ANTOLOGIA PROFÉTICA DA ÁGUA

A água que jorra do peito do Mestre
Ornamenta o monte com glória celeste.
Derrama universos nas mãos de Elias,
Eclode em imenso poder e maestria.

Milhares de léguas em fúria consome
E unge a língua de trezentos homens.
Irrompe as fileiras de Baal-Perazim,
Rebenta as barreiras da terra até o fim.

Enxágua a pele dos filhos de Arão
E lava os pés dos que levam a arca,
Em fráguas impele à condenação
E leva Moisés entre muros de água.

Não toca nos lábios do rei de Israel,
Abranda o barro em oferta solene.
Na boca dos sábios, ou em gotas dos céus,
Demonstra-se exata, percorre perene.

O sopro de Deus num instante a congela,
E o abismo se torna superfície pétrea.
Relógios de Sol em constante espera
Aguardam a Voz que interrompe os féretros.
Levantai!

A força motriz de uma só palavra
Desmancha o frio que enfraquece a alma.
E o louvor contido em um copo de água,
Cedido ao profeta, salta para o Pai.

Está feito!

O brado divino atravessa os oceanos
E dissolve no homem a angústia dos anos.
Um grande clamor cruza todas as águas
E vai muito longe, desde o manancial da chaga.

Como os olhos de José inundaram Israel
E ribeiros transbordaram do semblante de Jacó,
Como o pranto de uma enchente, é o choro de Eliseu,
São as lágrimas de Cristo ao unir a Terra e o Céu.


Flávio Filho