NATUREZA VIL
Belo Horizonte, 14-12-1976

De repente, ao amanhecer,
As folhas começaram a gritar,
As flores começaram a chorar.
Tudo parecia que ia morrer.
Parecia a falência da natureza.

O sol explodiu,
Expelindo lágrimas vermelhas,
E tudo ficou mais claro.

As pedras começaram a voar,
Até a caneta secou
Ao saber que estava
Cuspindo tanta desgraça.
Mas, as folhas gritavam mais alto.

O sol recompõe-se.
Os pássaros muito alegres
Flutuam dentro de si.
O tempo começa a se desprender da natureza,
O nada se transforma em tudo.
O vento sopra, sentindo calor.

As águas subiram as montanhas
E desceram do outro lado como um imenso véu de noiva.
O sol tornara a explodir
Jorrando muitas chamas que caem,
Como lágrimas de sangue.

Os olhares trocam idéias,
E a natureza terrível
Enriquece-se de angustia sádica.
Os pássaros voam sem asas,
O sangue coalha nas veias,
Um homem sente-se despreparado
Ao contemplar o irmão morto.
As florestas ardem em chamas,
Até as águas morreram
No meio de tanto caos.
Uma criança dormia tranqüila
Pois, estava morta.
De repente caiu a neve
E tudo ficou parado.

Os animais petrificaram-se,
A natureza não sentia mais dores sádicas.
Estava anestesiada,
Estava congelada
Tal qual o povo brasileiro.
A natureza consegue normalizar
O seu estado de loucura,
E as árvores se abraçam
A contemplarem-se mutuamente.
O gelo começa a derreter-se
Invadindo as terras baixas
E, de repente, tudo que era terra
Viraram seres aquáticos.

Os espelhos começaram a falar
Refletindo até a voz.
Até os espelhos espelharam-se,
Espelhando-se nas águas,
Imitando os narcisos,
Refletindo os seus reflexos.

A humanidade recompõe-se
De repente, tudo que era morto
Tomou forma vital

A humanidade estava vitoriosa
E assim a vida floresceu,
Enriqueceu-se de novos seres
De novas rosas vermelhas.

As estrelas tinham novos olhares
Que fixavam-se incansavelmente
Na metamorfose terrestre.


De repente, duas mãos
Combateram-se violentamente,
Dando adeus à vida viva,
E tudo o que era vivo morreu.