Na catedral de Chartres na França é encontrado um dos elementos mais fascinantes da arte gótica, os vitrais. É importante ressaltar que Chartres se destaca por ser a única catedral medieval a ainda conservar grande parte de seus vitrais originais. Entre os vitrais de Chartres destaca-se a Árvore de Jessé, produzido no século XII entre os anos de 1140 e 1150, que consiste na representação da genealogia de Jesus Cristo através de uma árvore genealógica, projetada numa das janelas da catedral.
Os vitrais são compostos por pequenos fragmentos de vidros coloridos formando nas janelas um mosaico com diversas cores que traduzem simbolicamente a luz do Espírito Santo inundando o interior da catedral por uma claridade serena e multicolorida, com a pretensão de criar um ambiente inspirador e levar o expectador a contemplar a divindade. Nota-se na produção artística destes vitrais a especialização da mão de obra que começava a surgir na Baixa Idade Média. Primeiramente era necessário derreter o vidro adicionando elementos químicos para colorir e torná-lo translúcido; após eram dispostos a modo de placas que depois de resfriados eram cortados com uma ponta de diamante no formato pré-estabelecido, a fim de construir o quebra-cabeça. Apenas alguns detalhes eram pintados a mão; em seguida estas placas eram dispostas de forma a se encaixar uma nas outras, através de uma moldura metálica chamada de "perfil de chumbo". Estas placas unidas formariam as grandes composições das janelas, os vitrais.
No caso do vitral Árvore de Jessé o formato vertical da janela se adaptou bem ao tema proposto que era representar a árvore genealógica de Cristo a partir de Jessé, oriundo da linhagem da tribo de Judá. Este vitral é composto baseado na profecia de Isaías no Antigo Testamento que diz: "brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará" e também dos relatos dos evangelhos de Mateus e Lucas que narram as gerações da descendência de Jesus.
O vitral, de fundo azul e vermelho, apresenta Jessé deitado na parte inferior e a partir de seu umbigo surge o tronco de uma árvore com suas ramificações subindo até ao alto onde está Cristo. A formação da árvore, disposta verticalmente, apresenta sete figuras e é vista da seguinte maneira: Jessé na origem, depois seu filho o rei Davi e logo após seu neto, o rei Salomão. Vêem-se ainda mais duas figuras coroadas no seguimento do tronco representando todos da descendência; ainda são notadas várias ramificações da qual brotam flores, também representando os ancestrais de Cristo. A penúltima figura até o alto é uma figura feminina representando a Virgem Maria e bem no alto, a figura maior, representa Jesus Cristo.
Para enfatizar a profecia da vinda de Cristo é colocado nas partes laterais do vitral quatorze figuras representando os profetas que anunciaram a vinda de um messias.
E numa aura de santidade verifica-se a paternidade do Espírito Santo para com Cristo, pois ao redor da figura representando Jesus no alto, estão dispostas sete pombas (os sete espíritos de Deus) e, portanto ausentando a figura de José, marido de Maria, como o pai.
É interessante observar que em uma sociedade analfabeta como era a medieval, portanto sem condições de interpretar estas profecias bíblicas, o uso das imagens foi essencial principalmente para cristianizar as pessoas. Notam-se neste vitral vários elementos que remetem do Antigo ao Novo Testamento, mostrando por representação genealógica, e neste caso muito bem aplicada artisticamente, uma visão geral da profecia judaica na vinda do Messias. Jessé e seus descendentes, assim como os profetas, tornam-se apenas coadjuvantes na obra deste vitral para exatamente reforçar a idéia de Cristo como o cabeça, bem no alto e em porte maior representado.
Esta representação da Árvore de Jessé não foi a original, pois aparece algumas representações anteriores à esta, mas certamente inspirou várias semelhantes que se espalharam pela Cristandade através de outros vitrais em diversas catedrais medievais; como também em iluminuras, pinturas, arquiteturas, bordados... Um fato curioso é que em praticamente todas as representações da Árvore de Jessé, este aparece sempre deitado ou recostado com a árvore surgindo de seu tronco ou costela.

Bibliografia:

PROENÇA, Graça. A arte gótica. In: História da Arte. São Paulo - SP: Editora Ática, 2000, 16ª edição, p. 62 ? 70

Janson, H. W. História Geral da arte, O mundo antigo e a Idade Média; A arte gótica. São Paulo: Martins Fontes, 2001. P. 427-510

Fontes na internet:

Árvore de Jessé. In Infopédia. www.infopedia.pt/$arvore-de-jesse. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 14/05/2011, 20:45].

John A. Nascimento. In Enciclopédia Católica Portuguesa. www.ourladyoffatimachurch.net/ENCICLOPEDIA. [Consult. 14/05/2011, 20:59]. .