A conquista do México/Tenochtitlán: uma análise de seus principais mitos

Resumo: Neste artigo você encontrará uma análise sobre os principais mitos existentes sobre a conquista do México/Tenochtitlán, cujo objetivo é colaborar para a desmistificação desse campo da história. Em especial vou aborda três mitos, o mito místico, o mito da comunicação, e o mito da superioridade bélica. Estes são os mais difundidos mitos nos relatos da conquista por causa da forte visão eurocêntrica presente neles.

     O primeiro que irei abordar será o mito místico da conquista, depois o mito da comunicação e por fim o mito da superioridade hispânica. Quero propor ao longo desse artigo que aquilo que esses mitos defendem não foi, o fator principal que levou à conquista do império asteca, mas expor outros fatores que são “ocultos” nos relatos.     

     Usarei como plano de fundo para minhas discussões o contexto da “queda” da capital asteca Tenochtitlán, uma vez que ela representa toda a grandeza e poderio do império e quando ela foi tomada pelos espanhóis e seus aliados nativos, o império asteca desmoronou por completo. Portanto como a conquista de Tenochtitlán representa a “queda” do império asteca meu artigo se refere ao espaço de tempo que vai de dezoito de fevereiro de mil quinhentos e dezenove (início da missão de Hernan Cortes), até treze de agosto de mil quinhentos e vinte e um (queda do Império asteca).

Palavras-chave: Conquista, Mitos, eurocêntrismo, Alianças

Abstract: In this article you will find an analysis on the main existing myths about the conquest of Mexico / Tenochtitlan, whose goal is to work for the demystification of this field of history. In particular I addressed three myths, the mystical myth, the myth of communication, and the myth of the superiority war, which in my research I noticed that: they are the most widespread reports in the conquest because of the strong view this Eurocentric them. The first is that I will address the myth of the mystical conquest, then the myth of communication and ultimately omitted from the Hispanic superiority. I have throughout this article what those myths were not defending the main factors that led to conquer the Aztec empire, but expose other factors that are "hidden" in the reports. I will like to plan my discussions the context of the "collapse" of the Aztec capital Tenochtitlan, as it represents all the greatness and power of the empire and when she was taken by the Spanish and their native allies, the Aztec empire collapsed entirely. So as the conquest of Tenochtitlan represents the "fall" of the Aztec empire my article refers to the time-frame that will eighteen-February, one thousand five hundred and nineteen (start of the mission of Hernan Cortes), until thirteenth day of August one thousand five hundred and twenty-one (fall of the Aztec Empire).
 

Key words: Conquest, Myths, Eurocentrism, Alliances

 

O mito místico da conquista

   

        “Ate parece que foi Deus que lutou por nós, tamanha era a multidão que nos cercava e sua determinação para a luta”1

       Início minha discussão sobre a conquista do império asteca com essa citação da carta de Cortez, por nela está bem clara a questão da “intervenção divina” em prol dos espanhóis. É com Matthew Restall bem coloca, é muito comum encontrarmos nos relatos da conquista, principalmente por porte dos conquistadores, “um punhado de espanhóis cercados por todos os lados de guerreiros indígenas prestes a destruí-los”, quando dirrepente eles se salvam por um “milagre”. ”Lutamos o dia todo e quis nosso senhor que a noite caísse e os combates cessacem”2. No livro “Os sete mitos da conquista espanhola”, Restall abordar, essa questão da “intervenção divina” na conquista, ele coloca que por trás desse discurso, há toda uma imposição ideológica para justificar os eventos da conquista (a morte e destruição). Ou seja, ao se atribuir que Deus o tempo todo favorecia os espanhóis se estaria ao mesmo tempo afirmando a “superioridade da cultura européia”, que se dizia a possuidora da verdadeira religião sobre a cultura dos nativos americanos, a que se atribuía a falsa religião. Sendo assim as batalhas, as mortes e as destruições, tinham uma justificação: levar ao mundo bárbaro pagão o que era “civilizado” a religião cristã. Esse discurso da intervenção divina acabou servindo como um bom motivo para a destruição da cultura dos nativos, pois se acreditava que se faziam tudo isso em nome dos “empreendimentos de Deus”. Não quero passar a falsa impressão ao leitor (a) deste artigo que todos os espanhóis daquela época eram todos “um bando de ordinários e vigaristas” que criaram o discurso da intervenção divina somente com o propósito de justificar suas ações. É claro que, boa parte dos espanhóis envolvidos com a conquista, pensava realmente que estavam servindo aos “desígnios de Deus”. Mas o principal problema aqui é a carga ideológica preconceituosa impregnada nesse discurso e sua repercussão no decorrer da história da América e na mentalidade das pessoas que influenciou na forma de ver o acontecimento da conquista, ou seja, o passado pagão da América tende a ser marginalizado enquanto que a chegada dos europeus marca uma época importante da América (claro que dentro da perspectiva eurocêntrica).

        Além disso, esse discurso acaba também escondendo a atuação de outros elementos presentes no acontecimento da conquista que foram de vital importância para entendê-lo melhor. É como Restall coloca nesse trecho: “...A sua vontade, suas bênçãos, sua intersessão – parece de tal modo emprenhadas no linguajar corrente da época que não podem ser consideradas nada além de fachadas convenientes para explicações e entendimentos complexos.3

      Outro ponto pertinente dentro do mito místico da conquista é o caso de se dizer que os espanhóis por terem sido considerados “deuses” ou possíveis deuses pelos astecas, eles tiveram mais vantagens no campo de batalha. Essa questão é bastante complicada porque dentro da visão eurocêntrica, quando os espanhóis foram confundidos com os deuses astecas, provava-se a superioridade destes em relação aos nativos. Mas analisando as fontes, não foi bem assim, que as coisas aconteceram. Havia sim uma grande desconfiança se os espanhóis eram ou não deuses dos astecas. Mas para entendermos melhor o motivo pelo o qual os espanhóis poderiam ser considerados os deuses dos astecas, precisamos regredir no tempo cerca de dez anos antes da chegada dos espanhóis à América quando aconteceram alguns fenômenos que foram interpretados como sinais da volta dos seus deuses, e falar um pouco sobre a religião do império asteca. Dentro do imaginário asteca sobre sua origem Quetzalcoaltl teria trazido seus ancestrais de uma terra desconhecida para ali viverem e que depois retornou para aquela terra estranha. Isso pode ser confirmado pelo relato em que Cortez narra uma conversa com Montezuma. 

 “E soubemos que nossa geração foi trazida a esta parte por um senhor, de quem todos eram vassalos, o qual voltou a sua terra e depois tornou a vir, desde muito tempo, tanto tempo e os que haviam deixado já estavam casados com as mulheres nativas da terra, havendo muitas gerações e muitos povoados...4

Além dessa crença aconteceram vários sinais, como já falei anteriormente, que foram interpretados pelos astecas como anúncios que seus deuses estavam voltando. A seguir exponho alguns desses sinais registrados no Códice Florentino.

        “...Uma espécie de espiga de fogo, de chama de fogo, de aurora: parecia estar gotejando, como se estivesse espetada no céu.”5

        “...Por si mesmo abrasou-se em chamas, foi tomada pelo fogo: ninguém talvez tinha posto fogo, mas por si mesmo incendiou-se a casa de Huitzilopo Chtli”6   

“...Ferveu a água, o vento a fez alvoroçar-se fervendo. Como se fervesse em fúria, como se em pedaços se rompesse ao revolver-se.”7

        Por esses dois motivos os astecas achavam que Cortez e os outros espanhóis poderiam ser seus deuses. Mas vale salientar que sempre existiam, aqueles que nem sequer acreditaram neles. Tanto que ao se depararem com os espanhóis pela primeira vez não os trataram como deuses, pelo contrário, eles os atacaram ferozmente.

”...Eu me aproximei deles e tentei conversar através de um interprete, mas eles começaram a atirar lanças e a gritar por outros que vieram se juntar a eles, chegando a somar quatro ou cinco mil índios.”8 

 Em outras ocasiões o povo asteca desejava que eles fossem embora das suas terras, se os espanhóis tivessem sido associados logo de primeira como “deuses”, eles não teriam recebido esses tratamentos. O próprio Montezuma através dos seus mensageiros mostrou-se inseguro, se acreditava ou não que Cortez e seus companheiros poderiam ser seus deuses, tanto que buscou evitá-los de qualquer forma como podemos ver nesse trecho do códice Florentino.

   “...Pois quando Montezuma ouvia que muito, se perguntava sobre ele, e se investigava sobre sua pessoa, que os deuses desejavam muito ver seu rosto, seu coração se apertava inundava-se de enorme angustia estava para fugir, tinha desejos de fugir; desejava ardentemente escondesse fugindo, estava para fugir...”9

        Este receio de receber os espanhóis por parte de Montezuma é também confirmado pelos relatos de Cortez “e pedia que não fosse a sua terra”10. Os Astecas buscam até mesmo encurralá-los em algumas armadilhas para destruí-los. “A índia que trazia comigo como interprete soube por outra nativa que eles haviam retirado todas as mulheres e crianças da cidade e que pretendiam matar todos nós11. Só depois de muita insistência, é que Cortez consegue falar com Montezuma. E é nesse episódio que podemos afirmar que os astecas realmente pensaram que os espanhóis poderiam ser mesmo seus deuses (ou pelo menos os trataram assim), uma vez que Montezuma junto com seus senhores principais os saúdam com o cumprimento de beijar o solo feito somente aos deuses. “...Ao chegarem diante de mim cada um fazia uma cerimônia que é comum aqui e que consiste em se abaixar, colocar a mão sobre a terra e beija-la.”12. Essa saudação, destinada aos deuses pode ser afirmada no livro Colloquios de Los Doce onde, um senhor principal asteca defende as crenças do seu povo dos ataques feitos pelos franciscanos. “... Eles nos ensinaram todas as formas e culto, todos os seus modos de louvar (os deuses). Por isto, diante deles aproximamos a terra a boca.13

Porém isso não que dizer que todos os astecas acreditaram realmente que os espanhóis eram seus deuses, certamente havia aqueles que não acreditavam e a desconfiança pairava no ar. Até mesmo Montezuma não ver Cortez como um “deus” depois de tê-lo conhecido, pois ele o chama de mortal assim como ele é. “... E tirando suas roupas e mostrou seu corpo dizendo: Vide que sou de carne e osso como vós e como qualquer um, que sou mortal e polpável.”14.  Este bem claro aqui que Montezuma não acreditava que Cortez fosse um deus, na verdade Montezuma acreditava que Cortez estava apenas servindo a Quetzalcoatl, como o próprio Cortez confirma ter o feito acreditar. “... Eu lhe respondi tudo que perguntou, satisfazendo aquilo que convinha, em especial fazendo-lhe crer que vossa majestade era quem eles esperavam15

 Porém essa situação dos espanhóis serem considerados como possíveis deuses ou seus servidores não durou muito tempo. Os astecas ao verem o mau comportamento dos espanhóis, sua ganância e seu desrespeito com os costumes locais, cada vez mais eles não acreditavam nessa idéia. Até que no dia da festa de Toxcatl (uma festa religiosa em que muitas pessoas se reuniam para adorar os deuses) em 1520 quando Cortez precisou se ausentar de Tenochtlan para combater outro espanhol, chamado Pánfilo de Narvaz que queria tomar seu lugar no comando daquelas terras, sendo enviado por Diego Velazquez (governador do que hoje chamamos de Cuba). Pedro de Alvarado, um dos companheiros de Cortez, decidiu atacar o povo que estava reunido em algum templo, afim de, conseguir algum mérito para si. Então Alvarado reuniu seus homens e massacrou inúmeras pessoas que estavam no templo e que não puderam se defender do ataque inesperado. Esse trecho do códice Florentino ilustra bem toda a violência com que os espanhóis agiram:

“...Mas a outros golpearam os ombros: descarnados, dilacerados caíram seus corpos. A uns feriram nas coxas, a outros na barriga nas pernas, aos demais em pleno abdomem. Todas as entranhas caíram por terra. E havia alguns ainda em vão corriam: arrastavam os intestinos e pareciam emaranhar-se neles. Na ânsia e por-se a salvo, não sabiam onde se dirigir...”16

Esse acontecimento foi a “gota d’água” para os astecas, como aqueles homens estranhos poderiam ser seus deuses? Se eles estavam destruindo seu povo e desrespeitando sua cultura? Então ao invés de, os considerar como deuses, passaram a vê-los como “bárbaros”, Popotocas (termo asteca usado para designar aqueles que eram “bárbaros”). Toda a população de Tenochtitlán se revoltou com o acontecimento, o que provocou a primeira grande batalha entre astecas e os espanhóis, em que os espanhóis conseguem fugir da cidade, porém com muitas perdas como afirma Cortés nesta passagem de uma de suas cartas:

“... Depois de cessados os combates resolvemos fazer um levantamento de nossas perdas e constatamos que morreram cento e cinquenta espanhóis, quarenta e cinco cavalos e mais de dois mil índios que serviam aos espanhóis..25.”17

Portanto, levando em consideração tudo que foi exposto até aqui, podemos concluir que mesmo que os espanhóis tivessem sido tomados realmente como “deuses astecas”, estes não puderam tirar muito proveito disso, pois logo passaram a ser vistos como bárbaros que queriam destruir o que era “civilizado”, a cultura asteca. Por isso ao afirmar que nas batalhas entre astecas e espanhóis, estes últimos tinham mais vantagens por terem sido considerados como deuses é um erro, pois como já tinha colocado: primeiro havia uma grande desconfiança e depois do massacre do templo, passaram a ser vistos como bárbaros que deveriam ser destruídos.

 

O mito da superioridade Hispânica

 

        Matthew Restall trabalha também a questão do mito da superioridade cultural e técnica dos espanhóis em relação aos astecas. Restall mostra que na perspectiva eurocêntrica os astecas são vistos como aqueles que possuem uma “cultura atrasada” cheia de fatalismo e misticismo e por causa disso estavam sempre em desvantagem ao enfrentarem os espanhóis porque esses tinham uma “cultura superior” livre de qualquer superstição. Em outras palavras dentro da visão eurocêntrica o confronto entre espanhóis e astecas, e todos outros nativos da América, representou o confronto entre “civilizados e bárbaros”.

        Mas o que é ser civilizado? A resposta para essa pergunta vai depender do ponto de vista de quem vai responder. Assim como os espanhóis se julgavam ser “civilizados” por alegarem ter os costumes, valores e a “religião verdadeira”, para os astecas todo aquele que não tinha seus costumes, valores e crenças, era “bárbaro”. Mas porque durante muito tempo, a história da humanidade foi, a história dos “vencedores”, se colocou os espanhóis sempre como os civilizados, e os astecas como bárbaros o que não é certo, pois cada povo pode ser civilizado ou bárbaro a depender do ponto de vista que se toma.

         Vamos analisar agora alguns aspectos culturais dessas duas culturas, asteca e espanhola, e confrontá-las para então chegamos a um entendimento mais aprofundado sobre esse assunto de ser civilizado ou bárbaro. O primeiro aspecto que irei analisar aqui são os rituais de guerra que no caso dos astecas foi usado como uma das “justificativas” para descriminá-los como uma cultura “atrasada e primitiva”, pois estes ao ritualizarem, as práticas da guerra mostravam-se serem “profundamente místicos” e absolutamente subservientes às determinações divinas de acordo com a visão eurocêntrica. Sabemos que realmente os astecas praticavam esses rituais como está registrado nas fontes, como também nos relata Cortez nesse trecho de suas cartas: “Passamos a noite ouvindo os inimigos fazerem muito barulho com atabales e gritos.”18

        Mas se os astecas são de uma cultura totalmente subserviente à religião, os espanhóis também não escapam a essa subserviência à religião. Benjamim Keen equivoca-se ao dizer que os espanhóis por serem seres da renascença viam a guerra como a ciência ou arte isso é bem contraditório uma vez que os próprios conquistadores atribuem todos os eventos importantes a vontade de Deus (como já vimos no inicio desse artigo), se critica também que tais rituais dos astecas ofereciam a eles desvantagens nas batalhas, pois os impediam de fazer um ataque surpresa. A esse respeito devíamos observar o seguinte: quando os astecas estavam lutando em sua capital Tenochtitlan os atabales e os gritos acabavam mexendo com o psicológico dos inimigos ao escutarem tamanha multidão pronta para a guerra. E se os astecas antes de ir guerrear, faziam rituais religiosos os espanhóis também faziam seus rituais religiosos no caso a missa. Nos relatos de Cortez podemos ver que antes de entrar em combate com os nativos os espanhóis costumavam rezar a missa. Ora é a mesma prática de recorrer à ajuda do sobrenatural para vencer só que feita de forma diferente por ambas as culturas.

        E por fim dizer que esses rituais impediam que eles fizessem um ataque surpresa é um erro, pois o próprio Cortez nos relata pelo menos dois ataques inesperados por parte dos nativos. Este é um deles:

        “A meia-noite veio contra nós uma multidão pelas calçadas e por água, mas como estávamos atentos os combatemos, embora surpresos, pois eles nunca haviam lutado durante a noite”19

        Portanto afirmar que a prática religiosa asteca oferecia desvantagens nas batalhas contra os espanhóis é apenas mais uma forma de descriminá-los como inferiores dentro do ponto de vista eurocêntrico. Mas realmente fazer ataques surpresa ao inimigo, poderia ser algo um tanto incomum dentro da cultura bélica dos astecas, pois esses quando iam conquistar outros povos nativos anunciavam que iria conquistá-los, e que se rendessem senão iria atacá-los. Isso pode mostrar um traço moral da cultura asteca, atacar um inimigo desavisado poderia ser desonroso para um guerreiro asteca, ao passo que para um espanhol fazer coisas desonrosas como: atacar pelas costas e matar mulheres e crianças eram justificáveis em nome dos “empreendimentos de Deus”.

         Atacar o inimigo desavisado poderia ser mesmo uma coisa incomum entre os astecas, mas quando isso se tornou necessário os astecas o fizeram.

        Diz-se também que por causa da cultura que os astecas tinham de capturar os inimigos vivos para depois sacrificá-los aos seus deuses, os espanhóis tiveram mais vantagens nas batalhas. Ora acreditar nesse discurso é ser muito ingênuo e negar os próprios relatos da conquista. Sim os astecas realmente tinham esse costume, mas quando eles viram que os espanhóis apenas queriam destruí-los, e tomar-lhes suas riquezas, no furor da batalha não hesitaram em matá-los quando tinham a oportunidade de fazê-lo. “Depois de cessados os combates resolvemos fazer o levantamento em nossas perdas e constamos que morreram cento e cinqüenta espanhóis”20.

 

É claro que alguns espanhóis foram capturados para serem sacrificados, mas isto era feito em momentos convenientes ou quando eles viam que tais sacrifícios eram necessários para pedir ajuda aos deuses.

        “Os nossos tiveram que se lançar a água e três espanhóis foram capturados e logo sacrificados, o mesmo ocorrendo com alguns de nossos amigos21.

        Esse trecho da carta de Hernam Cortez ilustra bem o que tinha dito sobre a conveniência e da necessidade de se fazer tais sacrifícios. Foi conveniente neste episódio porque os espanhóis foram pegos despercebidos e foi necessário porque os astecas já tinham perdido boa parte de Tenochtitlan para os espanhóis e por causa disso acreditavam que deveriam sacrificá-los a fim de conseguirem algum benefício dos seus deuses para reverter tal situação. Além disso, temos que reconhecer que tal ato causou um pacto psicológico nos espanhóis.

        “O fato me entristeceu muito, pois servia para dar forças ao nosso inimigo22.  

 Portanto se dizer que a cultura asteca favorecia os espanhóis só se está contribuindo com a visão eurocêntrica, que usa esse discurso para subjugar as culturas nativas da América como inferiores a sua, e assim propagar a falsa idéia da superioridade hispânica.

        Outro ponto de grande discussão sobre a conquista do império asteca é a questão da superioridade técnica que se diz que os espanhóis tinham. Este discurso é colocado como muitos relatos da conquista como seu fator principal. As armas de fogo dos espanhóis são apontadas nesses relatos como as mais eficientes que aquelas dos nativos e por causa disso, esses últimos não tiveram a menor chance porque usavam armas primitivas. Esse discurso cria na verdade uma fantasia a cerca da tecnologia do século XVI nas mentes das pessoas fazendo com que estas tenham uma visão completamente distorcida de como eram realmente essas armas. E é justamente isso que irei abordar aqui, visando derrubar essa falsa idéia que as armas de fogo dos espanhóis foram o principal fator que levou o império asteca a cair.

        O primeiro aspecto a ser discutido aqui é o de como eram essas armas e o seu verdadeiro grau de eficiência que possuíam em nosso continente. Devemos lembrar que as armas do século XVI eram bem diferentes das que temos hoje e que em relação aquelas do século XVI são relativamente mais fáceis de usar e de maior eficiência no combate. As armas de fogo usadas contra os astecas e outros povos nativos foram principalmente o arcabuz, o canhão e o mosquete que eram armas muito pesadas e difíceis de serem usadas e de baixa eficiência.

        As armas acima citadas eram de baixa eficiência, principalmente em combate a curta e a longa distância, por causa do seu difícil manuseio. Um espanhol que estivesse próximo de um inimigo asteca, apenas usando um arcabuz, facilmente poderia ser abatido, se por acaso não jogasse essa arma no chão e pegasse sua espada como nos mostra Restall:

“Os espanhóis que possuíam armas de fogo teriam sorte se conseguissem disparar um tiro que fosse antes de virarem a arma ao contrário para usá-la como clava ou jogá-la ao chão para concentrarem o manejo da espada”23.

        Além dessas limitações técnicas essas armas de fogo possuíam mais duas limitações que eram seu transporte principalmente no caso dos canhões, pois nas grandes viagens não havia estradas ou rios navegáveis que facilitassem o transporte.

        E outra necessidade que essas armas tinham era de precisarem de pólvora seca, pois a menor umidade impediria que a pólvora explodisse. Então por causa da limitação climática da América que é em grande parte tropical e subtropical, podemos afirmar com segurança que as armas de fogo não foram usadas freqüentemente contra os astecas na batalha de invasão de Tenochtitlan, o que pode ser confirmado nas palavras do próprio Hernam Cortez: “Como era tempo de chuva também lhes pedi que trouxessem material e construíssem um acampamento real cabanas para os nossos.”24

        E acima de tudo a quantidade dessas armas era muito limitada relativamente para o grande número de inimigos que os espanhóis tiveram que enfrentar. Algo que também é pertinente abordar aqui sobre o acervo bélico espanhol é o uso dos cavalos e cães de guerra que nos relato da conquista são muito mistificados, como coisas que apavoravam os nativos, e que conferiam aos espanhóis uma “grande vantagem”.

        Mas como no caso das armas de fogo tratado acima isso não era bem assim. É claro que não existiam animais como estes na América, o que teriam logo nos primeiros combates entre astecas e espanhóis, causando um impacto para os nativos americanos (pelo menos nos primeiros embates entre eles). Porém quando os astecas perceberam que ao atingi-los com suas armas estes morriam, o efeito do “impacto” dos primeiros combates perdeu-se. Na verdade mesmo nas primeiras batalhas entre nativos e espanhóis, houve nativos que não se impressionaram com esses animais a ponto de atacá-los e matá-los.

        Os nativos americanos poderiam ter ficado admirados ao verem esses animais, mas isso não os impedia de atacá-los. “Eles lutaram conosco, matando os cavalos, ferindo outros três e mais três pessoas25.

        Esse relato de Cortez é ainda do inicio de sua jornada quando este estava viajando pelas terras dos nativos americanos a fim de fazer aliados, portanto, os indígenas  que deferiram esse ataque contra os espanhóis possivelmente não tinham ainda visto esses cavalos o que não os impediu de matá-los. Quanto aos cães, segundo as cartas de Cortez nem se quer foram usados contra os astecas, pois ele não fala nada sobre o uso de cães de guerra nas batalhas.

        A idéia que os nativos americanos se apavoravam com os cavalos e cães de guerra, era mais da cabeça dos próprios europeus, como nos coloca Restall:

        “No entanto esse suposto medo nutrido pelos índios ficava mais na esfera do desejo dos invasores”26.

        E assim como as armas de fogo, os cavalos e cães possuíam limitações a seu uso.

        “Cavalos e Cães permaneceram em número limitado durante a maior parte da conquista, e ambos só poderiam ser utilizados em batalha sob determinadas circunstâncias – os cavalos em terreno aberto e os cães, a curta distancia, de preferência contra pessoas desarmadas”27.

        Não quero passar pelo que estou expondo até aqui, que os cavalos não foram importantes na conquista do México / Tenochtitlan, realmente quando a batalha era em terreno plano os cavalos tinham um bom desempenho eles também davam melhor facilidade de deslocamento para aqueles que o possuíam nas longas expedições. Mas lembremos que número de cavalos era limitado por serem muito caros de ter e manter, Restall nos revela, que o cavalo era, “o símbolo de status” para o europeu, daí a tamanha importância que a eles era dada pelos conquistadores. O próprio Hernam Cortez fala muito mais da atuação dos cavalos nas batalhas do que qualquer outra coisa.

        Mas isso não quer dizer que os cavalos foram “o fator principal da conquista”, Restall por sua vez indica que se fossemos escolher a arma espanhola mais eficiente durante a conquista, seria a espada dos espanhóis por causa da sua resistência e forma que garantiam aos espanhóis, se manterem na batalha por mais tempo.

        “As únicas armas, portanto cuja eficácia é indubitável eram as espadas de aço; sozinhas valiam mais que um cavalo, uma arma de fogo e um mostim juntos”28.        Mas como o arsenal bélico espanhol com o qual Cortez contava na batalha do cerco a Tenochtitlan era muito pequeno para a grande quantidade de guerreiros astecas que ele teria que enfrentar (Cortez apenas tinha cerca de oitenta e seis a cavalo cento e dezoito balisteiros e escopeteiros, setecentos e tantos peões de espadas e escudos, três tiros grossos de ferro, quinze tiros pequenos de bronze e dez quintais de pólvora).

        Só isso não daria para vencer os milhares de guerreiros astecas com suas lanças, flechas e pedras, porque eram tantos que não havia arma de fogo, cavalo ou espadas que descem conta, o próprio Cortez admite, que se chegavam até ficar sem munição ao enfrentá-los.

        “Vimos ali um número infinito de canoas e de gente de guerra e fomos forçados a entrar em combate com eles o qual foi muito difícil, pois embora tenhamos vencido tivemos dez homens feridos, enquanto que os balisteiros e os escopeteiros ficaram sem pólvora e sem flechas”29.       Espero que pelo que expus até aqui esteja claro que as armas dos espanhóis não foram decisivas na conquista de Tenochtitlan, é apenas mais um mito da conquista que deve ser sempre combatido.

        Outro fator a que se atribui a queda de Tenochtitlan foram as doenças vindas do velho mundo, como a varíola e o sarampo. Certamente que essas doenças mataram milhões de nativos durante toda a história da colonização da América, o que facilitou bastante sua ocupação pelos europeus. Porém no caso da conquista de Tenochtitlan não podemos atribuir às doenças “o fator principal da conquista”, pois elas ainda não estavam tão disseminadas a ponto de transformar os exércitos de guerreiros astecas, em exércitos de doentes. Cortez nos relata que seus inimigos astecas o atacavam com muita avidez nas batalhas, como então eles fariam isso se estivessem doentes?

        “Os capitães deles, que viam na frente, brandiam as espadas que haviam tirado de nós em Tenochtitlan, quando em nossa derrota anterior, vinham todos gritando: México, México; Tenochtitlan, Tenochtitlan além de muitas injúrias e ameaças para nós.”30

        Podemos inferir pelo que foi trabalhado até aqui que ao se atribuir a conquista a fatores europeus: Cultura, armas, doenças, intervenção divina, só se está omitindo aquilo que foi possivelmente o mais importante fator para a queda do império, sendo esse não europeu e sim nativo e em segundo plano africano. Em outras palavras estou falando do que Restall chama de os “guerreiros invisíveis” da conquista. Sem eles, os guerreiros invisíveis, Cortez e seus companheiros espanhóis certamente não teriam conseguido vencer o império asteca, naquela época e naquelas condições, tendo em vista seu pequeno número e as limitações de suas armas de fogo que em um combate corpo a corpo de pouca utilidade teriam.

        Portanto eles precisavam que outros que abrissem o caminho na frente de batalha para que eles passassem apenas fazendo a cobertura, é ai então que entra os guerreiros africanos e os aliados nativos de Cortez, que ao longo da história suas participações nos eventos da conquista foram omitidas por causa do eurocêntrismo empregnado nos historiadores. Mas trabalhos como os de Restall têm colaborado para mudar este quadro de sonegação dos africanos e dos aliados nativos da conquista. Restall nos indica nos relato da conquista, os africanos são os mais omitidos por causa do seu “status de escravo” que a eles conferiam a pior das coisas que alguém podia ser (escravo) o que fez com que eles fossem quase “apagados” da historia da conquista do México.

        Contudo como Restall bem coloca: “Não obstante, reunidas as peças, sua participação é incontestável.”31

        Restall usa como uma das provas da participação e da importância dos africanos na conquista do México, os festivais teatrais feitos após a conquista do México. Nesses eventos tanto africanos e nativos contracenavam ao lado de Cortez e assim de acordo com o papel assumido por cada um, podia-se ver o papel que cada um desses desempenhou na conquista. No caso dos africanos em um desses festivais eles encenam uma tropa espanhola que chegava para apaziguar os conflitos entre os nativos americanos, nessa tropa havia até mesmo um negro e uma negra representando o rei e a rainha da Espanha. Daí se tirava várias interpretações:

“Para os espanhóis, a participação de africanos e nativos assinalava a redução, pela conquista de todos os não hispânicos agentes do colonialismo ou meros coadjuvantes dos conflitos militares. Para os nativos o papel dos negros era agridoce: ao mesmo tempo em que recordava a participação militar africana na invasão espanhola, parodiava essa mesma invasão ao representá-la integralmente negra – monarquia incluída. Para os africanos a entrada a cavalo em cena deve ter constituído uma briosa celebração de suas proezas marciais de um status de conquistadores ao qual tão raramente se conseguia reconhecimento público”32.

       

      Isso deixa mais que claro a participação dos escravos na conquista. É importante expor aqui também o destaque que alguns africanos tiveram durante a conquista como o caso de Juan Valiente, um escravo negro que se tornou um grande conquistador. Muitos africanos que participaram da conquista do novo mundo viram nela a oportunidade de conseguirem sua liberdade e algum bem para desfrutar, o que fez certamente que se empenhassem bastante nas batalhas contra os nativos americanos.

        Todavia os guerreiros africanos não foram decisivos, pois estes também eram de número limitado por serem também bastante caros de se conseguir, por isso eles também não foram decisivos. Mas então qual foi “o fator decisivo da conquista”?

     Cortez nos seus relatos da conquista de Tenochtitlan, principalmente no início de sua jornada revela uma profunda preocupação em conseguir ajuda dos nativos. Isso fica bem claro quando Cortez chega a uma ilha chamada Cuzumel e se esforça bastante para conseguir a confiança dos seus habitantes, Cortez sabia que com os poucos recursos que dispunha, não poderia enfrentar os milhares de nativos daquela terra.

        Por isso nos seus primeiros contatos com os nativos sempre buscava se mostrar amistoso a fim de trazê-los para o seu lado (mas quando Cortez conseguiu mais poder seu discurso se tornou mais opressor se utilizando da força para submeter os nativos). “Rogou aos capitães para que os atraíssem da melhor forma possível, mas que não os fizessem mal algum, nem as suas pessoas, nem as casas, fazendas e plantações”33

        E por mais que os nativos o evitassem eles não desistiam “pois ele de nenhuma maneira partiria desta ilha sem falar-lhes”34.

        Temos que admitir que Cortez, foi uma figura importante para conquista do México. Sua persistência e audácia demonstrada durante a conquista é de causar admiração a qualquer um que tenha lido suas cartas. Ele com ajuda de seus interpretes consegue se comunicar (embora imperfeitamente, com esses povos nativos) e fazer muitos aliados. Mas porque os nativos americanos se aliaram a Cortez? A resposta é simples, existiam muitas rivalidades entre os vários povos que habitavam o México, Cortez ao perceber tais rivalidades tirou proveito da situação, ora apoiando a uns, ora jogando uns contra os outros. Quando os espanhóis tiveram que enfrentar o império asteca essas rivalidades os beneficiaram bastante. Lembremos os astecas constituíam um grande império, e como todo grande império possuíam muitos inimigos e rivais.

        Segundo Henrique Peregalli em sua obra chamada: “A américa e os europeus encontraram”, o império asteca era uma confederação dividida em trinta e oito províncias, onde conviviam povos de diferentes línguas, costumes e religiões35. Muitos desses povos submetidos ao império asteca estavam insatisfeitos com sua situação de subordinação que implicava ter que pagar impostos ao império.

        Quando Cortez querendo fazer alianças a fim de derrubar o império asteca, os nativos viram nele a chance de usá-lo para vencer aqueles que os dominavam, os astecas. Era então aquela velha idéia que “o inimigo do meu inimigo é meu melhor amigo” que acabou facilitando as alianças entre espanhóis e nativos. Além do mais, o que Cortez está fazendo não era nenhuma novidade, os próprios povos nativos da região já haviam, um pouco antes de Cortez chegar, se rebelado contra o império asteca.

     “No século XV os astecas atacaram repetidamente os mixteclas, que se aliaram aos zapotecas para enfrentar tão poderoso inimigo, ao mesmo tempo que unificavam seus exércitos. Quando os navios europeus se aproximaram do México, fazia apenas dois anos que os mixtecas tinham sido submetidos.”36

        Portanto, podemos afirmar que ambas as partes tanto os nativos com os espanhóis, buscavam tirar proveitos uns dos outros. Não havia uma simpatia entre espanhóis e nativos e sim um jogo de interesses entre si.

     Sabemos que Cortez conseguiu fazer muitos aliados entre eles os povos de: Tascartecal, Guazinicanogo, Cuacalco, dentre outros. Mas isso não quer dizer que era fácil fazer essas alianças com os nativos. Um bom exemplo disso foi o que aconteceu entre os espanhóis e o povo e das Tascaltecal. Cortez nos narra que quando se dirigia junto com os outros espanhóis e seus aliados para a terra desse povo foram atacados pelo caminho, mas Cortez não desistiu, pois ele ficou sabendo que esse povo era inimigo de Montezuma e que sua ajuda seria valiosa, então Cortez com sua tropa prosseguiu o caminho e depois de muitas mortes e destruição e algumas mãos cortadas o povo de Tascaltecal se uniu a Cortez.

     “Veio a mim Sicutencal, o capitão geral dessa província, com até cinqüenta assessores principais, e me rogou de sua parte e da de Magiscatzin, que os admitisse ao real serviço de vossa majestade e que os perdoasse os erros do passado porque não os conheciam, que até então viviam como súditos de Montezuma...”37.

        Depois disso o povo de Tascaltecal se mostrou um aliado muito importante para os espanhóis, o que pode ser comprovado no episódio em que os espanhóis fogem de Tenochtitlan se refugiando nas terras desse povo e onde também receberam o apoio para a construção dos bergantins que serviram no cerco de Tenochtitlan.“Fiquei vinte dias nessa província de Tascaltecal tratando dos enfermos mesmo assim, alguns morreram...”38

        Vimos que o povo de Tascaltecal só se aliou a Cortez depois dele ter usado da força para submetê-los. Muitos que se uniram a Cortez o fizeram temendo os danos que Cortez poderia fazer-lhes. Ora, em uma guerra lutar em sua própria casa é muitas vezes desvantajoso, pois os danos são muito maiores para os que são da casa. Os nativos tinham muito mais em jogo do que os espanhóis, estes só tinham suas vidas a perder, enquanto os nativos tinham suas terras, plantações, suas casas, suas famílias para defender. Isso fazia com que fossem mais suscetíveis a fazer alianças com os espanhóis.

        E à medida que Cortez conseguia mais vitórias contra os astecas, mais nativos se uniam a ele, ora por temê-lo como inimigo ora por querer ajudar a vencer os astecas. Assim Cortez conseguiu uma grande quantidade de aliados que chegaram a milhares, como ele mostra em suas cartas. “Assim foi avançando com ajuda dos bergantins e de oitenta mil homens de guerra de Tascaltecal, Guasucingo, Calco e Tezcuco”39

        Portanto podemos afirmar que a conquista de Tenochtitlan foi uma batalha que ocorreu muito mais entre nativo contra nativo do que nativo contra espanhol. Os aliados nativos iam à frente abrindo o caminho, como “bucha de canhão”, enquanto os espanhóis mais protegidos davam reforço no combate. E somente quando era necessário, saiam com seus cavalos de encontro aos guerreiros astecas a fim de espalhá-los para facilitar o combate.

        Isso explica porque tão poucos espanhóis morriam ou se feriam em relação aos nativos aliados, nas batalhas contra os astecas. Os nativos aliados de Cortez na condição de “escudos humanos” recebiam a maior parte do impacto do ataque asteca, enquanto os espanhóis recebiam danos mínimos.

        É pertinente também colocar aqui que o apoio dos nativos não se restringia ao campo de batalha, estes também forneciam recursos para os espanhóis como alimentos e mão-de-obra. Tomemos como exemplo a construção dos bergantins em Tascaltecal. Por esses motivos o apoio dos nativos foi imprescindível à conquista do México, sem eles repito Cortez naquela época e naquelas condições não teria conseguido conquistar império asteca. Um povo muito guerreiro que mesmo prestes a derrota eminente preferiram morrer lutando duque se entregarem.

     “Mesmo que lhes fizéssemos ver tudo isso e mais ainda, ficariam sem milho, sem carne, sem frutas ou qualquer outro alimento, não davam mostra de mudar de opinião. Pelo contrario, mas se dispunham a lutar.”40

        Finalmente depois de cerca de oitenta dias de cerco à cidade de Tenochtitlan os astecas são derrotados pelos espanhóis e seus aliados. E agora depois que o inimigo comum desaparece, o que acontece? Simplesmente os que eram antes aliados se tornaram inimigos. Cortez para muitos que foram seus aliados já tinha tido sua utilidade sendo este agora um “estorvo” para as ambições nativas, então era preciso se livrar dele, o que deve ter sido tentado várias vezes. Essa pretensão dos nativos de se livrarem de Cortez é encontrada no seguinte trecho da carta de Cortez a seguir:

     “Todavia, nesse meio tempo vieram a mim alguns índios do México e de outras províncias para me dizer que havia uns vinte navios que andavam pela costa com muita gente, mas que esta não descia a terra. E disseram que se eu os quisesse enfrentar se vestiriam de guerra e viriam me ajudar. Procurei me certificar o que diziam e descobri que era uma cilada, pois ficaram sabendo que eu pretendia deixar a província e queriam se aproveitar disto.”41

        A mesma atitude foi tomada por Cortez, uma vez que a principal pedra em seu caminho o império asteca foi retirada, ele tinha agora que eliminar os que poderiam mais tarde oferecer alguma resistência, mas como ele ainda precisava do apoio dos nativos ora ficava se aliando, ora jogando os nativos uns contra os outros. Isso foi o que aconteceu praticamente em toda historia da conquista do Mexico.

 

Considerações Finais

     

     Neste artigo, observamos como a história da conquista é repleta de mitos que escondem a complexidade do seu acontecimento que a tornaram possível e de como eles contribuem para uma visão que desvaloriza os povos nativos que aqui existiam, colocando-os como seres de cultura inferior à européia, o que não é verdade, cada cultura possui sua complexidade e valores específicos, e se fazer dela para dizer quem é civilizado ou não vai depender apenas do ponto de vista que se analisa. Os mitos acabam tendo assim uma função política de justificar o porquê de tantas mortes e destruição implicado aos nativos americanos naquela época. Além de distorcer os fatos a favor daqueles que venceram, colocando-os como os principais agentes da conquista quando na verdade, como expus nesse artigo, a conquista do México se deu mais pelas mãos dos próprios nativos do que pelas mãos dos espanhóis.

        Certamente haverá aqueles que ao lerem este artigo me acharam demasiado exagerado em defender o lado nativo da conquista. Mas o que apenas fiz foi buscar ver a história não apenas do ponto de vista dos vencedores, mas também do ponto de vista do que perderam.

       

       

Bibliografia

Restall,Matthew. Sete mitos da conquista; tradução Cristina de Assis Serra – Rio de

janeirocilvilização brasileira

Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007

Portilla, Leon. A conquista do América vista pelos índios. ed vozes 4º edição 

Peregalle, Henrique. América que os europeus encontrarão. Editora Atual 21ª Edição São Paulo 1994

Referências:

 

1. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag 41

2. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag 81

3. Restall,Matthew. Sete mitos da conquista; tradução Cristina de Assis Serra – Rio de

janeirocilvilização brasileira. Pag 227

4. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag 53-54

5. Portilla, Leon. A conquista do América vista pelos índios. ed vozes 4º edição. Pag  23

6. Portilla, Leon. A conquista do América vista pelos índios. ed vozes 4º edição. Pag 24

7. idem

8. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag40

9. Portilla, Leon. A conquista do América vista pelos índios. ed vozes 4º edição. Pag 28

10. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag49

11. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag47

12. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag53

13. . Portilla, Leon. A conquista do América vista pelos índios. ed vozes 4º edição. Pag 21

14. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag54

15.Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag55

16. Portilla, Leon. A conquista do América vista pelos índios. ed vozes 4º edição. Pag32

17. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag81

18.Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag112

19. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag122

20. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007.

21. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag128

22. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag128

23. Restall,Matthew. Sete mitos da conquista; tradução Cristina de Assis Serra – Rio de

janeirocilvilização brasileira. Pag239

24.Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag127

25.Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag40

26.Restall,Matthew. Sete mitos da conquista; tradução Cristina de Assis Serra – Rio de

janeirocilvilização brasileira. Pag238

27. Restall,Matthew. Sete mitos da conquista; tradução Cristina de Assis Serra – Rio de

janeirocilvilização brasileira. Pag?(27???)

28. Restall,Matthew. Sete mitos da conquista; tradução Cristina de Assis Serra – Rio de

janeirocilvilização brasileira. Pag239

29. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag117

30. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag?

31. Restall,Matthew. Sete mitos da conquista; tradução Cristina de Assis Serra – Rio de

janeirocilvilização brasileira. Pag108

32. Restall,Matthew. Sete mitos da conquista; tradução Cristina de Assis Serra – Rio de

janeirocilvilização brasileira. Pag107

33. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pag21

34.Idem

35.Peregalle, Henrique. América que os europeus encontrarão. Editora Atual 21ª Edição São Paulo 1994. Pág. 23

36. Peregalle, Henrique. América que os europeus encontrarão. Editora Atual 21ª Edição São Paulo 1994. Pag 25

37. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pág.44

38. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pág.84

39. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pág.123

40 .Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pág.134

41. Hernan Cortez . Conquista do México. tradução  de Jurandir Soares dos santos ;-Porto alegre:LePM,2007. Pág.147