1

A Baía de Santo Antônio é você.

E nada mais me sobra olhar

Quando vejo a paisagem

E só vislumbro sua face

A me saltar aos olhos.

 

Todos os possíveis horizontes

Me lembram a possibilidade

De nunca te esquecer.

E me sinto, assim, feliz!

 

2

Não há flores ― sequer murchas― no meu jardim.

O Sol não aquece e a Lua não inspira...

Meu coração, em pranto, só suspira:

Você, enfim, está longe de mim.

 

Por isso, em pensamento, para te ver,

Vôo, na velocidade-luz do amor.

Seja para qualquer lugar em que for,

Aonde vou, tenho de estar com você.

 

À noite pinga sobre meu leito

Toda a angústia e doída solidão,

A sufocar este grito no meu peito:

― Não vá embora, não vá, não!

 

3

Eu caminho na sombra de seus sonhos.

Na escuridão

Das idéias que emaranham

Seus pensamentos,

Eu vivo.

E grito.

 

E espalho em jorros, em esguichos

Agigantados

Toda a solidão que me abandona com a chegada

De teus longos negros cabelos

E sua longilínea

Figura a serpentear pelas ruas

De minha cidade,

Num bailado etéreo

De andar compassado...

E o aroma de seus olhos

Me quase hipnotiza.

 

Em todo seu ser sei que habito

E desespero se portas e janelas fechadas

Me aprisionam do lado de fora.

 

As horas dançam num balé

Estilhaçado, como se nuvens

De vidro fossem,

Quebradas pelos logradouros desérticos,

Se me deixa fora da geometria

De suas formas de mel e luar.

 

E um quase nada a nadar

Nas entrelinhas do fundo da piscina da dor

Sou,

Se não vem você me acender a luz

E dizer: “É um pesadelo!

Estou aqui! O mundo amanheceu!

Todos os pássaros cantam

A melodia do mar...

Os ventos espalham pelo ar

A música do afeto mais sublime,

Que só existe por sua causa.

Se você me sonha, eu existo,

E te amo!”

 

Posso deixar a vida em paz...