meio dia, o sol a pino, e nenhuma nuvem no céu. Gotículas de suor que rolavam insistentemente do meu rosto, deslizavam sobre a pele, sob o sol abrasador, parei!
Espingarda na mão, corpo ereto e a cabeça erguida, e ouvidos atentos tentando distinguir o quase inaudível som do latido de um cachorro que muito distante na mata, procurava diligentemente por algum animal.
Olhei para o lado, e quase paralisado como se em transe, tive a mais bela das visões.
Uma centenária e linda paineira com frondosos galhos, com uma infinidade de flores de um azul claro como se a reproduzir o céu que tão limpidamente a cobria. Ao sentar-me a sua sombra, senti-me parte daquele universo quase etério.
O som agradável do canto dos pássaros, que ali, se alimentavam, e uma revoada de colibris, que disputavam o precioso néctar das flores.
Aí cansado e atormentado pela fome que já me fustigava, entre o sagrado e o profano adormeci!
Vencido pelo cansaço, e embalado pelo prazer que se apoderou de mim sonhei que estava entre aqueles animais e aves mas como seu melhor amigo, e que eles reclamavam por serem perseguidos e mortos pelo homem que eles tanto apreciavam e desejavam ter uma boa convivência com eles como irmãos, mas cada vez que tentavam se aproximar eram recebidos a tiros ou pauladas.
Outros reclamavam que já não tinham aonde morar, pois nossos irmãos homens estavam destruindo os rios e as matas, como se fosse só seu, achamos que o homem não quer mais os rios e as matas e não gosta da nossa presença.
Em meu sonho, senti que aqueles pequeninos irmãos inocentes e amedrontados não só me amavam, mas quase me idolatravam, como se eu fosse a seu modo uma espécie de Deus todo poderoso que tudo podia, e que eu deveria mandar parar com a exploração, e a matança, sob pena deles desaparecerem junto com as matas e os rios.
Sonhando eu vi as matas queimando, os rios secando e os pantanais secos com um sem número de peixes e animais esqueléticos e morrendo de fome e sede.
Seres humanos no afan de matar e destruir, de armas e varas na mão, as centenas ou dezenas as margens, atacando como se fosse a sua última guerra mesmo sem deixar a oportunidade de sua futura geração decidir sobre tudo aquilo.
O sol já descia no horizonte quando acordei desesperado. E impressionado com aquele sonho e o diálogo que tive com os animais, vi que muito pouco poderia fazer.
Mas jurei a mim mesmo que não seria mais um daqueles insensíveis predadores dos que em sonho chamei de meus primitivos e pequeninos irmãos...

Pedro Gomes da Silva