamos aqui "arrancamos as cabeças dos dedos") assim, encontramos história dobrando a esquina, descendo a rua, no mercado, nos muros e nas calçadas da cidade em que vivemos e em nosso meio social. Isso é história, isso é nossa vida, são nossos rastros deixados no tempo e esse resgate memorial tanto pelos monumentos quanto pelas lembranças através da memória significa a preservação dos traços culturais e da valorização do cidadão como ser ativo da história, a história na qual ele ajudou a construir juntamente com seus vizinhos.
CONCLUSÃO
A importância do estudo da história local nas escolas está na tentativa de fazer com que o aluno reaprenda e valorize a história de sua sociedade e de sua própria história, mostrando que o mesmo é partícipe da história, tornando também este ensino importante para sua vida, desconstruindo assim a idéia de que o ensino da história não lhe diz respeito, pois não está ligado a ele, rompendo, portanto, a forma de ensino tradicional de memorização sistemática de datas e fatos para a construção de um estudo participativo e investigativo por parte do professor e do aluno, reafirmando a importância e a necessidade da interação escola e comunidade, pois desta forma incentivará a reconstrução histórica da mesma.
Por fim reafirmo, é fundamental tornar nossas aulas mais prazerosas, levando os alunos a perceberem que sua própria vida já é uma grande história e que o conhecimento histórico pode ser elaborado por todos, independentemente de qualquer aspecto social político, econômico e cultural, afinal, cada passo, cada vestígio, cada transformação e cada feito nosso torna-se história, a nossa história, nossa passagem na terra deixa nossas marcas históricas, concretizando o fato de que somos seres históricos ativos, construtores de uma história que quer queira quer não, continuarão vivas, seja na memória de nossos entes, seja nos nossos feitos meio a comunidade ou mesmo nas mudanças que ajudamos a fazer. Isto é história, esse legado ninguém pode nos tirar, em certas ocasiões nem mesmo o tempo.


REFERÊNCIAS
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MENDES, Anderson Fabrício Moreira. Ensino e Vivências: as apresentações da história local no cotidiano da sala de aula.

RODRIGUES, Nelson. Por Uma Nova Escola: o transitório e o permanente em educação. São Paulo, 8ª ed. Cortez, 1992, p. 43-51