OCORRÊNCIA DE FÓSSEIS EM ROCHAS CALCÁRIAS, UTILIZADAS COMO PISO EM HOTEIS, POUSADAS E PAVIMENTO PÚBLICO EM JERICOACOARA-CE
Por Carlos Humberto Biagolini | 08/04/2021 | AmbientalOCORRÊNCIA DE FÓSSEIS EM ROCHAS CALCÁRIAS, UTILIZADAS COMO PISO EM HOTEIS, POUSADAS E PAVIMENTO PÚBLICO EM JERICOACOARA-CE
Resumo:
Fósseis são restos de seres vivos ou marcas deixadas por eles que mesmo no decorrer do tempo ficaram preservadas em diferentes tipos de materiais de origem mineral, sendo o mais comum a preservação em camadas argilosas. A importância dos fósseis está na possibilidade de se estudar e conhecer melhor o passado pré-histórico de uma determinada região e por isso é de suma importância sua preservação e conservação. Na região nordeste do Brasil, existem diversas formações geológicas ricas em tais registros fósseis, sendo algumas delas exploradas comercialmente para retirada de minerais utilizados na construção civil, produção de fertilizantes além de outras atividades industriais. Na cidade de Jericoacoara-CE, foram encontrados diversos registros fósseis em rochas laminadas utilizadas em calçamento público e revestimentos de pousadas. De 491 peças avaliadas, 384 continham algum tipo de registro.
Palavras-chave: Fósseis, Araripe, Pousadas, Bacia Sedimentar.
Introdução:
Os fósseis são importantes registros do passado que através de seu estudo, permitem obter informações de milhares ou milhões de anos, tais como: clima local, vegetação, ciclo de chuvas e organismos que ali viviam num passado distante em uma determinada região. Por isso, a preservação é de extrema importância, principalmente num país como o Brasil, de dimensões continentais e ainda carente de informações do seu passado geológico e biológico.
Em várias regiões do Brasil há riqueza destes materiais, como por exemplo na Bacia Sedimentar do Araripe, que possui cerca de 9000 km2, incluindo estados de Ceará, Piauí, Pernambuco (SOARES, 2021).
Na Bacia Sedimentar do Araripe, estão preservados, em grande quantidade, fítofósseis tais como: algas, samambaias, gimnospermas e angiospermas; fósseis de invertebrados tais como: crustáceos, conchostráceos, insetos, aracnídeos, caranguejas e escorpiões; vertebrados diversos como: peixes, anuros, pterossauros, quelônios, crocodilianos e aves. Entre os insetos, há registro de inúmeros grupos identificados no Crato, tais como, grilos, percevejos, vespas, formigas, cigarrinhas, baratas, lacraias, besouros, gafanhotos, moscas e mosquitos (GEOSSÍTIO, 2021).
As rochas presentes nestas formações, seja pela cor, dureza e outras características, são de interesse comercial e por esta razão são extraídas para fins industriais, principalmente na produção de revestimentos e abastecem diferentes regiões do país, entre elas as cidades litorâneas dos estados do Ceará, Pernambuco ou Piauí que pela proximidade, se abastecem de materiais oriundos da formação em questão e com estas rochas, seguem fósseis importantes de espécies que por vezes ainda não são conhecidas pela ciência, conforme afirma Parente (2021).
Por esta razão, este trabalho, soma-se a outros da mesma linha de pesquisa que buscam chamar a atenção para o fato.
Materiais e Métodos:
Os materiais observados foram peças de revestimentos utilizados no piso de 2 pousadas, mais revestimento externo da igreja central da cidade de Jericoacoara no estado do Ceará. A observação ocorreu no mês de dezembro de 2020.
A metodologia para averiguação, foi a da observação “in loco”, com a utilização de lupa manual quando necessário para a identificação e observação em detalhes dos registros fósseis presentes nestas peças de revestimento.
A contagem do número de peças observadas foi feita manualmente, peça a peça. Não foram utilizados instrumentos eletrônicos de precisão devido a impossibilidade de uso, pelo fato das mesmas estarem fixadas no chão como revestimento, em locais de grande movimento.
Resultados:
Peças observadas: 491 peças
Peças com a presença de registros fósseis: 384
Porcentagem de peças de revestimento com registros fósseis: 78,2%
Discussão:
Os resultados apontam para alto índice de peças com registros fósseis que por força da legislação brasileira, deveriam estar preservadas em locais adequados ou recolhidas em centros de pesquisas e universidades autorizadas a manterem este tipo de material. Porém o que se observa é que não há controle sobre estes minerais e não é dada a valorização devida; por esta razão acabam sendo utilizados como pisos, que promoverão o desgaste acelerado destes fósseis com o pisoteio ou ainda por consequências naturais, sejam elas por corrosão, oxidação ou deterioração provocada por chuvas e outras intempéries.
Conclusão:
O que se conclui com este trabalho é que não se é dado o devido valor a materiais desta natureza e o que ocorre em Jericoacoara-CE, é o mesmo que ocorre em outras diferentes cidades brasileiras, localizadas próximas de outras mineradoras atuantes em formações ricas de registros fósseis. Não só no campo da paleontologia, mas também da paleobotânica, perde-se muitas informações a cada ano que se passa, tanto de animais como também de plantas que ainda não são de conhecimento humano, com o processo de mineração e extração de materiais desta natureza. Cabe ao poder público e comunidade científica, tomar medidas urgentes para preservar este tipo de material evitando o contrabando, venda clandestina, posse irregular ou o uso como piso de revestimento que na opinião deste autor, é a pior das opções de destino, pois fatalmente condenará a peça com o fóssil ou fitofóssil a deterioração total em curto espaço de tempo.
Referências Bibliográficas:
GEOSSÍTIO PEDRA CARIRI. Geopark Araripe. Crato – CE
Disponível em:
http://geoparkararipe.urca.br/?page_id=1727
Acesso em 07 abr 2021
PARENTE, M. Rochas com fósseis de peixes datariam do Cretáceo, há 110 milhões de anos. Caso pode ser investigado pela Polícia Federal. Jornal Curiosa Mente. Recife-PE.
Disponível em: https://curiosamente.diariodepernambuco.com.br/project/fosseis-do-sertao-do-araripe-e-cariri-encontrados-em-predios-do-recife/
Acesso em 07 abr 2021.
SOARES, R. C. Geopark Araripe: Bacia Sedimentar do Araripe. Crato-CE.
Disponível em:
http://geoparkararipe.urca.br/?page_id=2114
Acesso em 07 abr 2021