Minha história

 

Para se contar uma história,

É preciso  ir ao começo,

Para que seja notória,

Do início ao desfecho.

 

A história da minha vida,

Também não é diferente,

Pois, ela se inicia,

Na história de outras gentes.

 

Nasci em Osasco, São Paulo,

E já não era eu mais sozinha,

Tinha uma mãe, um irmão

E meu pai, chefe de cozinha.

 

Fizeram uma festa danada!

Convidaram amigos e parentes,

Para comemorar minha chegada,

Olhos verdes! Exclamavam sorridentes.

 

O jovem patriarca, bem sucedido,

Pinta de galã, era invejado!

Em revistas culinárias era notícia,

Cedo na vida tinha se arranjado.

 

A fama lhe batia à porta,

Frequentava a alta sociedade.

Mas, começou a vida torta,

Embriagues, promiscuidade...

 

Minha mãe, mineirinha simples,

Fora educada para obedecer,

Sofria calada e submissa,

Na selva de pedra, onde fora viver.

 

Noites e dias infinitos,

As mesmas coisas se repetia,

Com festas e bebidas, “o mestre cuca”

Seu bom senso perdia.

 

No trabalho fora advertido:

_É preciso rever sua conduta!

Não deu ouvidos, até parecia,

Que na concorrência não havia disputa.

 

Por justa causa, foi demitido...

Por trabalhar alcoolizado,

Passou perder rapidamente,

Tudo o que cedo havia conquistado.

 

Em casa, quase não aparecia,

Além de sua presença, faltava o pão.

Vir para o Paraná, mamãe resolvia,

Estava para nascer meu outro irmão.

 

Começou assim uma vida cigana,

Sem grana, sem lugar para ficar,

Como folhas soltas ao vento,

Mato Grosso, São Paulo e Paraná.

 

Assim, minha mãe foi se revelando

Uma heroína inabalável,

Com sabedoria confortando,

Uma persistência admirável!

 

Meu pai então, passou a viver,

Das glórias de seu passado,

As vezes fazendo discurso,

Outrora sofrendo calado.

 

Suas mãos se encheram de calos,

Sua pele, o sol queimou,

Carregava nos ombros o peso,

De um sonho que se acabou!

 

Numa peregrinação constante,

Nos tornamos pobres andarilhos,

Meus pais tiveram o bastante...

Seus cinco filhos!

 

A miséria era tamanha,

Que mesmo amamentando o caçula,

Mamãe nos esperava comer,

Comia as sobras e não perdia a doçura.

 

Nessas alturas meu pobre pai,

Era um alcoólatra irreversível,

Quando sóbrio era capaz

De sonhar o sonho mais incrível!

 

Ele queria ser o presidente,

E mudar a cara do país,

Queria que tudo fosse diferente...

Voltar no tempo, ele sempre quis!

 

Sonhava, sonhava, sonhava...

Depois bebia para esquecer,

Ninguém mais o admirava,

Não tinha forças para se refazer...

 

Nessas andanças mundo a fora,

Quase perdemos a dignidade,

Eu só pude entrar numa escola,

Aos dez anos de idade!

 

A vida era triste e sem esperança,

trabalhando duro, dia após dia,

Eu que não pude ser criança,

Minha adolescência aos poucos perdia...

 

Minhas mãos ficaram grossas,

Sol e poeira era minha maquiagem,

Estudar a noite,  meu refúgio,

Nos livros, eu fazia viagens...

 

À tardinha, chegávamos da roça,

Eu e meus dois irmãos, Renato e Niltinho,

Tomávamos banho apressados,

Para pegar o ônibus no caminho.

 

_Comam de pressa, vão perder a condução,

Vê se estudam direitinho,

Pois nessa vida só tem futuro,

Quem tem educação!

 

Como se não bastasse tanto sofrimento,

O destino nos foi ainda mais cruel,

A vida, da qual conhecíamos o gosto azedo,

Nos ofereceu o amargor do fel...

 

Meu pai desistiu de sonhar,

Entrou em profunda depressão,

Do vício maldito, não conseguiu se livrar,

Então tomou uma terrível decisão...

 

Foi num domingo à noite,

Lembro-me hoje ainda,

Tomando um gole de veneno,

Tirou sua própria vida...

 

Morro porque não venci!”

Deixou em um bilhete amassado,

Aquela cena, jamais esqueci...

Uma mulher e cinco filhos desesperados.

 

A tragédia foi tão horrenda...

Que por meses, me faltou o chão,

Perdi o rumo e atormentada,

Perdi a alegria, perdi a razão...

 

Numa louca procura, procurando me encontrar,

Me uni a alguém também perdido,

Só sei que quando fui me acordar,

Eu precisava de pai, e não de marido!

 

Assim se foi minha adolescência,

Tempo que não voltará jamais,

Por tão cedo precisar ser adulta,

Atropelei degraus da vida, tão essenciais!

 

Um dia, um raio de esperança,

Em minha vida voltou a brilhar...

Em meus braços, eu tinha uma criança,

E por ela voltei a sonhar.

 

Logo, dei a ela uma irmãzinha,

Finalmente consegui me encontrar!

Voltei pra escola, consegui um emprego,

E pelos meus sonhos, comecei a lutar.

 

Os anos foram passando depressa,

Como um trem correndo nos trilhos,

Quando terminei o magistério,

Eu era pai e mãe de três filhos.

 

 

Hoje não estou em sala de aula

Já fui professora na Educação Infantil,

 Séries iniciais e jovens e adultos,

Acreditando no futuro do Brasil.

 

Meu maior sonho era fazer faculdade,

Pensava positivo: Deus vai me ajudar!

Vencerei toda dificuldade,

Que me impede, de estudar.

 

Farei Letras e belas artes,

Nem que seja na terceira idade,

E deixar meu nome gravado,

Para além de minha posteridade.

 

E como na vida tudo, se transforma

Para quem crê, nada é impossível...

Nasceu “Iasmin”, provando que o sonho,

Da perseverança é combustível...

 

Com quatro motivos para ir à luta,

Tentando o ENEM e faculdade particular,

E finalmente, em 2010

Ingressei na  melhor do Paraná.

 

Hoje para quem não me conhece,

Meu nome é Almeida Marisa,

Sou acadêmica de Letras na UEM,

Vou ser professora e poetisa.

 

E esse não é o fim de minha  história,

Muitos sonhos, ainda vou alcançar.

E sei que Deus, me dará vitória,

E meus filhos, uma feliz história,  vão ter para contar.

Marisa Almeida.