1. INTRODUÇÃO

A partir do momento em que o homem passa a ser sedentário, ou seja, tem moradia fixa e produz seu próprio alimento, houve uma necessidade incontornável de conhecer os sinais que a natureza lhes apresentava como forma de sobrevivência, através dessa necessidade passaram a interpretar com sucesso tais sinais, observando plantas, animais, simpatias, insetos, o sol e a lua. Essas informações foram passadas por séculos de pais para filhos. Mesmo com o avanço tecnológico, essa prática para muitos, principalmente para os nordestinos e alguns estudiosos continuam sendo de elevada importância e necessidade, como respalda de uma forma emblemática o trecho abaixo.
Observadores dos fenômenos meteorológicos fazem parte de uma tradição agrária das mais antigas da civilização humana. Guardam na memória experiências que vêm de muito tempo, de quando a vida dependia exclusivamente da agricultura e as condições climáticas eram fundamentais
à sobrevivência da comunidade. (Revista Raízes, Ano 2006, p. 72)
Carece ressaltar ainda que essa atividade milenar vem lentamente perdendo a sua utilidade e credibilidade, seja pela utilização de meios mais fácies, como os tele-jornais e a internet que divulgam constantemente as previsões ou em função das dificuldades apresentadas pelos profetas em observar esses avisos, por causa da destruição do meio ambiente. Portanto, preservar a natureza é a única forma de se manter viva essa cultura, para Alves (2009, p. 12), a preservação do meio ambiente tem a capacidade de restaurar os vínculos perdidos do homem com a natureza e do homem com o próprio homem.
O trecho a seguir é prova indubitável das afirmações anteriores, visto que o autor retrata de forma una a percepção dos profetas em relação à inconstância da natureza frente à degradação do meio ambiente.
A opinião de que suas previsões não mais funcionam como costumavam no passado - "Os tempos estão confusos"; "Eu sempre observo a natureza, mas agora está muito confuso, tem muito desmatamento. Acho que o homem esta provocando a seca..."; "As "experiências" não valem mais nada, hoje está tudo trocado. As coisas estão muito diferentes do passado. Antes fazíamos uma experiência e a leitura era certa, hoje nada mais dá certo";
"Hoje as "experiências" estão difíceis; o homem matou os bichos e matou a natureza, desmatando tudo". (FOLHES E DONALD, 2007, p.29)
Essas profecias ressaltam a dedicação, sabedoria e sofrimento das populações que vivem nas regiões mais castigadas do nosso país, pela falta de água e de chuvas, além da 3 inconstância das chuvas, sofrem pela ausência do poder público, e para preencher essas grandes lacunas, recorrem ao poder divino, já que as autoridades competentes fazem pouco caso dessa situação. Os fatos abordados neste parágrafo são legitimados através do seguinte depoimento.
"Levamos a sério os nossos estudos. Somente quem tem de enfrentar a fome e a sede, por conta da seca, é capaz de entender a importância das nossas previsões. São muitos os que depositam suas esperanças no que encontramos nos sinais da natureza. Se aceitamos expor nossos conhecimentos é porque temos o propósito de ajudar a quem depende da sorte que o tempo nos reserva a cada ano. E até mesmo quando vem tempo ruim, devemos fazê-lo com habilidade". (Diário do nordeste, 30 de dezembro de 2008)
Diante do cenário de incerteza do clima, popularizou-se a figura dos profetas das chuvas, respeitado e admirado por muitos, para Vidal (2000 apud MAGALHÃES, 2001) "A natureza tem por esporte anunciar, generosamente, as suas intenções", e que "o sertanejo é mestre no assunto, não erra, não se equivoca - fala de certeza".
Apesar do grande carinho e admiração demonstrada por muitos, alguns profetas foram perseguidos e hostilizados por profetizar aquilo que os populares não queriam: a seca, pois muitos acreditavam que eles determinavam o clima daquela região. Para demonstrar ainda a grande importância dos mestres do tempo, o poeta Latino Virgílio no século I a.C, escreveu uma obra dedicada a essas previsões - As Geórgicas -, essa obra serviu de inspiração para a criação do Lunário Perpétuo em 1703 por Jeronymo Cortez Valenciano. Além de Virgílio e Jeronymo Cortez, eminentes personagens do nosso país, como Luiz Gonzaga e Graciliano Ramos retratam cada um do seu modo o dilema e a cultura do povo nordestino.
Sendo o objetivo basilar desse artigo divulgar essas previsões feitas por pessoas simples do campo, que aprenderam a interpretar e utilizar os sinais da natureza, sinais esses, que foram a base para a criação da meteorologia, e que atualmente são pouco conhecidos, além de tudo muitas pessoas desconhecem totalmente essa atividade de prever o tempo através da simples observação dos elementos da natureza. Diante dos fatos citados, essa pesquisa terá como foco principal, oportunizar a divulgação e manter viva essa cultura em Aquidabã, pois, ela exalta a sabedoria do nosso povo e, sobretudo engrandece o nosso
município.