Os amores que me preenchem...

Se há um tipo de amor que me preenche e me emociona, este é o amor das crianças, dos adultos que nos são gratos, das pessoas "especiais"...

É um amor puro, que gratuitamente vê o mais profundo do outro, a sua essência e por ele se encanta...

Esse tipo de amor já passou por mim... e foi expresso em profundo choro pueril de dor da separação e saudades antecipadas... em cartinhas rabiscadas, com letras de quem está recém aprendendo a escrever... no abraço e no beijo melecado de uma criança com pirulito na boca... na flor roubada só para me fazer um agrado... nas tarefas escolares caprichadas, só para eu ver o caderno de um adulto incentivado a aprender a escrever... nos e-mails de agradecimento por um conselho dado e acolhido que despertou sonhos, transformou vontade em realização...

Esse tipo de amor que hoje marejou meus olhos... ao saber um amor desses puros, por mim devotados... um amor gratuito de alguém a quem tão pouco ofereci... pouco mais que uma "bronca" cheia de respeito e desejo de fazer o outro crescer... talvez, haja pessoas por aí tão esquecidas que precisam ao menos de uma "bronca"... talvez, na "bronca" se sintam notadas e despertem nelas o amor, o respeito, admiração por aquele outro que o notou e o quis fazer crescer...

Hoje, estou eu assim boba, chorosa de emoção... por saber, ser assim admirada... receber um amor ingênuo, puro, sem malícia... de alguém que nunca aprenderá uma equação do tipo X + 2 = 3 e, do alto de seus 27 anos, nem sabe quanto é 2 X 2... mas, alguém que na sua profundidade humana sabe o que significa o respeito, o amor... alguém, que já cansou seu pai, sua mãe... que esgotados pela vida e doenças diz da boca pra fora querer o internar... alguém que tem por companheiro, seu cachorro e passa a tarde a jogar pedrinhas no quintal... tem nos horários escolares, sua única distração e convivência cotidiana... e diz para sua professora que quer, encher seu caderno novo para ir mostrar para a Marcia que está fazendo tudo certo...

Delícia começar o dia assim e pensar... o que fiz para merecer esse respeito? Esse amor pueril de um jovem dito "especial"?

O que eu fiz foi notar suas ausências, cobrar suas atitudes, sugerir mudanças em seu comportamento inadequado e, na "bronca", tratá-lo como uma pessoa "normal"... explicar um pouquinho do funcionamento da vida adulta e das atitudes de boa convivência... apontar suas qualidades e capacidades de desenvolvimento... fazer perceber que pode ser útil e que muito pode aprender, se desenvolver...

Esse é um tipo de amor que eu quero guardar para sempre... e lembrar antes de morrer... ser agradecida, porque não tem como ser retribuído... é pueril... é gratuito!