O turismo e o meio ambiente
Fernando Antônio Valença Floresta

O ambiente natural é um sistema formado por componentes bióticos e abióticos, que se influenciam mutuamente, buscando a manutenção de um equilíbrio dinâmico entre suas partes. Equilíbrio este, que corresponde às leis reguladoras do apoio e colaboração que cada componente do sistema ambiental recebe e fornece aos demais. Segundo Rabahy (1990), a busca e o contato incessante com a natureza, têm sido características observadas na demanda turística contemporânea. Determinantes essas que vão sendo mais importantes, na medida em que crescem e se agigantam os aglomerados urbanos, acompanhados de uma excessiva concentração populacional, da grande quantidade de edificações, dos variados meios de transportes e das diferentes unidades de trabalho.

Palavras-chaves: Turismo, Meio Ambiente e Turismo Ecológico.
1. Aspectos Fundamentais
Em decorrência da questão ecológica envolvida, meio ambiente e atividade turística, mantém uma estreita relação. Numa constatação de Rabahy (1990, p. 74):
Os efeitos do turismo no meio ambiente podem ser desastrosos, caso não sejam adequadamente dimensionados. Os recursos naturais são limitados e a atividade turística se localiza preferentemente em áreas onde esses recursos são mais disponíveis. Dado o risco que o uso massivo e desordenado pode acarretar, recomenda-se que o turismo seja realizado respeitando-se a compatibilização do uso com a proteção do meio ambiente.
Para Lage & Milone (2000, p. 129):
O meio ambiente físico é o ingrediente vital do produto turístico como forma poderosa de atração para os turistas. A relação entre turismo e meio ambiente tende a ser simbiótica à medida que a conservação de áreas naturais, vida selvagem, cenários de preservação de sítios, monumentos arqueológicos e de interesses históricos são oferecidos à demanda, diante de estímulos dos fluxos turísticos.
Segundo Rocha & Dill (2001, p. 19):
Os recursos naturais: solo, água, vegetação, fauna, subsolo, ar e o homem organizado em sociedade, constituem o meio ambiente. Cada um destes recursos tem um padrão de qualidade. O rompimento de um padrão de qualquer recurso natural dá origem à deterioração ambiental, e aí se inicia o processo de diminuição da qualidade de vida. O homem e a sociedade só se desenvolvem quando não há deterioração ambiental (não há rompimento do padrão de qualidade).
Para Rangel (2000), Turismo e ambiente encontram-se em conflito. E, os principais impactos decorrentes do desenvolvimento da atividade turística, podem ser sentidos em ecossistemas frágeis, assim como, em áreas onde a sua expansão ocorreu de forma rápida e intensa. Sabe-se que o ambiente acaba impondo limites bastante claros ao crescimento do turismo. Limites estes, que devem ser levados em consideração pelas ações de planejamento das atividades, a fim de que se consiga propiciar aos visitantes um melhor aproveitamento das belezas naturais, sem incorrer na destruição dos ecossistemas ou de patrimônios arquitetônicos a eles associados. E, principalmente, que proteja os atributos culturais das populações envolvidas; representados pelo modo, e hábitos de vida, das mesmas. O turismo será realmente bom, se ele for bom para a comunidade onde está inserido, e para com o "meio" no qual se desenvolverão as atividades. No entendimento de Nidelcoff (1979), meio é toda aquela realidade física, biológica e humana que nos rodeia, à qual estamos ligados de uma maneira direta, através da experiência, e com quem nos mantemos em permanente intercâmbio. Comenta Vernier (1994, p.7), que "por muito tempo, teve-se o sentimento de que a natureza, com um formidável poder depurador e regulador, ?digeriria? as agressões do homem".
De acordo com Rangel (2000), o ritmo de evolução das espécies faz com que os sistemas naturais sofram modificação em alguns de seus elementos. Em tais circunstâncias, para a sobrevivência, devem ocorrer readaptações em seu funcionamento, de modo que se mantenha ou recupere a harmonia do conjunto.
Com o aumento da população mundial, bem como do incremento do poder tecnológico da sociedade moderna, é cada vez mais freqüente a intervenção do homem, no espaço natural, visando à satisfação das suas necessidades.
Acredita-se que, num estágio mais puro, homem e natureza não são incompatíveis. Segundo Rangel (2000), nos sítios inexplorados, cujas populações ainda vivem em estado selvagem, o homem se comporta como parte integrante dos respectivos sistemas que habita, adaptando-se perfeitamente ao meio natural, e não de forma contrária. Segundo Floresta (2000, p. 2):
O desenvolvimento pleno de uma atividade turística (ou de um "projeto turístico", macroeconomicamente falando) que se almeje bem sucedida, e as medidas, concomitantes, de proteção ao meio ambiente, são pontos inseparáveis em qualquer proposta efetiva para o setor.
Se o turismo for, ambientalmente correto e amparado numa perspectiva conservacionista de suas bases naturais (biogeográficas), históricas e culturais, poderá ser a resposta mais concreta e com efeitos ainda mais rápidos para o desenvolvimento socioeconômico do seu núcleo ou centro de origem, tanto no aspecto local, como regional em suas variadas escalas.
Segundo Stern et al. (1993, p. 164):
Os problemas teóricos e metodológicos provêem da natureza das interações humanas com o meio ambiente global. Estas interações, como o próprio meio ambiente, exibem interdependências e conseqüências não previstas; não são lineares quanto às causas e aos efeitos; irreversibilidade; os longos espaços de tempo; e as relações estabelecidas entre as atividades locais, regionais e globais.
Em razão do constante crescimento do turismo no mundo todo, não é mais possível a concepção de projetos nesta área, sem que exista um planejamento bem consolidado. E, antes de tudo, baseado nas fundamentais premissas da sustentabilidade ambiental, econômica e sócio-cultural que a questão merece. Para Ruschmann (1997, p. 9):
O turismo contemporâneo é um grande consumidor da natureza e sua evolução, nas últimas décadas, ocorreu como conseqüência da "busca do verde" e da "fuga" dos tumultos dos grandes conglomerados urbanos pelas pessoas que tentam recuperar o equilíbrio psicofísico em contato com os ambientes naturais durante seu tempo de lazer.
2. Práticas Turísticas Sustentáveis
A avaliação dos fatores impactantes é de suma importância, uma vez que as atividades turísticas estão baseadas na utilização e exploração dos recursos naturais. É indispensável, a conservação/preservação do meio ambiente, pois dela depende a qualidade de vida das pessoas e a continuidade dos trabalhos no campo do turismo. Segundo Hall (2001, p. 17):
O turismo está intimamente ligado às questões do desenvolvimento sustentável. De fato, desde o final da década de 1980 tem havido uma explosão na quantidade de textos e artigos, além de cursos e consultorias, relacionados a formas sustentáveis de desenvolvimento.
Sustentabilidade pode ser definida como sendo a relação existente entre sistemas, dinâmicos, econômicos e ecológicos, que se apresentam orientados pelas condições necessárias à evolução da vida humana e ao desenvolvimento das culturas; de modo a permitir que os efeitos antrópicos permaneçam dentro dos limites de aceitabilidade. Impedindo, assim, a destruição da diversidade e da complexidade inerentes ao contexto ambiental. Segundo Martins (1995, p. 43):
Podemos localizar a origem do tema sustentabilidade na Alemanha, em princípios do século XIX, decorrente da exploração dos bosques madeireiros. A partir do final do século XIX e início do século XX, surgem na Europa os primeiros estudos sobre problemas ambientais entre eles o efeito estufa e as mudanças climáticas.
Para Merico (1996, p.141):
Tomando seu significado mais simples, sustentabilidade significa tornar as coisas permanentes ou duráveis. Desenvolvimento sustentável significaria, portanto, discutir a permanência ou durabilidade da estrutura de funcionamento de todo o processo produtivo.
A sustentabilidade, ou, neste caso, a capacidade do sistema ambiental destinado a práticas de lazer, garantir seu funcionamento, mantendo um ambiente estável, e, ao mesmo tempo proporcionando uma ótima produtividade econômica e crescimento social equilibrado, parece ser o melhor caminho para o diferencial que tanto se busca nessa área.
Especialistas na matéria estão constantemente afirmando que o segredo do sucesso para um turismo de qualidade integral, está na utilização sustentável dos atrativos, sejam eles, naturais, históricos ou culturais, de forma que sejam garantidas as condições de receptividade e satisfação para as futuras gerações, tais como se desfrutam hoje.
O desenvolvimento turístico implica necessariamente no aumento da densidade populacional das áreas de destinação. Não só pela atração que essas áreas passam a exercer sobre moradores de outras regiões, como também pelo fluxo turístico, que, nas altas temporadas, pode chegar a duplicar a população residente (Rangel, 2000).
Na visão Pearce & Butler (2002, p. 87) "o conceito, de desenvolvimento sustentável implica a ligação ou a integração de elementos do ambiente de forma apropriada". Noutra definição, neste caso, estritamente ecológica, a sustentabilidade é apresentada como a capacidade que um sistema possui de apresentar seu estado constante no tempo, isto é, manter invariáveis os parâmetros de volume, taxas de trocas e circulação de forma cíclica. A idéia de sustentabilidade apontando na preservação de um ecossistema querendo eternizar a sua estabilidade, pode acabar ameaçando a sua elasticidade e os seus potenciais desenvolvimentistas, característicos dos sistemas vivos (Bruseke, 1996).
Mais recentemente alguns países retomaram suas preocupações com as questões ambientais, que se tornaram um fenômeno mundial, surgido com muita força, a partir de 1968, motivados pelos movimentos sociais e posteriormente pela crise do petróleo (Dantas, 1999). Em 1972 acontece em Estocolmo à primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, deixando clara a necessidade de implantar estratégias ambientais adequadas, para promover um desenvolvimento socioeconômico eqüitativo. Cunha-se naquele momento o termo ecodesenvolvimento, que mais tarde viria a se chamar Desenvolvimento Sustentável. É importante destacar que durante a Conferência de Estocolmo os aspectos técnicos envolvendo a contaminação provocada pela industrialização, o crescimento populacional e a urbanização, tiveram mais destaques (Martins, 1995).
A crescente preocupação com as questões ambientais, principalmente sob o aspecto da degradação do meio, levou a UNESCO ? Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a promover no início dos anos 70, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. A Conferência de Estocolmo, como ficou conhecida, apresentou em 1972 as diretrizes do "Plano de Ação Mundial" e a "Declaração sobre o Meio Ambiente".
Decorridas três décadas da realização daquele evento, cientistas e técnicos ambientalistas, do mundo todo, continuam alertando para os danos causados à natureza, pela ação direta do homem. Nossa irresponsabilidade nos campos social, econômico e político-ecológico, contribui efetiva e definitivamente para a instalação de um colapso global de proporções desconhecidas, que só poderá ser evitado se o homem for capaz, em curtíssimo prazo, de promover mudanças radicais no modo de vida e na utilização racional dos bens naturais.
Vários exemplos mostram que as condições de ordem econômica, social e ambiental estão fortemente interligadas, entre as quais podemos citar a globalização dos mercados, a rede mundial de computadores; a busca de alteração nas fronteiras políticas; a transferência de setores produtivos na procura de mercados com preços mais baixos (uma fortíssima transnacionalização de capitais), entre outros.
A partir da aludida conferência, realizada na Suécia, muitas iniciativas visando às questões ambientais, começam a ganhar espaço em todo o mundo. Uma importante proposta surge em 1987, intitulada Nosso Futuro Comum, ou, como ficou conhecida: "Relatório Brundtland". Este documento foi elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), organismo constituído por 21 países, sob a presidência da Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Segundo este relatório, "o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades" (CMMAD, 1988, p. 46). Esse relatório também apresenta aspectos sobre a degradação ambiental abordando causas e efeito, propõe políticas internacionais quanto aos aspectos econômicos, sociais e ambientais, com objetivo de buscar o crescimento econômico compatível com a preservação da natureza. Segundo Martins (1995, p. 46): "Identificam-se os interesses dos países subdesenvolvidos, onde o desenvolvimento sustentável aparece relacionado diretamente com os problemas da pobreza, satisfação das necessidades básicas, e um enfoque específico com relação à alimentação, saúde e moradia".
O crescimento econômico precisa apoiar-se em práticas que conservem e expandam a base de recursos ambientais. Tal crescimento é absolutamente essencial para mitigar a grande pobreza que se vem intensificando na maior parte do mundo em desenvolvimento. CMMAD (1988, p. 30):
O desgaste do meio ambiente foi com freqüência considerado o resultado da crescente demanda de recursos escassos e da poluição causada pela melhoria do padrão de vida dos relativamente ricos. Mas a própria pobreza polui o meio ambiente, criando outro tipo de desgaste ambiental. Para sobreviver, os pobres e os famintos muitas vezes destroem seu próprio meio ambiente: derrubam florestas, permitem o pastoreio excessivo, exaurem as terras marginais e acorrem em número cada vez maior para as cidades já congestionadas. O efeito cumulativo dessas mudanças chega a ponto de fazer da própria pobreza um dos maiores flagelos do mundo.
A comissão concentrou sua atenção em algumas áreas, elaborando diretrizes de política, que englobavam: população, segurança, alimentar, extinção de espécies, esgotamento de recursos genéticos, energia, indústria e assentamentos humanos. Essas diretrizes continham algumas recomendações, onde todas as áreas se interligavam e não poderiam ser tratadas isoladamente. Tais iniciativas acabaram gerando mais um encontro, a Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, denominada ECO-92 ou Rio 92, organizada pela ONU (Organização das Nações Unidas), e realizada no Rio de Janeiro no ano de 1992. Segundo Martins (1995, p. 47):
Durante vários encontros discutiu-se sobre o meio ambiente e suas relações com o desenvolvimento, manifestando-se claramente que pobreza e degradação ambiental então intimamente relacionado, e que os padrões de produção e consumo devem ser modificados, principalmente no que diz respeito aos países industrializados.
A Agenda 21, resultado deste encontro é considerada como um programa estratégico, de alcance universal, e que objetiva alcançar o desenvolvimento sustentável no século XXI. Ela reflete um consenso mundial e um compromisso político, no que diz respeito às questões envolvendo meio ambiente, crescimento econômico e cooperação internacional.
Tanto a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, como a Agenda 21, adotadas no decorrer da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), representam um marco referencial do esforço despendido por países de todo mundo, para identificar ações que conjuguem desenvolvimento com proteção e preservação do meio ambiente.
A Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento consagrou os princípios do Direito Ambiental Internacional, traduzidos no direito soberano que detém os Estados em explorar e utilizar os seus recursos em consonância com as suas próprias políticas ambientais; na responsabilidade internacional por danos que ultrapassam as fronteiras dos países; na obrigação de desenvolver o direito internacional no campo da responsabilidade e de adotar uma legislação ambiental de aplicação mais efetiva; no dever de cooperar com os demais Estados, na defesa do meio ambiente e solucionar pacificamente todas as possíveis controvérsias ambientais internacionais, que possam surgir futuramente.
Além da consagração do direito ambiental internacional, a Declaração reafirma o documento resultante da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, adotada em Estocolmo em 16 de junho de 1972, como também, a opção definitiva, pelo princípio do desenvolvimento sustentável estabelecido em 1988 por intermédio do Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Nosso Futuro Comum.
"Atualmente a aplicação e instrumentação das políticas públicas não favorecem a incorporação da sustentabilidade ambiental, ao processo de exploração de recursos e a ocupação do espaço" (Cavalcanti et al., 2002, p. 45).
O discurso em torno do "sustentável", busca reconciliar os pontos contraditórios da argumentação desenvolvimentista, ou seja, o meio ambiente e o crescimento econômico. Este mecanismo ideológico significa, não somente um retorno da racionalidade na economia, mas também a proclamação de um crescimento na mesma, como um processo realmente sustentado.
Quando se relaciona atividade turística, meio ambiente e sustentabilidade ambiental, a paisagem geográfica e o planejamento da sua utilização racional deverão constituir-se na base de qualquer tipo de turismo que se projete. Em razão disto, deverão ser perfeitamente entendidas, analisadas e interpretadas todas as questões pertinentes a esta associação.
Segundo Trigo (2001, p. 13) "o turismo precisa ser planejado, sustentável e coibir as discrepâncias sociais".
Pearce & Butler (2002, p. 87/88) afirma que:
No contexto turístico, contudo, podemos usar "planejamento e desenvolvimento integrado" como o processo de introduzir o turismo em uma área de forma que ele se mescle com os elementos já existentes. Fica implícita aqui que tal introdução e mescla se façam de maneira harmoniosa e adequada, para que daí resulte uma comunidade aceitável e funcionalmente ideal, em termos tanto ecológicos como humanos.
O planeta Terra é um conjunto complexo de ecossistemas organizados em perfeita integração, porém as exigências da humanidade crescem de forma rápida, contínua e em grande quantidade. O caminho para uma eficaz reversão dos problemas ambientais da atualidade, passa, necessariamente, pelo desenvolvimento de projetos sustentáveis. Projetos estes que, respeitando a pluralidade das culturas e a diversidade biológica, consigam fazer o homem compartilhar de forma mais coerente a sua existência junto aos demais seres vivos. Segundo La Torre (1985, p. 36):
Explorar racionalmente é dispor com sensatez e fazer uso dos recursos existentes, já que são estes, o produto de um processo, biológico, ou geográfico, ou resultantes de uma manifestação humana. Há que se considerar as variáveis que incidem sobre eles, a fim de preservá-los, mantê-los e evitar sua extinção. Deve-se conseguir, que, o uso ou desfrute de tais elementos, seja o adequado, para assegurar-lhes a maior duração possível.
Nesse cenário, portanto, os estudos e pesquisas que venham a ser desenvolvidos no campo do planejamento turístico, não poderão abrir mão de um completo entendimento das questões preservacionistas e conservacionistas relacionadas.
Afirma Bressan (1996, p. 91):
A inclusão das Reservas Naturais em modelos destinados à gestão racional do ambiente revela-se uma iniciativa adequada, desde que se observem alguns pressupostos básicos: a adoção do conceito de ecossistema como critério para constituição de reservas; a utilização dos princípios de uso múltiplo para o manejo dos sistemas ecológicos e a inserção das áreas protegidas no contexto de gestão do espaço.
Baptista (1997, p. 495) "o ambiente natural e o patrimônio cultural constituem fatores importantes como componentes da oferta primária ou original".
No estudo ambiental sistêmico, deve-se levar em consideração a sua dinâmica, que é caracterizada pela transferência de matéria e energia. E onde, a transição de um estágio para outro, constitui a essência desta dinâmica; podendo ser espontânea ou resultante das atividades antrópicas. Na realidade, alguns teóricos e pesquisadores do assunto, já tinham em mente o fato dos ambientes naturais funcionarem como sistemas onde ocorrem interações.
A "Teoria dos Sistemas" forneceu a base para os estudos ambientais, como por exemplo, as propriedades, seus tipos, estruturas, conteúdo, meio-ambiente, hierarquia, equilíbrio dinâmico, retroalimentação e função.
A visão sistêmica aproveita os estudos analíticos de cada componente apreciado e integra-os dentro de um conjunto, onde são observadas todas as suas transformações, distribuição dos sistemas geográficos, sua dinâmica e conexões. Os sistemas ambientais ocorrem unicamente quando o espaço de ação de dois ou mais elementos se sobrepõe, pelo menos parcialmente, e mantém-se numa contínua interação.
No Brasil, estudos ambientais amparados na abordagem sistêmica se constituíram em referenciais, principalmente político-administrativos, voltados para a análise integrada e promotores de enriquecedoras e eficazes discussões.
Entre esses, os estudos geoecológicos de uma determinada área, concebidos dentro de uma visão sistêmica, podem ser considerados como os mais importantes fatores para a identificação do ambiente em questão, de seu potencial ecológico e dos atributos naturais (e/ou culturais) nele existentes. Tudo isto, de forma a justificar, neste caso, uma exploração turística qualificada, e, antes de tudo, comprometida com a integridade do atrativo.
A geoecologia da paisagem, isto é, os estudos que integram os processos biológicos e o referencial geográfico envolvente, visam caracterizar os "ingredientes ambientais", através da compreensão das relações espaciais que se desenvolvem.
Aplicar um eficaz programa de desenvolvimento sustentável, visando à promoção de constantes ações de melhoria, principalmente na esfera ambiental, com a devida atenção às questões de segurança e capacitação técnica, torna-se hoje um componente essencial a qualquer organização do setor. Principalmente no forjamento de uma imagem pública de sucesso, e que demonstre confiabilidade.
No entendimento de Sachs (1986), reconhecido autor ambientalista e, defensor do ecodesenvolvimento, é possível, e relativamente fácil uma conciliação do crescimento com a conservação do meio ambiente. Afirma que um crescimento diferente, prudente, sustentado e socialmente responsável, voltado para uma qualidade de vida de grau superior, equitativamente bem distribuída, só será obtido, se em suas diretrizes forem consideradas as dimensões: social, econômica, ecológica, espacial e cultural da sustentabilidade. Já Maimon (1992), numa seqüência da mesma linha de raciocínio de Sachs (1986) ressalta o importante papel das políticas ambientais para o processo de desenvolvimento que se almeja. Em sua opinião, a educação ambiental, seja ela concebida de modo formal ou informal, desempenha um importantíssimo papel, tanto na criação de uma consciência ecológica, como na formação de recursos humanos necessários à implantação das referidas políticas. E aí, entende-se, residem, o escopo, o segredo e o método de um bem elaborado projeto empresarial (seja ele público ou da iniciativa privada) na área de ecoturismo.
Nas palavras de Tinker apud Floresta (2001a, p. 2), juíza norte-americana, mestra e doutora em Direito Ambiental: "O ecoturismo tem que ser sustentável, de acordo com os princípios ambientais, como o princípio de precaução. O risco de danos ao meio ambiente existe também com o desenvolvimento do turismo." Isto, dito, e vindo de alguém com qualificação para tanto, deverá soar como um sinal de alerta, despertando-nos para uma real mobilização em todas as áreas e esferas. Desde o incentivo aos programas de Educação Ambiental nos três níveis de ensino brasileiro, passando pelo aperfeiçoamento dos entes políticos, até a capacitação técnica mínima dos agentes e operadores de turismo, em quaisquer das suas modalidades.
A opção por um turismo de cunho ecológico, na visão de Ferreira (1992), permite levar em conta, prioritariamente, a satisfação das necessidades básicas da maioria da população envolvida. Nisto considerando-se a utilização dos recursos locais, como por exemplo, a mão-de-obra.
Para Sachs (1986), a promoção do ecodesenvolvimento, consiste, essencialmente, em ajudar as populações envolvidas a se organizarem e se educarem, de modo que possam repensar seus problemas. Assim, conseguirão elas, identificarem as suas reais necessidades e reunir os recursos potenciais para a concepção e realização de um projeto de futuro mais digno de ser vivido, atendendo aos postulados de justiça social e prudência ecológica.
Na visão de Karl Marx apud Arruda (2000, p. 273):
O homem vive da natureza, isto significa que a natureza é o seu corpo com o qual ele deve permanecer em processo constante, para não perecer. O fato de que a vida física e espiritual do homem se relaciona com a natureza não tem outro sentido senão o de que a natureza se relaciona consigo mesma, pois o homem é parte da natureza.
Em bases "ecologicamente corretas", o desenvolvimento advém de uma consciência ambiental maior, onde a propalada "sustentabilidade" deve ser vista como um atributo finito, com limitação temporal e espacial, mas de necessidade vital para a nossa sobrevivência no planeta.
O caráter multidisciplinar pertinente à questão ambiental, envolvendo as áreas biológicas, humanas e exatas, deverá preocupar-se com a formação de cidadãos com uma visão ampla e integrada de tal realidade, permitindo decisões mais sólidas no tratamento da complexidade que aí aparece envolvida.
Segundo Oliveira (1997, p. 9):
O desenvolvimento sustentável pressupõe a garantia que as gerações futuras herdarão um meio ambiente adequado. Porém observa-se que estaríamos sacrificando a geração presente por algo que por definição não existe e que quando existir não poderá exercer a reciprocidade com respeito a quem se sacrificou por ela.
Ecoturismo é, em suma, o "desenvolvimento sustentável" na sua acepção mais prática e direta, uma vez que prima pelos mínimos impactos ambientais, sociais e culturais. E isto, através da participação de gestores e planejadores, ligados de alguma maneira à área trabalhada e/ou a comunidade envolvida. Em razão disso, qualquer argumentação que se faça sobre desenvolvimento sustentado, passará necessariamente pela análise das contradições entre um crescimento econômico e a distribuição de renda, bem como a necessidade de conservação dos recursos ambientais. Não somente em benefício das atuais gerações, mas, também nas futuras, como sugere todo o referencial político e teórico-metodológico que a questão envolve.

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