É loucura tentar traduzir-me em prosa ou em verso

Dado a complexidade do que sou face à grandeza do meu universo

Se não sou linguagem, em qual língua me expresso?

Se o silêncio tem mais a dizer o que sou, por que faço o inverso?

 

Sou indizível, mas às vezes me forçam a dizer quem eu sou

Mas a gagueira pausadamente me impede de recorrer à limitada linguagem desse mundo onde estou

 

Tento me calar na louca tentativa por deixar que o silêncio meu agitado espírito defina

Contudo, meu silêncio também nada diz sobre a voz que, por não se dizer, em mim quase se definha

 

Sou essa folha em branco onde um ser sem criatividade diz não haver nada

Mas onde um caminhante faz os traços que hão de definir o rumo da sua nova caminhada

 

Sou esse céu azul onde o contraste das nuvens brancas esculpem belas esculturas

E pintam quadros abstratos sobre o céu negro das noites obscuras

 

Sou esse vento que carrega com fúria tudo o que encontra

Mas que na calmaria trás refrigério e orientação ao mesmo ser que em seu furor

Destrói e nenhum receio demonstra

 

Sou o tudo e o nada

O paradoxo imperfeito

O verso incompleto, mas completamente perfeito

 

Sou flor, sou espinho

Sou amor e ao mesmo tempo ausência de carinho

 

 

Sou esse ser

que mesmo nada dizendo

O tudo tenta dizer

 

Por isso eternamente hei de ser contradição

Pra quem não sabe ler

O paradoxo imperfeito, linguagem perfeita do meu coração

 

(Rafael Sales Costa) 28/03/2013